LEO

O sol castigava nossa pele de forma cruel. Eu quase conseguia sentir meu corpo transformando-se em cinzas que seriam perdidas em meio de toda aquela areia do deserto. Ela, por outro lado, parecia muito melhor que eu, só não sabia dizer se era por força de vontade ou teimosia. Andava com passos decididos, o cabelo castanho preso num coque frouxo com fios soltos que grudavam no rosto coberto de suor. Já eu arrastava penosamente atrás dela, morrendo um pouco a cada passo.

-Rose, não há... – comecei a falar, mas ela me interrompeu.

-Não seja bobo, Leo. – disse ela com um brilho delirante nos olhos – Eles estão aqui em algum lugar. Eu sei. – e continuou avançando em suas passadas rápidas.

Eu a segui, como sempre fazia. Para onde quer que ela fosse eu também iria, pois ela era minha única companhia nesse mundo que um dia fora nosso.

Ela continuou falando, como se tentasse convencer a si mesma do que estava dizendo:

-Foi aqui o último lugar que viram os humanos. E minha mãe me disse como chegar. Ela era amiga dele, sabe. Do tal de Jebediah. E para ser sincera, que tipo de nome é esse? – ela soltou um risinho sufocado – Ele parece ser muito esperto, no entanto. Um ótimo lugar, eu tenho que admitir. Faz dias que não vemos a civilização! – ela riu de novo, meio histérica.

-Faz um dia, Rose. – corrigi – Você está bem? Quer um pouco de água? – perguntei preocupado, tentando levar uma garrafa até seus lábios secos.

Ela me afastou, irritada.

-Estou ótima. – resmungou – Não sei por que tanta preocupação, afinal logo, logo eles irão nos encontrar! – e, como se tentasse chamar a atenção de alguém, ela começou a agitar os braços acima da cabeça e gritar: – EI, HUMANOS! ESTAMOS AQUI! SERÁ QUE DÁ PARA DAR UMA MÃOZINHA? TÁ MEIO QUENTE AQUI, SABE?

Abaixei suas mãos e tapei sua boca, assustado que isso pudesse chamar a atenção de algum Buscador nas redondezas.

-Você está louca, mulher? Vai que alguém te ouve?! – perguntei desesperado!

-Essa é exatamente a minha intenção! – ela me empurrou e continuou a berrar – JEBEDIAH SE ESTIVER AI VENHA AO MEU ENCONTRO! PRECISO DE AJUDA: MEU AMIGO ACHA QUE ESTOU LOUCA! – ela baixou a voz e virou-se para mim, colocando a mão na boca como se contasse um segredo – Será que ele vai achar que sou louca ou engraçada?

Recusei-me a responder.

Caminhamos por mais alguns minutos, eu em um silêncio irritado e ela balbuciando algo inteligível. O sol estava começando a fazê-la perder o resquício de sanidade que ainda a restava e me fazia perder o resquício de esperança que eu tinha de achar algum humano no meio daquela paisagem desoladora.

-Leo, eu estou vendo alguém. – disse ela enquanto eu andava de cabeça baixa, tentando evitar a luminosidade intensa.

Respondi rudemente que ela estava vendo coisas.

-Leo, levante a cabeça. – pediu ela.

Eu continuei a ignorá-la.

-JEBEDIAH! – chamou ela.

Foi quando eu ouvi passos que não eram nossos. Eram mais pesados e mais rápidos, de alguém que estava muito mais descansado. Levantei meu rosto e vi um senhor carregando uma espingarda na mão direita, à esquerda coçando a cabeça um tanto quanto careca. Ele parecia confuso, mas sua voz era autoritária quando exigiu:

-Podem começar as explicações, crianças.