NX Zero – Só Rezo

É intervalo e, como combinado, eu e o Bernardo estávamos cuidando da lista de voluntários. Fabi chegou mais cedo e colou cartazes pela escola toda, também falou com a Helen e pediu pra que a mesma divulgação na rádio. E assim foi feito.

XxX: Onde eu me inscrevo? – uma garota que estava acompanhada por duas amigas, perguntou sorrindo.

Juliana: É só assinar aqui. – lhes mostrei o caderno e a caneta.

XxX: Você e o Kevin vão cuidar de qual bairro? – uma das amigas perguntou ao Bernardo, enquanto piscava os olhos feito idiota. Segurei-me pra não revirar os olhos e rir.

Bernardo: Ainda não sei, Mia. – deu de ombro.

Mia: Bom, nos avise quando souber. – sorriu docemente e saiu com as amigas. Revirei os olhos.

Juliana: É sempre assim?

Bernardo: Às vezes – disse indiferente.

 Ficamos um bom tempo ali, metade do segundo ano se voluntariou. Bernardo e eu ficamos conversando o tempo todo, com ele nunca faltava assunto. Ele me contou sobre suas férias em Barbados, também falou sobre seu primeiro beijo, sua manias, e me contou histórias sobre alguns alunos da escola.

Juliana: Ok. Deixe-me ver se entendi... Você só ficou com aquela garota por que todos achavam que você era gay? – perguntei segurando o riso, ele estava me contando à vez que teve de ficar com uma garota super esquisita e medonha.

Bernardo: Era minha reputação que estava em jogo! – se defendeu e eu me pus a rir.

Juliana: Claro. A reputação é muito importante. Mas me conte, ela beijava bem? – zombei e ele me deu um cutucão – Ei! – fiz beicinho.

Bernardo: Você é mesmo uma garotinha – balançou a cabeça.

Juliana: Muito meiga e linda – pisquei.

Bernardo: E seu alto-ego entra onde? – curvou uma sobrancelha.

Juliana: Não entra. Esse é o ponto. – sorri docemente.

Bernardo: Muito humilde você.

Juliana: Também acho. Mas então, por que você sacaneou a Kél?

Bernardo: Eu era um pirralho na época – encolheu os ombros – Estava entrando no ensino médio e precisava de um “titulo”, não sabia que ela ficaria tão... Magoada.

Juliana: Ela gostava muito de você – comentei.

Bernardo: Eu sei. Fui um idiota. E agora, eu realmente sou louco por ela. E ela não me quer. Bem que minha mãe dizia: A gente colhe o que planta. Eu a fiz ficar com essa raiva. Mereço seu desprezo.

Juliana: Bê, não fala isso. Ninguém merece o desprezo de ninguém, ainda mais da pessoa que a gente ama.

Bernardo: Sabe... Eu sempre fui considerado o palhaço da turma, o “sem-rumo”, mas desde que eu reconheci meus sentimentos pela Kelly... Eu tenho esperanças, sabe? De um futuro.

Juliana: Você realmente gosta dela, não é?

Bernardo: Eu a amo, Jú. – sorriu de lado e eu o abracei.

Juliana: Logo vocês se acertam – sussurrei.

 ...

Depois de passar a tarde rodando o bairro, vendendo biscoitos com a galera, cheguei em casa, tomei banho e fui para o notebook, Pietra tinha me mandado um e-mail:

.                                                                                                                              

De: Pietra Mitchell

Assunto: Daqui duas semanas.

17 de agosto de 2013, 16:47

Para: Juliana Torres

Querida Jú,

Como você está “pensando” se volta ou não, pensei que seria legal se primeiro você se resolvesse com o pessoal e sua tia.

Daqui duas semanas o Travis vai para Nova York, passar o final de semana com sua família, e como eu sei que você ainda não está pronta pra vê-lo, achei a oportunidade perfeita: Você vem pra cá, se resolve com todos, e depois volta para SP e pensa no que vai fazer. Tudo isso, sem vê-lo.

O que acha? Diga que vem, por favor.

P x

.                                                                                                                              

De: Juliana Torres

Assunto: Não sei

17 de agosto de 2013, 19:06

Para: Pietra Mitchell

Não é uma má idéia.

Você tem certeza que ele vai estar em Nova York?

E se ninguém quiser falar comigo?

J x

.                                                                                                                              

De: Pietra Mitchell

Assunto: Odeio esse “não sei” seu.

17 de agosto de 2013, 19:10

Para: Juliana Torres

Não é uma “má idéia”? Qual foi, Jú? É uma ótima idéia!

Sim, eu tenho certeza. Os pais dele querem comemorar alguma coisa, não sei bem o quê. O Gui também foi convidado, mas o convenci a ficar pra você ter a chance de falar com ele também.

O pior que pode acontecer é ninguém aparecer na “reuniãozinha” que vamos fazer quando você chegar. Mas, aposto que vão querer ouvir sua extraordinária explicação u.u

P x

.                                                                                                                              

De: Juliana Torres

Assunto: Odeio os seus “odeio” u.u

17 de agosto de 2013, 19:16

Para: Pietra Mitchell

Fique calma, só estava brincando! Por que está tão mal-humorada?

Entendi. Obrigada.

Ah, ajudou muito! Espero que esteja certa. E eu não gostei da sua ironia u.u

J x

.                                                                                                                              

De: Pietra Mitchell

Assunto: E ainda pergunta?...

17 de agosto de 2013, 19:19

Para: Juliana Torres

... Estou irritadíssima com Alice, e tudo isso é culpa sua. Você era a Julieta e não ela!

Não fiz só por você. O Gui também está bravo com você.

Estou sendo realista, Jú. Todos se decepcionaram muito com você. E não aparecer na reunião é o mínimo que eles poderiam fazer.

P x

.                                                                                                                              

De: Juliana Torres

Assunto: Sinto muito...

17 de agosto de 2013, 19:22

Para: Pietra Mitchell

Não era minha intenção abandonar o papel. Na verdade, me esqueci dele quando resolvi vir embora.

Já entendi. Todos estão bravos comigo.

E decepcionados...

J x

.                                                                                                                              

De: Pietra Mitchell

Assunto: Devia sentir mesmo!

17 de agosto de 2013, 19:25

Para: Juliana Torres

Você sabe que eu não consigo ficar brava com você por muito tempo, mas você realmente pisou na bola. Alice é um saco!

Sim, estão.

Mas, você pode concertar tudo vindo pra cá (:

E então?

P x

.                                                                                                                              

De: Juliana Torres

Assunto: E eu sinto, caramba!

17 de agosto de 2013, 19:27

Para: Pietra Mitchell

Eu sei. Imagino o quanto está sendo insuportável trabalhar com ela.

Tudo bem. Eu vou.

Mas, apenas para o fim de semana... Depois voltarei para São Paulo e pensarei no assunto de voltar a morar ai.

J x

.                                                                                                                              

De: Pietra Mitchell

Assunto: Sério?

17 de agosto de 2013, 19:30

Para: Juliana Torres

Sim, está sendo insuportável. Mas você sempre pode voltar...

Você vai mesmo vir? Ah, que maravilha!

Um fim de semana está perfeito!

P x

.                                                                                                                              

De: Juliana Torres

Assunto: Sim.

17 de agosto de 2013, 19:31

Para: Pietra Mitchell

Ainda não sei. Tenho que pensar.

Sim, eu vou.

(:

J x

.                                                                                                                              

Eu e Pietra ficamos trocando mensagens até tarde. Quando senti fome fui para a cozinha preparar um sanduíche, meu pai não voltou da viagem de negócios ainda. Eu terei que falar com ele e com minha mãe, sobre ir para o Rio. Aposto que será mais difícil convencer minha mãe do que ele.

...

Duas semanas depois (dia da viagem)

Já tinha se passado mais quatorze dias desde que aceitei ir passar o fim de semana no Rio. Como previsto, foi um sacrifício convencer Dona Lucia de me deixar ir, ela está com medo deu voltar pior do que estou (o que pode ser provável). Coloquei minha mochila dentro do carro de meu pai, me despedi de Kél, Fabi, Kevin e Bê. Já tinha me despedido de minha mãe.

Entrei no carro, acenei pra todos e meu pai deu partida, rumo ao Rio de Janeiro. Respirei fundo e mandei uma mensagem pra Pietra, avisando que já estava indo.

Douglas: Nervosa?

Juliana: Um pouco. – confessei.

Douglas: Pense pelo lado bom, o mínimo que pode acontecer é você ser chutada da cidade – sorriu sarcástico e eu bufei.

Juliana: Obrigada, papai, ajudou muito!

Pietra Narrando (especial)

Acabei de chegar à casa dos meninos, entrei e meu celular vibrou – a Jú está vindo. Travis estava de saída, carregava sua mala preta.

Pietra: Boa viagem. – desejei e ele sorriu em resposta.

Subi para o quarto do Gui, Rafa e Caíque estavam lá, jogando vídeo-game. Entrei, me inclinei sobre o Gui e o beijei.

Guilherme: Bebê. – sorriu.

Pietra: A Jú ta vindo. – comentei cautelosa e vi a carranca dos meninos.

Caíque: Não sei pra quê.

Rafael: Nada do que ela disser vai justificar ela ter ido embora.

Pietra: Já falamos sobre isso. – falei firme – Todos merecem uma segunda chance...

Guilherme: Ela não – me cortou e me deu um olhar frio. Ele estava magoado pelo primo.

Pietra: Apenas escutem-na! – insisti.

Caíque: Ok. Vamos escutá-la. – suspirou.

Pietra: Obrigada. – sorri.

            Rafael: Já falou com a Nanda e o Math? – levantou uma sobrancelha pra mim.

Pietra: Eles sabem que ela vai vir.

Caíque: Mas e eles? Vão vir?

Pietra: Não sei – suspirei cansada – Nanda está chateada demais com a Jú e o Math... A decepção foi muito grande, sabe? Eu os entendo.

Rafael: Por que eles não são obrigados a ficar e nós somos?

Pietra: Primeiro: Ninguém ta obrigando vocês a ficarem. Segundo: Nanda e Math sabem o que fazem. – respondi entre dentes. Fora uma luta essas duas semanas para convencer eles de que seria bom escutar a          Jú.

Guilherme: Podemos mudar de assunto, por favor? – pediu olhando para a TV.

Pietra: O que vocês estão jogando? – perguntei rapidamente, a fim de mudar o clima de tensão.

Caíque: Futebol.

Pietra: Posso jogar?

Rafael: Meninas não sabem jogar. – riu.

Pietra: Quem disse? Sou melhor que vocês três juntos – retruquei colocando a mão na cintura.

Os três gargalharam alto.

Guilherme: Amor, é jogo de homem.

Pietra: Deixa de ser machista. Com medo de perder pra uma garota?

Todos os três pararam de jogar e me olharam, sorri inocentemente.

Caíque: É uma aposta? – sorriu malicioso.

Pietra: Pode ser. O que vou ganhar?

Rafael: Se você ganhar.

Pietra: É, é. Tanto faz. O que vou ganhar?

Caíque: O que quiser. Mas, e se nós ganharmos? – falou apontando para si mesmo e para o Rafa, os dois seriam uma dupla.

Guilherme: Opa! Isso não é justo. Ela nunca jogou. – reclamou e eu o fuzilei com os olhos.

Rafael: Sua namorada. Sua parceira. – sorriu malicioso.

Pietra: Se vocês ganharem, faço o que quiserem por um mês.

Os dois comemoraram e estenderam as mãos.

Meia hora depois Rafa e Caíque estavam de cara fechada, reclamando. Pois, eu e o Gui ganhamos de cinco a zero.

Rafael: Isso não foi justo!

Caíque: Verdade. Você disse que ela nunca tinha jogado!

Guilherme: E é verdade. Ela nunca jogou. – afirmou sorrindo orgulhoso.

Pietra: Deixa de serem mariquinhas. Perderam e ponto.

Caíque: Beleza. O que quer?

Esfreguei as mãos, diabólica e sorri maliciosa.

Pietra: Vocês farão exatamente tudo o que nós mandarmos e, ainda concordaram com nós em tudo e nos elogiaram, sempre.

Caíque e Rafael: O quê? Ah não! – gritaram juntos.

Guilherme: Aposta é aposta. – sorriu pra mim, cúmplice.

Juliana Narrando

Não faltava muito pra gente chegar a casa da Tia Patty, queria falar com ela primeiro e, quem sabe, já me resolver com o Math e  a Nanda.

Douglas: Você está pálida. Está bem?

Juliana: Hum-hum. – foi à única coisa que eu consegui falar.

Douglas: Rela... – ele parou de falar e fixou os olhos na estrada – O que é aquilo?

Olhei rapidamente pra frente, todo o ar do meu pulmão se foi. Senti que ia desmaiar. Meu pai começou a diminuir a velocidade. Não! Não façam isso! Gritei mentalmente, sem reação.

Juliana: Acelera! – gritei, enquanto colocava meu pé por cima dele no acelerador.

Douglas: Juliana! – ele gritou antes de um enorme barulho atingir meus ouvidos, e por um minuto tudo ficou preto.

Travis: Fala que me ama.

Juliana: Eu te amo.

Travis: Não ouvi direito – brincou.

Juliana: Eu te amo – falei mais alto.

Travis: O quê? Não ouvi.

Juliana: Eu te amo – gritei e ele parou as cócegas imediatamente.

Travis: Eu te amo mais, Jujuba. – disse me beijando.

“Dar valor nas coisas, enquanto as temos. Pois não sabemos o dia em que iremos partir.”