As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 14
Esclarecendo algumas coisas.




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      #Narrado por Daniel#

Carros, pessoas... Mais carros e mais pessoas. Nunca percebi que voltar pra casa fosse tão monótono. Ainda mais quando a sua única companhia está querendo conversar sobre coisas inexistentes.

                  - Então, decidiu se enturmar com a garota “chata, patética e entediante”? – Pergunta Catharina, se referindo a Diana.

                  - Eu só conversei com ela sobre os assuntos da aula de ontem que eu perdi. – Disse a ela.

                   - Mas ela também faltou ontem. E você podia ter perguntado de mim. – Ela me encara e a expressão dela é séria.

                    - Eu estou um pouco intrigado com as coisas que aconteceram naquele dia...

                    Ela me para e fica bem na minha frente. Estamos em uma rua antes da nossa.

                     - Intrigado? Por quê? – Ela sorri.

                     - Cathy, eu não vejo você como nada além de uma amiga ou vizinha. E eu ainda estou tentando diferenciar os dois. – Digo.

                     - Então quer dizer que você não quer ficar comigo, é isso? – pergunta ela, ainda com o sorriso no rosto e eu não tenho certeza se esse sorriso é um bom sinal.

                     - É exatamente isso. Você é muito bonita e não me leve a mal, você tem os atributos perfeitos para um cara gostar de você. Mas... – eu faço uma pausa, ainda não sei o que falar. – O Felipe gosta de você e eu não quero ser um estraga prazeres. – Dou de ombros e sigo em frente. Ela continuou parada alguns minutos, no mesmo lugar. Depois, me alcançou novamente.

                        - Você não quer ficar comigo porque está com medo de levar uma surra do Felipe. – ela me encara e eu mal acredito no que acabo de ouvir.

                        - Tá maluca? Eu não tenho medo do Felipe! Já me comparou com ele? – pergunto. – ela continua sorrindo, mas agora o sorriso dela tem traços de malícia total. – Lembra na oitava série, quando eu fui suspenso por três semanas depois de quase cegar aquele moleque que me roubou?

                        - Lembro...

                        - Eu era um pirralho, e fiz um belo estrago com ele. Imagina agora o que eu posso fazer com o Felipe. – eu estava tentando ameaçá-la e assustá-la. E eu consegui. – Então Cathy, não pense que eu não quero ficar com você por causa do Felipe. Acha mesmo que eu ia perder uma garota que eu gosto pra um moleque? Lógico que não. Se liga! Entre a gente só tem amizade, e considere isso o bastante.

                        Eu dou de ombros e sigo o caminho até em casa sozinho.

              - Daniel! – Exclama a minha avó quando me vê.

              Leandro está se arrumando para o trabalho. Ele me vê e desvia a atenção para a televisão.

             Vou direto para o quarto sem cumprimentar nenhum dos dois.

              Jogo minha bolsa no chão. Salomão começa a cheirá-la. Só vou sair do quarto quando Leandro já tiver ido para o trabalho. O clima fica pesado quando ele está aqui. E sei que aquele olhar dele foi de raiva por ter percebido que eu roubei dinheiro dele.

              Começo a escutar música. E eu adoro essa. É de uma banda chamada “Coldplay”. É um tipo de rock calmo, do tipo que você escuta pra relaxar. E essa música é perfeita pra te fazer esquecer o mundo lá fora. Chama-se “Charlie Brown”. Estou viciado nela. Não sei a tradução da música, mas ela me acalma. O som dela é muito bom. E eu acabo por me pegar pensando na Diana. A risada dela é... Engraçada. Eu a acho engraçada. Eu nunca tinha ganhado um apelido até conhecê-la. E eu gostei de casmurro. E acho que ela gostou de “hum-hum”. Eu gostei.

                - Seu pai já foi embora. – Diz a minha avó na porta.

                Após banho e almoço, deito no sofá. Minha avó quis lavar a louça hoje, e ainda não entendi o porquê.

                 - Falei com o dono do pet shop para lhe arranjar um emprego.

                 - sério?

                 - ele disse que você pode ser atendente. E que pode ficar responsável pelo estoque. E vai trabalhar apenas seis horas por dia.

                 - Me parece bom...

                 - É ótimo. – diz ela.

                 - Mas vó, eu não tenho certeza se quero um emprego... – continuo.

                 Ela vira o rosto para mim e me encara desapontada.

                  - Daniel! Como assim? Eu não consigo acreditar nisso. – comenta.

                  - Eu vou pensar na sua proposta, mas não garanto sair correndo pra agarrar esse emprego. – afirmo a ela.

                  - Eu já não entendo mais nada! Só não siga os passos do seu pai.

                  Ela segue para o quarto e eu retorno à sala onde deito no sofá e durmo enquanto passa um filme sobre um cachorro falante.

                      - Daniel? – chama a minha avó. Ela está me acordando, e isso irrita.

                        - o que é? – resmungo. Ela me bate. E por incrível que pareça doeu. - Aí dona Amélia!

                      - era pra doer mesmo! Eu quero saber se você pediu desculpas da mocinha lá.

                     Ela se referia a Diana. Todo mundo agora só quer saber dessa garota?

                      - pedi sim. Ontem.

                      - Mas ontem você perdeu aula!

                      - A gente ficou preso na frente de uma casa por causa da chuva. Tive a chance de me “redimir” com ela lá.

                       - e então? Já são amigos?

                       - Não sei. Eu tentei conversar com ela hoje, mas ela é tão fechada quanto eu. – respondi.

                       - como assim?

                       - quando eu cheguei na sala, ela tava chorando. Eu perguntei o porquê, mas ela não me respondeu.

                       Minha avó começou a gargalhar.

                       - Você se preocupou com a garota? Com a garota que te chamou de idiota? – e ela riu de novo. – Daniel! Você está se apaixonando querido.

                        Agora eu é quem ria.

                        - é claro que não! Ela não faz meu tipo. E além do mais, eu só me preocupei por que... – fiz uma pausa. Lembrei-me de ontem, quando estávamos conversando na chuva e ela me definiu como ninguém. – Porque ela me parece ser uma pessoa legal. E eu acredito que quando alguém chora, é porque seja algo realmente grave.

                      - Eu nunca vi você chorar. – diz ela.

                      - eu já me vi chorar, muitas vezes. Mas agora... Eu cresci.

                      - devia continuar se esforçando para manter a amizade com a garota.

                      - Pra quê? Você vai ficar jogando na minha cara que eu estou apaixonado por ela...

                      - Você está?

                      - Não.

                      - então eu não vou falar mais nada. Pronto! Pode voltar a dormir.

                      - que horas são?

                      - sete horas da noite.

                      Eu me levanto do sofá e vou para o quarto. Procuro uma camiseta e a visto. Pego outra mochila onde existem alguns sprays nela. Ajeito o cabelo e me despeço da minha avó.

                       - Aonde você vai? – pergunta ela.

                       - Só vou até a praça... – respondo. Na verdade eu ia até o beco pichar alguma coisa sozinho.

                       - precisa de dinheiro?

                       - eu ainda não gastei aqueles vinte reais do Leandro. – eu sorrio para ela e saio.

                       Paro em uma loja e compro uma bebida que eles liberam para adolescentes. Ela não é tão boa, mas pode me manter esperto.

                       Ainda não está tão escuro. Me certifico que ninguém vai me ver escalar o muro. Lá de cima consigo ver algumas casas e algumas ruas. Eu me deito e fico olhando para o céu. É tudo tão grande. Eu fecho os olhos e por um momento me sinto distante. É como se nada pudesse me alcançar. É como se aquele fosse o meu lugar no mundo. O lugar que a Diana disse que eu estou procurando. Por pensar nela, pode ser que hoje ela passe por aqui. E talvez a gente converse sobre os livros. Seria legal.

                       Eu me sento na ponta do muro. Abro uma garrafa de bebida. Quando começo a virá-la, ouço uma voz me chamar.

                        - Daniel? – diz ela.

                       Eu procuro a pessoa. Olho pra baixo e vejo Diana. Só agora percebi que ela é um pouco baixa. Ela sorri.

                       - Ora ora, vejam só... A “hum-hum”. – digo a ela.

                       - Da última vez que te vi aqui, você me assustou...

                 - Eu faço o possível.

                 - O que você tá fazendo aqui numa hora dessas? – pergunta ela.

                 - Nada. E você?

                 - Eu estou voltando da casa do meu avô.

                 - sei... avô... – Eu olho pra ela e sorrio. – Quer subir? – pergunto.

                Ela fica parada e começa a gargalhar. Ela estava usando uma calça e um casaco. Realmente está frio. Ela põe as mãos no bolso do casaco e me encara.

                 - Não sou do tipo de garota que escala muros e bebe vodka. – responde ela.

                 - Mas pode ser...

                 - eu não sei escalar um muro.

                 - Vai me dizer que nunca pulou um muro pra fugir da escola?

                 - Nunca.

                 Eu me engasgo com a bebida e começo a rir. Ela é a garota mais corretinha que eu já vi.

                 - você tem que parar de ser patricinha. Nunca vai arranjar um namorado desse jeito.

                 - Não estou querendo um namorado.

                 - quer um amigo? – pergunto. Ela me olha e sorri.

                 - eu não sei subir um muro.

                 - eu te ajudo. – eu desço no muro e logo estou no chão. Ela está surpresa e me olha de um jeito estranho. Confesso que olho do mesmo jeito pra ela.

                 - coloca os pés aqui e joga toda a sua força no braço. E vai subindo. Sempre altera a força de um braço para o outro. – em um instante pareceu que ela iria cair. Eu a segurei na cintura, e isso foi estranho para os dois.

                Depois de vinte minutos tentando subir o muro, ela conseguiu.

                - Caracas, você é maluco.

                - Olha quem fala... – eu abro a bolsa e puxo uma bebida. – quer?

                - Não, obrigada. – diz ela. Eu tenho que convencê-la a beber. Ela nunca deve ter bebido na vida.

               - Bebe só um gole. Você não vai ficar bêbada, e se ficar, eu te levo pra casa.

               - você não sabe onde eu moro...

              - será? – digo a ela, tentando assustá-la. E eu consigo. Essa é a parte mais engraçada de conversar com uma garota como ela. – Você mora em uma casa...

             - Você é muito criança sabia?

            - já me disseram isso.

            Ela sorriu e me puxou a garrafa da mão. Eu fiquei sem reação. Ela deu um gole e depois cuspiu.

             - Isso é horrível! – dizia ela com uma careta. Ela deu outro gole, e esse ela engoliu. - toma isso! Nunca mais bebo na vida!

             Eu comecei a rir e ela me acompanhou.

             - Vai me dizer por que você tava chorando hoje?

             Ela ficou séria. Mudou a expressão e parecia que ia chorar a qualquer momento.

              - Eu ainda estou sóbria, Daniel. Não vou te falar.

             - Por quê?

            - Porque é um assunto familiar. – respondeu ela. Logo eu percebi que não era o único que lhe dava com situações delicadas na família. Eu entendi a expressão dela e lembrei do Leandro. Nós ficamos em silêncio por um tempo.

            - eu também tenho problemas familiares. – depois que as palavras saíram da minha boca, não acreditei. Eu estava prestes a contar a minha vida a uma garota que se distraia lendo livros.

             - Todo mundo tem. Isso é algo coletivo. Garanto a você.

             - qual é o nome do seu “problema familiar”? – perguntei.

             Ela me olhou. Parecia não entender a pergunta.

             - Não entendi a pergunta.

              Eu joguei a cabeça para trás, tentando buscar um jeito de explicar melhor.

              - O nome do meu ‘problema familiar’ é “pai”. E o seu? – disse a ela.

              Ela olhou para o céu. Havia se distraído com alguma estrela enquanto buscava as palavras certas.

               - O nome do meu é “pai” também. – respondeu.

               Tínhamos mais coisa em comum do que eu jamais poderia imaginar.


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