- Você está falando sério? – Ele perguntou tentando não parecer surpreso e manter a pose altiva e fria.

- Estou… me desculpe, por favor! Eu fui uma idiota, fui… ah sei lá, nem sei como tentar explicar tudo…. Mas quero dizer que prezo muito a sua amizade…

- Mas isso é agora. – Ele disse irónico. – Quem sabe se amanhã você não vai acordar determinada a não ser mais minha amiga….

- Não! Não é assim, desculpa… eu sei que estava errada, mas estou aqui dizendo… que eu fui burra, que você não merece ser julgado por ser filho de quem você é… e que eu estava errada, muito errada mesmo.

Ele a encarou desconfiado.

- Não vai mudar de opinião de uma hora para outra?

- Juro que não! – Ela disse.

- E vou continuar sendo o seu segredo?

- Não, faço questão que todos saibam que você, é meu amigo, não me interessa a opinião dos outros. - E ele então sorriu.

- Como está o seu pé?  

- Melhor. – Ela disse sorrindo de volta.

- Quer que eu ter acompanhe até a torre da Grifinória? – Ele perguntou oferecendo o braço dele para ela se apoiar.

- Claro. – E andaram os dois, lado a lado pelo castelo sorridentes. Estavam chegando a torre da Grifinória quando ele disse.

- Como está o seu primo?

- Acho que está melhor, mas vai levar algumas semanas até se recuperar totalmente.

- O Jonh pegou pesado dessa vez, nem sei como ele não foi expulso.

- Ele tem que agradecer isso ao meu primo. – Disse Rose.

- Sério? Ele não nos falou nada… quer dizer, ele não falou muito com quase ninguém desde que aconteceu aquilo… anda distraído, soturno, calado… acho que o pai dele até bateu nele.

- Como é que você sabe?

- Vi as marcas, ele tem ido todas as noites para cumprir detenção com a professora Minerva, e volta muito tarde, após a hora de recolher, não tem a sua varinha, a Minerva confiscou ela, está proibido de realizar mágica e foi expulso da equipe de quadribol.

- Posso perguntar uma coisa?

- Sim.

- Não foi a primeira vez que ele usou aquela maldição pois não?

Scorpius a encarou por algum momento.

- Porque você acha isso?

- Porque… para ele machucar o Tiago daquela maneira, ele tem que ter muita prática nesse tipo de feitiço.

- Pois… sim, você tem razão. Ele fez isso em outros alunos, e eu via ele fazendo isso, tentava impedi-lo, mas ele não me ouvia… e esses alunos, agora que ele está sem varinha para se proteger, aproveitam para se vingar, alguns aparecem pelos corredores esnobando ele, petrificando-o, alguns até lançaram a maldição cruciatus, mas felizmente nenhum sabe ainda realizar o feitiço correctamente.

- Isso é muito infantil. – Indignou-se Rose. – Digo, ele já está pagando pelo que fez, deviam deixar ele em paz! Essa gente não perde uma oportunidade para aprontar… - Scorpius sorriu. – O que foi?

- Você é demais… ele atacou o seu primo, e mesmo assim você é… como hei-de dizer… complacente com ele.

- Ah… eu acho que a única pessoa que deve castigar ele é a directora Minerva, não esses alunos que não perdem uma oportunidade de ficar por aí azarando os outros. Claro que o que ele fez está errado, erradíssimo! Além disso o Tiago é meu primo, e defendo meu irmão e meus primos até a morte.

- Sabe… tenho uma certa inveja de você. – Ele confessou.

-De mim? – Ela indagou confusa.

-É… tem uma família grande, sempre cheia de amigos, sempre acompanhada, as vezes fico observando vocês nas horas das refeições, sempre tão animados, felizes. E eu… não tenho nada disso. Quero dizer, o Clint e o Jonh são meus amigos, mas há certos limites com eles, e…me pergunto se eu não teria toda essa cumplicidade em que você tem, se meus pais me tivessem dado um irmão pelo menos.

- Mas… você não tem essa cumplicidade com seus primos.

Ele a encarou tristemente.

- Eu não tenho primos…

- Oh… - Ela desviou o olhar. – Sinto muito…

Ele sorriu para tranquiliza-la, estavam agora em frente ao retrato da Dama Gorda, deu-lhe um beijo na bochecha e disse.

-Boa noite Rose.

- Boa noite. – Ele foi embora, tomando a direcção da Torre da Sonserina.

XX-XX

No dia seguinte, a noticia de que Tiago estava já em Hogwarts alojado na enfermaria correu a escola, muitos foram para lá visita-lo, alguns por curiosidade, para ver se os rumores de que ele tinha ficado com a boca torta eram verdadeiros, e saiam desiludidos ao ver que a boca do rapaz estava perfeitamente normal. Algumas garotas, iam visita-lo levando sapos de chocolate e praticamente se derretiam por ele, ele aproveitava para fazer beicinho enquanto elas, preocupadas acariciavam ele. Outros, como a equipa de Quadribol em peso, porque estavam realmente preocupados com ele.

- Para que isso tudo? – Perguntou Hugo olhando para a pilha de sapos de chocolate e feijões todos os sabores, ele era batedor no time.

- As meninas da escola, estão todas em sofrimento por mim! – Disse Tiago rindo.

- Quanto tempo que você vai ficar aqui? – Perguntou Caleb Stevens, capitão do time.

- Umas boas semanas senhor Stevens! – Disse Madame Pomfrey que acabara de entrar com algumas plantas, ela já previa a intenção da pergunta de Caleb. – Nem pense, o senhor Potter necessita repouso.

Tiago olhou para Caleb, preocupado, suspirou dizendo.

- Já publicaram o calendário dos jogos, não é?

- É. – Disse Caleb igualmente preocupado. – O nosso primeiro jogo é na próxima semana, com a Lufa-Lufa.

- Droga! – Disse Tiago. – Eu tenho que sair daqui antes! Madame Pomfrey! Tem aí alguma poção para acelerar a minha recuperação?

- Não!! – Disse Madame Pomfrey chateada. – O senhor precisa descansar, não vou deixa-lo sair da enfermaria antes do tempo!

Tiago bufou irritado.

- Como é que a gente vai jogar sem apanhador? – Perguntou Miles Murray.

- É. – Disse Hugo. - É quase impossível a gente jogar assim.

- Posha. – Disse Lily. – Tudo por culpa daquele Jonh nojento.

- Só se a gente arranjasse um apanhador suplente. – Disse Don Harvey.

- É… mas quem? – Perguntou Melany Thomas. Tiago e Hugo olharam um para o outro, e como se lessem o pensamento um do outro, tiveram exatamente a mesma ideia. Olharam os dois para Lily, com um pouco de esperança nos olhos.

- O… o que foi? – Ela perguntou confusa, a ver os dois olhando para ela como se ela fosse o último sapo de chocolate do pacote. Depois, entendendo o que eles estavam pensando, ela arregalou os olhos assustada. – Oh… não, não, não… nem pensar, isso é absurdo!

- Mas… é perfeito! – Disse Tiago quase saltando da cama, madame Pomfrey lançou-lhe um olhar reprovador e logo voltou a sentar-sedireito, parecia que ela temia que a qualquer momento ele fosse cair morto no chão. – Digo… você é perfeita… para me substituir!

- Não!! Não sou, tira essa ideia maluca da sua cabeça! Caleb, diz a eles que isso é ridículo, porque eu não concorri para apanhadora, eu sou artilheira, AR-TI-LHEI-RA!

Mas para desespero de Lily, Caleb e o restante da equipa olhava para ela como se ela fosse realmente a última esperança deles.

- Vocês estão malucos!

- Mas é uma boa ideia! – Disse Caleb esperançoso.

-Tiago, não era você quem dizia que eu era uma péssima apanhadora?

- Eu só disse isso porque pensava que você queria meu lugar no time! Mas a verdade é que você é uma óptima apanhadora! Por favor Lily, por favor. – Ele disse se colocando de joelhos na cama.

- Lily, eu já te vi jogar, eu sei que você consegue! – Disse Hugo igualmente esperançoso. Ela encarou todos.

- Mas… quem é que fica no meu lugar, como artilheira?

- Logo logo a gente arruma um suplente!

- E porque não podem arrumar um suplente de apanhador e me deixam na minha posição de artilheira?

- Porque a posição de apanhador é a posição chave do jogo, e prefiro arriscar mais colocar um mau artilheiro do que um mau apanhador! – Disse Caleb.

- Lily… - Disse Tiago com um olhar pidão.

- Ta bom, mas só com uma condição! – Ela disse!

- Qual?

- Você esquece o que eu prometi lá no hospital de St.Mungus! – Ela disse sorrindo, ele bufou.

-Ta bom!

Ela deu um gritinho eufórico.

- Vou te chatear para o resto da vida!

XX-XX

A tarde já ia a meio quando estavam todos na sala comunal da Grifinória, Lily e restantes membros do time de quadribol tentavam desesperadamente arranjar alguém para a posição de artilheiro. Hugo se deixou cair no sofá bufando.

- Droga, vamos ter que acabar jogando só com um artilheiro.

- Posso muito bem dar conta do recado sozinho. – Disse Don.

- Não se arme em super-heroi Don! – Disse Caleb irritado, a verdade é que ele não queria começar a época logo perdendo.

- Eu posso tentar. – Disse uma voz no meio deles todos. Todos olharam para ela.

- Desde quando você sabe jogar Quadribol Dominique? – Perguntou Hugo.

- Desde que aprendi com o Tio Carlinhos! – Ela disse agressiva.

-As vezes me pergunto se você é filha do papai ou do tio Carlinhos. – Disse Victoire. – Nossa é Dragões, é quadribol…

- E você é uma boa artilheira? – Perguntou Caleb.

- Consigo me desenrascar bem. – Ela disse encolhendo os ombros.

- Optimo, entrou no time, há treino hoje as 18 horas!

- Ta bom. – Ela disse dando costas.

- Espera… - Disse Melany. – Mas assim? Sem prestar provas?

- Não temos tempo para isso, temos é que ter uma equipa com sete jogadores, e acabei de resolver o nosso problema.

- E se ela não jogar bem? – Perguntou a garota irritada, embora não soubesse porquê. Mas Caleb simplismente ignorou-a.

Rose não ligou a nada do que eles estavam dizendo, estava fazendo os deveres de Runas Antigas, ao seu lado Ted e Victoire conversavam animadamente, e ela pode ouvir a última coisa que Ted disse.

- Eles acabaram expulsando então a minha avó Andromeda… - Avó Andromeda? Rose largou o pregaminho nesse mesmo instante e olhou para eles eufórica, como se tivesse descoberto o tesouro.

- TED! – Ela praticamente gritou feliz,  Victoire deu um salto no mesmo sitio, e os cabelos de Ted passaram de castanhos a azuis devido ao susto. Ela levantou com os dois a olhando como se ela tivesse pirado de repente, pegou a mão de Ted obrigando-o a levantar-se. – Preciso que venha comigo!

- Mas o que… - Ele tentou falar. Victoire olhava para eles confusa.

- Vic, eu já trago seu namorado de volta ta? Só cinco minutinhos! – E saiu arrastando Ted pelo braço.

- Nossa! – Exclamou Lily.

- É.. – disse Hugo calmamente. – A minha irmã é uma piradinha mesmo, deve ter passado alguma ideia brilhante pela cabeça dela.

Victoire riu, é, a Rose as vezes parecia maluca.

Rose arrastava Ted pelos corredores.

- Rose, onde vamos? – Perguntou Ted em vão, seus cabelos estavam novamente castanhos. Rose não respondeu, dava passos largos com um brilho estranho nos olhos. Cruzaram com Clint perto da sala  de Aritmância, antes que ele pudesse soltar algum dos seus venenosos comentários , ela encurralou-o contra a parede dizendo.

- Viu o Scorpius?

- Porque quer saber?

- Viu ou não?!

- Vi ele perto indo para a Torre das Corujas.

- Optimo, xau!

- De nada! – Ele gritou quando eles já tinham lhe virado as costas. – Grifinórios mal educados, aposto que a gostosinha da sua prima é mais educada que você. – Ele disse obviamente se referindo a Victoire. Ted voltou para trás com os cabelos vermelhos de raiva. Rose puxou-o pelo braço.

- Não temos tempo para isso! Vamos. – E puxou-o.

Quando Clint já os tinha perdido de vista, ele perguntou.

- O que está acontecendo… o que é que a gente… o que VOCÊ quer com o Malfoy?

Mais uma vez ela o ignorou, chegaram a torre das Corujas, subiram e Scorpius estava lá, como sempre acompanhado do seu Mocho-Real, estava de costas para eles, não deu pela chegada deles.

- Scorpius… - Ele sorriu ao ouvir a voz dela, e olhou para trás, seu sorriso se desvaneceu.

-Uau… quando você disse que queria que todo o mundo soubesse da nossa amizade não sabia que ia ser assim… - Ele riu nervosamente.

- Amizade? – Perguntou Ted.

- Isso agora não interessa! – Disse Rose. Aproximou-se de Scorpius fazendo-o olhar para Ted, que não estava entendendo nada. – Você estava enganado…

- Sobre o quê?

- Quando disse que não tinha primos… você tem um primo, um primo afastado na verdade…

- Do que você está falando?

Ted, percebendo onde Rose queria chegar, passou as mãos pelos cabelos, novamente castanhos.

- Rose, não…

- O Ted! O Ted é seu primo!

Scorpius a olhou confuso.