Suteki da Nee escrita por Yoruki Hiiragizawa


Capítulo 20
Você facilita tudo quando a vida fica difícil


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: "Lucky", interpretada por Jason Mraz (feat. Colbie Caillat).
Boa Leitura!!



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SUTEKI DA NEE
por Yoruki Hiiragizawa

Capítulo Vinte
Você facilita tudo quando a vida fica difícil


Sakura olhava através da janela do shinkansen, mal acreditando que todo aquele tempo já havia se passado. Entre o casamento do irmão, as provas do primeiro período letivo e a preparação da própria viagem para Kyoto, nem vira aquelas duas semanas passarem. Olhou no relógio do celular que comprara na semana anterior, por sugestão de Shaoran, para manterem contato via e-mail, e viu que ainda faltava meia hora de viagem antes que chegasse ao seu destino.

Aceitou o convite para passar as férias em Kyoto logo após o casamento de Touya, mas teve que esperar o término das provas antes de se pôr a caminho. Aproveitando a ocasião, retomara contato com uma antiga amiga, Sawako. Conclusão: a garota conseguira reunir alguns amigos da turma do primário e ginasial para um “Tanabata de reencontro”, como decidira chamar. Então Sakura nem havia chegado ainda e já tinha um compromisso para aquela mesma tarde e noite.

Suspirou olhando o livro que trouxera para ler durante a viagem, mas que quase não fora tocado, no seu colo. Não que fosse desinteressante, mas estava por demais agitada, inquieta, embora não soubesse dizer exatamente o motivo. Pensou nos amigos que reveria, nos lugares que voltaria a visitar e um sorriso de antecipação se formou em seus lábios.

O sistema de alto-falantes do trem a arrancou daquelas ponderações ao anunciar que chegariam a Kyoto dentro de cinco minutos. Sakura olhou ao redor da poltrona em que estava sentada, verificando se não estava esquecendo alguma coisa e guardou o livro na bolsa.

O que se passou a seguir foi tão rápido que quase não conseguiu acompanhar. Ao desembarcar do shinkansen, encontrou o motorista dos avós, senhor Morioka, esperando-a na plataforma. Antes que pudesse dar-se conta, já estava com a avó em um de seus restaurantes favoritos, conversando sobre amenidades e lamentando a ausência do avô, que apenas voltaria para casa no dia seguinte.

Por um tempo, sentiu-se transportada de volta ao passado enquanto ouvia, como já fizera tantas vezes antes, aquela senhora lhe contar sobre suas atividades de jardinagem e o trabalho voluntário no Hospital Infantil. Assim, o almoço se passou tranquilamente, mas o horário que Sakura havia combinado de encontrar com os amigos se aproximava, o que as obrigou a deixar o restaurante.

“Tem certeza, Sakura?” – a mulher mostrava-se preocupada. – “Seria mais seguro se Morioka a levasse até o Templo Yasaka , não acha?”.

“Sei que seria mais seguro, vovó, mas é mais rápido se eu pegar o metrô até a Estação Keihan. Depois disso, em cinco minutos de caminhada estarei no Templo...” – argumentou com um sorriso. – “Além disso, eu quero aproveitar e admirar a decoração da cidade para o Tanabata...” – segurou carinhosamente a mão da mulher. – “Não se preocupe, eu ainda sei como andar por aqui, mas prometo que chamarei o senhor Morioka quando for a hora de voltar para casa...” – falou, tranquilizando-a um pouco.

“Neste caso, divirta-se, querida!” – abraçou-a gentilmente, afastando-se ao lado do motorista, enquanto Sakura seguia a pé para a Estação do outro lado da rua.

O percurso levou cerca de quinze minutos e Sakura desceu em Keihan, cruzando algumas quadras e observando as ruas enfeitadas com bambus e lanternas, que seriam acesas mais tarde. Ainda era cedo, mas já era possível ver diversas pessoas vestindo yukata e circulando de um lado para o outro. Como havia dito, levou cinco minutos para alcançar a entrada do Templo Yasaka.

Tinha boas lembranças daquele lugar; aquela era sua antiga vizinhança. Sabia que, se virasse à direita e continuasse seguindo a rua por quatro quadras, estaria em frente à escola onde estudara; e caso fosse para esquerda, em cerca de dez minutos, chegaria a casa onde passara a maior parte de sua vida. Entretanto, algo não parecia certo. Alguma coisa estava fora de lugar...

“Sakura?” – ouviu alguém chamar e olhou para trás, deparando-se com uma garota de longos cabelos negros e pele clara. Sorriu. – “Ah, eu sabia que era você!”.

Sawako!” – abraçaram-se longamente. – “Há quanto tempo!”.

“Quatro anos!” – disse a garota ressentida. – “E você havia garantido que viria nos visitar em todas as férias...” – falou colocando as mãos na cintura.

“Desculpe por isso...” – murmurou, sem graça.

“Deixe para lá!” – sorriu, pegando-a pela mão. – “Venha, vamos entrar!” – passaram pelo portal do Yasaka. – “Hikaru já me enviou duas...” – interrompeu-se, ao ouvir o telefone apitar e riu. – “Ou melhor... três mensagens, mandando eu me apressar...” – caminhavam com passos rápidos. – “Aliás, você está ótima!”.

“Obrigada! Você também está muito bem! Muito mais solta...” – comentou, lembrando o quanto a amiga costumava ser introvertida e calada.

“Bem... aconteceram várias e várias coisas...” – falou, ficando levemente corada. Sakura sorriu, compreendendo muito bem o que ela queria dizer. – “Ah, ali estão eles!” – soltou a mão de Sakura, e acenou para quatro jovens que estavam reunidos no pátio do templo. – “Hei, pessoal, olhem quem eu achei...”.

Em um instante, Sakura se viu cercada por alguns dos amigos mais próximos que já tivera. Sentiu que era abraçada entusiasticamente e logo identificou a dona dos cabelos castanho-avermelhados cujos braços a esmagavam.

“Sakura! Sentimos tanto a sua falta!” – dizia a jovem, ainda pendurada no seu pescoço.

“Shidou, você a está sufocando!” – um rapaz baixinho comentou, fazendo com que libertasse a jovem de olhos verdes.

“Puxa, Hikaru, você continua bem forte...” – Sakura riu, esfregando o braço levemente e se voltou, agradecida, para o rapaz que a salvara. – “Há quanto tempo, Otani!”.

“Realmente! Como você tem passado?” – ele indagou educadamente.

“Estou muito bem, obrigada!” – sorriu, virando-se para uma jovem loura de óculos. – “Fuu, fiquei sabendo que você entrou para a Orquestra Sinfônica de Kyoto, meus parabéns!” – cumprimentou-a alegremente.

“Muito obrigada!” – sorriu embaraçada e mudou de assunto. – “E você, o que tem feito?”.

“Bem, eu...” – foi interrompida por um rapaz de cabelos negros, presos num curto rabo de cavalo.

“Hououji age como se não fosse grande coisa, mas foi um feito e tanto!” – disse, deixando a loura embaraçada. – “Ela é o membro mais novo da Orquestra principal...”.

“Imagino o quanto deve ter sido difícil...” – Sakura suspirou, voltando-se para encará-lo. – “E como vai a sua banda, Kira?”.

“Está a todo vapor desde que conseguimos convencer Mitsuki a ser nossa vocalista!” – respondeu, olhando em volta a procura de alguém. Ao não encontrar quem procurava, virou-se para Sawako. – “Falando nisso, Kuronuma, a Mitsuki não disse que viria?”.

“Sim, mas ela vai nos encontrar mais tarde...” – respondeu tranquilamente.

“Hei, estou muito atrasado?” – um rapaz se aproximou de Sawako, fazendo-a corar e menear negativamente a cabeça. – “Ah, como vai, Kinomoto?” – cumprimentou ao ver a “convidada”.

“Vou bem. E você, Kazehaya?” – cumprimentou-o, com os olhos verdes brilhando enquanto sorria para Sawako.

“Não poderia estar melhor...” – respondeu sorrindo.

”Hei, Shôta, ela já chegou? A Okamoto?” – um outro rapaz, de cabelos negros bem curtos, perguntou se aproximando.

“Já sim, Ryu!” – Kazehaya respondeu, rindo. – “E não é Okamoto; é Ki-no-moto!” – meneou a cabeça, segurando carinhosamente uma das mãos da morena a sua frente e sussurrando algo para ela, que ficou ainda mais encabulada.

“Há quanto tempo, Sanada!” – Sakura desviou o olhar, evitando invadir o momento do casal e encarou o recém-chegado. – “Vejo que ainda tem problemas para lembrar o nome dos outros...”.

“É... desculpe...” – ergueu suavemente os ombros.

“Não se preocupe...” – sorriu, indicando ter se conformado com a situação. Ele sempre fora daquele jeito, afinal. – “Ainda faz parte do clube de baseball?”.

“Sim, e agora sou o capitão do time...” – replicou, com um tom de orgulho comedido.

“Não posso dizer que estou surpresa...” – sorriu, parabenizando-o.

Trocou mais algumas palavras com Ryu, mas ele logo pediu licença, indo cumprimentar Kira, que conversava com Kazehaya. Sakura notou que Otani estava afastado enquanto falava ao telefone. Hikaru e Fuu estavam em uma fila para comprar amuletos; Sawako se aproximou de Sakura com um sorriso nos lábios.

“Então... você e o Kazehaya agora são um casal...” – comentou suavemente, deixando-a com as bochechas afogueadas ao confirmar. – “Vocês ficam lindos juntos!”.

“Obrigada...” – suspirou, observando o baixinho ao telefone. – “Otani deve estar falando com Risa...” – comentou, fazendo Sakura se lembrar da alta colega, que no oitavo ano já media 1,69 metros. – “Ela disse que não conseguiria dispensa do trabalho hoje...” – disse tristemente.

“Podemos combinar alguma coisa com ela em outro dia...” – viu o rapaz desligar o telefone um pouco aborrecido. – “Ela e Otani continuam tão inseparáveis quanto antes?” – quis saber, fazendo Sawako rir levemente.

“Acho que você poderia dizer que estão mais inseparáveis do que antes...” – isso surpreendeu Sakura. – “Eles fizeram um ano de namoro no dia 17 de julho...” – comentou sorridente.

“Nossa! Isso é algo que eu nunca suspeitaria...” – desviou os olhos verdes para o rapaz, de forma pensativa. – “Risa vivia dizendo que só namoraria um rapaz mais alto que ela...” – viu a morena encolher os ombros e desviar o olhar para o namorado.

“Ela dizia isso, mas a verdade é que não podemos escolher por quem nos apaixonamos, não é mesmo?” – viu Sakura concordar e suspirar.

“O que mais aconteceu por aqui durante os últimos quatro anos?” – Sakura indagou, não querendo mergulhar em introspecção a respeito de Shaoran. – “Que outros casais se formaram da nossa turma?”.

“Kira e Mitsuki estão juntos desde o primeiro ano do colegial e...” – ela arregalou os olhos, lembrando-se de algo. – “Acho que o que mais a deixará chocada será o fato de Meiko ter se casado...”.

“Não acredito!” – franziu a testa levemente. – “Com quem? Não me diga que foi com o Miwa...”.

“Não! O Miwa nem teve chance...” – meneou a cabeça. – “Ela se casou no mês passado com o professor Namura...” – disse, deixando Sakura espantada. – “Eles se mudaram para Hiroshima logo após o casamento...”.

“Isso foi realmente uma surpresa!” – comentou com um sorriso, pensando na amiga que, graças ao conturbado relacionamento dos pais, não acreditava em casamento e no jovem professor de Educação Física que entrara na escola há quatro anos. – “Espero que eles sejam muito felizes...” – e completou mentalmente: ‘E que a felicidade deles dure por muito, muito tempo!’.

Hikaru e Fuu se aproximaram sorridentes e se juntaram a Sakura e Sawako.

“Compramos tanzaku...” – Fuu comentou, entregando tiras de papel colorido às duas amigas.

Sakura e Sawako agradeceram com sorrisos. Cada uma escreveu um pedido e amarrou, em seguida, sua tira de papel em um dos muitos arranjos de bambu que estavam espalhados pelo templo.

“Ainda falta alguém?” – Hikaru indagou, olhando ao redor e sendo imitada pelas outras três.

“Apenas Mitsuki, mas ela se juntará a nós mais tarde...” – Sawako respondeu, suspirando.

“Então podemos ir, não é?” – Fuu olhou para a morena, recebendo assentimento.

“Posso perguntar o que faremos?” – Sakura encarou as garotas curiosamente.

“Bem, o planejamento é o seguinte: primeiro assistiremos à encenação anual da lenda de Orihime na praça em frente à biblioteca...” – Sawako começou a explicar.

“E que, aliás, começará em quarenta minutos...” – Hikaru ressaltou.

“Depois iremos até o Nishikikoji para comermos alguma coisa enquanto colocamos a conversa em dia...” – Sawako continuava a explicação, vendo um olhar de aprovação no rosto de Sakura. – “Veremos a queima de fogos e, mais tarde, temos um horário reservado no Kawanoutau, um karaokê-bar que inaugurou na beira do rio Kamo no Natal do ano passado...”.

“Mal posso esperar!” – Sakura sorriu em antecipação. Era o mesmo tipo de atividade que costumavam fazer quando ela morava ali. Não tinha erro.

“Pessoal! Vamos andando!” – Hikaru chamou os rapazes e, logo, estavam todos a caminho da biblioteca.

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Shaoran não podia acreditar que já estavam no dia sete de agosto e que ainda não haviam resolvido a situação de Mei Ling. Sentia-se constantemente mal-humorado e tinha, com grande frequência, vontade de esganar um ou mais dos anciões. Não entendia o que eles esperavam ganhar ao manter a prima e a filhinha dela fora da família, mas não importavam os argumentos que ele e John levantassem, nada parecia convencer aquelas múmias paralíticas a fazer o que era certo.

Passou nervosamente a mão pelos cabelos, bagunçando-os enquanto lia os últimos documentos que o cunhado lhe enviara sobre o caso. Começava a sentir certo respeito pelo falecido marido da prima por causa das medidas de segurança que ele havia tomado para não deixá-la completamente destituída, mas mesmo aquelas precauções extras não foram suficientes para lidar com a situação atual. Ele aparentemente não imaginara que Mei Ling seria obrigada a gastar altas quantias para arcar com os custos médicos da filha e, a longo prazo, era isso o que mais o vinha preocupando. O som de batidas na porta o fez erguer os olhos do papel.

“Entre!” – disse, vendo Wei abrir a porta para dar passagem a John, com uma expressão cansada. – “Nem me fale... Más notícias?” – suspirou sonoramente enquanto o homem se acomodava em uma cadeira a sua frente.

“Como adivinhou?” – ironizou, massageando a fronte.

“O que houve?” – indagou, recostando-se na cadeira. O advogado fez uma careta como que se desculpando. – “Esquece... Tem que discutir a situação com Mei Ling primeiro...” – Shaoran ergueu as mãos, já estava se acostumando a ouvir aquela resposta.

“Sim, desculpe...” – o homem encolheu os ombros, encarando-o. – “De qualquer forma, você me chamou aqui porque...” – começou.

“Sobre isso, eu estava lendo os relatórios e comecei a pensar em uma coisa...” – abriu um arquivo e o colocou em frente ao cunhado. – “Até agora estivemos tentando convencer os anciões de que qualquer problema que Hua Jing possa desenvolver não significará nada se tratado desde cedo e que pode, inclusive, desaparecer com o tempo...”.

“Sim, porque a justificativa deles, embora absurda, é o fato de a Família não poder lidar com membros instáveis...” – meneou a cabeça com desgosto. O fato de também terem colocado a mãe do bebê na categoria de ‘instável’ vinha sendo um dos principais motivos de zanga entre os “apoiadores” de Mei Ling.

“Estive pensando que talvez devêssemos usar uma estratégia diferente...” – disse, apontando para o arquivo que o homem pegara para ler. – “Os prontuários médicos e exames que Hua Jing tem feito apontam para o fato de as complicações no parto terem causado os problemas dela, não é?” – começou chamando a atenção para um trecho que havia marcado. – “Se não há fatores genéticos envolvidos, então Mei Ling, tampouco, pode ser considerada responsável por...”.

“Xiao Lang, eu estou entendendo sua linha de raciocínio, mas os anciões não...” – interrompeu-o, pousando o arquivo na mesa.

“Você não está entendendo, John...” – cortou a sentença do outro abrindo um sorriso engenhoso. – “Eu percebi uma coisa na última reunião: os anciões sabem que não pretendemos levar a situação para os tribunais e por isso não estão nem um pouco preocupados...” – fez o outro erguer uma sobrancelha, legitimamente interessado. – “Eles perceberam que nossos argumentos são voltados para convencer a eles e não a um júri ou um juiz...”.

“Certo, mas o que você sugere? Sabe que Mei Ling quer evitar maiores conflitos...”.

“Sim, EU sei! Mas os anciões não sabem que a decisão partiu dela...” – Shaoran deu de ombros. – “Sugiro que, a partir de agora, comecemos a tratar as informações que temos como se fôssemos apresentá-las em um julgamento...”.

“Você quer fazer parecer que vamos levar a história a público...” – um sorriso começou a se esboçar no rosto de John. – “Eles vão levar um susto ao notar a mudança no discurso...” – comentou, pegando novamente a pasta que havia deixado de lado. – “Sabe, foi uma ideia brilhante... para um Moleque... – viu o jovem rir do comentário.

Shaoran pensou em um livro antigo que repousava na cabeceira de sua cama no Japão: o diário de viagem de Howard Carter, mas, mais especificamente, na mensagem manuscrita que o senhor Fujitaka colocara na folha de rosto: ‘Grandes mudanças começam com pequenos incômodos, pois mentes e corações inquietos são capazes de analisar a si mesmos e aos outros com igual racionalidade para, então, quebrar barreiras’.

Por algum motivo, lembrara-se daquelas palavras durante a última reunião e ao ruminá-las cuidadosamente tivera uma ideia do que deveriam fazer para vencer aquela batalha sem fim contra os obstáculos que os anciões impunham a eles.

Um sorriso gentil se desenhou em seus lábios ao lembrar-se de quando leu aquela mensagem pela primeira vez. O incômodo que sentia então era de origem completamente diferente e infinitamente mais agradável. Fujitaka não teria como saber as mudanças que ocorreriam dentro dele naquele curto período de tempo, mas suas palavras não poderiam ter sido mais precisas.

‘Nunca imaginei que poderia sentir tanta saudade de alguém...’, suspirou pesadamente, sentindo o coração palpitante ao pensar na jovem de olhos esmeralda.

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Sakura assistia à apresentação da lenda de Orihime com os olhos fixos, não querendo perder nenhum detalhe. Já havia assistido a encenação daquela história diversas vezes, mas a cada ano inovavam em alguma coisa. Dessa vez a história era contada paralelamente, em três estilos de dança distintos, que se misturavam e cruzavam sem interferirem um com o outro, era hipnotizante, além de consistente com a própria lenda.

Seu telefone vibrou levemente, fazendo-a desviar o olhar da cena à sua frente em que três Orihimes diferentes tinham seu encontro anual com seus respectivos Kengyus.

Era uma mensagem de Yamazaki avisando que os professores haviam finalmente anunciado que a última cidade a integrar o roteiro deles seria Wakkanai e que também haviam concordado com a lista, que ela e Yamazato elaboraram, de locais disponíveis para visitação nos períodos livres da excursão. Ficou satisfeita.

‘Pelo menos até a volta às aulas, acho que teremos algum descanso...’, considerou, não conseguindo evitar que seus pensamentos se voltassem para a ruiva.

Após a desconfiança inicial, ela pareceu, finalmente, convencer-se que Sakura não usaria a situação das famílias delas para obter vantagem no colégio. Depois disso, conseguiram elaborar rapidamente um plano de ação, distribuíram as tarefas igualmente e começaram a pesquisar tanto as três cidades já definidas quanto as duas que haviam sido postas em votação. Sakura ficou surpresa com a habilidade de Yamazato em descobrir lugares interessantes, que tinham uma aura jovem: o que agradaria aos colegas, mas que, ao mesmo tempo, eram instrutivos: o que agradaria aos professores.

Despertou de suas reflexões com os sons dos aplausos ao seu redor e se levantou, acompanhando a multidão na aclamação. Notou que as amigas, sentadas ao seu lado, estavam com lágrimas nos olhos por causa do triste final da apresentação. Sentiu-se mal por ter se permitido divagar daquela forma. Estava ali para ver os amigos e aproveitar sua antiga cidade e não podia ficar voltando para Tomoeda cada vez que se encontrasse distraída.

“Acho que eles se superaram esse ano!” – Otani comentou com um sorriso entristecido, estendendo um lenço para Fuu, enquanto Ryu emprestava o seu para Hikaru.

“Ah... eu me sinto tão boba por chorar com essa lenda toda santa vez...” – Sawako abriu um sorriso, enquanto fungava.

“Você não é boba...” – Kazehaya comentava com o braço ao redor dos ombros da namorada, enquanto ela secava os olhos. – “Não tem como nos sentirmos indiferentes, só isso...”.

“Toda essa emoção me deixou com uma fome!” – Hikaru comentou, arrancando risadas do grupo.

“Tem razão...” – Ryu falou, colocando a mão sobre o estômago. – “Vamos comer!”.

“Próxima parada: Nishikikoji!” – Hikaru deu um salto animado, adiantando-se alguns passos. – “Vocês não vêm?”.

“Acalme-se, Shidou!” – Kira aconselhou, sendo seguido de perto pelos outros. – “Para quê a pressa? O restaurante não vai fugir...”.

“Pare de pegar no pé dela, Takuto!” – disse uma garota de longos cabelos castanho-escuros se aproximando e atraindo a atenção de todos. – “Boa tarde! Desculpem a demora!” – e fixou o olhar em Sakura. – “Ora, já era tempo de você vir nos visitar, não é?”.

“Oi, Mitsuki!” – sorriu um pouco encabulada.

“Achei que você só conseguiria sair do cursinho mais tarde...” – Sawako a cumprimentou com um sorriso.

“Decidi sair mais cedo...” – respondeu parando em frente à Sakura, observando-a atentamente. – “Afinal, não é sempre que temos a chance de rever desertores, não é?” – comentou, abraçando-a. – “Não imagina o quanto sentimos a sua falta!”.

“Desculpe não ter voltado antes...” – murmurou com lágrimas nos olhos, retribuindo o abraço.

“Sabe que só a estou provocando!” – abriu um sorriso.

“Nós estávamos indo comer alguma coisa...” – Fuu comentou, apontando para Hikaru que apressava o grupo alguns passos adiante.

Os nove jovens puseram-se a caminho do restaurante animadamente, enquanto o sol baixava, prenunciando uma agradável noite de verão.

‘Nós estamos no número exato para formar a Sociedade do Anel...’, Sakura pensou com um sorriso, mas, ao olhar para o grupo à sua volta, achou melhor não falar nada. Aquele seria um comentário que faria, sem pensar duas vezes, se estivesse com Shaoran. Um leve aperto tomou conta de seu peito, então ela logo afastou seus pensamentos...

Os amigos falavam sobre os assuntos mais variados envolvendo pessoas conhecidas; Sakura ouvia tudo atentamente, fazia comentários e perguntas em momentos específicos, mas, basicamente, restringia-se a ouvir o que lhe contavam.

Assim que chegaram ao restaurante, que ficava à beira do rio Kamo, pediram uma mesa, e foram encaminhados ao deque, de onde podiam ver uma longa extensão de ambas as margens do rio até que se perdesse de vista ao fazer a curva. Acomodaram-se e o garçom lhes entregou os cardápios, afastando-se em seguida.

“Sinta-se a vontade para pedir o que quiser, Kinomoto...” – Kira falou, atraindo a atenção dos olhos verdes. – “Hoje você é nossa convidada!” – completou, fazendo Sakura olhar para os amigos ao redor da mesa que concordavam.

“Eu agradeço a gentileza, mas vocês não precisam fazer isso!” – espantou-se. – “Eu posso pagar a min-...”.

“Sabemos que você pode pagar, Sakura...” – Hikaru a encarou decididamente. – “Sabemos quem você é!”.

“Exatamente. Não é este o problema...” – Sawako sorriu. – “Simplesmente: hoje você é nossa convidada...” – reforçou encarando-a seriamente. Vendo os olhares dos outros, Sakura suspirou derrotada, antes de concordar.

“Parece que não tenho nenhuma vantagem, mesmo que vocês já conheçam minha identidade secreta...” – pronunciou rindo levemente, mas parou, enrubescida, mordendo os lábios ao notar a confusão nos olhos dos amigos. ‘Apenas Shaoran entenderia o que aquilo significava...’, repreendeu-se por não ter se refreado a tempo.

Para não permitir que um silêncio constrangedor se instalasse, Mitsuki se voltou para Sakura com um sorriso no rosto:

“Pelos últimos quatro anos, eu tenho guardado algo que você esqueceu na escola...” – comentou, atraindo a atenção dos olhos esmeraldinos enquanto mexia na bolsa, e retirou dela um livro.

“Ah!” – Sakura deu um gritinho arregalando os olhos em surpresa. – “Então ficou na escola! Achei que o tivesse perdido durante a mudança...” – pegou-o cuidadosamente das mãos de Mitsuki e passou os dedos cuidadosamente sobre o título impresso na capa dura onde se lia: Kokoro no Hon.

“Hei, esse não é aquele livro que você não soltava nunca?” – Hikaru indagou curiosamente. – “Aquele que havia sido de sua mãe?”.

“Sim...” – apertou o livro contra o peito carinhosamente. Nadeshiko o havia comprado durante o primeiro encontro que tivera com Fujitaka e escrevera na folha de rosto um breve relato sobre a tarde maravilhosa que passara com aquele que viria a ser seu marido. Apenas aquilo já era o suficiente para fazer Sakura considerá-lo um tesouro, mas o livro também era uma obra prima literária ao qual a garota muitas vezes atribuíra o fato de ter começado a escrever. Sakura desviou, novamente, o olhar para Mitsuki. – “Obrigada por tê-lo guardado!”.

“Do que você está falando?” – replicou, suspirando. – “É claro que o guardaria, sei o quanto é importante para você!”.

Com os olhos rasos d’água, Sakura observou os rostos ao redor da mesa que a olhavam com sorrisos ternos. Ela mal teve tempo de se recompor quando o garçom se aproximou, indagando se estavam prontos para fazer os pedidos, recebendo várias afirmativas, anotou-os rapidamente. Ainda não havia conseguido analisar o cardápio, mas se sentiu constrangida por estar levando tempo demais, então, pediu um típico Yosenabe.

“Bem, nós temos falado, falado e falado, mas ainda não ouvimos as suas novidades...” – Kazehaya mencionou assim que o garçom se afastou. Todos os olhares se voltaram para ela, deixando-a encabulada.

“Bem, por onde eu poderia começar?” – suspirou um pouco pensativa.

Aquilo era mais difícil do que parecia. Qualquer coisa que ela falasse, envolveria o pessoal de Tomoeda e poderia ser desinteressante para eles, pois não conheciam aquelas pessoas. Mesmo assim, começou a relatar sobre sua vida em Tomoeda, tentando não mencionar muitas vezes o nome Shaoran, o que era um grande desafio. Pelos vinte minutos seguintes ela falou quase ininterruptamente, apenas parando quando o garçom chegou com as refeições.

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“Se vocês realmente planejam levar isso adiante, é porque estão dispostos a arcar com as consequências...” – Jun Tai Li, o mais velho dos anciões, quebrou o silêncio com uma sobrancelha levemente erguida em ironia. – “Não podem acreditar realmente que ganharão alguma coisa com isso...”.

“Vocês devem considerar que uma disputa pública por reconhecimento apenas trará mais vergonha à mãe e filha...” – Yun Jin Li, que era o representante legal da família, tentou suavizar o sentido do que o outro havia enunciado.

“Não será nada benéfico para o clã nem para os negócios também...” – John retrucou, recebendo olhares de desdém.

“Vocês não podem realmente ignorar as consequências que um julgamento como esse traria...” – Shaoran disse num tom de voz controlado, que não transmitia o que realmente sentia. – “Se o caso de Mei Ling for a público, será um escândalo amplamente divulgado pelos meios de comunicação e, com certeza, chegará ao conhecimento dos parceiros comerciais do clã em outros países...” – comentou, vendo os anciões trocarem um breve olhar conspiratório.

“E acreditem, senhores, quando falamos que será amplamente divulgado...” – Hartmann interrompeu a troca de mensagens silenciosas. – “Não hesitarei em usar de meus contatos na Secretaria de Direitos Humanos para isso...”.

“Pode parecer que não fará diferença, mas vocês não podem se esquecer que fora de Hong Kong as coisas mudaram; a participação das mulheres no mundo foi alterada...” – o rapaz continuou, como se não tivesse sido interrompido. – “As repercussões da decisão de vocês podem ser muito maiores do que imaginam...”.

“Esclareça o que quer dizer com isso, Xiao Lang.” – Jun Tai comandou, parecendo, pela primeira vez em todas aquelas intermináveis semanas, preocupado.

“A maior parte das empresas Europeias e Americanas com as quais temos negócios tem mulheres em seus altos escalões: Gerentes, Diretoras, Vice Presidentes, Presidentes...” – controlou a vontade de rir ao ver os velhos exibirem uma careta. Quão atrasados eles poderiam ser? – “Isso, inevitavelmente, faria o valor das ações das Empresas Li despencarem nas principais Bolsas de Valores ao redor do mundo. E acabaria sendo refletido no valor das nossas ações aqui em Hong Kong...”.

“Mas isso não pode acontecer!” – Jiang Chao Li, que, além de um ancião, era também o presidente das Empresas, bateu na mesa falando com voz de trovão. – “Você tem ideia de quantas Famílias gostariam de pôr as mãos nas ações dos Li?”.

“Jiang Chao...” – Jun Tai o repreendeu, fazendo-o calar-se.

Shaoran demonstrava uma falsa tranqüilidade, enquanto observava às expressões sérias dos anciões. John, sentado ao seu lado, permanecia impassível, apenas aguardando uma reação. Qualquer que fosse.

Duas partes distintas do cérebro do rapaz digladiavam em um misto de euforia e medo. Por um lado, agora os velhos os levariam a sério, por outro a resposta deles poderia não ser a desejada. Se o segundo caso se provasse verdadeiro, Mei Ling teria ainda mais problemas...

Jun Tai inspirou e expirou profundamente, fazendo o jovem prender a própria respiração.

“O conselho dos anciões precisará deliberar sobre o assunto...” – declarou por fim, fazendo o coração de Shaoran palpitar. Era a primeira vez que ouvia aquela resposta.

“Muito obrigado, Mestre Jun Tai...” – John prestou uma reverência, levantando-se para sair. O rosto do homem mais velho tornou-se duro em seguida enquanto encarava Shaoran.

“Apenas não fique pensando que, se acolhermos Mei Ling e o bebê na família, você se verá livre do assunto, meu jovem...” – apontou seriamente um dedo na direção dele. – “Uma vez que se envolveu nisto, será sobre seus ombros que mais pesará a nossa decisão...” – advertiu, vendo-o prestar uma reverência e, sem falar nada, sair da sala acompanhando o cunhado.

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Sakura olhava para os livros na prateleira da livraria, sem realmente enxergá-los. Sua mente vagava entre imagens que, desde a tarde anterior, flutuavam diante de seus olhos.

Uma cerejeira... Uma chave mágica... Uma fada... “Ou seria... um fada? Há masculino para fada?’, perguntou-se, fazendo uma nota mental sobre aquele assunto. ‘Mas como posso desenvolver a ideia?’.

Meneou a cabeça, dispersando os pensamentos e olhou as horas no relógio do celular. O senhor Morioka logo estaria passando ali para buscá-la e ela ainda não havia comprado nada.

Passeando pelos corredores, começou a mexer em seu celular e abriu uma foto que Shaoran havia lhe enviado na qual segurava no colo a filha da prima, uma bebezinha linda de rosto rosado e um montinho negro de cabelo. Ele dissera que o nome da menina era Huajin e que significava Flor Perfeita; Sakura obviamente não disse nada, mas considerara o nome um tanto curioso e se perguntava se havia algum outro significado para sua escolha. Suspirando pesadamente, contornou carinhosamente, com a ponta dos dedos, o rosto do chinês.

‘Faz vinte e três dias... faltam mais vinte e quatro...’, pensou, espantada de como sua mente fazia rapidamente os cálculos referentes aos dias que haviam passado separados.

Parecia ter sido há tanto tempo a última vez que ouvira a voz dele e uma eternidade desde que o havia visto. Era uma sucessão de segundos, minutos, horas e dias vazios que não pareciam ter fim.

‘Ah!... Isso não é bom...’, suspirou ajeitando o cabelo atrás da orelha. Se a ausência dele tivera aquele efeito nela em uma situação temporária, o que faria quando ele voltasse para Hong Kong em definitivo? Só de pensar naquilo ela sentia uma dor tão forte em seu peito que a deixava com vontade de chorar...

‘Não! Não posso ficar assim...’, disse a si mesma, tentando acalmar o coração que batia sincopado.

Tinha que reagir! Não podia ficar parada, apenas assistindo enquanto o amor de sua vida ia embora. Porque, chegara num ponto em que não conseguiria mais ignorar a situação. Ele iria embora. E ela tinha que lidar com duas opções: ou se conformava com a separação e desistia do chinês de uma vez por todas... Ou se preparava para segui-lo aonde quer que ele fosse...

E, não importava como olhava para aquela questão, não tinha intenção de deixá-lo sair de sua vida...

‘Mas o que eu posso fazer?’, indagou-se, franzindo a testa. Havia pouco que pudesse fazer no momento, mas era naquele pouco que precisava se concentrar. Ao pensar nisso, deu-se conta que, realizando seus desejos, a primeira barreira que enfrentaria seria a do idioma...

Com isso em mente, aproximou-se da seção em que estavam localizados os cursos de idioma e, visando o material para “aprender a falar mandarim”, selecionou alguns títulos e dicionários.

Enquanto esperava na fila do caixa, pensava na loucura que era aquela ideia, quando não sabia exatamente o que Shaoran sentia por ela, mas não desanimou.

‘Eu sei que ele se sente atraído por mim...’, lembrou-se dos diversos beijos apaixonados que trocaram e da forma como ele a olhara naquela tarde de chuva sob o Pinguim Real, sentindo o coração acelerar. ‘A partir de agora, chega de ser Sakura boazinha!’, tomou uma decisão.

“Eu o farei se apaixonar por mim...” – murmurou abrindo um sorriso radiante. – “Zettai!

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Yamazato saiu da piscina do Country Club e jogou o cabelo para trás, gingando levemente enquanto seguia até a espreguiçadeira em que deixara suas coisas. As férias de verão estavam quase no fim, embora tivessem se arrastado e faltava pouco mais de uma semana para setembro agora. Ela tentava aproveitar aquele tempo. Observou os grupos espalhados ao redor da piscina com estranhamento. Havia algo incômodo no ar naquela tarde, se ao menos conseguisse identificar o quê...

“Bom dia, Akio!” – Hikari se aproximou, colocando a bolsa que carregava na cadeira ao lado da que a ruiva utilizava.

“Há quanto tempo, Hikari...” – falou observando bem a loura. Ela estava mais magra que o normal e um tanto pálida, como se tivesse acabado de se recuperar de alguma doença. – “Você está bem?”.

“Estive doente, mas melhorei, obrigada...” – sorriu fracamente se sentando e começando a passar protetor solar nos braços, rosto e ombros, logo mudando de assunto. – “E como você tem passado?”.

“Eu estou bem, apesar de tudo... você sabe...” – deu de ombros, vendo-a assentir levemente.

“Sim, eu fiquei chocada quando soube que a Kinomoto é...” – começou, sendo interrompida.

“Sim, eu sei...” – a ruiva olhou ao redor, certificando-se que ninguém estava por perto. – “Mas você só pode começar a imaginar a minha surpresa quando ela apareceu lá em casa acompanhando a avó...”.

“Realmente...” – ajeitou um chapéu na cabeça e se deitou preguiçosamente sob o sol. As duas ficaram em silêncio por algum tempo, apenas sentindo o calor do início de mais um dia de verão, até Hikari voltar a falar. – “E como ficaram as coisas entre vocês no colégio?” – indagou curiosa, fazendo Yamazato respirar profundamente fazendo uma pequena careta.

“Confesso que estava bastante preocupada com isso...” – virou o rosto para encarar a loura e encolheu os ombros. – “Mas, no final das contas, a Kinomoto não deu a mínima para a situação e continuamos apenas ignorando uma à outra sempre que possível...”.

Ao ouvir aquilo, Hikari se sentou com uma expressão de espanto no rosto e encarou a ruiva.

“Como assim continuam apenas ign-...” – foi cortada quando alguém apareceu entre as duas cadeiras.

“Bom dia, garotas!” – Akami se inclinou sobre elas com um sorriso no rosto. – “Nossa, Hikari, você sumiu... achei que tinha sido abduzida ou algo assim...”.

“Ah, não... eu estive de cama por causa de uma pneum-...” – não conseguiu terminar.

“Certo, certo...” – voltou-se para Akio. – “Você já tem o que usar na festa da Inoue?” – indagou, fazendo a ruiva arregalar os olhos. – “Porque eu estava planejando ir fazer compras mais tarde...”.

“Eu nem sabia que ela estava dando uma festa...” – ficou pensativa e estreitou os olhos. – “Parando para pensar agora, não recebo convites para festa alguma há uma semana...” – comentou distraidamente.

“Bem, talvez...” – Akami começou com um tom meio indeciso, atraindo os dois pares de olhos sobre si, mas não disse mais nada.

Talvez o quê, Akami?” – Akio a incitou, curiosamente.

“Sim, não nos deixe no suspense...” – Hikari completou, sentindo-se meio entediada.

“É que eu tenho ouvido algumas pessoas comentarem a respeito da sua situação por aí...” – desviou o olhar passando a mão nos curtos cabelos negros.

“Como isso é possível? Apenas meia dúzia de pessoas tomou conhecimento do que estava acontecendo antes de tudo ser resolvido...” – a ruiva se mexeu desconfortavelmente na cadeira. Aquela sensação estranha se tornando mais forte conforme ia tomando consciência dos olhares à distância voltados para ela.

“Eu também ouvi alguém comentando algo sobre a Kinomoto...” – Akami deu de ombros como quem menciona o tempo. Akio estreitou os olhos, fixando-os sobre a morena.

“Quando você ouviu isso?” – quis saber, desconfiada.

“Acho que foi na semana passada, na festa dos irmãos Nagai...” – suspirou, olhando para a ruiva. – “Acho que você foi meio ingênua ao acreditar que ela não sairia por aí espalhando as novidades...”.

“E eu não acredito que a Kinomoto tenha alguma coisa a ver com isso...” – Hikari disse tranquilamente, voltando a se recostar sobre a cadeira e ajeitando o chapéu. Yamazato manteve-se em silêncio, com os olhos voltados para o ‘vazio’.

“E por que não?” – Akami a encarou com um ar desdenhoso.

“Primeiro: porque as únicas pessoas que Kinomoto deve conhecer e que frequentam o Country Club, além de nós, são Daidouji e Hiiragizawa...” – começou, tranquilamente. – “E duvido que aqueles dois saiam comentando esse tipo de coisa por aí...” – começou a mexer em sua bolsa. – “Segundo: porque simplesmente não é do feitio da Kinomoto...” – pegou uma lixa de unha.

“Como pode dizer uma coisa dessas?” – Akami estreitou os olhos, encarando a loura com frieza. – “Por acaso virou amiguinha da Kinomoto agora, Takada?”

“Não, eu apenas sei que ela não dá a mínima para coisas como status e influência...” – começou a polir a unha despreocupadamente. – “Caso contrário já teríamos descoberto de quem ela é neta há muito tempo...”.

A morena olhou de soslaio para Akio que continuava em silêncio, e com os olhos fendidos tão estreitamente que quase pareciam fechados, a encarar alguma coisa que não estava ali. A ruiva detestava ter que admitir aquilo, mas Hikari tinha razão.

‘Se Kinomoto fosse espalhar a história por aí, começaria pelo colégio; mas, depois do dia em que formamos o grupo organizador da viagem, ela nunca mais nem tocou no assunto...’, seu olhar se voltou lentamente para Akami. ‘Além disso...’, a morena não teria como saber, uma vez que estivera tão distante ultimamente e, também, porque Kinomoto não fizera estardalhaço sobre o assunto, mas... Ela está em Kyoto há três semanas...’.

Na verdade, a ruiva nem imaginaria aquilo caso a jovem de olhos verdes não a tivesse avisado pessoalmente no último dia de aula. ‘E o único motivo para ela ter feito isso foi por estarmos trabalhando juntas...’.

“O que você acha disso, Akio?” - indagou Akami um tanto ansiosa.

“Eu acho que preciso ter uma conversinha com a Kinomoto...” – disse a ruiva num tom de voz inexpressivo. Aparentemente aquela era a resposta que a garota queria ouvir, pois abriu um sorriso e suspirou antes de dizer:

“É uma pena que você não vá à festa da Inoue... Pelo jeito terei que fazer compras sozinha...” - e, despedindo-se, afastou-se.

O silêncio se estendeu ali por alguns minutos enquanto o significado do que acontecera se revelava. Por fim, Hikari suspirou pesadamente, trazendo fim à tensão que se formara.

“Eu não sei o que ela planeja, mas eu tomaria cuidado com Akami se fosse você...” – e, pela segunda vez em minutos, Akio viu-se obrigada a concordar com a loura ao seu lado.

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Shaoran encarava o teto de seu quarto na mansão, aproveitando a quietude. Agora que o caso de Mei Ling havia sido, parcialmente, resolvido e ela e a filha estavam devidamente alojadas na casa da família, ele podia finalmente descansar um pouco. Suspirou pesadamente, sentindo-se livre para, pela primeira vez desde que chegara a Hong Kong, pensar em algo que não fosse a prima sem se sentir culpado... E sabia muito bem em quem queria passar seu tempo pensando dali em diante...

Sakura...

Um sorriso gentil se apossou de seus lábios e um sentimento morno se espalhou em seu peito, como um bálsamo que é jogado sobre uma ferida. Dentro de uma semana estaria em Tomoeda outra vez e ele mal podia esperar para vê-la. Queria estar com ela, abraçá-la e beijá-la... Beijá-la...

Fechou os olhos pensando, mais uma vez, naquele momento específico, perdido no tempo, em que ela o beijara no aeroporto. Aquela única lembrança dera-lhe forças para superar aqueles dias infernais de verão... A lembrança e a esperança que brotava em seu peito com o significado que insistia em dar àquele beijo.

‘Como ela vai agir quando nos reencontrarmos?’, indagava-se, imaginando se ela pensava nele também. Entretanto, mais importante do que como ela reagiria, era... ‘O que devo fazer?’.

Se ele tinha certeza de algo, era que precisava se declarar para Sakura. Dizer que a amava... Uma porção de ideias começou a se formar em sua mente; planos e mais planos que tinham um único objetivo.

“E tem que ser perfeito!” – murmurou abrindo lentamente um sorriso enquanto se deixava envolver pelas imagens que se formavam em sua mente.

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Sakura passara todo aquele dia em um estado de inquietação e ansiedade que não se comparava a nada que já tivesse sentido antes. E tudo por causa de quatro palavrinhas que recebera em uma mensagem de manhã bem cedo: “Estou voltando para casa...”. Simples assim. Quatro dias antes do previsto e ela passara o dia todo oscilando entre o nervosismo e a animação. O fato de ter recebido a mensagem enquanto ela mesma se encontrava a caminho de Tomoeda pareceu-lhe coisa do destino.

Havia algo a incomodando, entretanto. Desde o recebimento daquela mensagem não tivera mais notícias dele. Indagara sobre o horário em que ele estaria embarcando e o horário em que chegaria à Narita, mas ambas as perguntas seguiam sem resposta, fazendo-a quase subir pelas paredes do sobrado amarelo.

Havia tentado distrair sua mente durante o dia limpando o quintal e ajeitando o espaço onde seria colocada a casinha para o cachorro que comprara de Isamu. Passara alguns minutos tentando decidir que nome daria ao filhote... sem muito sucesso. Também fez um bolo, organizou seu material para a volta às aulas, escutou os CDs e completou alguns dos exercícios escritos do curso de mandarim. Ah, sim, e também trabalhou em mais algumas ideias do romance que vinha escrevendo. Fizera tudo isso, mas sem conseguir parar de se preocupar por um único momento. E pelas últimas duas horas e meia olhava vagamente para a televisão, desviando o olhar para o relógio a cada cinco minutos e ligando para o apartamento de Shaoran a cada quarto de hora.

Neste estado de apreensão, Sakura não saberia dizer quando foi, exatamente, que adormeceu. Ali mesmo, deitada no sofá... Mas não era surpresa que seu sono não fosse exatamente sossegado.

A próxima coisa que ela se lembraria daquela tarde seria a sensação estranha que a faria acordar. O desconforto que parecia fechar a sua garganta, o coração acelerado, a visão turva. Seu corpo estava gelado, pois ela suava frio. Sentiu tontura e um forte enjoo quando tentou se sentar...

Braços e pernas fraquejaram e ela nada pôde fazer enquanto sentia seu corpo ir ao chão. Sentia as batidas do coração ainda mais fortes, mas não sabia dizer o quanto daquela força se devia ao mal-estar e o quanto era causado pelo desespero que a dominava. Queria gritar, chamar por alguém, por ajuda, mesmo que não tivesse ninguém em casa, mas sua voz simplesmente não saía. As lágrimas quentes começaram a rolar por seu rosto gelado.

Foi quando percebeu que havia algo sob suas costas, machucando-a: o telefone sem-fio caíra no chão junto com ela. Com um esforço fenomenal, ela conseguiu se virar o suficiente para pegá-lo e, sem pensar, apertou o botão de rediscagem, rezando para que alguém atendesse.

O telefone tocou uma vez... duas vezes... três vezes... e Sakura já sentia as esperanças abandonando-a, conforme sua cabeça ficava cada vez mais leve e vazia...

“Alô, residência dos Li...” – veio a voz distante no outro lado da linha. – “Shaoran Li falando...”.

“Sha... S-Shaoran...” – Sakura rouquejou, encontrando forças que ela não sabia possuir. – “M-me ajuda...” – articulou antes de perder a consciência...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Espaço da Revisora:
Cacetada... Contive-me horrores para terminar de revisar antes de escrever minha opinião, e não tem jeito, vou ter que começar do final.

Bru, sua revisora está indignada pelo fato de não ter sido avisada que você terminaria o capítulo dessa maneira. Esqueceu a minha idade? Quer me matar do coração?? Isso não se faz, e se avia, manda logo o capítulo 21, porque eu não vou agüentar tanto stress.

Vou esquecer por um segundo esse final do mal, para comentar o capítulo. Gostei de tudo. Syaoran foi um jogador de pôquer ao criar uma estratégia quanto à Mei Ling e a filha e sair vencedor, mas o tom de ameaça do ancião, fez-me parar para pensar que as coisas não serão fáceis para ele no futuro.
Adorei a inclusão dos personagens de diversos mangás, meu casal preferido, Mitsuki e Takuto. Ah como Full Moon deveria ter uma sequência, virar um dorama, sei lá, preciso ver aquele final mais completo.

Voltando ao final... Você não vai ser uma autora muito má, não é? Fala sério? Você como escritora não acha que já colocou muitas dificuldades na relação mais que conturbada desse casal? Não seja uma menina má, e pensa e repensa muito bem no que você irá fazer, ok?

Espero que o pessoal não enfarte com esse final.

Beijos e até o próximo (e que seja logo)

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N/A Aiya! Como prometido, aqui está o capítulo 20 de Suteki da nee, não que alguém tenha passado o feriado todo na frente do computador esperando o alerta de atualização ou algo parecido... Considerando o número desanimador de reviews que recebi, me pergunto se alguém ainda lê essa joça... mas... Seguindo em frente:

Acharam estranho os comentários da revisora terem aparecido antes das minhas notas? Bem, eu os achei tão engraçados (e foi mal não ter avisado, Rô!!) que decidi trocar a ordem, por hoje. Sei que vocês devem estar... ahm... aflitos? Furiosos? Sem palavras talvez por causa do jeito que o capítulo terminou, mas... hei... é um ponto crítico! E temos que saber aproveitar os pontos críticos da história para manter o IBOPE, certo?

Quanto ao próximo capítulo, bem... vou fazer um acordo com vocês (roubando a sua ideia, Cherry-sama): Posso postar o capítulo 21 no dia 12 de outubro... SE até lá eu receber, digamos, 15 reviews? - E não reclamem porque eu estou sendo boazinha! Podia pedir mais... - Caso contrário, a data de postagem do SDNEE será dia 15 de novembro (Proclamação da República). Sim, outro feriado... O que há comigo e feriados? Eu fico feliz em feriados, ora!!

- Apenas como curiosidade (já que não precisei usar a informação): o nome da avó da Sakura é Haruko Amamiya.

Por enquanto é só! Fiquem bem e até o próximo capítulo!
Abraços,

Yoru. (01/09/2011, 19:27h. Mesmo que as lágrimas caiam agora, eu vou sorrir mais tarde... (I will... forget you... - CNBlue).