As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang
#Narrado por Daniel#
Decidi sair mais cedo hoje para evitar encontrar Catharina. Há dias ela me manda mensagens seguidas de “bom dia, boa tarde, boa noite”, e eu tenho ignorado a sangue frio. Foi um erro ter beijado-a. Não devia ter feito aquilo. Criei alguma ilusão na cabeça dela e agora estou pagando pelos meus pecados.
– Ei, espere! – gritou uma voz na saída de uma rua. Era a Catharina.
Respiro fundo e conto até dez antes de parar na esquina da rua.
– Bom dia! – exclama ela com um sorriso de ponta a ponta no rosto.
– Bom dia.
– O que há Daniel? Há dias você vem me tratando como um nada! Olha, eu entendi. Você não quer nada comigo além de amizade e eu estou tentando aceitar isso. Eu te conheço há tanto tempo... Não quero que deixe essa coisa que nós temos acabar.
– Que coisa nós temos? – perguntei incomodado.
– Amizade! – respondeu ela enquanto apertava as minhas mãos. – Agora, pare de me evitar, por favor!
Eu apenas concordei com a cabeça ao pedido dela e seguimos caminho conversando sobre a mudança física de Renan.
– Ele ficou assim desde que começou a fumar. – comentou ela.
– Mas eu acho que a parada com ele tá mais séria que um simples “cigarro”. – disse a ela.
Catharina me encarou, parecendo não entender do que se tratava aquela afirmação.
– Você sabe por que ele e o Felipe foram expulsos da escola? – perguntei a ela.
– Sim, foi porque eles quebraram os equipamentos da sala de informática.
– Não Cathy! Se fosse por isso eu também teria sido expulso!
Ela me olhou desnorteada e parecia pensar em algo para dizer porque não conseguia entender ao que eu estava me referindo.
– Eles se envolveram com drogas. – conclui a ela.
Catharina ficou perplexa e sem expressão alguma no rosto. Alguns minutos depois reagiu.
– Você está brincando! Não é possível Dan! Eu conheço os dois, sei do que eles são capazes! – exclamou ela.
– Pare com isso! Você nunca sabe ao certo do que alguém é capaz! Você nunca conhece um pessoa cem por cento. Não se iluda!
Continuei o caminho me afastando dela enquanto ela continuava parada na esquina próxima a escola, como se esperasse algo vir do céu.
– Vamos Cathy! – gritei. Ela caminhou até a minha direção e passou por mim de cabeça baixa. Andou mais rápido que o normal, como se estivesse prestes a correr. Percebi que a notícia não foi de seu total agrado, mas eu não iria mentir pra ela. Não sobre isso.
O portão estava prestes a fechar quando vi a amiga de Diana chegar. Ela me encarou assustada. Talvez eu assuste as pessoas, não sei.
A sala estava muito cheia hoje, e o nosso primeiro tempo era química. Eu não estava nem um pouco satisfeito com a ideia de estar estudando. Eu tinha planos contrários sobre isso, mas a verdade é que me tornar alguém acima do que Leandro é me anima. E eu sei que se seguir pela trilha que Renan e Felipe me impulsionam e me chamam me levará a um buraco muito fundo do qual não quero arriscar. Talvez isso se chame amadurecer. Quando você passa a descontar as futilidades que costumava aceitar. E a vida grita bem alto: “moleque, acorde! É hora de viver, de verdade”.
Olho para o fundo da sala e Diana está lá, sentada mexendo no celular enquanto ouve música. Ela vê Flávia e sorri. Poucas pessoas que eu conheço demonstram um sorriso sincero, sem malícia e sem falsidade. Diana é uma delas. Depois dela, apenas a minha avó.
Devo lembrar que dona Amélia gostou dela. Comentou o final de semana inteiro sobre Diana e seu cabelo, e pelo fato de eu ter levado a garota para o quarto. Mas antes de mais nada, a minha avó quis conhecê-la. Ela sempre quer conhecer meus amigos. Com Cathy foi assim, com o Felipe e Renan também. Mania de avó.
Mas com a Diana foi totalmente diferente. Ela não apenas quis dizer “Oi, você é a Diana? Prazer em conhecê-la e até logo”. Ela quis conversar, saber sobre a família, saber sobre os produtos que a Diana passa no cabelo... Coisas do tipo. E foi engraçado saber que as duas estavam na mesma intensidade. E eu nunca vi alguém ter paciência com aquela velhinha além de mim. E Diana teve.
Sigo até o final da sala e sento perto da janela.
– Bom dia. – diz ela virando o rosto na minha direção.
– Bom dia. – respondo a ela.
Sorrimos e não nos falamos até o intervalo quando ela vem na minha direção e apresenta a amiga dela.
– Essa é a Flávia. – diz ela.
A garota parece estar tremendo, como se eu fosse devorá-la.
– Oi. – cumprimento ela enquanto estendo minhas mãos.
– Ah! Oi! – exclama ela eufórica. – pensei que você fosse me ignorar.
Diana e eu rimos da forma como Flávia age.
– Eu sou legal, apenas incompreendido. – digo a ela.
Diana sorri.
– Tudo bem, agora eu vou beber água, e se você quiser pode ficar conversando com esse moço aqui. Ele não morde, mas aconselho a você não se aproximar demais. – disse Diana enquanto afastava-se de nós dois e saia da sala.
Flávia senta na cadeira em frente a minha. Tento ser simpático porque aprendi com Diana que não devemos julgar as pessoas que não conhecemos. E eu me lembro de como a tratei mal quando ela tentou ser simpática comigo e eu a chamei de “chata e patética”.
– Vocês duas se conhecem há muito tempo? – perguntei a ela.
– Desde criança. – respondeu ela.
– E ela sempre teve essa pose de marrenta?
– Ela usa isso como defesa, mas ela é sentimental demais. – responde Flávia.
– Ela é bem legal. Confesso que não faz o meu tipo de amizade, mas estou tentando abrir uma exceção.
Flávia olha admirada para mim.
– Só não machuque ela. – pediu Flávia.
Tentei entender ao que ela se referia. Talvez pensasse que eu fosse um daqueles marginais que ficam na rua batendo nas pessoas e roubando outras... Eu já fui assim, mas isso ficou no passado. Estou tentando ser uma pessoa melhor por mim.
– Tudo bem. – afirmo a ela.
Diana entra na sala e eu levanto-me da cadeira.
– Onde você vai? – pergunta ela.
– Falar com a Catharina. – respondo.
– Até mais então.
Cathy está sentada no pátio da escola, mexendo no celular.
– O que foi? – pergunto a ela.
– Nada. – responde.
– Olha, eu sei que você tá bolada com aquele lance que eu te contei mais cedo, mas se você não quer acreditar em mim, eu não posso fazer nada.
– Daniel, eu acredito. Esse é o problema. É difícil aceitar que os dois estão fazendo isso. Eu amo eles cara! São meus dois irmãos do peito e eu não consigo engolir essa história. – diz ela com a voz falha. – Mandei mensagem para o Felipe, e ele disse que só pode conversar sobre isso pessoalmente.
– E o que você vai fazer?
– Vou me encontrar com ele e com o Renan. – responde ela. – Em que lugar vocês se encontram?
– Geralmente na casa do Renan. O Felipe sempre tá com ele.
– Acho que vou lá hoje à noite. – ela me olha esperançosa. – Você pode ir lá comigo?
Eu fico em silêncio enquanto tento pensar em uma resposta que agrade aos dois lados.
– Se eu não tiver coisas pra fazer eu vou com você.
– Tudo bem então. Eu passo na sua casa.
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