O Gelo e o Fogo escrita por Sídhe


Capítulo 3
Capítulo 2 - Planos e biscoitos borrachentos


Notas iniciais do capítulo

Obrigada aos que comentaram a fic, bom saber que estão acompanhando ^^ Boa leitura.



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Depois de um final de semana após a invasão noturna, Leo acordou e esfregou os olhos, indo para a sala de estar esperando tomar café-da-manhã. Ele ficou o Domingo inteiro pensando numa forma de ajudar Reyna com seu amigo, Jason. Leo não sabia se era estranho se interessar tanto em ajudar a garota, afinal mal a conhecia, mas deixou de lado e lembrou que ela poderia contar à Thalia. Ruim, muito ruim. Era melhor ele a ajudar, e rápido. Alguma coisa que Jason gostasse, ou algo que os dois gostassem, uma forma de aproximá-los. Antes que pudesse se sentar na cadeira, ouviu o celular tocando, ainda pousado na mesa de cabeceira de seu quarto, e foi até lá para ver quem estaria ligando.

Número desconhecido.

– Alô? - Disse ele, ainda sonolento.

– Vá para a varanda. - Falou uma voz feminina que ele não reconheceu, estava muito cansado para uma conversa ao telefone.

– Hã? - Franziu o cenho.

– Para a varanda do quarto. - Repetiu, de alguma forma aquela voz era familiar.

Caminhou até a varanda e, quando percebeu, o queixo dele caiu. Reyna estava na janela em frente a dele, à menos de dois metros de distância, na prédio que havia ao lado da casa. Mesmo que Leo já soubesse que ela morava ali, ele nunca a viu, ou aquele apartamento nunca havia deixado as cortinas abertas ou ele não havia prestado atenção.

– Como conseguiu o meu número?! - Praticamente gritou para ela, sendo que estava perto e ao mesmo tempo no celular, soando ridículo.

Reyna levantou uma sobrancelha.

– Sou do conselho, tenho acesso aos dados dos estudantes. - Disse, calmamente.

– E então por que está me ligando às 6 da manhã?

– Prometeu me ajudar com Jason. - Ela disse, como se fosse óbvio.

– Mas não agora. - Rebateu, tirando o telefone do ouvido, era possível conversar sem precisar dele e não seria algo tão tolo - Na escola!

Esperanza apareceu atrás dele, chamada atenção pela discussão, observando os dois atentamente.

– Sua amiga? - Perguntou à Leo, acenando amigável para Reyna - Chame-a para o café, se ela aceitar, é sempre bom ir à mesa com mais pessoas.

– Não é uma boa ideia - Disse ele, passando com força as mãos no rosto em desespero.

Reyna deu uma boa olhada em Esperanza e Leo.

– Acho que não posso recusar um convite vindo de sua mãe. - A garota falou, tentando ser simpática, dando seu tom honrado e solene. Esperanza sorriu para ela e bagunçou os cabelos do filho, que fazia certa birra.

Quando Reyna apareceu na mesa deles depois de que Leo havia tomado banho e se vestido, ele perguntou:

– Como foi mesmo que a bela dama veio parar no nosso café-da-manhã? - Sentou e se serviu.

– Leo... - Sua mãe o repreendeu com um olhar, ele apenas ignorou.

– Ora, não estamos acostumados com visitas. - Argumentou, passando um pouco de geleia no pão fresco que tinha ali. Reyna hesitante começou a comer, medindo os olhares que Esperanza dava à ela.

A mãe dele suspirou, feliz.

– E você, querida, seu nome é...? - Olhou para ela, passando uma garrafa térmica com leite quente para a garota.

– Reyna. - Disse, vendo que a mulher tinha os mesmos olhos castanhos de Leo.

– Esperanza. - Falou, sorrindo radiante - Parece que você também tem sangue latino nas veias. Um nome bonito para um rosto bonito. - Disse, sugestiva - Rainha, na verdade.

Reyna se resumiu a sorrir levemente para tentar agradar, espantando Leo pelo sorriso.

– A senhora é muito gentil, Sra. Valdez. Mas não quero ser um incômodo, apesar de estar feliz de poder estar aqui, já que não tenho a oportunidade de tomar um café como este todos os dias - Disse, cheia de si, mostrando se dar bem com a mãe de Leo.

Ótimo, pensou ele, as duas são amigas.

– Então venha aqui comer todos os dias. - Esperanza falou, entrelaçando os dedos das mãos encima da mesa.

Aquilo definitivamente não estava nos planos dele. Reyna ali todos os dias? Deus, ele não podia pedir menos. Se levantou e pegou sua mochila, dando um beijo no rosto de sua mãe.

– A senhorita vai comigo? - Falou assim que viu que ela ia atrás dele pela rua. Parou na calçada, esperando uma resposta.

– Ainda não me fez nada - Disse, ignorando o fato de que ele estava parado e continuando a andar, o deixando para trás e forçando a caminhar apressado para a acompanhar.

– Paciência, vossa alteza, ainda estou pensando em algo. - Reyna o deu um olhar que era claro que dizia algo como 'Você é lerdo'.

– Majestade. - Corrigiu, não o olhando diretamente nos olhos - Alteza é o título para príncipes e princesas. - Leo deu um sorriso seco para a correção e continuou andando, ao lado de Reyna.

– Mas falando em ajuda, você não poderia me ajudar com a-

– Thalia? - Reyna o interrompeu, e Leo pensou que seu coração saltaria do peito quando a garota de quem eles falavam apareceu na sua frente. E se ela tivesse ouvido algo?

Ela os olhou com desconfiança.

– Bom dia, vocês dois - Disse, com a voz ainda mais sugestiva do que Esperanza. - Vocês por acaso estão...

– Não. - Reyna a cortou, antes que fizesse a pergunta - Não invente, Thalia, não há nada demais. O caso é apenas que esbarrei com Leo no caminho. - Ela o olhou como se esperasse que ele concordasse.

– Ah sim, é, e que esbarrão. - Ele disse, querendo soar natural - Não é mesmo, Reyna?

As garotas já o ignoravam, seguindo seu caminho para a escola, enquanto Thalia dizia algo sobre um programa de televisão que havia visto. Reyna o olhou significativamente por cima do ombro.

Entendi, pensou, se quero ajuda, tenho de ajudá-la primeiro. Às vezes Leo pensava que Reyna era esperta até demais.

Deu um sorriso entusiasmado com o acordo.

– Vamos lá.

A primeira aula era de Educação Física. Hedge estava mais parecido com um bode com seus shorts de ginástica, mostrando as pernas com pêlos demais e a barriga redonda se destacando na camiseta laranja. Os alunos estavam todos agrupados numa bagunça de suor e pisões de pé, Reyna e Leo lado a lado, esperando algo acontecer.

– Cupcakes, façam duplas. Quero que treinem o passe de bola! - Coçou a pança com uma mão, enquanto a outra comia uma rosquinha recheada de chocolate - Podem escolher os seus parceiros, mas os escolham logo antes que eu mesmo os faça!

Reyna olhou para Leo, cruzando os braços.

– Ei, Reyna, vamos fazer uma dupla! - Ele disse, falsamente animado, esperando que os outros ouvissem. Thalia olhou sem crer no que via.

– Claro! - Respondeu no mesmo tom, olhando de esguelha para Jason.

Quando estavam certos de que apenas os dois e a bola de basquete estavam ouvindo, deram início ao plano.

– Eu atingirei o parceiro de Jason bem forte com a bola. - Disse Leo, quicando a bola avermelhada no piso liso da quadra da escola. - E então... - Esperou ela continuar.

– Você causará uma grande confusão e levará o parceiro dele à enfermaria. - Reyna continuou, roubando a bola de Leo. - Assim, eu e Jason formaremos uma nova dupla, já que nossos parceiros estarão ausentes.

Uma voa feminina foi ouvida ali por perto.

– Quero você como meu parceiro. - Disse a garota meio asiática, com os cabelos negros e com cachos nas pontas, para Jason, que pareceu não contrariar. Que Leo soubesse, o nome dela era Drew, mas não fazia nada o seu tipo.

Ao lado da nova dupla, Thalia já passava a bola para Nico, um garoto de olhos e cabelos pretos, que não parecia nada interessado em recebê-la.

Reyna bufou, dando um olhar de raiva à Drew, e passando a bola para Leo.

– Eu não vou jogar a bola numa garota. - Disse Leo.

– O plano continua, não importa o sexo do parceiro - Ela falou, andando para a frente de Drew e esperando um passe falso, na qual acertaria a garota ao invés de Reyna. Mas acertar uma garota...– Passe!

Leo se desculpava mentalmente por fazer aquilo, mas jogou a bola. Se o plano desse certo, tudo ficaria do jeito que queriam.

O que não foi o que aconteceu. Drew se aproximou de Jason, dando um olhar nada inocente à ele, e Reyna quis interferir quando viu os dois. A bola a atingiu em cheio na cabeça, e ela pareceu querer matar Leo quando o olhou claramente assassina, passando a mão na testa que estava vermelha.

– O que houve? - Uma garota ao fundo perguntou.

– Leo Valdez atingiu a Rainha do Gelo na cara! - Disse uma outra.

Essa não.

.........................

A Rainha do Gelo congelava todos à sua volta, aquilo era fato. Mas ela se esforçava tanto para chamar atenção de Jason, que Leo sentia a vontade de ajudá-la. Na aula seguinte, de serviços domésticos, garotos e garotas estavam fazendo biscoitos para tirar uma boa nota. Na teoria, Reyna sem dúvidas tiraria um dez, mas na prática nem Leo foi suficiente para ajudar. Ele tentava participar, mas Reyna insistia em dizer que tinha tudo sobre controle e que conseguiria fazer os biscoitos.

Ao tirá-los do forno, ela se queimou com a mão que o abriria, desprotegida, ao contrário da outra que tinha uma luva de proteção. Leo não se queimou ao fechá-lo, se mostrando indiferente ao calor e a qualquer dor que pudesse causar.

– Como não se queimou? Está a mais graus do que deveria - Ela perguntou, colocando gelo na queimadura que tomou conta de metade da mão.

– Eu sou meio que resistente ao fogo, se é que me entende - Leo disse, achando que ela soubesse da história do incêndio. Reyna levantou ligeiramente as sobrancelhas, lembrando do fato. - O importante é que você vai ficar bem. - Ele pegou os biscoitos da fôrma, não os provando, e colocando num saquinho para eles.

– Os darei a Jason. - Reyna falou, e Leo balançou a cabeça, confirmando a ação. - Espero que funcione desta vez.

– Você tem que entregá-los casualmente, como se fizesse biscoitos deliciosos todos os dias da sua incrível vida culinária. Diga que não é nada demais e que sempre dá biscoitos para os caras que está afim. Não force muito. – Leo falou, zombeteiro. Reyna suspirou, pegando o saquinho com a mão esquerda.

– Deseje-me sorte. - Ela pareceu nervosa quando saiu da sala de cozinha e entrou na 2-C com Leo em seu encalço.

A carteira de Jason estava vazia.

– Onde está ele? - Perguntou para um garoto que jogava cartas com outro.

– Se está procurando por Jason, acho que ele disse que iria resolver um problema na diretoria, ou coisa assim...

Reyna saiu correndo pela porta ao ouvir aquilo, e ele correu atrás dela. Conseguiram avistar Jason ao fim do corredor, dobrando para uma escada. A membro do conselho parecia voar, segurando os biscoitos na mão esquerda enquanto corria.

Ela é rápida, o pensamento veio em sua mente, enquanto Reyna subia as escadas de quatro em quatro degraus. Mas uma garota apareceu de repente à sua frente, a fazendo esbarrar no ombro e cair.

Se Leo não tivesse a segurado naquele momento, ela provavelmente nem estaria intacta. Reyna poderia ser forte e independente, fria e um tanto esguia, mas quando ele a envolveu nos braços, não parecia mais do que uma garotinha. Não que ele fosse maior do que ela, só que Leo a protegera da queda. Os biscoitos, por outro lado, voaram pela janela que se encontrava próxima de onde eles estavam.

Reyna se soltou dos braços dele, tentando ignorar o abraço protetor de segundos atrás e desceu, sem pressa, as escadas.

– Vou procurá-los. - Disse, se referindo aos biscoitos que percebeu não estar ali. Leo tinha a impressão de ela usara aquilo como desculpa para manter-se longe dele. Ela tinha a cabeça mais baixa do que o habitual, parecendo brava consigo mesma. - Me encontre na sala.

Meia hora depois de a esperar na sala, sentado em uma das carteiras, Reyna chegou, frustrada. Segurava o saquinho, agora amassado.

– Eles estão inteiros? - Reyna negou com a cabeça.

Entrou na sala, sem o olhar diretamente, e observou a paisagem na grande janela dali.

– Devo ser apenas uma idiota. - Ela falou.

– Ainda não sabia disso? - Leo ironizou.

Reyna o deu um olhar de alguém que não estava ajudando. Ela voltou a encarar o vidro, fechando os punhos.

– Se escrevo uma carta, ele não a recebe. Se invado sua casa, caio com fome. Se tento fazer uma dupla, acabo sendo atingida. Se preparo biscoitos, os destruo. - Sua voz estava fria, tão fria quanto o nome pelo qual era conhecida.

Leo rolou os olhos.

– E tem mais. Você também se queimou.

Reyna não pareceu se importar com ele esfregar aquilo na cara, apenas continuou encarando os prédios à sua vista.

– Sim. Havia isto também.

Quando Reyna fechou os olhos e suspirou pesadamente, ele decidiu que era a hora de fazer alguma coisa para fazê-la se sentir melhor. Caminhou até a garota e pegou os biscoitos de sua mão. Abriu o saco e os empurrou goela abaixo, enquanto ela o encarava perplexa. Eram os piores que já havia comido, com muito açúcar e borrachentos, mas fez uma cara de que havia gostado muito. Ele faria aquilo por ela.

– Estão ótimos - Disse, forçando-se a comer até as migalhas, fingindo estar interessado nelas - Garota, se continuar com esses biscoitos, eu ainda me acabo com eles. - Sorriu. Leo pegou sua mochila e se encaminhou para fora da sala. - Vejo você amanhã no café, Rainha do Gelo!

Ele a deixou sozinha na sala, com um saquinho vazio de biscoitos quebrados. Reyna ainda encarava a porta, por onde ele havia saído.

Leo havia perdido o pequeno sorriso que ela deu.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo, espero que gostem!