Mais uma terça-feira entediante, levantei ja indisposta e tomei um banho, coloquei meu uniforme e tomei meu café da manha. Somente Felipe estava acordado, minha mãe como "trabalha" até tarde, ainda estava dormindo, já meu pai não aparecia em casa a dois dias.

Me despedi de meu irmão e fui pra escola, assim que cheguei a primeira coisa que ouvi foi "Ei gatinha sua mãe tem um horário pra mim?" como sempre ignorei e fui direto para minha sala. As aulas passaram se arrastando, durante  todo o período as piadinhas não cessaram. Na hora da saída fui barrada por Pablo, o idiota da minha sala.

– Ei! Onde vai com tanta pressa? - falou me abraçando e me levando junto com ele

– O que você quer, Pablo? Me deixa em paz! - falei me livrando de seus braços

– Só queria dizer que você é linda, e seria um pecado não te provar

– Voce me inoja - cuspi em sua cara e sai correndo

Cheguei em casa ja chorando, percebi que estava sozinha então corri pro meu quarto e peguei a lâmina que usava para fazer os corte. Sentei ao lado da cama, respirei fundo e arrastei a lâmina sobre minha pele, olhei para meu braço e vi que fiz um corte pequeno, me posicionei para refazer o gesto, quando a porta se abriu revelando minha mãe.

– O que estava fazendo? - perguntou correndo até mim

– Me livrando desse sofrimento

– Carolina, como pode fazer isso? Não pensou em que eu e seu pai sentiriamos?

– E voce pensou em mim ou no Felipe, quando decidiu se prostituir?

Ela não me respondeu, apenas me olhou tristemente

– Voce algum dia se perguntou o que acontece com seus filhos? Voce sabia que eu ganhei uma medalha por melhor desempenho? Ah, claro que não, Felipe que estava comigo na hora. Por que faz isso cosigo mesmo? Por que não arruma um emprego digno de você? - falei tudo que estava guardado durante anos

– Eu queria ser uma mãe melhor, te dar uma boa vida, te dar tudo que eu não pude ter, mas parece que eu falhei nesta missão. Eu praticamente te joguei nas mãos do seu irmão. E meu filho mal vi o seu crescimento, agora já é um homem formado. – falou chorando

– Mãe, me perdoa eu não devia ter falado aquilo, você é uma boa mãe sim.

– Não querida, eu não sou e você estava certa, eu sou capaz de arrumar um emprego digno de mim

Então ela me abraçou e sussurrou no meu ouvido

 "Minha garotinha, pare com isso por favor?"

 Apenas afirmei com a cabeça e sussurrei pra ela

"Me promete que nunca mais deixa esses homens te tocarem?"

Assim como eu ela apenas afirmou com a cabeça e me soltou.

– Vem, vamos cuidar desses cortes, depois vamos tomar um sorvete e conversar. - falou abrindo um sorriso

– Ta bom - foi tudo que consegui responder

Ele fez um curativo em meu braço e fomos pra sorveteria ao lado do serviço do meu irmão, ficamos conversando por horas, ela me contava tudo que passou na infância e eu contava pra ela o que estava acontecendo comigo. Quando deu 17hs fomos buscar meu irmão, ele ficou surpreso em nos ver e ficou muito contente quando soube da decisão de mamãe.

Quando chegamos em casa meu pai estava na sala com mais dois capangas, ele olhou para nós e sorriu.

– Essa é minha familia, voces dois vão protege-los, ficarão sempre por perto e se alguma coisa acontecer a eles, voces dois serão os culpados - falou olhando para os dois homens

– Papai! - e corri para abraça-lo

Sei que meu pai não é a melhor pessoa do mundo, mas ainda é meu pai. Fizemos um abraço em familia e os outros caras foram embora. Contamos pra ele sobre a decisão da mamãe, e por incrivel que pareça ele ficou feliz, fizemos o jantar e passamos a noite em familia.

Antes de ir dormir vi meu pai sair de casa com duas garotas, torci pra que minha mãe não tivesse visto, tarde demais, ela estava chorando abraçada a Felipe, essa cena foi de partir o coração.

E mais uma vez um dia que estava indo muito bem foi estragado, acho que nunca terei uma vida perfeita, espero que pelo menos seja feliz.