Suteki da Nee escrita por Yoruki Hiiragizawa


Capítulo 19
Seguir em frente com minhas próprias forças


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: Tooi kono machi de, interpretada por Kaiya Naomi. Parte da trilha sonora do primeiro filme de CCS.
Boa Leitura!!



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SUTEKI DA NEE
por Yoruki Hiiragizawa

Capítulo Dezenove
Seguir em frente com minhas próprias forças

 

“Obrigado pela refeição!” – Fujitaka se ergueu da mesa, retirando seu prato e levando-o para a pia. – “Estava delicioso, minha filha...” – comentou, vendo-a sorrir docemente. ‘Ah! Como é bom estar em casa...’, pensou sem conseguir conter um bocejo. – “Agora se me derem licença, meninas, tenho que me livrar dos efeitos da mudança de fuso-horário, se quiser estar acordado durante o casamento no sábado...” – suspirou com um pequeno sorriso. – “Foi um prazer revê-la, Tomoyo!”.

“Igualmente Sr. Kinomoto...” – a morena sorriu. – “E desculpe, mais uma vez, por ter aparecido sem avisar...”.

“Ora, não há razão para se desculpar. Sabe que é muito bem-vinda em nossa casa!” – comentou depositando um beijo na testa da filha antes de se retirar.

A cozinha ficou em silêncio enquanto as garotas olhavam para a porta pela qual o homem acabara de passar.

“Não sabe a falta que senti dele...” – Sakura suspirou, olhando para a amiga. – “Gostaria de um pouco mais?” – apontou para a tigela com o macarrão que preparara para a janta.

“Não, já estou satisfeita, obrigada...” – respondeu, vendo Sakura retirar a louça da mesa. – “Então...” – suspirou retomando uma conversa anterior. – “Você disse que o Li foi para Hong Kong por causa de alguns problemas familiares...”.

“Sim...” – Sakura parou de ensaboar os pratos por um instante, virando-se para Tomoyo. – “Ele não me contou o que era exatamente, mas, seja lá o que for, é sério o suficiente para obrigá-lo a fazer todas as provas em três dias e... bem, ele estava tão preocupado, Tomoyo!”.

As duas permaneceram em silêncio tentando imaginar o que teria acontecido em Hong Kong, enquanto Sakura voltava a lavar a louça.

“Quando ele volta?” – Tomoyo indagou após algum tempo.

“Em setembro, depois das férias de verão...” – Sakura esboçou um sorriso pensando que os próximos 47 dias seriam os mais longos de sua vida. Voltou-se para fitar a amiga com uma expressão de abatimento. – “Eu acho que fiz uma besteira, Tomoyo...”.

“Você acha?” – perguntou um pouco mais seca do que gostaria. – “Pois eu tenho certeza! Quer dizer... o que você estava pensando, Sakura, para ir atrás dele no aeroporto?” – disparou vendo a amiga arregalar os olhos verdes. – “O que ele não estará pensando agora...” – meneou a cabeça.

“Eu não sei, Tomoyo. O que ele está pensando?” – indagou confusa.

“Que você ainda se importa com ele...”.

“Mas eu ainda me importo!” – fechou os olhos, suspirando. – “Na verdade, nunca deixei de me importar...” – viu a morena abrir a boca, mas continuou antes que fosse interrompida. – “Além disso, não me arrependo de ter ido até lá e feito as pazes com ele...” – declarou firmemente.

“Então que besteira foi essa que você fez?” – quis saber curiosa.

“Eu o beijei...” – disse, deixando a outra espantada.

“O quê? Por que você fez isso?” – o tom indignado da amiga fez Sakura rir.

“Ora, por que, Tomoyo?” – encarou-a com um sorriso de lado. – “Por que você acha?” – rolou os olhos. – “Porque eu gosto dele e vou sentir saudades...”.

“E por que você acha que foi uma besteira?” – estranhou toda a situação devido o tom de segurança na voz da amiga.

“Porque havíamos dito que não aconteceria novamente...” – suspirou pesadamente, sentando-se em frente à morena. – “Pense só, isso foi o motivo de termos nos desentendido, para começar, e agora ficaremos separados por quase 50 dias e eu não tenho a mínima ideia do que ele está sentindo...”.

“Como ele reagiu?” – Tomoyo indagou seriamente, fazendo Sakura erguer as sobrancelhas. – “A reação dele pode nos dar uma dica do que ele está sentindo...” – explicou.

“Ele... ele ficou estático...” – abaixou o olhar por um instante. – “Quer dizer, ele não teve tempo de esboçar uma reação...” – encolheu os ombros diante do olhar de Tomoyo. – “Shaoran já estava indo para a área de embarque e eu só conseguia pensar que ficaríamos separados por um longo tempo, então minha mente entrou em uma espécie de piloto automático...” – sentiu o rosto esquentar. – “Ele estava quase nas escadas quando o chamei e, quando ele se virou, eu me aproximei e o beijei...” – contou, fechando os olhos e se lembrando da forma suave como seus lábios tocaram os dele, do espanto que ele tinha estampado nos olhos quando se separaram e da forma como parecia ter perdido a própria voz no instante seguinte.

“E... depois? O que aconteceu depois?” – Tomoyo perguntou meio impaciente, fazendo-a voltar à realidade.

“Eu me afastei e disse ‘Faça uma boa viagem!’, mandando-o ir embora antes que ele pudesse falar alguma coisa...” – abriu um sorriso amarelo e viu Tomoyo dar um tapa na própria testa.

“Ou seja... você fez tudo isso para nada...” – concluiu inconformada.

“Na verdade, não...” – Sakura começou com um ar maroto. – “Porque pelo menos agora você não tem mais razão para ficar chateada com Eriol...” – viu Tomoyo fechar a expressão.

“Pois é aí que você se engana...” – desviou o olhar. – “E eu espero que não tenha feito tudo isso por causa da minha discussão com ele...” – repreendeu-a, levantando-se e caminhando até a janela.

“Claro que não foi por causa disso, mas...” – Sakura estranhou, levantando-se também e parando ao lado da amiga. – “Tomoyo, o que aconteceu?”.

“Ele não tinha nada que pedir a você para fazer as pazes com o Li...” – disse ainda sem encará-la.

“Ora, Tomoyo...” – tentou racionalizar, mas foi interrompida.

“Estou falando sério, Sakura!” – cruzou os braços encostando a fronte no vidro gelado. – “Ele errou ao envolvê-la... como se nosso problema fosse desaparecer sozinho...”.

“Eriol não estava falando sério quando me pediu ajuda e você sabe disso tão bem quanto eu...” – colocou a mão no ombro de Tomoyo, fazendo-a olhá-la. – “Além disso, não fiz as pazes com Shaoran porque ele pediu...”.

“Eu sei, mas...” – foi interrompida.

“Nada de ‘mas’...” – viu a morena franzir as sobrancelhas. – “Olhe só, você e Eriol se desentenderam porque eu e Shaoran não estávamos nos melhores termos, bem... se o motivo não existe mais... você vai ficar brava com ele por quê?”.

“Não é assim tão simples, Sakura...” – começou meneando a cabeça. – “Ele errou quando...”.

“É bem simples, sim...” – interrompeu-a seriamente. – “E não foi Eriol quem errou, nem você, nem Shaoran... Quem errou fui eu, Tomoyo...” – fechou os olhos brevemente. – “E eu tenho que arcar com as consequências dos meus atos. Eu e mais ninguém...” – suspirou pesadamente. – “Do meu ponto de vista, você está perdendo a chance de aproveitar a companhia de alguém que é totalmente apaixonado por você, comprando uma briga que não é sua...”.

“Sakura...” – a morena abriu e fechou a boca diversas vezes para retrucar, mas nada parecia vir-lhe à mente.

“Você não tem mais motivos para continuar brava com Eriol, então se acerte com ele, por favor...” – abriu um sorriso. – “E vamos prometer não nos envolvermos mais no relacionamento uma da outra está bem?” – disse em tom conciliatório para colocar ponto final no assunto. – “Porque isso, sinceramente, não nos faz bem algum...”.

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No momento em que Tomoyo entrou em casa, sua mente ainda se debatia entre o bom-senso e a teimosia, por isso, não foi com muita satisfação que descobriu que Eriol a esperava.

“Devo servir chá na sala?” – a governanta indagou, fazendo-a ficar pensativa.

“Minha mãe está em casa, Natsume?”.

“Não, senhorita...” – a mulher respondeu. – “Ela foi para Ishikawa por causa da reunião de amanhã cedo...”.

“Sim, eu havia esquecido...” – suspirou, tomando uma decisão. – “Mande chá para duas pessoas ao meu quarto, por favor...” – encaminhou-se para a entrada da sala, onde Eriol folheava um livro sem grande interesse. Ele se levantou antes mesmo que ela pudesse entrar.

“Boa noite, meu anjo!” – aproximou-se, inclinando-se para beijar o rosto da jovem. – “Tu demoraste, fiquei preocupado...”.

“Fui visitar Sakura...” – o inglês ergueu as sobrancelhas em um sinal de interesse, mas ela não disse nada.

Vendo o namorado, sentiu uma pontada de culpa e um inexplicável sentimento de orgulho ferido: com as coisas esclarecidas com Sakura e a promessa feita de não se meterem no relacionamento uma da outra, não havia porque continuarem com a briga, mas uma pequena parte dela se recusava teimosamente a dar o braço a torcer. Fez um movimento com a cabeça, pedindo que a acompanhasse e seguiu em direção ao próprio quarto antes de falar novamente.

“Ela faltou aula porque foi ao aeroporto despedir-se de Shaoran hoje cedo...”.

“O quê?” – o rapaz arregalou os olhos, olhando espantado para a namorada. – “Como assim? Ele foi... Ele não pode... Como assim?” – quis saber, chocado pela notícia.

“Ele precisou ir para Hong Kong por causa de alguns problemas familiares, então saiu de férias mais cedo...” – a jovem explicou, achando graça da reação inicial de Eriol. – “Voltará após as férias de verão...”.

“O que será que aconteceu para forçá-lo a partir uma semana antes das provas semestrais?” – pensou alto, franzindo o cenho.

“Não sei, mas o motivo de ele ter desaparecido foi porque esteve fazendo as provas nos últimos três dias...” – sentou-se em uma poltrona, vendo o namorado andar de um lado para o outro.

“Ele poderia ter nos dito alguma coisa...” – reclamou, cruzando os braços. – “Como a Sakura soube que ele ia viajar se ninguém conseguia falar com ele?”.

“Shaoran deixou uma mensagem na secretária eletrônica ontem à noite e que ela só ouviu hoje de manhã...” – encolheu os ombros, vendo-o encostar-se à batente da janela. – “Disse a ela que desligou os telefones durante a semana para conseguir estudar, porque a família dele não parava de ligar...” – ao ouvir isso, Eriol abriu um sorriso e meneou a cabeça. – “O que eu não entendo é porque ele só ligou para Sakura e não para você ou qualquer outra pessoa...”.

“Ora, Tomoyo, a resposta disso é simples...” – sentou-se na poltrona ao seu lado. – “Ele a ama!”.

“Não, Eriol...” – ela retrucou imediatamente. – “Eu também já pensei que sim, mas isso não é verdade...” – recebeu um olhar espantado. – “Eu sei que o comportamento deles nos levava a pensar isso, mas a verdade é que ele não a ama... não desta maneira...”.

“Por que dizes isso?” – estranhou a certeza no tom de voz da garota.

“Porque eles se conhecem há quatro anos e, se ele a amasse, já teria percebido o que sente...”.

“Entendo o que queres dizer, mas tu ficarias surpresa com a lentidão de nosso amigo...” – declarou, vendo Tomoyo franzir o cenho. – “É verdade que eles são amigos há muito tempo, mas apenas recentemente ele começou a pensar em Sakura de maneira romântica...”.

“Como você poderia saber disso?” – indagou, desconfiada.

“Ele me contou...” – declarou simplesmente, vendo-a arregalar os olhos. – “No sábado...” – esboçou um sorriso. – “Foi também no sábado, enquanto conversávamos, que ele se deu conta... ou decidiu aceitar o que sente... Finalmente!” – rolou os olhos.

“Sério?” – ela se mostrou em dúvida e ele confirmou com a cabeça.

“Ele me disse que sempre a admirou muito por ser uma pessoa maravilhosa, mas que apenas nos últimos meses começou a pensar em Sakura como uma garota ao invés de a melhor amiga...”.

“Ele... ele realmente disse isso?” – Tomoyo parecia incrédula, mas Eriol falava seriamente. – “Essa é uma excelente notícia! Espere até Sakura...”.

“Não, Tomoyo! Sakura não pode tomar conhecimento disso...” – declarou firmemente. – “Não através de nós...”.

“Ela tem direito de saber...”.

“Concordo...” – afirmou, notando o brilho de desafio nos olhos violáceos que tanto amava. – “Mas é Shaoran quem tem de contar...”.

“Por quê?” – perguntou, teimosamente.

“Pelo mesmo motivo que me impediu de revelar a Shaoran o que Sakura sente por ele...” – explicou pacientemente. – “O assunto diz respeito aos dois e ninguém tem o direito de se intrometer...”.

“Eriol...” – tentou argumentar, mas a governanta a interrompeu ao entrar no quarto com o chá. – “Obrigada, Natsume, pode deixar que eu sirvo...” – esperou até a mulher se retirar para voltar a encarar o namorado.

A interrupção permitiu que ela parasse para pensar no que havia conversado com Sakura mais cedo. A amiga dificilmente ficaria feliz caso decidisse voltar a interferir no relacionamento dela com Shaoran, mesmo que fosse para dar boas notícias. Além disso, Eriol tinha razão... Era um problema que só dizia respeito aos amigos.

“Tomoyo...” – levantou-se, ajoelhando-se diante dela e segurando sua mão carinhosamente. – “Não há nada que possamos fazer por nossos amigos no momento e, além disso...” – encarou-a profundamente. – “Eu estou com saudades da minha namorada...” – depositou um beijo suave na mão que segurava, sem desviar o olhar.

“Eriol...” – ela suspirou. Às vezes não achava justo que ele fosse tão charmosamente romântico. Isso tornava tão difícil para ela continuar chateada. Um sorriso lentamente se apossou de seus lábios enquanto relaxava.

O inglês se ergueu puxando-a consigo e envolvendo-a pela cintura enquanto se aproximava com um ar de contentamento.

Okaerinasai.” – sussurrou com um brilho divertido nos olhos azul meia-noite. Ela riu feliz. Também havia sentido falta dele; mais do que se permitiria admitir.

Tadaima.” – respondeu envolvendo-o pelo pescoço, um segundo antes de ter os lábios arrebatados.

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Shaoran saiu do banheiro secando os cabelos. Estava esgotado por causa da viagem e da semana agitada. Gostaria de se deitar e dormir, mesmo ainda sendo sete horas da noite; nem se importaria de perder o jantar, mas fazia muito tempo desde que vira as irmãs e precisava discutir com a mãe sobre a posição que tomariam para enfrentar os anciões no dia seguinte. Afinal, não voltara para casa de férias...

Casa...

Sentia-se estranho aplicando aquela palavra àquele lugar. Olhou através das janelas para o quintal bem cuidado onde costumava brincar quando criança sentindo falta da sensação de pertencimento. Era quase como ser um estranho no lar ancestral...

Foi arrancado de suas reflexões ao ouvir as risadas das irmãs vindo da sala de chá e decidiu juntar-se a elas.

“Boa noite, garotas...”— cumprimentou-as causando uma algazarra que o fez sorrir. Elas simplesmente não mudavam: continuavam sendo o mesmo grupo barulhento do qual ela se lembrava.

“Xiao Lang!”

“Há quanto tempo!”

“Irmão desnaturado!”

“Desgarrado!”

‘E continuam sendo o mesmo grupo sufocante também...’, ele pensou enquanto era esmagado pelos abraços das quatro irmãs que continuavam a exclamar frases soltas comentando o quanto ele havia crescido, o quanto estava diferente, que já não era mais fofinho e outras coisas que só faziam sentido no mundo delas.

“Meninas, soltem seu irmão!”— Yelan entrou na sala, passando pelos filhos para se sentar em uma poltrona.

“Eu senti falta de vocês também...” — ele comentou com um sorriso sem-jeito enquanto tomava uma distância segura delas. – “Boa noite, mama.”— cumprimentou-a, sentando-se à sua frente com uma expressão séria.

“Sei que deve ter muitas perguntas, Xiao Lang, mas vamos deixar para conversar sobre assuntos desagradáveis após o jantar...”— pediu, antes que o rapaz começasse a falar. – “Até porque, se estiver em condições, sua prima se juntará a nós mais tarde...”.

“Como quiser...”— aquiesceu, desviando o olhar de volta para as irmãs. – “Então, o que vocês têm feito?”— perguntou dando início a um novo pandemônio enquanto todas falavam ao mesmo tempo.

“Meninas!”— Yelan chamou-lhes a atenção, fazendo-as se calarem. – “Uma de cada vez...”.

O rapaz riu levemente, meneando a cabeça. Às vezes era difícil acreditar que aquelas quatro mulheres, suas irmãs mais velhas, barulhentas como elas só, eram bem sucedidas naquilo a que decidiram se dedicar. Todas, sem exceção, graças à promessa feita ao seu pai, tiveram a oportunidade de concluir um curso superior e de escolher como gerenciar a própria vida, tanto em termos profissionais quanto pessoais.

Ouviu com atenção enquanto as irmãs contavam as últimas novidades: Fuu Ti, que tinha 27 anos, estava expandindo o estúdio de dança que comprara ao terminar a faculdade de educação física. Fen Mei, que era seis anos mais velha que ele, contava as últimas peripécias do filhinho, respondendo satisfeita às várias perguntas de Shaoran sobre o sobrinho. Fan Lei, de 25 anos, havia concluído a primeira temporada como personagem título de uma famosa peça de teatro. E Shie Fa, a mais velha, havia sido promovida a Chefe do Setor de Sociologia da Universidade onde trabalhava.

“E tudo isso antes dos trinta!”— ela, que havia completado 28 anos no dia anterior, exclamou com orgulho, fazendo-o sorrir.

“Não acha que suas irmãs são incríveis, maninho?”— Fen Mei indagou, encarando-o carinhosamente.

“Aliás, ouvi dizer que você andou se interessando por teatro. Não posso deixar de pensar que foi por influência minha...”— Fan Lei comentou satisfeita, deixando-o alarmado. A única experiência que ele tivera com teatro havia sido a traumática interpretação como princesa Aurora na peça A Bela Adormecida, durante o Festival de Verão no ano anterior.

‘Mas elas não podem saber sobre isso...’, pensou engolindo em seco e voltando-se com suspeita para a mãe. ‘A não ser que... Será que...?’.

“Não se esqueça que, se não quiser tomar conta das empresas da família, basta falar com Fan Lei, que ela o colocará em contato com o diretor da Ópera Chinesa...” — Fen Mei sorriu, vendo-o ficar vermelho. – “Eles sempre precisam de mais um rostinho bonito!”.

“Co-como vocês...?” — foi interrompido pelo tom jocoso de Shie Fa.

Mama nos mostrou as fotos...”.

“Que fotos? Onde a senhora arrumou fotos?” – virou-se para a mãe.

“Encontrei-as no apartamento...”— declarou despreocupadamente, fazendo-o arregalar os olhos ao ver o sorriso que a mãe tentava manter escondido.

“Foi Sakura... Ela lhe mostrou onde as fotos do festival estavam...”— não era uma pergunta e Yelan percebeu.

“Por favor, filho, não fique bravo com ela...”— pediu, pois o rapaz se mostrava realmente chateado. Ele a encarou, notando a preocupação na voz da mãe.

“Ficar bravo com Sakura?” — ergueu uma sobrancelha. – “Está brincando? Não quando acabei de fazer as pazes com ela...”— riu levemente, meneando a cabeça.

“Fazer as pazes... Por quê?” — Shie Fa perguntou curiosa.

“O que aconteceu?”— Fan Lei se ajeitou na cadeira.

“O que você fez?”— Fen Mei quis saber, deixando-o curioso por ela ter presumido que ele fora o culpado.

‘Embora realmente tenha sido esse o caso...’, olhou desconfiado para a mãe, pensando que ela já devia ter falado exaustivamente de Sakura para as irmãs.

“Sim, conte-nos tudo!”­ – Fuu Ti falou em tom autoritário, fazendo-o suspirar.

Involuntariamente, um meio sorriso se formou em seus lábios ao pensar na japonesa. Estranhamente, ou não, percebeu que ela não estivera longe de seus pensamentos por um único momento desde que se despediram no aeroporto. Pensar no momento em que se separaram o fez sentir vontade de levar a mão até a própria boca, como que para comprovar que não imaginara o beijo que ela lhe dera; controlou-se bravamente, levando em consideração a plateia que o observava com olhares curiosos. Esperaria até ficar sozinho para pensar sobre o assunto.

“Não sei do que vocês...”— tentou disfarçar, sendo barulhentamente interrompido pelas irmãs que protestavam.

“Não adianta disfarçar...”— começou Fuu Ti.

“Nem tentar fugir do assunto...”— Fen Mei o advertiu.

“Fale logo sobre sua Sakura, Xiao Lang...”— Fan Lei pediu com um sorriso sonhador nos lábios.

“Você tem muito bom gosto, maninho...”— Shie Fa declarou, fazendo-o encará-la curiosamente.

“Sim! Ela é linda!”— as outras três falaram em uníssono, rindo divertidas.

“Tenho mesmo, não é?”— ele falou, vendo-as abrir sorrisos.

“Ele não negou!”— Fan Lei exclamou, dando um gritinho e, também, asas à imaginação.

“Sakura pediu que lhe mandasse lembranças, mama...” – olhou para a mãe, que não parecia surpresa com a declaração dele, e abriu um sorriso carinhoso. Olhando para o relógio, ele calculou rapidamente a diferença de horário pensando que ainda poderia ligar para ela.

“Como ela está?”— indagou, vendo-o encolher levemente os ombros.

“Está bem!”— respondeu, ficando um pouco mais sério ao se lembrar do estado em que ela se encontrava quando chegou ao aeroporto. Sentia-se culpado por não ter entrado em contato com ela durante a semana. Pensar que ela ficara daquele jeito por sua culpa, e da mensagem vaga que deixara no dia anterior, fazia-o sentir vontade de chutar o próprio traseiro. Suspirou pesadamente. – “Estava um pouco preocupada por eu ter que vir para cá, mas...”.

“Você contou a ela o motivo?”— Yelan arregalou levemente os olhos, sua voz um misto de acusação e espanto. O rapaz meneou negativamente a cabeça.

“Apenas falei que havia problemas... em casa...”.

O clima na sala mudou consideravelmente à menção do assunto e vários instantes de silêncio se seguiram antes que Wei entrasse na sala.

“Senhora...”— o homem curvou-se respeitosamente. – “O jantar será servido em quinze minutos...”— avisou, recebendo assentimento, e saiu logo em seguida.

“Vamos nos preparar para o jantar, queridos!”— Yelan se levantou, saindo da sala seguida pelas filhas, mas Shaoran se encaminhou em outra direção, aproximando-se do telefone.

Fazia apenas algumas horas desde que se separaram, mas, por mais que não fizesse sentido, estava com saudades; queria ouvir a voz dela... Então ligou para Sakura.

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Sakura atravessava o corredor, cumprimentando as poucas pessoas que se encontravam no colégio; acordara estranhamente cedo aquele dia, então estava adiantada. Olhou para os próprios pés, sentindo-se desanimada pelo simples fato de saber que não veria Shaoran aquele dia. Sentia ainda mais a falta dele desde o momento que desligara o telefone na noite anterior, principalmente sabendo que não se falariam todos os dias...

‘Céus, isso é patético!’, pensou meneando a cabeça e suspirando pesadamente ao parar diante da porta da sala. ‘Quando foi que fiquei tão dependente de Shaoran?’, indagou-se preocupada. Aquilo não estava certo. Viver e respirar por outra pessoa... Era isso o que estivera fazendo pelos últimos quatro anos? Como não percebera antes? E sempre se julgara uma pessoa tão independente...

Era realmente muito cedo e ela era a responsável pela limpeza da sala naquele dia, junto a Shaoran que estava em Hong Kong, então não esperava encontrar ninguém ali ainda. Foi com surpresa que, ao abrir a porta, deparou-se com Naoko que conversava animadamente com... Isamu. A amiga estava levemente corada por trás dos óculos quando a encarou; e Sakura sentiu-se uma invasora, uma espiã que descobre um segredo.

“Bom dia, Sakura!” – a garota ajeitou nervosamente os óculos no rosto, alisando os cabelos com as mãos: um gesto que Sakura sempre atribuiu a nervosismo.

“Bom dia!” – ela os cumprimentou, controlando-se para não sair correndo, voltando a dar privacidade aos dois, pois isso poderia ser embaraçoso para Naoko.

“Bom dia!” – o rapaz sorriu, observando-a ir até a própria mesa para deixar a mochila. – “É justamente a pessoa que eu estava procurando...” – declarou, fazendo Sakura olhar para Naoko que suspirou e desviou o olhar.

‘Por kami...’, ela pensou, sentindo-se mal pela amiga, antes de pousar os olhos no rapaz e se aproximar dos dois.

“Por quê?” – ela quis saber, vendo-o erguer uma sobrancelha estranhando, talvez, o tom da pergunta.

“Tenho novidades sobre Perséfone...” – foi a resposta. Simples e puramente.

“Quem é Perséfone?” – Naoko indagou curiosamente.

“Minha Golden Retriever...” – Isamu sorriu levemente para a jovem de óculos. – “Ela estava esperando filhotes e eu prometi um a Sakura...”.

“Ah, eu ainda não sei se poderei ficar com o filhote, Isamu...” – Sakura não pôde evitar que um sorriso se formasse em seus lábios ao pensar na possibilidade. – “Quando eles nasceram?”.

“Essa madrugada... Foi uma grande correria lá em casa, mas já está tudo bem agora...” – encolheu levemente os ombros. – “Foram seis ao todo, dois machos e quatro fêmeas...”.

“Ah! Devem ser lindos!” – suspirou contente. – “Tenho que falar com papai sobre isso...” – murmurou pensativa, impondo certa distância entre eles em respeito à Naoko. – “Se ele concordar, quero um machinho... Quanto você cobrará por ele?”.

“Deixe de besteira! Não vou cobrar por...” – foi interrompido.

“Isamu...” – a jovem suspirou, fechando brevemente os olhos verdes. – “É muito gentil de sua parte...” – disse calmamente. – “Mas se não me deixar pagar, não o aceitarei...”.

O rapaz a encarou parecendo decepcionado, pois Sakura se mantinha séria a respeito de não receber o cão de presente. Por fim, suspirou concordando.

“Tenho que ver quanto meus pais vão querer pelo filhote, posso responder depois?” – pediu, vendo a garota assentir.

“Falarei com meu pai hoje e amanhã terei uma resposta para você...” – informou-o. – “Quanto tempo você acha que terei de esperar até poder levá-lo para casa?”.

“Geralmente espera-se quarenta dias antes de separar os filhotes da mãe...” – disse encolhendo os ombros. – “É melhor eu ir agora...” – declarou quando a porta da sala se abriu dando passagem a um grupo de alunos.

“Certo! Boa aula!” – Sakura acenou com um sorriso.

“A vocês também...” – ele desviou o olhar para Naoko. – “Até mais tarde, Yanagizawa!”.

“Tenha um bom dia, Yoshida!” – ela se apressou em dizer, ficando encabulada. – “E obrigada por me fazer companhia!”.

Ele sorriu e, então, foi embora, desaparecendo de vista ao sair pelo corredor. Naoko suspirou pesadamente ajeitando o cabelo atrás da orelha enquanto olhava para o vazio por um instante. Sakura decidiu colocar a data do dia no quadro, aproveitando que as carteiras se encontravam todas organizadas. Graças aos deuses, sua turma tinha um acordo de deixar tudo arrumado no final da tarde para o dia seguinte.

Não demorou muito para que a escola começasse a entrar no ritmo de todos os dias, conforme os jovens iam chegando. Após a porta ser aberta e fechada algumas vezes, Sakura viu Eriol e Tomoyo entrando na sala em um clima de cumplicidade e harmonia que fazia algum tempo havia desaparecido do relacionamento deles. Sorriu satisfeita ao cumprimentá-los e notou um estranho brilho conhecedor nos olhos violeta da amiga, o qual não conseguiu explicar.

“Vejo que posso parar de me preocupar com os dois agora...” – piscou divertida para Tomoyo e sorriu para o inglês, que retribuiu.

“Em breve poderei dizer o mesmo...” – a morena murmurou divertida, de maneira que apenas Sakura pudesse ouvir.

Antes que tivesse a chance de perguntar sobre o que ela estava falando, o sino tocou e Yamazaki entrou na sala, anunciando que a turma teria o primeiro tempo livre, já que a professora de matemática estava entrando de licença matrimonial. O comentário fez com que todos se voltassem brevemente para Sakura com sorrisos, uma vez que o irmão dela era o noivo da professora, mas Yamazaki logo atraiu a atenção da turma novamente.

“Eu recebi novas informações sobre a excursão do terceiro ano e preciso que prestem atenção agora!” – começou, distribuindo várias folhas aos primeiros alunos de cada fileira para que as passassem para trás. – “Infelizmente os professores acabaram tendo problemas para reservar um hotel para nós em Abashiri, porque o grupo é muito grande...” – anunciou ouvindo uma série de ‘Aas!’ e continuou a falar após todos se acalmarem. – “Já está tudo certo para nossa estadia em Hakodate, Sapporo e Asahikawa, mas ainda falta uma cidade no nosso roteiro e nós teremos a chance de escolher entre Wakkanai e Kushiro. A folha que vocês receberam tem uma explicação mais detalhada dos motivos da alteração e deve ser levada para casa.” – ergueu uma folha e apontou para a parte inferior. – “Este trecho abaixo da linha pontilhada, entretanto, deve ser preenchido, destacado e depositado naquela caixa, que eu deixei ali no canto, até o final das aulas de amanhã...” – falou, quando muitos dos colegas olharam para a caixa, claramente, vendo-a pela primeira vez. – “Pensem muito bem no que escolherão, mas lembrem-se de que é uma votação e há quatro turmas de terceiro ano no colégio...” – finalizou o discurso, dirigindo-se para seu lugar.

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O rapaz teve que se controlar para não sair do salão batendo a porta, mesmo assim, não conseguiu evitar caminhar pisando duro. Sabia que era uma situação delicada e que os velhos não facilitariam as coisas, mas até o início daquela reunião guardara, sem perceber, esperanças de resolver tudo pacificamente e com certa tranquilidade. Afinal de contas estavam em pleno século 21 e não na Era Mesozóica. Pura ingenuidade de sua parte, claro...

“Xiao Lang, espere!” – virou-se para trás ao ouvir seu nome, vendo o homem de terno cruzar o corredor com passos apressados. – “Nossa! Eu devo estar muito fora de forma...” – o outro comentou, ao alcançá-lo, levemente ofegante.

“Sinto muito, John...” – disse um pouco sem graça. – “Acabei abandonando-o na cova dos leões, não é?”.

“Não se preocupe com isso. São ossos do ofício; senti-me como se estivesse em um tribunal...” deu de ombros suspirando. – “As coisas não saíram tão bem quanto esperávamos, não é?”.

“A constatação do século!” – o rapaz meneou a cabeça, ainda irritado. Caminharam em silêncio por algum tempo. Shaoran aproveitou para observar o homem ao seu lado.

John Hartmann, seu cunhado por ser casado com Shie Fa, era advogado. Apesar do nome inglês, sua aparência trazia fortes traços orientais, uma vez que procedia de uma família mestiça. Havia se formado em Oxford e era especialista em direitos humanos e direitos da mulher. Havia se voluntariado a fazer a representação legal, pro bono, da prima da esposa. Tinha uma forte presença, mas nem mesmo isso conseguiu dobrar a vontade de ferro daqueles fósseis ambulantes que guardavam “as tradições” da família. Será que eles não percebiam o quanto aquelas atitudes retrógradas poderiam afetar a credibilidade da família em um cenário mais amplo?

“Em que você está pensando?” – o homem indagou, percebendo certo brilho no olhar do rapaz.

“Nada que seja uma opção, pelo menos por enquanto...” – respondeu, desanimado. – “Confesso ter pensado que sua presença seria um fator ao nosso favor...” – disse causticamente. – “Mas parece que apenas piorou ainda mais a situação, assim como a minha presença... talvez eu devesse ter abordado o assunto de outra maneira. Os velhos parecem ter ódio de qualquer referência que tenha menos de meio milênio...”.

“Você se expressou muito bem! Colocou suas opiniões com muita propriedade, mas não havia nada que pudesse ser feito assim tão facilmente...” – colocou a mão sobre o ombro do cunhado. – “E, infelizmente, eu não sou realmente um membro da família e não entendo nada das tradições que eles defendem...”— disse o advogado ironicamente. – “E você é jovem demais para saber sobre o mundo e a vida, então nossas opiniões não contam realmente...”.

"Em outras palavras, sou um Moleque a quem eles não querem dar atenção. Não seriam os primeiros a pensar assim...” – ele suspirou, meneando a cabeça para evitar que seus pensamentos se focassem em outra coisa, ou outra pessoa, que não fosse o problema de sua prima. – “O que você acha que devemos fazer? O que aconselha, como advogado de Mei Ling?”.

“Temos que tentar convencê-los, pois ela não gostaria de levar a situação a Juízo...” – falava pensativo. – “E eu realmente espero não precisar chegar a tanto, porque, sinceramente, seria um escândalo fenomenal...” – pararam em frente à porta de saída. – “Quando irá vê-las?” – indagou.

“Vou visitá-las com minha mãe mais tarde...” – deu um meio sorriso. – “Fan Lei diz que a bebê é a coisa mais linda do mundo e que não entende como os anciões têm a capacidade de rejeitá-la desta forma...” – completou suspirando com um leve falsete, imitando a voz da irmã.

“Eu gostaria que o quesito ‘fofura’ resolvesse a questão...” – sorriu, lembrando-se da espalhafatosa cunhada.

“Ela também disse que você e Shie Fa estão aproveitando suas hóspedes e praticando para quando tiverem os filhos de vocês...” – o rapaz brincou com o cunhado, vendo-o menear a cabeça rindo.

“Tenho que ir. Vejo-o mais tarde...” – acenou, passando pela porta e deixando o rapaz para trás.

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A algazarra na sala era incomum enquanto um grupo de alunos perseguia Yamazaki, fazendo perguntas, pedindo informações e reclamando a respeito da excursão. Sakura apenas observava a situação, quase arrependida de ter decidido almoçar na sala aquele dia.

“O que eu estou dizendo é: eu sou o representante da sala e tenho a responsabilidade de reportar aos professores qualquer assunto relacionado à nossa turma, mas não tenho tempo nem condições de lidar com coisas como roteiros opcionais ou uma lista dos melhores pontos de visitação para nossos períodos livres..." – o rapaz de olhos pequenos alterou o tom de voz, respirando profundamente e tentando se acalmar, enquanto continuavam com a ladainha.

“Isso não vai funcionar, Takashi..." – Chiharu pousou o almoço sobre a carteira e encarou o namorado. – "Por que não escolhemos alguém para ficar responsável pela parte alternativa da excursão?" – sugeriu vendo os colegas pararem e refletirem sobre aquilo.

“É uma boa ideia, Chiharu! Assim as responsabilidades ficarão bem distribuídas..." – Rika aprovou o plano e os ânimos da turma se modificaram drasticamente. – "Mas quem poderia ser?”.

“Quem se dispõe a isso?" – Yamazaki indagou, vendo os colegas se entreolharem e comentarem a respeito das atividades dos clubes, cursos preparatórios e trabalhos de meio-período, não querendo assumir aquela função.

“A Kinomoto fez um bom trabalho durante a Gincana Esportiva!" – Ikeda declarou, fazendo vários alunos voltarem-se para fitá-la, enquanto ela engasgava com o almoço.

“O quê?” – perguntou, passando os olhos pela turma e notando os olhares de aprovação. – "Ah, e-eu..." – interrompeu-se, quando seu olhar cruzou com o de Yamazato, vendo-a em uma postura incômoda e estranha. A ruiva desviou o rosto com uma singular expressão de derrota que fez Sakura franzir a testa incomodada. Talvez fosse impressão sua, mas Yamazato parecera disposta a assumir aquela tarefa antes que a apontassem.

‘Então por que não se opõe e diz alguma coisa?’, perguntou-se com uma ideia se materializando em sua mente.

"Acho que nenhum de nós está disponível para lidar com algo que exige tanto tempo e responsabilidade em tempo integral..." – começou, traçando um plano de ação para confirmar sua suspeita. – "Por que não estabelecemos um grupo de duas ou três pessoas para isso? Yamazaki é nosso canal direto com os professores de qualquer forma. Então, além dele, mais duas pessoas, digamos: eu e... Yamazato, talvez?" – sugeriu, vendo alguns olhos arregalados.

Não se surpreendia realmente com os olhares de descrença, afinal não era segredo que ela e a ruiva não se davam bem.

“Então, Yamazato, você vai aceitar?” – Ikeda perguntou, expressando em palavras a dúvida de todos os presentes.

Sakura observou-a encará-la com evidente confusão por algum tempo e reparou no crescente brilho de rebeldia que tomou conta dos seus olhos. Por um momento, imaginou que Yamazato declinaria a proposta, mas então viu o olhar azul passar por todos os colegas que a observavam e o brilho desapareceu, dando lugar a um receio que não era natural à garota. Embora tivesse que admitir estar se divertindo com a expressão anormalmente confusa da garota, desviou os olhos verdes, suspirando ao ver que estava certa ao desconfiar das atitudes esquisitas dela.

“Bem...” – respondeu por fim, forçando um sorriso. – “E por que não?” – deu de ombros em uma atitude displicente.

“Está combinado, então...” – Yamazaki sorriu, dando o caso por encerrado. – “Kinomoto e Yamazato são responsáveis por responder todas as dúvidas de vocês...” – e, sentando-se em seu lugar, concluiu. – “Agora, se me derem licença, vou almoçar...”.

As garotas logo se tornaram o alvo das indagações dos colegas e, a muito custo, conseguiram organizar as perguntas, sugestões e pedidos prometendo dar uma resposta o mais breve possível. Sakura passou, então, a copiar as informações anotadas por Yamazato em seu caderno enquanto a ruiva permanecia inquieta ao seu lado, de braços cruzados.

“Se tem algo a falar, porque não o faz logo?” – ergueu os olhos esmeraldinos brevemente, voltando à tarefa que executava.

“Por que sugeriu meu nome?” – indagou, fazendo a outra menear a cabeça.

“Não sei...” – ergueu uma sobrancelha. – “Por que você acha que fiz isso?”.

“Porque sabia que eu não poderia me negar a ajudá-la...” – respondeu acidamente.

“E por que não?” – soltou a caneta sobre a folha e a encarou diretamente desta vez.

“Ora, por que seu avô...” – mas foi interrompida pela jovem de cabelos caramelo.

“Só um instante, Yamazato!” – ergueu as mãos. – “O que o meu avô tem a ver com a nossa excursão?” – quis saber, recebendo um olhar desconfiado.

“Não se faça de inocente! Sabe que ganhou autoridade sobre mim por causa da...” – tentava controlar a altura da voz para que ninguém mais ouvisse.

“Por kami! De onde você tira essas ideias?” – interrompeu-a outra vez. – “Mais uma vez você julga aquilo que não conhece, não é?” – soltou um longo suspiro. – “Que mérito eu poderia ter em algo sobre o qual não tive controle nem participação? Os negócios de meu avô nunca me disseram respeito ou controlaram minhas ações...”.

“Então por que me chamou para ajudar?” – queria uma explicação.

“Se você quer mesmo saber, sugeri seu nome porque imaginei que se sairia bem na tarefa...” – declarou com simplicidade, voltando a olhar para o papel em sua mesa. – “Mas se não estiver interessada, não vou forçá-la a nada!” – devolveu a folha da garota.

Yamazato voltou silenciosamente para seu lugar. Sakura se perguntava em que tipo de mundo a outra estivera vivendo até aquele momento, pois as regras de conduta que ambas seguiam pareciam ser completamente opostas.

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O carro parou em frente à casa de três andares em modelo vitoriano, atraindo os olhares de mãe e filho. Enquanto desembarcavam, viram Shie Fa parada à porta, com um bebê nos braços.

“Boa tarde, Shie Fa!”— o rapaz a cumprimentou, olhando curiosamente para o pequeno ser nos braços da irmã.

“Que bom que chegaram!”— disse com um sorriso. – “Vi o carro de vocês se aproximando quando voltava de um passeio com essa princesinha...”— falava aproximando seu rosto ao do bebê, até esfregar de leve os seus narizes. – “Vamos entrar! Fiquem à vontade!”— convidou-os passando pela porta.

Com uma habilidade própria dela, a dona da casa deu uma porção de ordens caminhando à frente de seus convidados, até chegarem a uma sala bem iluminada onde havia diversas coisas para bebês.

“Pedi que fossem avisar Mei Ling sobre a chegada de vocês, mas ela talvez ainda demore um pouco para se juntar a nós...”— avisou Shie Fa, sentando-se e acomodando a criança no colo. – “Hua Jing tem tido dificuldades para dormir ultimamente e isso deixa a mãe dela exausta, não é?”— perguntou carinhosamente para a criança. – “Mei Ling usa esse tempo em que eu estou passeando com a menina para descansar um pouco...”.

Shaoran se sentou ao lado da irmã observando a nenê atentamente.

“Ela parece normal para mim...”— comentou, ouvindo as duas mulheres na sala bufarem.

“Xiao Lang! Isso é coisa que se diga?”— Yelan meneou a cabeça com a indelicadeza do filho.

“Só estou falando!”— deu de ombros, recostando-se no sofá. – “Do jeito que os velhos estão tratando o assunto, pode-se pensar que a menina tem duas cabeças ou algo parecido...”— concluiu, vendo a irmã rolar os olhos esboçando um sorriso.

“Mesmo assim, não foi nada gentil...”— Shie Fa o repreendeu levemente, sentindo a menina se agitar. – “Oh, querida... deve estar com fome, não é?”— levantou-se e olhou para o irmão. – “Pode segurá-la por um momento?”.

“O quê? Não, e-eu...”— não concluiu a resposta, pois a irmã já colocava Hua Jing em seus braços.

“Tome cuidado; apoie as costas e a cabeça dela... isso. Assim!”— sorriu suavemente, vendo-o segurar a nenê em um estado de semi-petrificação. – “Segure-a assim, enquanto vou buscar a mamadeira dela...”.

Enquanto a mulher se afastava, a menina começou a balbuciar e a se mexer, deixando Shaoran apavorado.

“Shie Fa, ela vai começar a chorar... O que eu faço?”— indagou, desviando o olhar dela para a mãe. – “O que eu faço?”.

“Fale com ela...”— Yelan aconselhou, vendo o filho arregalar os olhos.

“Ahm... Oi, Hua Jing...”— começou nervosamente, sem conseguir acalmá-la e voltou a encarar a mãe. – “Não está funcionando! Pegue-a...”.

“Ora, meu filho, não vai dizer que está com medo de um bebê?”— ela riu, fazendo-o fechar a expressão.

“E se eu a machucar?” — resmungou, contraindo-se levemente quando a menina começou a choramingar.

“Xiao Lang, fale com ela!”— Yelan voltou a dizer. — “Com segurança...”.

“Olá, pequenina...”— disse com a voz suave. – “Você é uma menina muito fofa, não é?”— suspirou ao perceber que ela parara de se mexer, prestando atenção à sua voz. – “Você tem os olhos de sua mãe...”— comentou, abrindo um pequeno sorriso e acariciando de leve a bochecha rosada da menina.

“Sabia que não teria problemas...”— Shie Fa voltou a entrar na sala, atraindo a atenção da menina, que se virou ao ouvi-la falando. Shaoran ergueu o rosto, orgulhoso de seu feito, e percebeu, tarde demais, que a irmã trazia uma máquina fotográfica em mãos. Foi momentaneamente cegado pelo flash, antes que pudesse dizer alguma coisa. – “Ficou ótimo, maninho! Tenho certeza que alguém, no Japão vai adorar ver esta foto!”.

“O quê?”— a única coisa que o impediu de gritar foi a consciência de ter a nenê nos braços. – “Você nem pense em mandar essa foto para ela, ouviu bem!”— e desviou o rosto para a mãe que sorria divertidamente. – “Nem pense nisso, mama!”.

A bebê voltou a se agitar ao perceber estar sendo ignorada, e Shie Fa, que havia se sentado, pegou-a novamente, dando-lhe a mamadeira. Na primeira oportunidade que teve, o rapaz agarrou a máquina que repousava ao lado da irmã e procurou a foto, pensando que talvez devesse apagá-la, mas, ao ver sua própria imagem com a filha da prima no colo, uma sensação morna lhe preencheu o peito, fazendo-o sorrir. Shie Fa tinha razão, Sakura adoraria ver aquela foto...

“Minha nossa! Esse é mesmo Xiao Lang?”— foi impedido de começar a divagar sobre a jovem de olhos verdes ao ouvir a voz vinda da porta.

Ele se levantou, parando em frente à prima, que parecia ter acabado de sair do banho.

“Boa tarde, Mei Ling!”— cumprimentou-a com um sorriso. – “Há quanto tempo...”.

“De fato, muito tempo, mesmo...”— ela abriu um sorriso, muito parecido com o das irmãs quando queriam provocá-lo. – “Da última vez que nos vimos, você ainda era um pivete enfezado, prestes a conquistar o mundo, a começar pela Inglaterra, não é?”.

Observando-a naquele momento, nunca adivinharia pelo quê ela havia passado nos últimos três meses, embora uma sombra de incerteza pairasse sobre os olhos castanho-avermelhados.

“É, acho que faz esse tempo todo mesmo...”— deu de ombros, mantendo seu tom de voz leve. Lembrou-se que logo após ter começado com os intercâmbios, a prima, na época com 17 anos, casara-se com Min Hu Wing, nove anos mais velho, por causa de um acordo comercial entre as famílias.

“Boa tarde, tia Yelan!”— Mei Ling falou, indo se sentar perto de Shie Fa para pegar a filha que, ao ouvir a voz da mãe, perdeu o interesse na mamadeira e começou a fazer manha.

Shaoran a observou dar a mamadeira para a Hua Jing. Sabia que a prima não lamentava ter se casado, uma vez que ela e o marido eram verdadeiramente apaixonados um pelo outro. O problema todo havia começado com aquele maldito acidente três meses atrás, que a tornara viúva e praticamente a jogara na rua, desencadeando uma situação conflitante com o clã e tornando necessário que ele intercedesse.

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

N/A – Aiya, minna-san!!

Não, não é uma miragem, tampouco um pássaro ou um avião... e muito menos o Superman... Sou apenas eu, trazendo-lhes mais um capítulo novinho e recém-saído do forno da minha imaginação...

Este foi um capítulo cheio de surpresas, tenho certeza... Com novos personagens integrando o enredo e uma trama “sinistra” se revelando sob o manto de aparente perfeição da família do nosso adorado Shaoran. Mas não me estenderei muito debatendo sobre o assunto. Por favor, deem suas opiniões enviando um review para esta autora que ela agradece!

Ah, sim... quero terminar avisando-os que o próximo capítulo será publicado em uma data programada (nunca imaginei que poderia voltar a fazer isso). Então esperem pelo capítulo 20 de SDNEE no próximo Feriado Nacional... Se vocês não sabem qual é o próximo feriado nacional, temos um sério problema patriótico em mãos...

Vejo-os de volta na semana da Pátria!
Beijinhos,

Yoru. (24/07/2011, 20:29h. “Acho que estou sendo perseguida por um sapo...”).

**Sei que coloquei uma enxurrada de personagens novos neste capítulo e alguns de vocês podem ter ficado confusos, mas peço que não se preocupem muito com isso. Seguem algumas informações “extras” abaixo:

Shie Fa Hartmann, 28 anos – professora universitária de Sociologia; casada com John Hartmann.

Fuu Ti Li, 27 anos – professora de dança; está noiva há três anos e não tem a menor pressa de se casar.

Mei Ling Wing, 26 anos, prima de Shaoran, dona de casa, viúva e mãe de uma menina, Hua Jing (Flor Perfeita), de três meses de idade.

Fan Lei Li, 25 anos – atriz de teatro; solteira e adora uma boa polêmica.

Fen Mei Zhou, 24 anos – dona de casa (apesar de ser formada em Economia), casada há dois anos e meio, tem um filho de um ano.

John Hartmann, 36 anos – marido de Shie Fa e advogado especializado em direito da mulher responsável pelo caso de Mei Ling.

Masao Ikeda – este personagem foi citado no capítulo 15, “Não tenha medo deste amor”, como sendo o “comediante da turma”.

*SDN*SDN*

Espaço da revisora: Uiitaaa!!! (expressão nova que saiu num susto) Aqui quem vos fala é a revisora Rô...saudade de todos (abraça forte, um por um....ah que gostoso)....E temos mais um capítulo de SDN...Alguns acontecimentos enfim, espero q a Bru desande logo com esse romance, estão tão agonizantes quanto os dramas coreanos que ando vendo...Lá pela metade do capítulo, achei que a Tomoyo andava um tanto quanto irritante por não perdoar o Eriol, mas dei um desconto a ela algumas linhas depois...E parece que teremos um novo romance pela frente??? A Bru anda bem romântica... Gostei da inclusão da Mei Ling na história, e de como foi apresentada, mais velha, mãe... Quero ver como a Bru vai dar continuidade na ex-espoleta prima apaixonada do Syao.Como eu disse para a Bruna, as irmãs do Syaoran são sempre elétricas e animadas e acho que não dá mesmo para mudar isso, adoro elas com essas personalidades efervescentes.Agora resta a nós pobres leitores e revisora, esperarmos para saber o que Bru ainda vai aprontar com esse casal tão fofo.Até o próximo capítulo pessoal.Um abraço a todos.



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