As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 13
Amigo?




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#Narrado por Diana#

Perder aula ontem foi um tanto assustador. Não sou de faltar. Flávia não me ligou. Talvez ela também não tenha ido. Espero que hoje ela não falte. Não quero ficar sozinha, e não estou me sentindo muito bem. Quando acordei, pensei que tudo aquilo não tivesse passado de um sonho, mas eu estava na cama da minha mãe, e meus olhos estavam pesados de tanto chorar. Não tinha sido um sonho, tampouco um pesadelo. Era a realidade, e ela me assustava.

Estou no ônibus, a caminho da escola, e hoje não choveu como ontem. Estou com tanto sono. Acho que se eu fechar os olhos durmo aqui mesmo, em pé ônibus.

Preciso pensar em toda essa confusão. Ontem eu acordei e não tinha um irmão. Quando fui dormir, eu já tinha! Parece loucura, mas eu estou ficando louca mesmo. Daqui a pouco aparece outro irmão ou irmã.

Não há muita gente hoje na escola. Novamente encontro Catharina na porta da sala, conversando com algumas garotas que se parecem com ela. Digo que são bonitas e “prendadas” demais... Entenda como quiser.

Ainda não há sinal da Flávia, mas tem uma bolsa na cadeira atrás da minha que não me parece estranha. É do Daniel. Não acredito que ele vai sentar aqui.

- Murilo! – grito.

- Oi Diana, porque faltou ontem? – Pergunta ele.

- eu me atrasei. Perdi alguma coisa importante?

- Nos dois primeiros tempos, tivemos aula de literatura e ficamos lendo aqueles livros lá... Depois, a professora de história passou um texto, se quiser que eu te empreste meu caderno, eu empresto. Nos dois últimos tempos, nós fomos para a quadra. Teve uma palestra sobre conservação do meio ambiente.

- Então... me empresta seu caderno?

- Claro! – diz ele enquanto vai buscar o caderno na bolsa.

Começo a copiar, o texto é grande e não estou conseguindo me concentrar. Minha cabeça está doendo muito. Estou pensando em tanta coisa... Flávia ainda não chegou e o sinal está para tocar.

Me lembrei de Lucas, e de como ele é um garoto tão maltratado e triste. A história dele me faz começar a chorar discretamente. E eu penso em tudo que os avós dele podem ter feito com ele para machucá-lo daquele jeito.

Não percebo que Daniel se aproxima. Ele encosta a mão nos meus ombros. Eu olho pra ele e espero que eu não esteja com os olhos vermelhos.

- Você tá bem? – pergunta ele.

Como assim, ele está se preocupando comigo? Eu não consigo acreditar nisso.

- Estou... – respondo.

- Você... – ele faz uma pausa. Parece que nem ele estava acreditando no que havia feito. – Você estava chorando?

- Não... Eu só estou com sono. – respondo. Tento sorrir e parecer bem, mas ele está sério. E eu sinto que vou chorar de novo.

- Hum, com sono... Deve ter levado um fora do namorado, não é? – pergunta ele ironicamente enquanto se senta na cadeira.

- Eu não tenho namorado.

- Tudo bem, mas para de chorar. Assim não vai arranjar nenhum.

Eu começo a rir. Ele falou de uma forma engraçada.

- Ah, e você entende sobre arranjar namorados? Têm muitos? – pergunto sarcasticamente.

Ele ri. Nos olhamos e eu finalmente enxugo minhas lágrimas.

- Tá vendo, você tava chorando sim! – diz ele.

- É, eu estava...

- Por quê?

Eu o encaro. Ele estava querendo se meter demais na minha vida.

- Não sei se isso importa pra você.

- Só estou tentando ser seu amigo. – diz ele.

O sinal toca, e eu ainda estou encarando ele. Ele se curva na cadeira ficando mais próximo de mim. Eu respiro fundo. Desvio o olhar para a porta da sala. Catharina está olhando para nós dois. Eu abaixo a cabeça e viro para frente. Continuo copiando o texto. Daniel começa a bater os pés incansavelmente na cadeira.

- Tomou banho ontem depois que chegou em casa ou se contentou com o banho do caminhão mesmo? – pergunta ele.

Eu solto uma bela gargalhada, viro para trás novamente e ele está rindo também.

- Eu não tomo banho desde aquele de ontem. Lama faz bem pra pele, sabia? – Digo a ele.

- Se você pegar uma leptospirose, eu vou rir da sua cara.

- Você rir da minha cara o tempo todo. Isso é normal.

Nos olhamos novamente, e a professora entra na sala. E toda a vez que nos encaramos, percebo que ele sente uma imensa vontade de sorrir. E eu também.

Flávia não veio novamente. E Daniel está querendo ser meu amigo. Ganhei um irmão... Esse mundo anda dando muita volta.

A professora que entra na sala é a de história. Ela passa a continuação do texto de ontem. Daniel bate nos meus ombros.

- Você já pediu de algum dos seus amiguinhos o texto de ontem? – pergunta ele.

- Sim, porque?

- Pode me emprestar?

Eu viro novamente para trás.

- Você não parece o tipo de cara que se interessa em estudar.

- Pois é. Mas é o último ano garota, e eu preciso ir pra faculdade...

Estou perplexa. O garoto se importa com o futuro! Interessante demais...

- Eu te empresto sim.

No penúltimo tempo, depois do intervalo, a professora de literatura nos deu os livros. Ontem, apenas eu, Daniel e a Flávia que faltaram.

Começo a ler “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Daniel bate nos meus ombros novamente.

- Então foi daqui que você tirou inspiração pra me apelidar? – pergunta ele.

- Hum-hum.

- E você? Não tem nenhum apelido? – pergunta ele.

- Não. – eu mal presto atenção às perguntas dele. Estou interessada demais no livro.

- Temos que resolver isso.

- Hum-hum.

- Você tá prestando atenção?

- Hum-hum.

- Sua medrosa. – Sussurra ele.

- Hum-hum... Do que você me chamou? – Olho pra ele, indignada.

Ele começa a sorrir.

- Só assim pra você prestar atenção em alguma coisa além desse livro.

- mas é porque o livro é legal.

- Hum-hum... – ele me imita. Eu sorrio e começamos a nos encarar novamente.

- Já tenho um apelido pra você.

- E qual é? – pergunto curiosa.

Ele se curva e se aproxima de mim.

- “Hum-hum”. – Diz ele.

- Quanta criatividade. Tirou isso de onde? – digo.

- De tanto ficar prestando atenção em você. – diz ele.

Ele começa a ler o livro. E agora eu estou prestando atenção nele. Muita atenção. Percebo uma cicatriz no rosto dele. Percebo também que os olhos dele são castanhos claros. E ele é bonito. E eu tenho que voltar a ler.


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