Eu Não Mudaria Nada Em Você - Segunda Temporada escrita por Amanda Suellen


Capítulo 33
Recomeçando


Notas iniciais do capítulo

Cap dedicado especialmente a Belieber 4ever, que recomendou a Fic com palavras tão lindas. Dedicado também a todos (a) que me chamaram de vaca (fiquei chocada gente) k, e a todos que me mandaram review.



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Far East Movement - Live My Life ft. Justin Bieber

Casa dos Torres

Sábado, 14h20 da tarde.

Fiquei internada por uma semana, fazendo exame atrás de exame. Agora, finalmente, vim para casa de minha “tia”, onde meus pais disseram que eu devia ficar, para resolver assuntos que vim resolver. De certa forma, eles esperam que eu me lembre do porquê de ter vindo. Já que não me falaram o motivo. Não argumentei, pois se realmente vim resolver algo, tenho que fazer tal coisa. Mas antes, tenho que me lembrar do quê era.

Ouvi uma batida na porta. Levantei-me e abri a porta.

Matheus: Ei, eu e os meninos vamos jogar videogame lá embaixo, quer jogar?

Juliana: Não sei jogar. – sorri de lado e ele pareceu surpreso.

Matheus: Jú, é claro que você sabe jogar, na verdade, você é ótima. – ele falou calmamente, como se estivesse falando com uma criança.

Juliana: Não me lembro de saber jogar. – respondi um pouco irritada. O doutor Marco, falou que eu teria que me esforçar um pouco para me lembrar das coisas, mas eu estava cansada de tentar lembrar-me das coisas.

Matheus: Tudo bem. – respondeu cauteloso – O que acha te tentar jogar?

Juliana: Não. Obrigada.

Matheus: Se mudar de ideia, estamos lá embaixo. – falou desanimado.

Ele saiu do quarto e eu peguei meu diário. Comecei a lê-o desde o começo, queria me lembrar das coisas, das pessoas, queria me lembrar do porquê de estar no Rio e não em casa.

23 de janeiro de 2013.

Querido Josh,

Vamos lá, eu deveria estar começando um diário sobre a “minha vida”. Por favor. Até eu posso ver:

Querido Diário,

Como estou perdida neste mar louco chamado “vida”, acho que vou me inspirar em um poema que ouvi há pouco tempo, um que me fez chorar por ser tão bonito... Hoje eu realmente acredito que cada dia é um dom precioso...

É, acho que não.

De qualquer maneira, enquanto a Dra. Andrews está (você não iria acreditar, ela tem bigode e é muito esquisita) falando sobre como precisamos de um lugar para partilhar nossas “experiências”, eu estou escrevendo para você.

Eu não quero que você pense que tudo aqui é inútil. Quer dizer, Pinewood é um centro de tratamento para suicidas. Você sabe, é chato estar aqui, mas nem tudo é imprestável. Entretanto, isto irá me seguir para sempre. “Estava no centro de reabilitação”. Assim como todos os outros que eu carrego agora.

Você sabe, eu sempre pensei que te dizia tudo, mas existem algumas coisas que eu deveria ter dito e nunca fiz... Eu devia ter-lhe dito que perdi sua camiseta de hóquei, eu sei que você realmente gostava dela. Deveria ter pedido desculpas por cada vez que eu fiz você perder um jogo importante, para ficar cuidando de mim quando os nossos pais não estavam. Eu deveria pedir desculpas por várias coisas.

Desculpe-me, desculpe por tudo.

Faz setecentos e vinte e seis dias que eu estou internada aqui. Eu sinto falta de casa. Dra. Andrews apenas perguntou se eu estava bem. Ela é uma aberração, e eu não sei como ela se tornou chefe de terapia de grupo. Você deveria ver a forma como ela fala, realmente deveria. Ela não pode dizer meu nome como uma pessoa normal, Juliana. É tão difícil dizer? Mas a Dra. Andrews sempre me chama de Julianaaaaaaa, como se A fosse uma letra que ela já não utiliza freqüentemente, sendo que, a maior parte das palavras que ela diz, se utiliza o A.

Eu penso em você o tempo todo. Eu digo a todos no grupo, eu imagino você atacando-a e verificando tudo, como um anjo com asas chutando sua bunda. Mas eu realmente quero saber se você está com frio ou se você começou a usar o seu suéter azul o tempo todo porque é o seu preferido e mamãe não está por perto para dizer-lhe que ele te deixa com cara de velho.

Agora mesmo, pergunto-me se você está cantando uma daquelas canções de amor estúpidas que você ama tanto e se elas ainda te fazem sorrir. Pergunto-me se você sente saudades de conduzir através da ponte Millertown, enquanto nos revezávamos tomando o sorvete. Você foi sempre capaz de contrabandear uma casquinha a mais. Se eu fechar meus olhos, eu posso te ver sorrir com a colher na mão... Não tomo sorvete há meses.

Já chorei muito em Pinewood, e sempre foi por sua causa. Eu sei que pode parecer estranho, especialmente porque você sabe que antes eu não chorava por tudo, embora eu quisesse. Você também sabe, certo?Mas eu não podia. Eu sabia que se eu começasse, eu nunca pararia. Suponho que eu deveria estar feliz em sair daqui amanhã, eu acho que estou, mas o fato é que, fico pensando sobre quem eu quero ver quando chegar em casa e...Não encontrar ninguém lá. Você não estará lá.

Saudades, J.

x

24 de janeiro de 2013.

Querido Josh, Querido Diário,

Hoje é o dia. O grande dia. O dia da minha liberdade.

Adeus Pinewood, obrigada pela comida ruim e as “seções compartilhadas”. Adeus, Dra. Andrews, obrigada por me lembrar que tenho de tirar o bigode, caso contrário, ficarei como à senhora. Adeus terapeutas. Adeus enfermeiras. Adeus psiquiatras.

Eu deveria dizer “olá” para minha “nova vida”. Mas, eu não tenho vida sem você. Faz dois anos que espero por isso. Dois longos e torturantes anos. E não sei se estou com vontade de rir ou chorar. Finalmente, Josh. Finalmente eu estou livre.

Parei de ler, meus olhos ardiam e minha cabeça latejava. Eu fui internada?Por dois anos? E quem é Josh?Não! Meus pais não fariam isso comigo. Não. Não. Não.  

Peguei meu diário e desci as escadas. Math, Caíque, Gui e o Rafa, estavam na sala junto com a Mel, jogando videogame. Parei no meio da sala, minha cabeça cada vez mais pesada.

Matheus: Jú? – ele arregalou os olhos – O que houve?

Juliana: Onde estão meus pais? – gritei desesperada por respostas.

Matheus: Jú, calma. – se aproximou e eu automaticamente dei um passo para trás – Eu não vou te machucar – levantou as sobrancelhas surpreso – O que houve?

Juliana: Eles me internaram! – gritei – Por dois anos! Dois anos! Como eles foram capazes? – lágrimas escorriam pelo meu rosto.

O Math ficou sem reação. Caíque se levantou e se aproximou de mim, cauteloso, assim como o Gui e o Rafa.

Caíque: É melhor você se acalmar, Jú. Você não pode...

Juliana: Não posso o quê? – gritei mais alto, o cortando. – Não posso ficar brava? Não posso ficar perto de uma faca? Eu não sou uma suicida!

Soluços altos vieram de minha garganta. Já não tinha mais forças para ficar em pé. Math vendo que eu estava perdendo o equilíbrio me segurou antes deu cair no chão e tudo ficar preto.

Travis Narrando

Tinha acabado de chegar em casa, quando vi o doutor da Jú saindo da casa do Math. Corri para lá, para ver o que havia acontecido.

Os meninos me explicaram que a Jú não se lembrava de ter sido internada e que acabou se alterando e desmaiando. O doutor veio examiná-la e deu um tranquilizante para ela dormir. Disse também que se possível, não a deixar ter fortes emoções. Que ironia.

Travis: Eu só queria que ela ficasse boa logo. – me sentei no sofá e coloquei a mão na cabeça.

Caíque: Ela no momento precisa de alguém com tempo e com todo o coração do mundo para ajudá-la. Para entendê-la. Então pare de reclamar, ela poderia estar morta. O que é uma memória bagunçada em vista de uma vida perdida?

Travis: Fácil pra você falar, afinal, ela se lembra de você, não é? – cuspi.

Caíque: Sim, ela lembra. Mas até que ponto? Não sabemos do que ela se lembra ou não, Travis.

Rafael: Precisamos ter paciência.

Travis: E se ela nunca se lembrar? E se a memória dela ficar assim pra sempre? – minha voz saiu torturada.

Guilherme: Nada que vale a pena é fácil, Trav. Lembre-se disso. Se você realmente a ama, conquiste-a novamente.

Travis: Mais e se eu não conseguir conquistá-la de novo?

Fernanda: Ah, Travis. Pelo amor de Deus! Pare com esses “mais”, você a conquistou uma vez, não foi? Vai conquistá-la de novo. E outra, ela te ama, independente se lembra ou não, esse amor está guardado. Não pode ter sido realmente esquecido.

Matheus: Ela está certa.

Travis: Tomara. – me levantei.

Caíque: Aonde você vai?

Travis: Ver a Jujuba. – respondi subindo as escadas.

Juliana Narrando

Acordei um pouco zonza. Estava no meu quarto. Levantei-me de vagar e uma mão tocou o meu braço, olhei rapidamente, era o garoto de penetrantes olhos cinza. Travis. Esse é seu nome.

Travis: Ei, você tem que descansar. – sua voz era suave e triste.

Juliana: O que você está fazendo aqui?

Travis: Vim te ver... E então me contaram o que aconteceu – deu de ombros – Queria ficar com você. – sorriu de lado.

Juliana: Por quê? – perguntei confusa.

Travis: Porque quando a gente gosta de alguém, a gente gosta de ficar com esse alguém. Cuidar, sabe?

Seus olhos transmitiam sinceridade. E suas quentes mãos se moveram para meu rosto. Eu queria me afastar, mas não parecia certo.

Juliana: Que horas são? – perguntei olhando para a janela, já estava escuro.

Travis: 19 horas. – respondeu olhando no relógio e eu arregalei os olhos.

Juliana: Eu... Eu dormi tanto tempo assim?

Travis: Sim. Você estava cansada. – levantou as sobrancelhas.

Juliana: Há quanto tempo você está aqui?

Travis: Tempo suficiente pra te ouvir falando – sorriu malicioso.

Juliana: Falando? – repeti confusa – Eu falo enquanto durmo?

Travis: Às vezes. – deu de ombros – Gosto de ver você dormindo – comentou dando um suspiro cansado.

Cerrei os olhos.

Juliana: O que você é meu? – perguntei desconfiada e ele sorriu triste.

Travis: No momento? Um bom amigo.

Juliana: E sempre foi um bom amigo?

Travis: Não. – respondeu olhando para fora da janela e piscando – É melhor você descansar, Jujuba.

Juliana: Posso perguntar uma coisa? – ele me olhou.

Travis: O quê?

Juliana: Por que Jujuba? – arquiei uma sobrancelha e ele riu.

Travis: Eu gosto de Jujubas – deu de ombros – E gosto de você – me deu um beijo na testa e se levantou – Agora durma.

Juliana: Você vai embora? – perguntei sentindo uma angustia crescendo no peito.

Travis: Você quer que eu fique? – ele parecia surpreendido e eu apenas assenti. Ele então voltou a se sentar do meu lado.

Juliana: Eu estou tentando me lembrar de você – falei fechando os olhos.

Travis: Eu sei, Jujuba. – fez carinho em meus cabelos – Boa noite, meu amor.

...

Juliana: Estou aqui, amante! – pisquei pra ela e ela veio correndo até mim.

Fernanda: AAAAAAH! JÚ, FINALMENTE. – ela gritou e me abraçou forte.

Juliana: Calma, eu necessito respirar – rimos e ela me soltou.

Fernanda: Você está diferente – ela me analisou de cima a baixo – Está mais gostosa – rimos.

Juliana: Não mais que você – pisquei pra ela.

x

Fernanda: Também tive um pesadelo essa noite. Acho que foi mais assustador que o seu. – comentou sorrindo de lado.

Juliana: O que você sonhou?

Fernanda: Que estava pelada na minha festa de aniversário e todos da escola riam e tiravam fotos. Foi assustador – ela estremeceu e fez careta, não consegui deixar de rir.

x

Fernanda: Antes de você começar a pedir desculpas e tudo mais – sorriu torto – Pode responder uma coisa? – assenti – Voltou para ficar?

x

Acordei assustada, minha respiração estava ofegante.

Juliana: Droga. – sussurrei colocando a mão na cabeça.

Olhei para a cabeceira, o relógio marcava 4h da manhã. Travis já tinha ido embora. Levantei-me e fui para o banheiro, precisava de um banho. Demorei quase uma hora de baixo do chuveiro. Sai e me vesti. Minha cabeça doía, estava tendo uns flashbacks confusos. Desci até a cozinha e peguei uma aspirina. Tomei e me sentei na sala, liguei a TV e fiquei assistindo-a.

Horas depois, minha “tia” desceu para tomar café, nem tinha reparado que já eram 6h da manhã.

Patrícia: Jú? – se assustou ao me ver ali.

Juliana: Oi – sorri de lado.

Patrícia: Está tudo bem, querida? Por que acordou tão cedo?

Juliana: Perdi o sono – virei à cabeça de lado, analisando-a – Minha cabeça estava doendo muito.

Patrícia: Oh, querida. Tomou remédio?

Juliana: Sim.

Patrícia: Se quiser, posso pedir para que o Doutor Marco venha te ver hoje.

Juliana: Não precisa. Minha dor de cabeça era passageira.

Patrícia: Certo. Sua mãe já acordou?

Fechei a cara. Ainda não tinha conversado com meus pais sobre a internação. E ainda estava muito brava.

Juliana: Acho que não. – respondi seca.

Ela levantou as sobrancelhas, surpresa e se sentou ao meu lado.

Patrícia: Meu amor, não fique com raiva deles. Não até sua memória voltar completamente. Sei que agora é difícil entender o porquê deles terem feito isso... Mas logo tudo ficará bem. Confia em mim – piscou para mim e se levantou.

Vi tudo ficar preto, pisquei algumas vezes e fechei os olhos.

Juliana: Bom dia, família – sorri e dei um beijo em cada um.

Patrícia: Bom dia, linda. Dormiu bem?

x

Juliana: Tia Patty? – falei surpresa.

Patrícia: Oi, Jú! – ela sorriu.

x

Patrícia: Oi, Jú. – ela disse se divertindo – Barraca movimentada hein. – riu.

x

Levantei-me e a segui para a cozinha.

Juliana: Tia? – a chamei meio incerta.

Patrícia: Sim, querida?

Juliana: Hum... Como era nossa relação? Digo... Eu era uma boa sobrinha?

Patrícia: Oh, a melhor de todas. – sorriu docemente – Você e seu irmão sempre foram como filhos para mim.

Juliana: Irmão? – perguntei automaticamente e então me lembrei – Ah, você está falando do tal de Josh, não é?

Patrícia: Tal de Josh? – ela repetiu assustada – Jú, você não se lembra dele também?

Juliana: Hum... Não. – encolhi os ombros. –Li sobre ele no meu diário.

Patrícia: Oh, querida! – seus olhos se encheram de lágrimas e então ela correu para me abraçar. Ok, isso é muito estranho.

Lucia: O que está havendo? – ela perguntou confusa, parada ao lado da entrada da cozinha.

Larguei minha tia e me concentrei em ficar calma e não gritar com ela. Afinal, como tia Patty falou, eu não tenho a memória completa.

Juliana: Por que você me internou? – perguntei calmamente.

...

Depois de ouvir minha mãe, sai para dar uma volta. Precisava tomar ar. Esfriar a cabeça. Eram muitas informações de uma vez só.

Fui para uma praça que havia ali perto de casa, me sentei em baixo de uma árvore e olhei ao redor. Não havia muitas pessoas lá, na verdade, estava um silêncio gostoso. Abri meu diário e comecei a lê-lo, precisava saber mais sobre esse tal de Josh que minha mãe falou e também precisava saber o que mais havia acontecido até agora.

15 de março de 2013

Querido Josh, Querido Diário,

Hoje partirei para o Rio de Janeiro.  Decidi que seria melhor me afastar um pouco. Meus pais vivem brigando e eu não aguento mais.

Não tenho mais amigos na escola, todos têm medo de mim. Nicole agora finge que não me conhece, passa reto quando me vê ou então, faz algum comentário cruel. Não entendo o porquê de ela estar fazendo isso. Achei que fosse minha melhor amiga.

Depois que você Josh morreu e eu fui internada, Yasmin se concentrou em superar sua depressão e seguir em frente. Fez novos amigos e parece bem. Bem demais para falar comigo. Bem demais para se lembrar de você Josh. E bem demais para ficar se escondendo no banheiro feminino e chorando, durante as aulas de Educação Física.

Lucas se mudou. Sua mãe não me disse para onde, apenas sei que ele se mudou. Ele não suportou me ver quase morta (já que foi ele que me encontrou jogada no chão do banheiro), e internada. A única pessoa que eu poderia contar se mudou. Para longe.

Aqueles que diziam serem meus colegas, sumiram. Aqueles que diziam estar sempre comigo e com você Josh, sumiram. E o pior de tudo? Aqueles que eu mais amava, sumiram. Assim como você Josh.

Um calafrio fez com que eu me arrepiasse, esfreguei as mãos em meus braços e suspirei. Quanta coisa mais eu me esqueci? Como Josh morreu? Que droga. Por que eu tinha que perder a memória?Droga. Droga. Droga.

17 de março de 2013

Querido Josh, Querido Diário,

Já faz dois dias que estou no Rio. Quase tudo é como me lembro.

Tia Patty ainda é uma “tia-coruja” comigo. Math ainda é péssimo no videogame. Mel cresceu, se você Josh a visse agora, concordaria comigo quando digo que ela está linda. Nanda ainda é namorada do Math, acho que os dois se casaram. Pena que você Josh, não estará aqui para ver.

Fui a rampa de skate ontem, aquela que costumávamos ir todos nós (eu, você Josh , Math, Nanda, papai, mamãe, tia Patty) quando éramos mais novos. Vi cada manobra sensacional, manobras que eu sei que você Josh, adoraria tentar. Acabei esbarrando em um idiota (que tinha lindos olhos cinza e uma boca deliciosa) fiquei toda suja de sorvete. Pois é, depois de tanto tempo, finalmente tomei sorvete.

Mamãe me ligou. Queria saber se eu tinha chegado bem. Em outras palavras, se eu já tinha tentado fazer alguma besteira.

Hoje o dia foi mais fácil, eu acho. Conheci novas pessoas. Pessoas que não conhecem meu passado. Acho que este pode ser um novo começo para mim. Certo, a quem eu quero enganar? Eu não posso fugir do meu passado.

Ouvi passos se aproximando de mim e rapidamente olhei para cima. Era o Travis. O tal garoto de penetrantes olhos cinza. Ele sorriu e meu coração acelerou.

Travis: Sabia que te encontraria aqui. – se sentou ao meu lado e olhou para meu diário. Depois arqueou a sobrancelha, questionando.

Juliana: Achei que... Poderia me ajudar a lembrar das coisas... Das pessoas, e tal. – dei de ombros, indiferente.

Travis: E se lembrou de algo? – perguntou esperançoso.

Juliana: Na verdade, não. Parece que outra pessoa escreveu esse diário, pois tudo é estranho para mim. Não lembro quem é Josh. Não me lembro de ter ficado dois anos internada. Não lembro quem é voc... – parei e olhei para o lado – Não me lembro de nada que está escrito aqui.

Travis: Relaxa, ok? – ele segurou minha mão e sorriu. – Você está se esforçando e é isso que dará resultados.

Juliana: E se eu não me lembrar dessas coisas nunca? – ele ficou calado, medo refletia em seus olhos. Talvez eu nunca me lembre mesmo.

Travis: Então... – ele começou de vagar – Comece de novo. Quero dizer, parta de onde você se lembra. Pense no seu futuro e não fique tentando lembrar-se do seu passado. Talvez tenha um motivo para você ter se esquecido de tudo isso.

Será que ele tem razão? Será que tudo isso tem um propósito? Respirei fundo e dei um meio sorriso para ele.

Juliana: Eu queria poder me lembrar de você pelo menos. Você parece bom.

Travis: Eu pareço bom? – ele riu sem humor – Isso graças a você. Você me mudou, Jujuba. Sou o que sou hoje, graças a você.

Juliana: Essa “Juliana” que você fala parecia tão... Tão magnífica. – olhei para baixo.

Travis: E ela continua sendo. – ele levantou meu queixo – Você é magnífica. Com ou sem memória. Você é um anjo na minha vida, Jujuba.

Juliana: Conte-me... Conte-me sobre a gente – pedi corando.

Ele levantou as sobrancelhas surpreso e depois sorriu malicioso.

Travis: O que quer saber?

Juliana: Tudo... Como nos conhecemos, o que fom... Somos, essas coisas.

Travis: Ok. – ele assentiu e pegou meu diário, deu uma pequena lida e sorriu – Como você pode ver aqui – apontou para uma linha – Eu sou o idiota de lindos olhos cinza e boca deliciosa – riu e eu o olhei assustada – Sim. Esse sou eu – respondeu a minha pergunta mental. – Lembro que nossos primeiro encontro não foi muito legal, você me odiou no mesmo instante.

Juliana: Você me derrubou no chão, me sujou de chocolate e ainda riu. É claro que eu ia te odiar. Quem faz isso? – me defendi e ele riu mais ainda.

Travis: Bom saber que meus lindos olhos cinza e minha deliciosa boca não te conquistaram. – arqueou uma sobrancelha, malicioso.

Juliana: Ah, vamos. Não seja convencido. – dei um empurrãzinho nele e ri.

Travis: Ok. Ok – levantou as mãos em rendição.

Juliana: Quando foi que eu comecei a gostar de você?

Travis: Hum... Na verdade, não sei. – respondeu perdido. – Acho que seu ódio por mim foi diminuído quando te salvei de ser... Bem, estuprada.

Juliana: O quê? – arregalei os olhos.

Travis: Você não se lembra, não é?

Juliana: Não.

Travis: Tudo bem. Podemos procurar no seu diário. Adoraria saber também quando foi que começou a gostar de mim – sorriu mais uma vez malicioso e começou a folhear as folhas do meu diário.

Juliana: Ei! – tomei dele e fiz careta – Isso é falta de privacidade.

Travis: Não seria a primeira vez que eu o leria – deu de ombros.

Juliana: Já o leu antes?

Travis: Algumas vezes só. Quando você deixava em casa.

Juliana: E eu deixava lá... Por quê?

Travis: Bem, você dormia lá. Então... – ele parou quando viu minha cara de perplexidade – Jujuba, você e eu éramos namorados. É normal.

Juliana: Namorados?

Travis: Sim. Achei que você tivesse sacado isso, já que perguntou... – ele fez outra pausa – Achou que éramos o quê?

Juliana: Hum... Não sei. Eu percebi que não éramos só bons amigos, mas... Não imaginava que éramos... Bem, namorados. – minha voz era baixa e eu olhei para meus dedos, corada.

Travis: Sim. Éramos.

Juliana: E quando eu entrei em coma e tal, ainda... Ainda estávamos juntos?

Travis: Na verdade – seu tom fez com que eu o olhasse – Você me deixou antes disso.

Juliana: Por quê?

Travis: Acho que estava com medo. Não sei, Jujuba. Eu... Não sou a pessoa adequada pra falar do que você estava sentindo quando me deixou. – abaixou a cabeça.

Juliana: Eu não entendo o porquê eu te deixaria – falei sinceramente e ele me olhou surpreso – Você me faz tão bem. – sorri e seus olhos se encheram de lágrimas.

Travis: Você me faz muito bem, também. – me abraçou.

Juliana: Eu não sei como pude me esquecer de alguém como você. – sussurrei ainda abraçada com ele.

Um barulho alto do céu fez com que eu me assustasse. Um relâmpago acompanhado de fortes pingos de chuva.

Travis: Vamos. Temos que ir pra casa. Não quero você doente. – disse se levantando rapidamente e me puxando pra cima.

Peguei meu diário e corri junto com ele até seu R8. Ele o destravou, sentei rapidamente no passageiro e fechei a porta.

Juliana: Estou toda molhada – disse rindo assim que ele se sentou ao meu lado.

Travis: Isso porque você confia em previsões do tempo. – riu e deu partida.

Juliana: Aposto que você não sabia que ia chover.

Travis: Eu até sabia. Mas gosto de te ver molhada. – corei da cabeça aos pés e ele riu maldosamente.

Juliana: Trav!

Ele parou o carro abruptamente e eu quase fui pra frente.

Travis: Você me chamou do quê?

Juliana: Oi? – perguntei confusa.

Travis: Você disse “Trav”. – seus olhos brilhavam.

Juliana: Hum... Isso é bom?

Travis: Ótimo. – sorriu e deu partida novamente.

Juliana: Louco – resmunguei e ele sorriu de orelha a orelha.

...

Entrei no escritório do Dr. Marco e me sentei. Ele me examinou e então pediu que eu contasse como tinha sido esses últimos dias. Falei a ele que estava lendo meu diário todos os dias, para ver se lembrava de algo. Também falei que às vezes tinha uns flashbacks.

Dr. Marco: E esses flashbacks te fizeram lembrar-se de alguém?

Juliana: Hum... Não. Quero dizer, é como se eu visse coisas que fiz, mas não lembrar que as fiz e nem o porquê de tê-las feito.

Dr. Marco: Entendo. Muito bem. – ele fez algumas anotações e depois me olhou sério – Você sabe que pode não ter a memória completa nunca mais, não é?

Engoli em seco. E olhei bem no fundo de seus olhos castanhos.

Juliana: Sim. Eu sei. Trav e eu conversamos bastante sobre isso. – admiti.

Dr. Marco: Bom. E você acha que está preparada para seguir em frente?

Sorri e contei a ele que era mais ou menos isso que eu estava fazendo. Andei saindo com as meninas, fomos ao shopping, à praia, ao salão e esses tipos de lugares. Também sai bastante com os garotos, fui ao clube deles, joguei videogame (descobri que o Math estava certo, eu sou ótima jogando). Eles são pessoas maravilhosas. Trav é um ótimo amigo (amigo não é bem a palavra certa), está sempre tentando me animar, me levando para conhecer lugares lindos e também me ajudando a entender melhor meu diário.

Que por sinal, foi escrito para o Josh, mesmo eu não podendo escrever para ele. Descobri que ele morreu afogado e que éramos bastante próximos, essa foi à causa deu ter tentado suicídio e de ter sido internada.

Juliana: Bom, acho que não é tão ruim assim recomeçar. – disse por fim.

Dr. Marco: Parece-me que você está superando bem. Está feliz. Menos confusa. – sorriu.

Juliana: Isso porque eu tenho pais maravilhosos. Amigos fiéis... – sou interrompida por duas batidas na porta, segundos depois Travis entra e se coloca ao meu lado. – E o Trav ao meu lado. – completei sorrindo para ele.

Travis: Acho que a consulta acabou. Está pronta pra ir? – ele perguntou estendendo sua mão para mim.

Juliana: Claro. – me levantei e segurei a sua mão. – Até semana que vem, Dr. Marco. – disse saindo de sua sala.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu NÃO abandonei a Fic. Fiquei comovida com o tanto de pessoas que me mandaram mensagens perguntando se eu estava bem e tal. Não planejei ficar sem postar por tanto tempo, é que eu fui viajar com meu namorado (conhecer a família dele e tal) e acabou que eu fiquei muito doente, fiquei internada por uma semana e a Min não tinha a senha do Nyah (troquei a senha do meu face e esqueci de passar pra ela, e é pelo meu face o cadastro daqui). Enfim, voltarei a postar normalmente, peço desculpas. E mais uma coisa, quero dizer que fiquei super chateada com três pessoas ai, que vieram me ofender nos reviews. Gente, na boa? se não gostam da Fic, não leiam! Eu não saio por ai falando mal dos escritores e muito menos xingando-os de nomes baixos. Por favor né. Claro que, esse não é um recado pra todos, estou super feliz com a quantidade de reviews que ando recebendo s2 obg pessoal.