The Roommate escrita por Reet


Capítulo 8
Capítulo 7 Quebra-cabeça


Notas iniciais do capítulo

Xufs (u/304109), fourtris (u/283330), Jo Roseti (u/141138), ChaMelPhia1D (u/302259), bcipriano (u/328534) ♥♥♥♥♥
Um coração para cada um que deixou uma recomendação linda.
Cada um de vocês que contribui para a fanfic com um comentário ou uma recomendação, pois é, eu amo vocês.
Esse capítulo foi betado pelo Pedro (muito legal contar com a ajuda de garotos) http://fanfiction.com.br/u/49536/ ♥



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Achei que Bradley estivesse pegando ruas para longe da universidade, mas no final das contas, o caminho foi ainda mais rápido do que ir andando. Afastei o rosto de suas costas enquanto a Ducati passava pelo campus da universidade para observar de longe o fluxo de estudantes que paravam o que estavam fazendo para prestar atenção na moto.

Obviamente, o campus tinha uma porrada de estudantes que chegavam de moto, mas eu tinha a leve impressão de que era uma grande novidade algum fator naquela Ducati. Talvez porque tinha alguém com Bradley, logo Bradley, que era tão estranho e atraente, ou talvez porque Bradley estava indo para aula – o que, eu imagino, fosse algo inimaginável antes de eu decidir obriga-lo a fazer isso.

Ele estacionou a Ducati em uma vaga e eu lhe entreguei o capacete. Não foi necessário me afastar mais que dois passos para finalmente perceber o que estava custando entender. O sol era muito fraco em Seattle, mas ainda assim, um feixe de luz bateu em seu cabelo escuro, iluminando metade de seu rosto, que tomou uma expressão extremamente perturbadora de tão obscena.

Bradley mudava. Transformava-se em algo atraente e quase normal quando necessário, mas dentro de sua zona de conforto era taciturno, tomado por melancolia. Era algo que faria qualquer um querer entender, ou alguém idiota o suficiente para se envolver. E eu me jogava naquela segunda categoria com uma força que me apavorava por cair na real de que eu estava mesmo ali.

– Não olhe para mim assim – reclamei ao notar que ele estava vegetando em mim tanto quanto eu estava viajando nele.

– Só estou curioso com você me encarando.

– Em minha defesa – se houvesse uma premiação para maior capacidade em deixar as pessoas envergonhadas, esse prêmio seria do Bradley – eu estou encarando o nada e você está na minha frente.

Bufei. Incrível essa capacidade de ser desprezível e apreciável ao mesmo tempo. Estava prestes a me virar, mas Bradley fez isso primeiro, caminhando em sua postura torta para longe. Senti-me completamente ignorada enquanto ele se misturava no meio das pessoas, e no que me sentia assim, notava também o quanto Bradley Adams combinava com aquele cenário. Ele parecia fazer parte, mas era como se fosse um universo a mais, como aqueles caras atraentes que estão sempre no meio de outras pessoas, mas por alguma razão, só dá para enxergar eles. Brad era um daqueles caras.

Virei-me para o gramado e felizmente reconheci a silhueta de Gail. O trabalho de antropologia que eu tinha que entregar a Gail estava na minha mala, eu havia esquecido de colocar na bolsa quando me mudei. Eu poderia apostar que ela me comeria viva de raiva. Esfreguei meu rosto e fui em direção ao gramado.

Para qualquer mal entendido, Gail era uma garota. Seus um metro e setenta eram invejáveis, seus cabelos longos e castanhos dispostos na frente do busto também eram invejáveis, sua pele tinha um tom claro perfeito e padrão, olhos grandes e azuis, sem falar no corpo daquela garota que era um espetáculo. Ela era completamente perfeita e totalmente esquisita. Acho que era por isso que fizemos amizades na primeira aula de antropologia – ambas não sabiam que merda era essa.

– Esqueci o seu trabalho – anunciei ao jogar minha bolsa ao lado do corpo dela, que estava deitada na grama tomando sol, o pouco e apagado sol que Seattle comportava –, e vou querer orquídeas no meu velório.

Gail me encarou como se fosse retirar uma faca de sua bolsa e acertar meu peito. Essa era sua expressão natural.

– Que parte você não entendeu que essa era minha última chance de entrega?

– Gail, eu mudei para um apartamento e esqueci de tirar da mala. Nós podemos ir até lá e buscar mais tarde.

– Você arranjou um colega de apartamento? Quem é? Por favor, diz que ele cursa artes visuais.

O problema de Gail era que ela cursava ciências biológicas e andava com uma Canon SX50 pendurada no pescoço, porque sua grande paixão era arte. E por que raios ela cursava ciência? Sinceramente, até agora não havia ocorrido uma pessoa que escolheu o curso porque realmente gostava. Tínhamos Bradley como principal exemplo, que matava as aulas de química.

– Bradley Adams, ele cursa engenharia química.

– Não faço a menor ideia de quem seja.

– Nem eu, na verdade – eu ainda não tinha a menor ideia de quem ele era.

– Ele é bonito?

Engasguei e ela me encarou como se a resposta já estivesse colada na minha testa. E estava. Olhei para o relógio no celular e me levantei do gramado ao mesmo tempo em que Gail. Em dois minutos, a porta da sala do prédio de ciências já estava fechada e o professor estava de costas para a porta, escrevendo anotações no quadro. Gail entrou na frente e foi em direção ao seu lugar no fundo e eu fui atrás dela, notando em uma das mesas da frente, a presença incomum de Bradley, com o queixo apoiado na mão, olhando para a janela de vidro bem ao seu lado.

Gail se sentou em uma mesa cheia e eu olhei em volta. Haviam acabado as cadeiras, todas as mesas do fundo estavam completas por dois estudantes cada uma. Respirei fundo, dando alguns passos para trás e colocando minha bolsa na cadeira vaga. Ao lado de Bradley, o encarei e disse:

– Oi.

Bradley cruzou os braços e deitou a cabeça neles, virado na minha direção, me encarou e depois fechou os olhos. Essa foi sua surpreendente reação, se eu não o conhecesse ao menos um pouquinho, acharia uma grosseria. Observei seus dedos caminhando na superfície da mesa até se enroscarem na manga do meu cardigã preto. Ele piscou para ver a minha reação, e ao ver que minha única expressão foi deixar a boca entreaberta como uma boba confusa, fechou os olhos novamente como se estivesse para dormir.

– O que você está fazendo? – perguntei, me referindo aos dedos de lagartixa agarrados ao meu casaco.

– Segurando você – resmungou – caso levante.

– Por quê?

– Se você se mexer, eu acordo.

Isso é um exemplo de tortura psicológica. Significa que eu iria ficar tão concentrada em não acordá-lo que ficaria a aula inteira imóvel. E ele estava completamente certo, se tinha noção disso. Ainda assim, achava que aquela era uma excelente forma de ganhar segurança de que ele não está abandonado, mesmo que muito infantil.

Para que assistir a aula de química se você pode dormir? A lógica dele também era impressionante.

O tempo da aula se arrastou de uma forma tão entediante que eu pude copiar o que estava no quadro duas vezes – uma para mim e outra para o preguiçoso – e ainda fazer anotações especiais em ambos os cadernos. Bradley abria os olhos cada vez que eu movia meu braço pela mesa, mas voltava a dormir quase que instantaneamente.

Quando a aula acabou, guardei os cadernos e apoiei o queixo na mão, encarando o garoto com o cabelo bagunçado no rosto.

– Alexis, a aula de antropocentrismo é depois do almoço – virei o rosto e Gail estava parada ao meu lado com a bolsa atravessando seu tronco e cara de quem dormir tanto quanto Bradley durante o horário, a diferença é que Bradley ainda estava dormindo.

– Passamos para pegar o trabalho no apartamento, então você aproveita e almoça lá, vou mandar Bradley fazer algo.

– Claro, sou totalmente a favor de mandar o Bradley fazer o almoço, ele também é seu escravo nas horas vagas?

Balancei a cabeça negativamente para Gail, que estava começando a falar coisas impróprias. Mas não seria nada mal fazer o Bradley do meu escravo, quem sabe usando uma fantasia e coleira também.

– E quem é esse aí? – apontou com o queixo.

– É o Bradley.

– Olá Brad! – eu me perguntei internamente se Gail achava interessante falar com pessoas dormindo. Observei-a tirar a Canon SX50 da bolsa e apontar a lente na minha direção. Virei o rosto. Bradley estava acordado e com um tipo de expressão muito sexy da parte dele. No momento seguinte, ouvi o barulho de fotografia. – Vocês dois se encarando, saiu muito bonitinha.

– Ah, Gail! – reclamei e ela soltou uma gargalhada. Bradley se levantava lentamente da mesa enquanto eu terminava de arrumar as coisas dentro da bolsa. – A gente se encontra no tempo de intervalo?

– Pode ser – disse Gail e Brad acenou com a cabeça. Eu não estava falando com ele, mas que bom que também serviu.

Não entendi porque ele estava tão calado desde que abriu os olhos. Em pé, os dois eram quase do mesmo tamanho e se encaravam como se fossem dois animais de espécies diferentes, mas Brad a encarava com curiosidade.

Então eu me lembrei que Gail era incrivelmente bonita e extremamente esquisita. Por que isso me trouxe uma sensação de grande vulnerabilidade? Era como se me sentisse menor e ainda mais esquisita perto de Gail naquele momento, afinal, qual era a graça de uma baixinha de cabelo cor de rosa perto de uma morena alta e impressionante em todos os quesitos?

Tentei afastar aqueles pensamentos da cabeça durante as outras aulas até o tempo do intervalo enquanto comia um sanduíche que havia comprado na lanchonete do campus, sentada na grama entre Gail e Bradley, que estava tomando uma coca-cola – é claro. Nem notei quando Hansel brotou do chão e começou a se socializar com Gail da mesma forma que se socializou comigo, dando a entender que quer comê-la.

– Algodão doce – virei para Hans. Ele usava uma touca novamente, e regata –, o que houve com o Brad?

Virei-me para Brad. Ele estava com a mesma careta confusa para Hansel, mas eu havia entendido a pergunta. Bradley estava bem calado, como se estivesse sendo afetado pelo humor da manhã. Melancólico, quieto e ouvindo música com seus fones de ouvido.

– Efeito matinal – foi Bradley que respondeu.

Gail soltou uma exclamação alta.

– Acho que não tinha ouvido a voz dele até agora – ela disse, eu e Hans rimos.

Mudei minha posição e encarei Bradley. Então, tive extrema curiosidade em saber que música estava ouvindo. Puxei o fone de ouvido mais próximo e tive certeza de que não conhecia a música e não fazia ideia de qual era a banda, mas o ritmo era muito bom, era exatamente o que eu esperava dele, algo mais alternativo.

Brad moveu o tronco para trás, dando a entender de que estava indo se deitar na grama. Acompanhei o fone de ouvido e fui em sua direção, até que eu não tinha mais equilíbrio e apoiei minhas mãos em seu ombro, levando-o ao chão ainda mais rápido, Bradley agarrou minha camisa. Não sei o que ele estava fazendo, não sei nem o que eu estava fazendo, mas passei uma perna para o outro lado de seu tronco e sim, eu estava em cima dele. E ele ficou inexpressivo, mas me observava como se eu fosse algo muito interessante, ou a minha posição era muito interessante.

Ouvi um barulho de fotografia.

– Gail!

– Situações casuais, as fotos ficam muito melhores quando se é espontâneo.

Saí de cima de Bradley e me levantei da grama.

– Já está na hora de pegar seu trabalho de antropologia, vamos andando – disse e peguei minha bolsa para impulsionar Gail a andar logo.

– Ah sim.

– Onde você vai? – Bradley perguntou com uma curiosidade que eu nunca achei que ele pudesse ter.

– No apartamento.

– Vamos de moto – ele se levantou da grama no instante seguinte.

– Mas eu preciso levar a Gail, a menos que você se disponibilize a...

– Hans também tem uma moto, ele vai leva-la.

– Porra, essa sua mania de ter resposta para tudo é infernal! – grunhi. Tudo bem, eu me deixei explodir, mas aposto que ele não se importa, afinal, logo depois ele estava rindo da mim. Mas eu não achei graça, veja bem, eu queria dar um soco na cara bonitinha dele.

– Hans, você tem uma moto? – Gail olhava o garoto como se quisesse devorá-lo, então o olhar era recíproco.

– Não se empolgue, ele beija rapazes. – Bradley cortou. Eu arregalei os olhos, Gail arregalou os olhos, até Hansel arregalou os olhos.

– Não pedi sua opinião nesse assunto, rapaz. – Hans respondeu logo em seguida.

Aos poucos, eu começava a achar que não me meti apenas em um apartamento de um garoto estranho, e sim, que estava prestes a perceber um efeito dominó, e que eu estava desencadeando uma série de segredinhos interessantes.


(...)



– Vocês vão voltar à aula? – Gail perguntou ao chegar na porta.


– Eu estou com sono – resmungou Brad.

Eu não estava com sono, mas aquilo era uma grande tentação para me fazer ficar. Faltar aula e ficar no apartamento com Brad. De repente, eu já até podia sentir o sono deixando minha cabeça cada vez mais pesada, tudo parte da encenação.

– Acho que também estou com sono – menti. – Amanhã a gente se vê então.

– Até amanhã!

Gail desapareceu no elevador com Hansel. Estava prestes a fechar a porta do apartamento, mas Bradley passou por ela como um furacão e apertou o botão do outro elevador.

– Onde você está indo?

– Já volto – desapareceu também assim que o elevador chegou.

Fechei a porta e vaguei pela casa. Peguei a bolsa de Bradley e decidi guardar em seu quarto para manter a bagunça em ordem. O quarto, que não tinha luz, estava totalmente escuro. Será que havia alguma janela por ali? Brad poderia morrer desenvolvendo algum problema respiratório lá dentro. Tateei as paredes, esbarrando com brinquedos, até que esbarrei com algo cilíndrico e descobri ser uma lanterna. Acendi e apontei para as paredes. Lá estava a janela. Aproximei-me e tentei abrir, mas algo não permitia isso. Apontei a luz para os cantos da janela e descobri rapidamente o motivo. Haviam pedaços de madeira pregados à janela que não permitiam que ela se abrisse.

No primeiro momento, achei aquilo estranho. Até minha mente começar a juntar pedaços, e eu comecei a me sentir sufocada dentro daquele quarto. Larguei a lanterna e saí, fechando a porta. Era possível que ele fosse tão louco assim? Porque já era óbvio que fosse no mínimo conturbado. Mas qual era o problema dele? Por que escuro? Por que brinquedos? E os hematomas, ainda mais inexplicáveis.

Bateram à porta.

– Já vai! – gritei e saí correndo. Virei a chave e Bradley irrompeu segurando uma sacola da loja que era tipo um mercadinho na esquina. Ele sorria. Sorria como poucas vezes, não eram só seus lábios. Sua sobrancelha expressa também se curvava, seus olhos me invadiam. Ele ergueu a sacola e eu peguei, encontrando pacotes de doce dentro dela. – Doces!

– Coloridos e marshmallows. Perdi o sono.

Corri e me joguei no sofá, acidentalmente sentando em cima do controle e ligando a televisão. Brad trouxe duas latas de coca-cola da sua coleção particular e se sentou ao meu lado. Abrimos primeiro os marshmallows e ele mudou de canal até encontrar The Addams Family.

– Adams – o chamei e ele riu no momento – eu esqueci de perguntar, mas... Como você comprou a Ducati?

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, encarando a televisão. Não sei se era porque a Wednesday estava prestes a eletrocutar Pugsley, ou se era porque ele estava pensando mesmo.

– Isso é parte de um segredo que eu não vou contar.

Suspirei. Acho que já contava com isso.

– Não faça esse ar de mistério.

– Gosto de mistérios – disse com a boca cheia.

– E eu gosto de quebra-cabeças, dá uma dica.

Bradley me encarou, e a cada segundo que se passava, seu rosto se aproximava mais do meu. Não iria deixar minha idiotice estragar qualquer momento dessa vez, então continuei a encará-lo, esperando por qualquer coisa. O problema era que: o que eu esperava, não aconteceu. Ele se virou e se deitou com a cabeça no meu colo.

– Deixa para a próxima.

Observei. Não estava tão curiosa naquele momento. Desde que seu grande quebra-cabeça não fosse algo que me assustasse ou algo muito absurdo, afinal, eu estava louca por algo nele, mesmo que ele fosse o louco.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, acho que a partir desse capítulo, as coisas vão andar mais rápido, virão mais acontecimentos e mais algumas peças do quebra-cabeça que a Alexis está montando.
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@_Reet x