Acordei com o farfalhar de Gina mexendo em seu guarda-roupa, procurando algo para vestir.

— Bom dia. — Minha voz saiu rouca. Afastei as grossas cobertas e me sentei na cama, colocando os cabelos rebeldes para trás da orelha.

A ruiva paro no instante o que estava fazendo, e me olhou.

— Bom dia... Desculpe, eu te acordei? — Ela perguntou, e sentou-se na cama ao lado.

— Acordou... Tudo bem. — Sussurrei e cocei os olhos. Fora uma noite mal dormida.

Estou passando as férias nA'Toca. Não tem sido lá das melhores... Mas eu concordei em passar aqui, e aqui estou eu.

— Desculpe novamente. — Gina pegou as roupas que havia separado e entrou no banheiro. Ouvi o barulho do chuveiro ligando, e deitei a cabeça novamente no travesseiro.

Os dias não têm se passado muito bem pra mim. Eu tento não demonstrar, mas a minha paixão por Ronald não correspondida me machuca cada vez mais. Sei lá se isso tem futuro, e se não tiver, quem se importa? Ah, só eu.

Sabe, eu amo Rony desde meu primeiro ano em Hogwarts, e ele vive pisando em mim... Parece que não percebe. Suspirei pesadamente, o cheiro de comida vinha forte da cozinha.

Separei umas roupas no meu malão e uma toalha do guarda-roupa de Gina. Saí do quarto, como Gina estava usando o banheiro, decidi pedir para o os meninos deixarem eu usar o banheiro do quarto deles.

Saí do “meu quarto e de Gina”, e caminhei descalça pelo chão de taco, até a porta do quarto dos meninos.

Quando fechei o punho e a ergui no alto para bater na porta, ouvi a conversa.

— Qual é Harry? Hermione? — Rony ria gostosamente. Me encostei no batente para ouvir melhor.

— Ah Rony... Sabe, vocês são tão... Próximos. Achei que estivesse rolando alguma coisa. — Harry revidou.

A risada de Rony aumentou ainda mais, chegava a ser contagiante.

— Ah, por Merlin, Harry. Hermione é inteligente, e bonita — Isso me fez sorrir de canto — Mas quando quer é insuportável, e jamais daria certo nós namorarmos. — Aquilo me quebrou. Um soluço seco e dolorido expeliu-se por minha garganta. Algumas lágrimas silenciosas escorreram. — Além do mais, eu amo Lilá Brown. — Ele disse, e foi como se estivessem tirando meu coração do peito com as mãos, amassando-o e pisando, e depois colocando novamente no peito.

— Ah Rony, sei lá cara, eu... — Eu não aguentava mais ouvir aquela conversa. Abaixei a cabeça, engoli o choro e sequei as lágrimas. Bati na porta.

A conversa cessou na hora. Empurrei a porta e coloquei a cabeça na fresta. Estavam ambos deitados, cobertos, um em cada cama.

— Anh... Gina está tomando banho. Posso usar o banheiro aqui? — Perguntei e comecei a coçar os olhos, fingindo estar com sono para disfarçar os olhos vermelhos.

— Claro... — Rony disse e abriu um sorriso. Assenti e caminhei para o banheiro.

Entrei e me despi, abri o chuveiro e adentrei.

Senti a água morna cair sobre meus ombros, tirando toda a tensão do lugar. Porém, eu estava acabada, e tudo que eu queria era poder chorar em paz.

Escorreguei as costas na parede, e ergui os joelhos, abraçando-os. Comecei a chorar baixo, os soluços quase inaudíveis.

Se eu soubesse que daria nisso... Eu teria me afastado logo no primeiro ano. Se eu soubesse que eu me apaixonaria dessa forma, que me machucaria desse jeito, eu jamais teria me aproximado.

Eu só queria deixar de ser a “rata de biblioteca”, só queria deixar de ser invisível aos olhos dele. Suspirei pesadamente e terminei meu banho. Após terminar, coloquei uma jeans azul escura e uma camiseta simples rosa clarinho. Sequei meu cabelo magicamente e saí do banheiro, com a toalha molhada nas mãos.

Quando abri a porta, os músculos de Harry e Rony enrijeceram, como se estivessem falando algum segredo que eu não podia ouvir. Apenas ignorei.

Saí do quarto deles co um meio sorriso no rosto, e fui para o “meu” quarto e de Gina. Escovei os dentes e os cabelos lá, e pendurei a toalha molhada na porta do banheiro dela, como a sra. Weasley mandava eu fazer. Gina já havia descido. Quando eu estava arrumando as coisas dentro do meu malão, algumas lembranças de eu e Rony mais novos surgiram, e eu acabei chorando de novo.

Mas que droga. Eu tinha que tirar essas coisas da minha cabeça, isso só estava me machucando cada vez mais. Suspirei, sequei as lágrimas e engoli o choro. Mais tarde eu teria tempo pra chorar a vontade, mas agora eu tinha coisas a fazer.

Saí do quarto, fechando a porta atrás de mim.

Senti alguém dar um encontrão comigo, e me assustei. Ergui os olhos rapidamente e me deparei com uma cabeleira ruiva – bom, não se deparar com um cabeleira ruiva no meio da família Weasley é meio estranho, ou difícil. Observei as sardas de seu rosto e seus olhos verde com tons de amêndoas. Era Fred.

— Hermione... Desculpe. Está tudo bem? – Ele perguntou, coçando os olhos.

Assenti. Mas ele não parecia nada bem, estava com olheiras e os olhos inchados. Parecia desgrenhado e nem o pijama tinha tirado. Fred, definitivamente não é assim.

— Estou... Fred, você está horrível! Dormiu bem de noite? – Perguntei, encarando fundo os seus olhos verdes.

– Não... fiquei acordando, tive pesadelos. – Ele murmurou. – Estou exausto.

Eu sabia o que ele sentia. Dormir e ter pesadelos, acordar no meio da noite e não conseguir dormir novamente.

Limitei-me a sorrir, e caminhei pelo corredor. Desci os lances das escadas, e entrei na cozinha, que cheirava maravilhosamente bem. Bom, era a cozinha da sra. Wesley, eu estranharia se cheirasse mal.

Gina estava distraída cortando um pedaço de bolo, Ronald, bom, com as bochechas quase explodindo de tanta comida, sra. Weasley mexia no fogão, e o sr. Weasley conversava distraidamente com Harry.

– Bom dia! – Anunciei a minha presença ali, e sorri largamente. Um sorriso falso, no entanto. Todos se voltaram para mim e me cumprimentaram, mas logo voltaram a fazer o que estavam fazendo.

Me sentei distante te todos que conversavam alegremente, e fitei a mesa farta de comida. Peguei um suco de laranja e uma panqueca, só então percebi que dois ruivos idênticos estavam ali.

Jorge parou, e olhou a mesa.

– ISSO, é injustiça! – Declarou.

– O quê? – Perguntei junto ao restante da família.

Vocês nunca fazem isso quando eles dois – Ele apontou para mim e para Harry – não estão aqui. Seus puxa-saco! Hey, vocês dois, podem vir sempre, ok?

Ri brevemente, e a família de ruivos explodiu em uma discussão. Fiquei em silêncio, mexendo em meu suco com um canudo, e pensando em coisas que não me agradavam. A vontade de chorar aumentava a cada volta que eu dava no copo, e minha cabeça era baixa.

Fred sentou-se ao meu lado, não parecia muito contente também.

.

.

Assim que terminamos o café da manhã, sra. Weasley mandou a gente se arrumar para ir para a plataforma 9¾.

Eu subi e guardei rapidamente todas as minhas poucas coisas que estavam no quarto de Gina no meu malão, e já me uniformizei com as vestes da Grifinória.

Quando deu exatamente 10 horas da manhã, estávamos todos embarcando em um Ford Anglia magicamente ampliado por magia. Fui a primeira a entrar, enquanto o sr. Wesley guardava as bagagens no porta-malas. Fiquei na janela, e logo depois entrou Fred, Jorge, Rony, e Gina.

– Ai Rony, seu idiota, você pisou no meu pé. – Gina resmungou.

– Êszulpe – Ele disse.

– O quê?! – Perguntei, e só então percebi que ele estava com as bochechas quase estourando – Você não tem fundo Ronald? Por Merlin. – Revirei os olhos. Ele fez uma careta, e engoliu a massaroca que havia na boca.

– Eu disse Desculpe, para a Gina. – Afirmou. A sra. Weasley acabara de adentrar o carro, no banco da frente.

Sr. Weasley dirigiu por Londres trouxa até a estação King Gross.

Ao chegarmos, desembarcamos nossas coisas do Ford Anglia, e fomos em direção as plataformas 9 e 10, a família fazia um escarcéu e chamava a atenção a quem quer que olhasse.

Edwiges piava na gaiola de Harry, e bom, não é todo dia que se vê um garoto com uma gaiola que possui uma coruja branca. Gina resmungava que suas vestes estavam pequenas, e Jorge, acompanhando de Rony, faziam piadas sobre elas.. O único que não interagia era Fred, algo que não costumava acontecer.

Chegando na pilastra das Plataformas 9 e 10, Fred foi o primeiro a atravessar, sem entusiasmo, nem nada. Jorge o seguiu, e eu fui atrás.

Logo depois, Gina, então Harry, e por fim, o casal de ruivos.

Embarcamos no trem, e nos despedimos de Molly e Arthur, que nos desejavam boas aulas e pediam aos filhos para que escrevessem durante o ano letivo, e eu fui com Harry e Rony para um vagão lá no fundo. Fred, Jorge e Gina se separaram.

Entrei na cabine e fechei a porta. Harry e Rony sentaram-se em um banco, deixando o outro livre para mim. Me sentei, e encostei as costas na parede lateral do trem, que ficava o lado da janela. Meu corpo ficou sobre o banco xadrez, e eu coloquei as pernas para cima. Os meninos conversavam alegremente sobre quadribol. Comecei a passar as mãos em meus cabelos distraidamente, tentando não pensar em coisas desagradáveis, ou na conversa que escutara dos dois horas mais cedo, eu só queria esquecer todo e qualquer sentimento por Rony, eu queria parar de sofrer. Mas era impossível.

Acabei adormecendo.