Delain - Virtue And Vice

Terminei de arrumar minha mala, eu iria hoje viajar pra São Paulo. Sentei-me na cama e liguei meu notebook, entrei no meu facebook e no meu twitter, postei algumas coisas, aceitei algumas pessoas. Depois liguei minha playlist e peguei meu diário.

Querido Diário,

Vou hoje para São Paulo, Lucas até que queria ir comigo, mas eu preciso passar um tempo sozinha, apenas com meus pais. Para pensar um pouco sobre o que quero daqui pra frente, afinal, logo teria que voltar a morar com eles. – O divorcio já estava no fim, e pra minha paz mental, eles estão se dando bem.

Fazer Romeu & Julieta com Travis não ajudou muito no meu plano de manter distancia dele, mas pelo menos eu tinha o admirador secreto, que a cada dia que passa se torna mais especial pra mim. Sempre pronto pra me escutar e me ajudar da forma que pode.

Apesar deu estar louca pra conhecer ele, acho que é até legal essa coisa de admirador secreto, toda vez que ele me manda mensagem eu procuro qualquer pessoa que seja, que se parece com ele, ou com a imagem que eu tenho dele.

Fechei meu diário e o guardei na mala, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo – estava vestindo um vestidinho tomara que caia roxo – desci para tomar café, logo Lucas chegaria para me levar ao aeroporto.

Quando passei pela sala vi Math mudando de canal com tanta raiva que me assustei, parei ao seu lado e o encarei, pasma.

Juliana: Que houve?

Matheus: Fernanda.

Juliana: O que ela fez? – perguntei me sentando ao seu lado.

Matheus: O que ela não fez né?

Juliana: Como assim?

Matheus: Eu estou me sentindo enganado, ela dizia me amar e tudo mais e agora que terminamos, ela está a todo sorriso por ai, como se nada tivesse acontecido. Como se não se importasse.

Juliana: Você também está agindo como se nada tivesse acontecido.

Matheus: Sim, mas eu estou sentindo, sabe? Ta doendo, eu estou apenas fingindo estar bem.

Juliana: E como você pode saber que ela também não está apenas fingindo?

Matheus: Eu a conheço.

Juliana: Talvez não tanto assim. Ela se importa.

Matheus: Não parece.

Juliana: Se você deixar o orgulho e o rancor de lado, você vai ver o quanto ela ta mal por causa de você.

Matheus: Orgulho e rancor? – ele riu sem humor.

Juliana: Sabe o que eu acho? Você está cego pelo orgulho e está esquecendo o quanto ela te ama.

Matheus: Se ela me ama tanto assim, por que mentiu pra mim?

Eu já estava perdendo a paciência, fazia dias que Math estava frio e ficava culpando a Nanda por isso, eu sei que ele ta sofrendo, mas ela também está e não é justo ela levar a culpa pela decisão dele.

Juliana: Olha, você deveria seguir seu coração e esquecer todo o resto. Não vale a pena deixar de lado um amor como o de vocês por uma besteira.

Matheus: Uma besteira que quase acabou com sua vida.

Juliana: Ela não teve culpa! Na verdade, ela não fez nada! – gritei me levantando. – Você é um idiota – fui pra cozinha.

Travis Narrando

Estava na casa da Nanda, querendo ou não nesses dias nos aproximamos mais, Ela estava mal por causa do Math e eu por causa da jujuba, eu realmente não queria machucá-la.

Fernanda: Eu ignoro, desprezo, não corro atrás, mas acredite, eu ainda me importo.

Travis: Sabe qual o problema de vocês dois? O orgulho. Ele errou no momento que terminou com você, e você errou no momento que decidiu que iria seguir em frente. Porque Nanda, você o ama e não vai conseguir seguir em frente sem ele, vai?

Fernanda: Eu amo ele. Amo mesmo. Mas isso não significa nada. Não mesmo. Não significa que eu vá correr atrás dele feito desesperada, nem que eu vá deixar de viver porque ele não dá à mínima. Sabe, ninguém morre de amor. Não deve ser tão difícil assim deixar pra lá, não pode ser. E além do mais, amanhã é outro dia, e depois de amanhã, lá vem mais outro... Olha que maravilha, eu ainda consigo pensar direito. No começo é sempre difícil, a gente chora de raiva porque é o que se tem pra fazer. Pode demorar, mas eu vou sobreviver.

Travis: Você está certa, ninguém morre de amor. Só acho que você não deveria colocar sua armadura ainda, porque afinal, ele não está te ferindo de propósito.

Fernanda: Não? – riu sem humor.

Travis: Mais é claro que não, Nanda! Ele te ama.

Fernanda: Trav, só amor não adianta. Ele precisa confiar em mim.

Travis: Reconquiste a confiança dele.

Fernanda: Como vou fazer isso?

Travis: Não sei. Isso só você pode descobrir.

Fernanda: Você também está sofrendo por causa da Jú, né?

Travis: Eu gosto muito dela. Muito mesmo. E a decepcionei.

Fernanda: Todos erraram, Trav. Somos humanos. – ela sorriu e me abraçou – Obrigado por ter vindo até aqui.

Travis: Quando quiser, é só chamar, loirinha – baguncei seu cabelo.

Juliana Narrando

Pietra: Já estou sentindo sua falta – ela disse fazendo beicinho e me abraçando forte.

Juliana: Pietra, eu ainda nem fui. E outra, só vou ficar alguns dias. – ri retribuindo seu abraço.

Pietra: Mesmo assim. Você é minha melhor amiga Jú, quem vai agüentar meus surtos enquanto você estiver fora?

Juliana: Tenho certeza que a Nanda e o Gui estão dispostos a isso – sorri para a Nanda e para o Gui, que me vieram abraçar também.

Fernanda: Se cuida, Jú.

Guilherme: E tenha juízo – fez careta.

Rafael: Ok, ok. Espaço que é minha vez agora. – ele falou me levantando do chão e me dando um abraço de urso.

Juliana: Não consigo respirar – disse rindo.

Caíque: Não ganhamos abraço? – perguntou segurando a mão da Lara, finalmente os dois ficaram juntos.

Juliana: Claro, amores – os abracei.

Matheus: Te amamos, volte logo – ele me deu um beijo na testa e me abraçou.

Lucas: Beleza, agora chega. Eu quero ter um tempinho com a Jú também. – ele falou abrindo a porta pra irmos.

Travis: Não vai se despedir de mim? – ele perguntou descendo as escadas e me olhando triste.

Meu coração apertou, eu queria correr para seus braços, mas não podia. Não depois do que ele me fez.

Juliana: Não – disse firme e sai.

Uma hora e meia depois, eu e meus pais estávamos chegando em casa. Subi para o meu quarto – que estava exatamente do jeito que deixei – O mural de fotos na parede em cima da minha cama, meu puff ao lado da janela, meu abajur de morcego em cima da cômoda cheia de desenhos. Abri meu closet completamente vazio, no canto de cima uma pequena caixa vermelha, a peguei e me sentei na cama. Dentro dela havia milhares de fotos minhas com Josh, cartas que fiz enquanto estive internada. Jornais com minha foto e manchetes que me arrastavam para o passado, peguei um deles:

Jovem de 14 anos tenta suicídio depois de perder irmão afogado.

Juliana Torres, estudante do colégio Danielle Mattos, no ultimo sábado as 02:30 da manhã, foi encontrada com os pulsos cortados e com vários cortes no corpo. De acordo com os pais, ela estava em depressão por causa de seu irmão, Josh Torres, de 16 anos, que morreu na semana passada, afogado.

Os pais da jovem decidiram que o melhor seria interná-la numa clinica, para se recuperar do choque. Muitos de seus colegas disseram que a jovem sempre fora muito apegada a seu irmão, e que quando ele faleceu, ela não agüentou a perda e...

Guardei-o novamente, não agüentava mais ler sobre aquela noite. Eu realmente havia tentado me matar, e isso eu nunca esqueceria. Fechei a caixa e voltei ao seu lugar de origem. Não demorou muito para minha mãe subir.

Lucia: Minha querida, o jantar está pronto.

Juliana: Não estou com fome, mamãe. – falei e ela fechou a cara, lá vinha sermão.

Lucia: Mas Juliana você tem que comer.

Juliana: Eu como, mãe. Só não estou com fome agora. Posso apenas dormir?

Lucia: Tudo bem. Mas amanhã quero vê-la comendo, ouviu?

Juliana: Sim, mamãe – revirei os olhos e ela saiu do quarto.

Bufei e fui para o banheiro, tomei um banho demorado e sai, coloquei meu pijama e deitei pra dormir.

~x~

Os dias se passaram rápido, e por rápido eu quero dizer rápidos mesmo, por mais que eu tenha ficado um pouco irritada com o jeito que minha mãe queria controlar tudo que eu comia, eu senti falta dela e do meu pai. Então esses dias foram poucos pra eu matar a saudade, e ainda por a cabeça no lugar.

Quando entrei na casa da tia Patty com o Lucas – ele tinha ido me buscar no aeroporto – Uma recepção me esperava animada.

Pietra: Finalmente – ela disse se jogando aos mus braços e me abraçando – Já estava ficando doida com o mau-humor do Travis.

Juliana: Mau-humor? – perguntei confusa.

Pietra: Sim. Ele estava...

Guilherme: Você demorou pra voltar – ela a cortou e me abraçou.

Fernanda: Beleza, agora é minha vez. – ela falou abrindo espaço entre mim e o Gui e me abraçou.

Rafael e Caíque: Nossa vez – eles me abraçaram.

Matheus: Cara, soltem ela, também quero abraçá-la. – resmungou e eu ri.

Juliana: Calma Math, tem Jú pra todos. – sorri.

Travis: Até pra mim? – ele perguntou e foi então que eu reparei que ele estava lá, fechei a cara na mesma hora.

Juliana: O que é que você quer, Travis?

Travis: Quero que você me desculpe, e pare de mirar seu ódio em mim. Por favor, Jujuba...

Juliana: Não me chama mais assim. – o cortei.

Antes que eu pudesse fazer algo, todos saíram da sala para deixarem eu e o Travis a sós. Suspirei e me sentei o sofá.

Travis: Jujuba, eu sei que errei quando fiz aquela aposta, mas estou arrependido. Em momento algum eu realmente pensei em dormir com você só por causa de uma aposta idiota.

Juliana: Esquece ok? Deixa as coisas como estão, é melhor.

Travis: Melhor pra quem? Porra Jujuba, eu gosto muito de você e não quero te perder.

Juliana: Gosta muito de mim? – ri sem humor – Não se dá pra perder algo que nunca foi nosso, Travis.

Travis: Jujuba...

Juliana: Porra Travis, para de me chamar assim. Que saco! – disse brava.

Travis: Por que não posso mais chamá-la assim? Você sempre gostou.

Juliana: Gostava, verbo passado. Eu também do gostava do Travis que eu achei que conhecia, mas olha agora... Não gosto mais. – sorri mesmo querendo chorar e ele me olhou triste.

Travis: Tudo bem, já entendi – ele falou indo embora.

Subi e desfiz minha mala, tomei banho e me deitei, estava cansada de toda a viagem e ainda de já ter que lidar com Travis tão cedo.

Era 4 horas da tarde quando acordei, fui ao banheiro e lavei meu rosto, depois prendi meu cabelo em um coque mal feito e desci. Math estava jogado no sofá, triste.

Juliana: Deixe-me adivinhar, está assim por causa da Nanda? – falei cruzando os braços e parando em sua frente.

Matheus: Não começa.

Juliana: Você vai bater na porta dela. E sabe quem vai atender? O outro. E você vai dizer “Cadê ela?” e ela vai responder. “Aquela otária de uns meses atrás? Foi embora.” E você, vai se jogar aos pés dela. Se jogar. Quem diria né? Um cara tão cabeça feita como você, rastejando por mulher. E você sabe o que ela vai fazer? Rir da tua cara. Porque mulher é assim. Quando ama, ama pra caralho! Mas quando quer te foder… Fode a tua vida inteira. E sabe o que você vai dizer depois disso tudo? “Perdi a mulher da minha vida” É, você perdeu. Então se levanta agora dessa porcaria de sofá e vai atrás dela!

Matheus: Você tem razão. – ele falou pegando a chave do carro e saindo.

Sorri subi para o meu quarto, me sentei na cama, eles finalmente iriam se resolver. Um aperto no meu coração me fez lembrar Travis, como eu queria estar bem com ele. Se ele fosse diferente, eu já teria dito a ele que gosto dele e que não consigo suportar se quer pensar em perder ele. Uma lágrima escorreu dos meus olhos, seguida de outra e outra. Quando dei por mim já estava chorando.

Meu celular vibrou, mensagem.

Nada se é conquistado com lágrimas.

— Seu Admirador Secreto

Não espero conquistar nada, então não me importo de chorar. E alias, como você sabe que eu estou chorando?

— Juliana Torres

Enviei e fui para a janela, ver se via alguém, mas nada. Meu celular vibrou com a resposta dele.

Se eu fosse você não perdia tempo tentando me achar. Não gosto de te ver chorar, você é mais forte que isso, amor.

— Seu Admirador Secreto

Não tenho mais forças pra agüentar tudo sozinha.

— Juliana Torres

Você não está sozinha, você tem a mim.

— Seu Admirador Secreto

Grande coisa. Nem sei que você é.

— Juliana Torres

Você vai ter uma pequena idéia, olhe na porta da frente.

— Seu Admirador Secreto

Agora?

— Juliana Torres

Sim, rápido.

— Seu Admirador Secreto

Corri até o andar de baixo e abri a porta, havia uma caixa de Jujubas e um cartão:

Erga a cabeça, retoca essa maquiagem, pare de chorar e siga em frente. Ele é só mais um idiota que não sabe o que perdeu.

Seu Admirador não mais tão secreto

Quando li o cartão meu coração acelerou, eu sabia quem era. E agora tudo mudaria, porque até então eu estava com raiva dessa pessoa. Mas ele não poderia ser meu admirador secreto, poderia? Eles eram tão diferentes. Comecei a re-ler as mensagens que troquei com meu admirador, e reparei que ele parecia estar sempre por perto, quando Travis estava. Como eu pude ser tão idiota? Estava tão na minha cara.

Travis era meu admirador secreto. Travis gosta de mim.

Ele tinha vários defeitos, mas apenas uma qualidade já o tornava perfeito:

“Ele a fazia sorrir todos os dias”.