As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 46
A última crise - Parte 2.


Notas iniciais do capítulo

Essa é a continuação que deveria ter ficado na outra lá ¬¬' perdão.



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#Narrado por Diana#

Não me lembro de quanto tempo fiquei encostada ao muro da mercearia. Estava praticamente jogada no chão com meus pés sujos e machucados de tanto correr. E enquanto as lágrimas paravam lentamente de escorrer pelo meu rosto, Rafael e Lucas apareceram. Eles me tiraram dali e passaram parte do caminho perguntando o que havia acontecido, onde Daniel estava e se eu estava bem.

Eu encarava Rafael com ódio. Queria xingar ele das palavras mais baixas que se pode imaginar, mas eu estava tentando remover calúnias do meu vocabulário. Ainda assim era difícil controlar a vontade filha da puta de chamá-lo de filho da puta.

Lucas se esforçou sozinho para me colocar sentada no sofá enquanto Rafael me trazia um copo d’água. Ele me entregou o copo e em um instante de fúria joguei água no seu rosto. Levantei-me rapidamente do sofá e joguei o copo no chão, fazendo cacos de vidro se espalhar pelo carpete, deixando Lucas e Rafael assustados com a minha reação.

- Por que você fez aquilo seu imbecil? Você tem MERDA na cabeça? – perguntei em um tom de voz alarmante que, provavelmente, quem passava na rua ouviria.

- Eu sinto muito. Eu não queria... Eu só... – dizia Rafael balbuciando palavras falsas.

Eu sabia do seu interesse, mas fui otária o suficiente para negar. Uma garota (por mais burra que seja), sempre percebe quando um cara tem intenções erradas com ela. Rafael tinha, mas eu me submeti a não acreditar porque ele era legal e amigo, e além do mais ele tinha me ensinado muitas matérias, me dado um livro... Porém, eu era burra! Burra de verdade porque dei corda pra coisa toda funcionar e acabar nessa merda que estava agora.

- Você não deveria ter feito isso! – continuei berrando.

Lucas segurou meu ombro e murmurava para que eu me acalma-se.

- Eu não quero ficar calma! Ele fez o Daniel terminar comigo! – então me desfiz em mais lágrimas incontroláveis ali, nos braços do Lucas.

Meu irmão me levou até o quarto e me deu um remédio pra dor de cabeça (como se aquilo fizesse um efeito súbito na minha cabeça, fazendo os problemas desaparecerem).

- Só tira esse canalha daqui, se não eu vou acabar matando ele. – pedi a Lucas, com a voz trêmula e baixa, quase inaudível.

- Precisa ligar para a Eduarda. Sabe que ela irá pra festa. – avisou Lucas enquanto saia do quarto.

Eu havia esquecido completamente. Eduarda com certeza iria pra festa e não entenderia nada do que estava acontecendo. Eu precisa ir para a festa surpresa, mesmo condenada a uma humilhação injúria de Daniel lá.

Tirei o vestido sujo e troquei por uma velha e desbotada calça jeans. Uma camisa de manga comprida e um rabo de cavalo no cabelo. 

Dei uma rápida olhada no espelho. O rímel borrado no meu rosto, o batom manchado, fazendo um rastro pela boca toda. As bochechas machucadas e os olhos espremidos, vermelhos e sem brilho, de tanto chorar.

Disquei os números no celular para tentar falar com Eduarda:

- Oi Diana, já estou perto do local da festa. – disse ela.

-Oi... É, aconteceu um imprevisto. Acho que não poderei ficar com você na festa... – disse.

- O que houve? – perguntou ela.

Respirei fundo, tentei controlar o choro que anunciava vir, mas logo os soluços encontraram espaço na minha voz.

- Daniel... Ele terminou comigo e... – mais choro ao invés de voz. Prendia a respiração, mas quando soltava parecia um terremoto descomunal levando tudo consigo. – Eu sinto muito!

- Oh, querida! Eu vou passar na sua casa e você me explica o que aconteceu. – disse ela.

- Tudo bem.

***

Algum tempo depois de ter falado com Eduarda pelo telefone, ela bateu na porta de casa. Lucas a recebeu e, como eu mal conseguia respirar de tanto chorar, explicou a situação sem cabimento algum para ela.

- Quem é esse Rafael? Eu vou matar esse ordinário! – exclamou ela trincando os dentes.

Eduarda me abraçou, e esperei o choro sair por si só. Não fiz esforço em segurar nada porque minha avó dizia que quando chorávamos, aliviávamos toda e qualquer tensão. Ainda assim, quanto mais eu chorava, mais difícil ficava de erguer a cabeça e tentar contornar a situação. Na verdade, perante a tudo aquilo, eu queria a minha mãe. Eu sentia que ela saberia o que fazer.

Eu, Diana Lins, sentia nojo de mim mesma como uma pessoa sente nojo de um rato morto. Sem metáforas ou abobrinhas. Sentia nojo e ponto.

- Ainda quero ir à festa. Mas quero que você vá comigo! – disse ela, segurando meu rosto e tentando olhar nos meus olhos encolhidos.

Nesse instante, meu telefone tocou. Era Catharina.

- Quer que eu atenda? – perguntou Lucas.

Fiz que não com a cabeça e peguei o telefone.

- Onde você tá? O Daniel apareceu aqui na rua como um furacão! Ele até me empurrou quando eu tentei falar com ele e foi preciso o nosso amigo ir à casa dele chamá-lo para cá. Resumindo tudo: a festa surpresa atrasada não deu tão certo. Mas ele está aqui com os garotos, mesmo enfurecido com algo... – disse ela.

(Pausa)

Absorvi com cuidado as palavras dela. E só depois de alguns segundos respondi.

- Eu já estou indo aí. Explico quando chegar.

***

Eduarda dirigia com calma, perguntando em quase toda parada se eu estava bem, que eu não precisava fazer aquilo e que ela combinaria um encontro com Daniel outro dia. Lucas, sentado no Baco de trás, acariciava meus cabelos tentando acalmar a mim que, em frente a tudo isso, parecia estar lentamente morrendo.

Eu fechava os olhos e encostava a cabeça no vidro do carro. A noite estava começando... Eu queria entender como aquilo tudo aconteceu tão rápido que ainda não tive tempo de esperar a ficha cair.

Comigo mesma repetia várias e várias vezes “ACABOU”. Mas não, não tinha acabado ainda.

Só acaba quando os dois lados concordam, e eu não concordava. Um dia antes de tudo isso acontecer, tínhamos feito promessas tolas. É por essa razão que não curto promessas, e tal. Mas, ainda não fazendo sentido, eu queria concertar. O erro era meu. Foi grande... tive culpa? Não. Não tive.

Você tem culpa quando se insinua para um cara. Dá o privilégio a ele de tocar você, te der qualquer tola intimidade ou liberdade. Eu não fiz isso. Eu apenas sorri como sorrio para qualquer amigo meu. Como sorri para Daniel antes de ficarmos juntos, e mesmo assim ele não se permitiu ser vulgar com a minha pessoa e me agarrar contra a minha vontade.

Rafael e seu ego estavam errados. O cara erra quando pensa que atrai uma garota com seu carro, seu rim defeituoso e seu sorriso de cristal. O cara erra quando acredita ser o fodão da faculdade, que ajudou uma garota a responder algumas questões de um vestibular. O cara erra quando flerta com uma garota que tem namorado.

A garota erra quando acredita que está sob controle de qualquer situação.

Eduarda chegou a esquina da rua onde Daniel morava. A mesma rua de Catharina, onde claro que a festa rolava a solta.

Não entendo como os pais dela permitiram isso, mas não me deixo vagar por pensar sobre os pais dela e ela. Apenas sigo em direção a sua casa. Lucas atrás de mim e Eduarda do meu lado. Volta e meia ela me encarava, séria. Ou então sorria singelamente, como quem quer dizer que tudo vai ficar bem, mesmo sabendo que não vai.

Os dois sentiam pena de mim, e eu odeio isso. Odeio que sintam pena de mim porque não sou frágil, nem fraca. Mas, eu queria desabar de novo e esperar para ver até onde esse buraco fundo iria chegar. 

***

Adentramos ao local da festa. Muita gente me encarando. Alguns do colégio, outros que eu nem sabia de que zona havia saído. Bebidas e som alto. Promiscuidade às nove horas da noite. Ainda assim, exibi forças para procurar Daniel no meio daquilo.

As luzes de neon quase cegavam a mim e a Eduarda que pôs seus óculos escuros, incomodada com a claridade passiva do local. E de repente tudo ficou escuro e a batida eletrônica aumentou estrondosamente. Lucas segurava meu braço e me puxou quando viu Catharina.

Ela estava usando um vestido colado ao corpo como a própria pele. Preto, mas repleto de brilho. Um salto alto que eu jamais, em toda a minha vida usarei porque é muito alto, de verdade, e claro... Segurando uma garrafa de vodka.

- Que tipo de festa é essa? – perguntou Eduarda.

- Bom, seu filho fez dezoito anos. Não esperava encontrar palhaços cantando as músicas da Xuxa aqui. – disse Lucas.

Andei mais rápido até chegar a Catharina. A me ver, ela assustou-se:

- O que houve com você? O combinado era você trazer o Daniel! Por quê que ele chegou sozinho e com raiva? – perguntou ela, tentando falar mais alto que a música para que eu pudesse escutá-la.

- Nós... Brigamos. Só isso. – respondi, não querendo explicar o ocorrido porque ela soaria um grito de vitória ali mesmo.

Catharina não era burra. Observou a mim e a minha falta de jeito. Tenho certeza que deduziu o acontecido porque seu sorriso saiu automaticamente depois.

- Onde o Daniel está? – perguntou Eduarda.

Catharina e suas outras duas amigas franziram a testa ao vê-la. Claro, elas não conheciam Eduarda e nem sabia de sua existência.

- Primeiramente, quem é você? – replicou Catharina.

- Sou a mãe do Daniel. – respondeu ela.

Virei meu rosto pra trás e quase dou um grito de espanto por ela ter contado isso a língua solta.

- Ok, vamos continuar procurando o Daniel! – avisou Lucas tirando Eduarda dali.

Tentei sair das presas de Catharina como eles, mas acabei sendo pressionada a contar toda a história para ela.

- Conte detalhe por detalhe, querida... – pediu ela.

No final das contas, eu e a língua solta criamos um plano para fazer Daniel e Eduarda conversarem naquela festa. 

***

Catharina levou a mim e a Eduarda até seu quarto. Ficamos lá enquanto Lucas se divertia (e ele sabia se divertir como ninguém).

- vou buscar Daniel. – disse ela.

Eu andava de um lado para o outro do quarto. Nem percebia que Eduarda estava até mais calma que eu. Apertei as mãos contra a barriga. Suava frio. Eu sabia que quando Daniel me visse, ele iria embora dali em instantes. Mas arrisquei, por ela. Pela Eduarda.

A porta abriu. O barulho da música alta invadiu rapidamente o quarto mais cessou logo depois, quando Catharina fechou a porta com Daniel ao seu lado. Os olhos dele encontraram Eduarda, que sorriu. Depois, quando ele me viu, voltou-se contra a porta para sair dali de vez. Catharina foi mais rápida e conseguiu trancar.

Assim estávamos nós três. Mãe, filho e a até então ex-namorada que foi beijada por um cara a força, tentando fazer as pazes...

No fundo, eu estava ali por outra razão: queria dar a oportunidade de Daniel conhecer a mãe sem a especulação da mulher que o rejeitou, foi embora...

O silêncio de nós três prolongou-se. Apenas a batida eletrônica ao fundo. Meus braços cruzados, minhas pernas tremendo. O rosto pálido, sem cor e sem emoção de Daniel. Seus olhos fundos que não conseguiam me encarar, encaravam ao chão. Nem mesmo a sua própria mãe ali, diante dele, fazia a situação de horas atrás amenizar. Não tirava dele sua razão de estar assim, magoado. Mas eu tinha o direito a me explicar.

Achei que se nenhum dos dois conseguia abrir a boca pra falar, falaria eu.

- Daniel... A Eduarda, ela quer... – ele me interrompeu com um gesto de sua mão.

- Cala a boca. – disse ele.

Temia estar boquiaberta por causa daquilo, e ignorei como qualquer pessoa deve fazer.

- A SUA MÃE QUER FALAR COM VOCÊ! – exclamei, aumentando o meu tom de voz, mostrando que não me calaria para ele.

Eduarda com certeza sentia-se mal por causa daquilo, lhe dei então a liberdade de se expressar sem ajuda minha.

- Daniel. Filho. Eu quero tanto abraçar você. – disse ela indo a sua direção.

Em nenhum momento ele se desfez dela. Aceitou seu abraço. E ficaram por muito tempo ali, juntos, como se aquele abraço fosse curar anos perdidos. Eu acreditava que sim.

- Não devia ter ido embora. – sussurrou ele. A voz trêmula, como a minha quando quero chorar. 

- Eu precisava! Mas agora vejo que perdi anos... E a única coisa que de fato importava para mim era você! – continuou ela.

Os dois seguravam o rosto um do outro, enxergando os detalhes a fundo. Sentindo a maciez do cabelo, tocando na pele, apertando as mãos enrugadas e vividas dela. As mãos geladas e sofridas dele.

Segui para a porta e bati, pedindo discretamente para Catharina abri-la.

Olhei para trás uma única vez, e os dois sorriam como duas crianças. Conclui que Daniel estava bem. Minha presença ali funcionou apenas como um coringa. Não era a hora de dar explicações minhas a ele. Era a hora de Eduarda redimir-se.

- Aonde você vai? – perguntou Catharina ao me ver descer as escadas.

Virei o corpo pra trás e respondi:

- Pra casa. Preciso da minha mãe também. 


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Notas finais do capítulo

Gente, se der tempo posto outro capítulo hoje! (Sábado)



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