As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 18
Bem-vindo a esta família!


Notas iniciais do capítulo

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@the_biaoliveira

sigo de volta pq sou legal u.u haha



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#Narrado por Diana#

- Lucas, acorde! – sacudi o garoto enquanto ele continuava dormindo. – Lucas! – gritei.

- Hãm? Oi! O que foi? – disse ele, transtornado e assustado por ter sido acordado.

- Já são dez horas da manhã. Quero levar você até a casa do nosso avô. Nossos primos chegaram de viagem e querem conhecer você. – afirmei a ele.

- Tudo bem, eu vou apenas tomar um banho.

Era uma manhã fria de domingo. No Rio de Janeiro, geralmente quando o clima está assim os agasalhos tornam-se nossos tão fieis companheiros.

- Deve estar acostumado com a temperatura da sua cidade, deve ser parecida com a daqui, não é mesmo Lucas? – perguntou a minha mãe a ele enquanto tomávamos o café da manhã.

- Sim, é realmente frio em Santa Catarina, estou acostumado. – concordou ele.

Minha mãe estava tentando transparecer normalidade. Ser alguém legal com o fruto de uma traição do seu casamento. Não é tarefa fácil pra qualquer um, mas ela sabia que o garoto não tinha culpa de nada.

- Vocês vão para casa do Senhor Augusto? – perguntou ela.

- Sim, nós vamos. – afirmei enquanto olhava para Lucas que nesse momento tinha uma expressão desconfortável no rosto. – Está tudo bem Lucas? - perguntei.

- Acho que sim. Só estou um pouco nervoso... – respondeu ele.

- Mas porque? Seu avô está ansioso para conhecê-lo. Ontem eu conversei com ele. Acredite Diana, ele conversou comigo. – disse ela enquanto soltava um riso rápido. – Bom, ele não é aquele tipo de pessoa muito fácil de se convencer. Ele ficou assim depois que a dona Helena faleceu. E depois de uma briga muito feia com o Carlos...

- Porque eles brigaram? – perguntou Lucas.

- Quando o Carlos estava fazendo faculdade em São Paulo, dona Helena adoeceu de câncer e algum tempo depois faleceu. O Carlos estava tão empolgado com o trabalho que não queria pedir licença do chefe. Foi cruel da parte dele.

Lucas ficou estagnado na mesa. Apenas encarando a minha mãe e tentando absorver o que acabara de ouvir.

- Ele me parecia ser uma boa pessoa... – assentiu ele de cabeça baixa.

- Mas ele é. – afirmei.

- Não concordo Diana. Você não sabe o que é perder uma mãe. Você não sabe o que é não conhecer sua mãe. E então um cara se acha no direito de colocar sua profissão no pedestal e esquecer os outros? Ele me parecia ser um bom pai, mas agora, saber que ele tratou a família como última opção... Isso me dá nojo! – exclamou ele. Levantou-se da mesa e seguiu para o quarto.

Minha mãe me encarou enquanto eu levantava da mesa com uma expressão totalmente desolada.

- Por um lado ele tem razão Di. Seu pai não foi lá o melhor exemplo de pessoa a ser seguida. Sinto muito, mas essa é a verdade. – assentiu ela.

- Eu entendo essa revolta dele. Mas o meu pai não é isso! Eu o conheço, sei muito bem como ele é.

- Não meu amor, você não sabe. Ninguém está apto a conhecer alguém totalmente. As pessoas só nos mostram aquilo que elas querem mostrar. O resto a gente descobre com o tempo. – ela saiu da cozinha e eu refleti sobre aquela conversa matinal.

Ao certo não sabia se deveria concordar com tudo aquilo. Meu conhecimento sobre meu pai era outro. Eu o amava, e em meio a todos esses erros eu conseguia entendê-lo e até mesmo perdoá-lo.

- Você já está pronto? – perguntei a Lucas na porta do quarto.

- Quase. – respondeu ele enquanto ajeitava a gola da camiseta.

Ele estava tão “formal”. Sapatos social, engraxados e bem pretinhos. Uma linda calça e o cabelo escovado com um corte moderno e bem reservado. Eu parecia mais uma mendiga. Um blusão e uma calça amarrotada que estava escondida no fundo do meu guarda-roupa, uma sapatilha preta e ali estava: um desastre de garota a margem dos seus dezesseis anos em pleno domingo.

- E esse cabelo? – perguntou ele perplexo ao meu coque bagunçado com uma franja caída e desfiada.

- O que tem ele?

- Está muito estranho. – respondeu enquanto tocava no meu cabelo. – porque você não solta?

- Porque hoje ele amanheceu “armado”. – digo a ele enquanto solto um riso envergonhado.

- Não deve estar assim tão medonho. – ele puxa a liga que mantém meu coque preso e meu cabelo solta. Volumoso e cheio de ondulações nas pontas.

Lucas segue para sua pequena bolsa sobre a cama e retira uma escova para cabelos. Ele então penteia mecha a mecha e logo os fios vão desembaraçando e ficando lisos e arrumados. Ele divide meu cabelo de forma que a franja realça meu rosto.

Eu sigo para o espelho e olho como ficou o penteado.

- Nossa! Esse não parece o meu cabelo! – digo a ele.

- Eu apenas penteei. Você deveria tentar de vez em sempre. – afirma ele ironicamente enquanto me entrega a escova.

Seguimos para a casa do nosso avô. Metade do caminho em silêncio, ainda transtornada com o ocorrido no café da manhã.

- Você ficou aborrecida com o que eu falei hoje mais cedo? – perguntou ele.

- Não. Está tudo bem. – respondi tentando aceitar a opinião dele.

Estávamos próximos ao beco onde Daniel costuma ficar. Ao chegarmos perto do muro, Lucas percebeu uma pichação curiosa.

- Olhe isso, que bacana! – exclamou ele.

Eu virei o rosto e percebi as pichações e os grafites de Daniel e seus amigos.

- Chamam isso de “urban art”. – disse Lucas.

- Ou pichação. – afirmei.

- Urban art é diferente de pichação. Elas dão alguma mensagem, mostram a vida urbana. Eu sei disso porque o Rafael fazia. E era nesse mesmo estilo. Não era feio. Deixava o ambiente mais alegre.

- Tudo bem... Vamos? – disse a ele enquanto seguia caminho.

Andamos mais alguns metros até sairmos do beco e então já pude avistar a casa do nosso avô.

- Aquela casa amarela ali. Preparado? – perguntei enquanto Lucas apertava as mãos nervoso.

- Sim, estou.

Toquei a campainha e meu primo mais velho atendeu.

- Olá! – disse ele enquanto encarava Lucas. – você deve ser o Lucas...

- É ele mesmo. – respondi. – o Vovô está aí?

- Está. Na verdade, muita gente está aqui.

Segui para a sala de estar e vi meu tio Cláudio, irmão do meu pai, sua esposa e meu outro primo.

Que ótimo! Convocaram a família inteira pra conhecer o coitado do Lucas. Já estava nervoso para conhecer apenas o avô, quanto mais o resto da família.

- Diana! – exclamou a esposa do meu tio, Marcela. – Tudo bom querida?

- Sim. E com a senhora?

- Estou ótima. E esse mocinho? – ela foi em direção a Lucas e o abraçou. – Seja bem-vindo a família.

Ele ficou calado, ainda tímido e desnorteado.

- Onde o vovô está? – perguntei irritada.

Todos me olharam espantados com a pressa em apresentar Lucas a ele.

- Estou aqui. – respondeu uma voz vinda do corredor da casa. Era ele.

Lucas sorriu. Admirado e ainda nervoso, foi na direção do nosso avô e o abraçou. E seu abraço foi recíproco.

- Garotão! Eu já te amo rapazinho. – disse ele enquanto passava as mãos nos cabelos arrumados de Lucas.

Aquela cena assustava porque o meu avô não é o tipo de pessoa que demonstra afeto por seus netos, mas com Lucas, aquele neto de que nem sabia da existência, havia sido diferente.

- Ei rapaz, dê um abraço nesse tio! – exclamou o tio Cláudio a ele.

Logo todos os que estavam ali cumprimentaram Lucas. E pela primeira vez aquilo pareceu uma família. E eu nem mesmo me importei dos meus primos estarem zoando da minha roupa, eu deixei levar porque Lucas estava sorrindo. E eu o amava muito e os irmãos devem ficar felizes pelos seus outros irmãos.

- Vamos almoçar? – sugeriu meu avô.

- Sim, como quiser. – respondeu Lucas.

A cozinha estava muito bem arrumada. Marcela havia feito galinha assada cheia de recheio. A mesa estava repleta de comida, como se esperasse por um rei.

- Você se parece com o Carlos. – comentou meu tio. – O cabelo e o nariz. Os olhos não são dele.

- São da minha mãe. – informou ele.

Todos olharam para mim, como se aquilo me afetasse. Eu apenas abaixei a cabeça.

- Está tudo indo bem na casa da Daniela? Se você estiver se sentindo desconfortável lá, pode morar aqui conosco. – sugeriu meu tio.

- Não, está tudo bem lá. Diana e a dona Daniela são pessoas incríveis. – respondeu ele.

- Isso é bom. – meu tio virou o rosto na minha direção. – E você Diana, se dando bem com o novo irmão?

- Estou. – respondi.

- Precisa mesmo. Você é uma boa menina. E ele deve ser um bom garoto. – disse meu avô.

- Ele é um bom garoto... – afirmei enquanto olhava para Lucas.

Todos perguntaram sobre a vida de Lucas. Um verdadeiro interrogatório. Havia horas que aquilo parecia um programa de entrevistas, e não um almoço.

Algum tempo depois meu celular tocou. Era uma mensagem de Daniel.

Dan: “Boa tarde mocinha.

Di: “Boa tarde.” – respondi.

Dan: “Tudo bem?”

Di: “Acho que sim... E com você?

Dan: “Estou vivo.”

Di: “Isso é bom?”

Dan: “Depende, você acha que viver é bom?”

Di: “Acho.”

Dan: “Então é bom...”

Di: “Mas eu perguntei se você estava bem!”

Dan: “E eu respondi que estou vivo!”

Di: “Ah! Você me confunde.”

Dan: “Você é complicada.”

Di: “Não, eu sou legal...”

Dan: “Tem certeza que tá tudo bem? De verdade?”

Di: “Sim...”

Dan: “Eu não acredito.”

Di: “Então se ferra cowboy.”

Dan: “Então seduz - mulher gato-”

Eu soltei uma gargalhada à mesa que fez todos ao redor me encarar.

Di: “Acho melhor a gente conversar depois.”

Dan: “Tudo bem então. Não esquece de ir pra escola amanhã...”

Di: “Olha quem fala...”

Dan: “Vê se toma banho também!”

Eu li a última mensagem e sorri. Era engraçado como eu e Daniel nos aproximamos rápido. Julgamos tanto um ao outro e nem percebemos que aos poucos estávamos nos tornando amigos.

À noite, ao voltarmos para casa, Lucas contou tudo o que acontecera no almoço com a família.

- Eles são muito bons. – disse ele a minha mãe.

- Ainda bem que você se deu bem com eles. – assentiu ela.

- Meus primos até me chamaram pra jogar futebol no próximo final de semana.

- E você vai? – perguntei.

- Talvez. Eu não sei jogar futebol. E também não gosto.

Minha mãe franziu a testa, desconfiada com aquilo. Talvez porque garotos dessa idade geralmente gostam de futebol. Ela ainda não sabia que Lucas era gay. E talvez ele ainda não estivesse pronto para contar isso a ela.

- Eu vou tomar banho. – avisei a eles.

Antes de ir pra cama, escrevi algumas coisas na história. Eu devia terminá-la a tempo. Li e reli alguns capítulos, dei um impulso mais interessante à história e aos personagens. Estava gostando. Afirmei pra mim mesma que até eu compraria um livro se a história fosse essa.

- Obrigado, por hoje. – agradeceu Lucas a mim.

- De nada. Espero que continue se sentindo bem aqui, de verdade.

- Eu vou. Tenho certeza. – ele ajeitou-se na cama e antes de desligar o abajur, me desejou boa noite.

- Pra você também maninho.


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