A Morte E A Sonhadora escrita por AAJ


Capítulo 1
Capítulo 01 - Não serei a nova gerente... De novo


Notas iniciais do capítulo

Estou muito feliz por voltar a escrever, fiquei muito triste em terminar a estória "Meu nome é Meena... Só Meena". Estou trabalhando em dois livros, mas decidi publicar esse primeiro. O outro precisa de alguns ajustes e mais estudos sobre a era Feudal, proletariado, burguesia...
Bom, obrigada por terem escolhido essa estória para ler, boa leitura!



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Querida Alana,

Soube do seu ex-namorado, Willian? Aquele que você disse que não a respeitava? Bom, ele acabou de se casar com Samanta. Uma gracinha! Estavam em Lua de Mel e agora voltaram com Sam grávida! Ele é jornalista e ela dentista, ficaram muito lindos juntos! A primeira página do jornal foi dedicada totalmente para eles, bem que poderia ser você, não é? Mas até acho bom, do jeito que você é o garoto seria muito azarado casando-se contigo. Você é tão pacata que não namora desde o seu segundo ano, sua irmã já saiu desse estágio e está muito bem obrigada. Quer que eu te ajude? Eu posso fazer uma lista de quem seria um ótimo genro para mim. Que tal o Yan? Aquele médico ganha tanto que me dá até calafrios. Ui! Mas eu acho que você teria que mudar um pouquinho, ou totalmente. Vi suas fotos no casamento de sua gerente e, pelo amor de Deus! Que roupa era aquela? Argh, de qualquer jeito, quando voltar ao normal, volte para cá. Canso de te ver desse jeito, até parece que te obrigam. Sua irmã ficou comigo até os vinte anos e está maravilhosa, quem mandou sair de casa ao completar dezoito?

Beijos, mamãe.

Li e reli o e-mail da minha mãe. Não iria responder como sempre. Ela me chamou de encalhada e pacata, sem contar que disse que eu estou com um péssimo gosto para roupas e que todos estão se casando e tendo suas vidas, menos eu. Mas será que ela se esqueceu que Willian me traiu com Pietra? E que Yan sempre tem a mesma conversa de médico, aponta defeitos e fala sobre coisas nojentas de médicos? É ridículo o modo como minha mãe tenta me envolver com pessoas que não tem nada a ver comigo. Eu já tenho uma opinião pessoal sobre a minha vida amorosa.

O amor é algo sereno e lógico para quem olha de fora, mas complicado e tumultuoso para quem participa, sem um pingo de raciocínio e pode levar qualquer pessoa lentamente à loucura. Trememos quando nos aproximamos, temos nossas pernas bambas, borboletas no estômago, suamos frio, gaguejamos ou simplesmente fazemos algo constrangedor. Estar apaixonado é, definitivamente, algo que está fora dos padrões do destino. Por isso, nunca dá totalmente certo, e se dá, é por que tem muita sorte.

Existem quatro caminhos para o amor: Quando se ama e é correspondido, mas um dos dois não demonstra por questão de orgulho e nega a todo custo; Quando se ama e é correspondido e nenhum dos dois nega, mas algo sempre os separa; Quando se ama e é compreendido que não é a mesma coisa que ser correspondida, mas é mais reconfortante, a pessoa amada simplesmente aceita e não te julga; Quando se ama e é incompreendido, o mais famoso e o mais usado, quanto a pessoa amada te julga e não te aceita, quando a pessoa amada faz questão de te fazer depressiva e melancólica.

Qual seria o seu? Amor correspondido orgulhoso? Amor correspondido desastroso? Amor compreendido? Ou o amor incompreendido? Não sei vocês, mas tenho minhas opiniões sobre eles. A ordem dos fatores não altera o produto, começos diferentes e o mesmo final, o mesmo resultado, a mesma coisa. É impossível ficarmos juntos além das estórias de ficção e de romantismo de Nicholas Sparks. Uma triste realidade em que apenas mulheres vivem, e homens, muito raramente, compartilham da mesma.

Tenho 24 anos e me chamo Alana Rapsakiá, um nome completamente incomum e sem sentido e que eu nem sei de onde se originou. Sou muito pálida, com 1, 60 de altura. Peso 54 quilos e até posso me considerar bonita. Cabelos castanhos avermelhados, olhos verdes claros, meus lábios são rosados por natureza e não coro muito fácil. Eu usava óculos quando pequena, mas agora uso lente de contato preta que dá a impressão de grafite.

Quando eu era adolescente tinha o perfil completo de uma Nerd. Rejeitada e odiada por muitos, resultado do incidente na aula de Filosofia em que eu corrigi o professor três vezes. Foi completamente espontâneo, e graças a minha espontaneidade nunca tive a oportunidade de namorar alguém. E agora trabalho de bibliotecária em uma biblioteca enorme que fica no meio da cidade, o lugar é praticamente abandonado se você não contar com os estudantes que vem aqui obrigatoriamente.

Estava na minha casa me arrumando para ir ao trabalho e, considerando tudo o que eu fazia lá até que podia dizer que ganhava bem, seis horas inteirinhas por R$ 2000. Coloquei uma blusa segunda-pele preta, um cachecol azul escuro e cinza, uma calça jeans e um tênis azul. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, coloquei meu casaco marrom e puis o capuz. Peguei minha mochila preta e fui em direção à biblioteca.

Eu sempre ia a pé, não queria ir de ônibus ou de metrô. Eu acho que já basta ganhar tão pouco, ainda ter que gastar com transporte com algo que está perto de você? Na verdade, não é tão perto assim, mas serve para quem, assim como eu, não tem nenhuma ideia do que quer trabalhar. Tenho vinte e quatro anos e ainda não sei o que fazer da minha vida, por isso fiquei como estagiária e logo depois, pelo meu bom trabalho e minhas horas extras, fui promovida a bibliotecária. Arrumo alguns livros, atendo as pessoas, trabalho no caixa e tenho um desconto maior que estagiários.

Passei pelo café da cidade antes de ir para a biblioteca, sempre passava para pegar alguma coisa e não ficar com fome por seis horas. Pedi um pão de queijo com suco de laranja, estava sem vontade de conversar com as pessoas hoje por causa do e-mail de minha mãe. Logo paguei, tive que repetir o processo três vezes por que a atendente era nova e se confundia toda com os números. Tiveram que vir duas garotas mais o gerente para tentar ajuda-la, o que deixou o meu dia pior.

Mas eu realmente não tinha nenhuma paciência com seres humanos, mesmo eu mesma sendo uma. Um bom exemplo é a minha mãe, todos os dias ela me mandava notícias dos meus ex-namorados e das minhas antigas amigas, praticamente esfregando na minha cara que eles conseguiram ser mais que apenas uma bibliotecária solteira dona de gatos, mesmo sendo apenas um gato muito romântico. E ainda tinha a minha irmã.

_Senhorita Rapsakiá?_ A atendente me chamou.

_Aqui!_ Peguei o pacotinho do pão de queijo e o copo de suco voltando a andar e a pensar em como minha irmã é perfeita.

Minha irmã, Mary Rapsakiá, era a popular da escola quando éramos jovens. Ela sempre tinha os melhores namorados, as melhores roupas, a melhor maquiagem, a melhor faculdade, a melhor letra, as melhores amigas... E agora, se casou com um tal de Breno Lacrimos, e se tornou Mary Lacrimos. Um advogado com trinta e dois anos e ela uma secretária com vinte e sete, moram em um apartamento enorme com oito quartos.

E eu moro em um apartamento com apenas dois quartos e ainda acho que estou exagerando. A cozinha é pequena, mas eu não fico muito lá já que não tenho muitos dotes culinários. A sala é grande, mas nada comparada a sala de estar, de jantar e de lazer de Mary. Os quartos têm suítes, são quartos espaçosos e até bonitos. Eu tenho um bom senso de decoração (pelo menos isso), por isso apenas algumas paredes são pintadas como laranja na sala, preto no meu quarto e cinza no segundo quarto.

Cheguei à biblioteca, que já estava aberta por sinal. Fred, um novo estagiário, estava colocando alguns livros no lugar, ele é muito prestativo e logo deixará de ser apenas um estagiário. E isso me dá medo, por que se ele for promovido para onde eu irei? Lógico que não vou apodrecer aqui, mas por enquanto é esse o meu sustento.

_Bom dia Alana!_ Ele disse animado sem olhar diretamente para mim.

_Bom dia Fred_ Meu tom de voz era mais desanimado, não estava muito animada para trabalhar hoje.

_Que foi? Teve um dia ruim?_ Ele olhou para mim com olhos curiosos e preocupados.

Admito que já ouvi falar de uma das estagiárias que ele tinha uma queda por mim, por isso sempre ficava preocupado e queria fazer algum favor. Faço tudo que posso para minha mãe não desconfiar de nada, se não serei obrigada a me casar com o garoto que é dois anos mais novo que eu.

_Não, estou um pouco cansada. Ainda não tomei meu café..._ Lógico, não sei como alguém pode ter tanta disposição ás 6:30 da manhã.

_Pode ir tomar seu café. Eu dou um jeito aqui_ E então ele olhou para as minhas mãos e deu uma risadinha_ Mas Alana, se está tão cansada por que não pediu café ao invés de suco?_ Olhei para o copo na minha mão com indignação.

_Eu não pensei nisso_ Dei uma risadinha sem graça.

Fui para a sala de funcionários e me sentei em uma cadeira e comecei a comer. Por que eu nunca penso no café? Por que sempre suco? Ou melhor, por que minha vida tem que ser tão complicada? Talvez, se eu for morar na casa da minha mãe por um tempo eu até possa arranjar alguém. Admito que esteja meio encalhada... Ou até bem encalhada. Lavei a minha boca no banheiro e minhas mãos e saí da sala, minha bolsa ficava ali mesmo.

_Hey, a Jennifer mandou dizer que vai sair do ramo de gerente. Agora que ela se casou e tal, está querendo se mudar e formar uma família em outra cidade..._ Fred estava sentado lendo um livro, acho que A menina que roubava livros_ E então...

_Eu vou ser a nova gerente?_ Perguntei com um fio de esperança. A alegria na minha voz havia voltado.

_Não..._ Fred fez uma cara de dor como se dissesse que eu vou morrer em duas horas_ Alana, ela empregou outra pessoa. Na verdade, virá mais cinco estagiários e um gerente_ A minha expressão deve tê-lo assustado, já que ele tentou fazer graça_ E então vai ficar lotado de gente legal pra fazer companhia para você, para mim, Júlia, Alessandra, Lúcio, Leandro...

_É o que? Eu trabalho aqui há cinco anos e nunca sou promovida direito! O máximo que aconteceu foi quando a antiga bibliotecária morreu de tanto fumar, e eu ainda sinto o cheiro do cigarro nessa cadeira!_ Elevei o meu tom de voz de tanta raiva, ignorando sua tentativa de fazer com que eu me sinta melhor.

_Ela disse que..._ Ele suspirou, parecia escolher as palavras com cuidado_ Que você ainda não está totalmente pronta... Que irá colocar alguém muito competente e, além disso, o cara é o dono daqui.

_É o que?_ Congelei no lugar.

_O novo gerente também é o dono, ele disse que isso aqui está muito mal cuidado graças a Jenny. Então ele vai cuidar de tudo, dar uma geral. Botar uniforme, alguns faxineiros, reformar o lugar, atualizar e tal... Dizem que ele é rico. E outros que ele é bilionário. Mas todos dizem que ele é carrancudo.

_E de onde você acha tanta informação?_ Estranhei o conhecimento exagerado dele.

_Sophia, quem mais pra arrancar algo da Jenny?_ Sophia é uma atendente, ela ficava do meu lado junto comigo às vezes e fofocava da vida alheia, e às vezes ficava andando por aí procurando fofocas de um garoto que sempre vinha na biblioteca por quem ela é apaixonada, mas se você notasse ela era muito quieta, menos quando falava comigo e com a Jenny.

Quem diria, eu não vou ser gerente e mais estagiários virão para cá. E pensar que eu só fui promovida por que, além de minha forte dedicação, a antiga bibliotecária estava com sessenta e três anos e morreu com câncer no pulmão de tanto fumar. De qualquer jeito, estou me sentindo um tanto... Esquecida? Sim, provavelmente. Julia me chama de sonhadora, já que eu vivo sonhando em me casar com Ralph Fiennes ou pelo menos com alguém a sua altura, sonhando em escrever um livro, em ter uma mãe menos crítica... Bom, resumindo, viver uma vida paralela.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!



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