Não Estou Mais Sozinho... escrita por Perfil Inativo


Capítulo 38
Batalha parte III


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Murtagh só conseguiu encostar-se a Trianne e respirar fundo. Sim, havia matado um dragão e um Cavaleiro. Melhor, um dragão roubado e um Espectro Cavaleiro com o espírito de Galbatorix. Podia respirar aliviado. Ou quase isso. Trianne estava cansada, mas ajudaria sua Cavaleira se fosse preciso. E sentia-se forte. Os anões gritaram de alegria. E não era por menos. Os Ra'zacs uivaram inquietos. E com medo. Contavam bastante com a ajuda do Espectro Cavaleiro. Murtagh tirou essa segurança deles. Agora só faltava matar a Rainha, que todos não saberiam o que fazer, e seria mais fácil acabar com todos.

Você conseguiu. falou Trianne.

Não... nós conseguimos. Obrigada por me ajudar.

Eu quem agradeço Murtagh. ela tocou de leve seu ombro.

Ele quase distinguiu a diferença entre o toque dela e de seu dragão. Quase. A Ra'zac fêmea estava visivelmente irritada. Suas penas, que quase formavam uma coroa no topo da cabeça se agitavam, assim como ela. Ela sibilou alto.

-Vejo que conseguiu a glória que queria. Pena que não vai durar. Não adianta o esforço que fizerem, meu povo vai reinar, com ou sem minha ajuda. Mas se eu for, vou levar quantos eu puder. Começando pela Rainha.

A Ra'zac entrou na sua tenda, e voltou com uma lança. Mas não uma Dauthdaert. Era uma lança própria, e diferente. Era totalmente negra, com... parecia um dente branco na ponta.

-Sabe o que é isto aqui? - perguntou Jhrans. - Esta é a primeira presa de Shruikan que caiu. Quer saber por que ela é a ponta de minha lança? Simples: é nela que reside sua força. Deve estar se perguntando se não seria o contrário, se deveria ser a presa que foi a última a cair. Mas não o é. Murtagh sabe disso. - Nasuada o olhou confuso, mas ele apenas assentiu.

-Por quê? - ela perguntou.

-Ela possui toda a força do dragão. É como se fosse uma pedra preciosa, que guardasse toda a força que o dragão adquiriu e que ainda adquiria com o tempo, mesmo sem ele saber. - ele respondeu.

-E quem a possuir, pode ter todo o seu poder. Os sentimentos dos dragões são os mais intensos, sabia? É como se fosse seu Eldunarí. Quase isso. Se eu tiver ódio, o dente fará tudo ao seu alcance para matar aquele a quem meus sentimentos são dirigidos. Então, qual de vocês irá enfrentar minha ira, somados ao de Shruikan? - perguntou confiante.

Silêncio. Murtagh tentou conversar com Nasuada, mas a mesma se fechou, até para seu dragão.

-Eu irei. - ela caminhou ao encontro da outra Rainha.

NÃO! gritou Murtagh.

Pequenina, não vá, deixe-me devorar esse monstro pelo que fez a Thorn.

Precisa de ajuda, não pode fazer isso sozinha. completou Murtagh.

-Obrigada, Murtagh, Trianne. Esta luta é somente minha. Ninguém interfere. - ela disse determinada.

O Cavaleiro suspirou. Sua admiração em momento nenhum diminuiu. Sim, ele sabia bem disso. Havia guardado o primeiro dente de Thorn a cair. Sabia do seu perigo, e o guardava na parte mais secreta de seu castelo. Trianne ficou bem preocupada. E devia. Se a lança, juntamente com o dente tocassem perto de seu coração, não haveria o que fazer. Ela seria morta. Era como matar um Espectro. Porém ela iria lutar contra a força de um dragão, com os sentimentos bem mais intensos. Ficou com medo por ela, sabendo que a mesma não recuaria. Odiou por novamente ter de apenas a assistir outra luta pela vida. Queria sair correndo, a colocar nos ombros e a levar para longe, longe de tudo, a proteger, fazer qualquer coisa. Mas não era assim que ela queria ser vista. Não queria ser a protegida, e sim a protetora. Ele suspirou, observando a Ra'zac se aproximar. Nasuada segurou firme a espada lilás, que tinha uma leve cor escura agora.

-Lhe darei uma última chance. Curve-se perante mim, e governe ao meu lado. Caso contrário, será destruída, e seu dragão será obrigado a ver sua morte dolorosa. Mas vamos poupá-la, para os outros cinco ovos.

-Nunca irei me curvar. Não me curvei para Galbatorix, e não o farei agora.

-Então morra! - gritou Jhrans partindo para cima de Nasuada.

Sim, iria seria muito mais complicado. A primeira coisa era que a fêmea quase não sabia manejar a lança. A armadura a atrapalhava mais um pouco. Era uma péssima guerreira. Entretanto, a lança cobria essa parte. Cada golpe poderia derrubar vários Letrblakas, e se usasse de maneira correta, de derrubaria um exército. Era uma arma tão letal quanto Dauthdaerts. A lança compensava a dona. Era assustador. Nasuada tinha de lutar, e manter-se longe do alçance da ponta. Coisa que era bem difícil. Jharns atacou, ela desviou e cravou a lança no chão, tremendo a terra.

Estou com medo. admitiu.

Escute Nasuada, ela não usa capacete. Corte sua cabeça. Mas mantenha-se o mais longe possível da lança. Um segundo em falso, e o dente perfura o que tiver perto. advertiu o Cavaleiro.

Como posso fazer isso? Não posso usar magia, não sei nada útil. Queria saber o nome verdadeiro da língua antiga nessas horas. Poderia me contar...

Não. Desculpe-me, mas não posso.

Então como vou matá-la? desferiu um golpe, e por pouco  não errou.

O Cavaleiro também não sabia como. Nasuada não podia se dar o luxo de errar, como ele fizera. Seria morta. O que fazer? Como vencer?

Inteligência. respondeu Sophia.

Murtagh havia se esquecido dela. Levantou-se e foi até ela. Estava na forma de gata. Seu pelo estava todo branco. Como se tivesse envelhecido e perdido a cor.

Sophia... me perdoe. Eu posso tentar... ele falou inutilmente.

Tudo bem... ela ergueu os olhos para fitá-lo. Eu lutei como uma guerreira. Não foi?

Sem dúvida. respondeu Trianne.

Posso tentar lhe salvar. Não quero te perder, não como... ele parou quando não conseguiu conter os soluços.

Não. Aceito de bom grado o que virá a seguir. Morrerei como uma guerreira. Não há honra maior. Nenhuma. Obrigada por me ensinar tanto, Murtagh Matador de Espectro e Cavaleiro. ela riu um pouco, e ele se permitiu um sorriso. Só quero um último pedido. Quero que me enterre no ponto mais alto de uma montanha da Espinha. Quero que de meu túmulo, cresça uma grande árvore, que seja banhada pelo sol toda manhã, e tome água toda noite, quando chover. Cuida de mim, mesmo depois que eu virar uma árvore?

Claro que vou. Prometo.

Quero que todos da minha espécie fiquem sabendo minha localização, quero que meus irmãos me admirem, assim como quero um lugar nas suas pinturas, e estar nos contos dos bardos. Obrigada.

Com isso a menina-gata Sophia fechou os olhos. Parecia um anjo, que depois de um longo tempo, pode finalmente dormir sem tormentos. Trianne novamente tocou o Cavaleiro, que limpou o sangue do pelo dela, e a enrolou em vários panos. Voltaram a atenção para a batalha. Nasuada havia levado um corte feio, muito feio no braço. E era o direito, no qual ela segurava a espada. Iria ser quase zero suas chances de vencer.

Sophia... ela falou para usar a inteligência. falou Trianne.

A Cavaleira não respondeu. Considerando que estava lutando pela vida, se concentrando a toda hora, era difícil raciocinar direito. Murtagh também pensava em um jeito, mas era difícil. As investidas eram poderosas. Um movimento rápido, e o capacete de Nasuada foi para o chão, lhe mostrando o rosto. Tinha a expressão facial tensa e concentrada. Mas no fundo, podia ver medo. Coisa que agradou a Ra'zac. Vários golpes. Seriam mortais, mas Nasuada os desviava. Um som alto ecoa pelo lugar. Murtagh e Trianne se desesperam. A Ra'zac havia feito um golpe forte demais. A espada de Nasuada, Loivisso, não aguentou, e o aço lilás se partiu. Ela tinha na mão apenas o cabo roxo. A Ra'zac pensa por um momento, vendo se a mesma recuaria.

Nasuada! Sai daí! Agora! grita Trianne em desespero.

Escute, provou para todo mundo do que é capaz, mas se continuar ai vai morrer. Saia! grita Murtagh.

Ela apenas ignora, tirando da sua armadura uma adaga roxa escura brilhante.

Nasuada! Você vai morrer! Recue!

Não Trianne, vou acabar com isso agora.

Não!

Trianne e Murtagh tentam correr para ajudá-la, recebendo um olhar mortal da mesma. A Ra'zac ri da Rainha, e volta a atacá-la, que se esquiva bem mais rápido. Ela evita a todo custo usar sua adaga, com medo de ser morta. Suicídio sim, mas ela não iria recuar. Nem mesmo se visse a própria morte ela recuaria.

Inteligência. sussurra Trianne tentando convencer a si mesma que sua Cavaleira vai sair ilesa.

Longos e tensos minutos se passam apenas vendo as duas lutarem.

-És covarde de fugir de mim! - grita a Ra'zac. - Seu povo tem vergonha de ter uma Rainha como tu.

Os olhos dela faiscaram de raiva.

Não, não perca o controle. adverte Murtagh.

Eu... não sei o que fazer. Vou morrer, por que tinha de me colocar nisso?

Podemos fazer isso juntos. tenta o Cavaleiro.

Não. Vou fazer isso, mas não sei como... estou basicamente lutando contra a raiva de um dragão, como vou fazer para que ele não seja dirigido a mim? Como fazer sua ira não me mata?... mas é claro!

O que? pergunta Trianne e Murtagh ao mesmo tempo.

Ela não responde. Continua a lutar, mas podia ver que estava arquitetando um plano. A Ra'zac, em um movimento rápido, mira em seu coração. Quando a mesma tenta empurrar contra seu peito, Nasuada se esquiva, e segura a lança. Avança e finca sua adaga na mão de Jhrans se desarmando na luta.

-Verma. - ela fala alto.

Nada acontece, primeiramente. Até a pequena adaga dela, que é feito de aço, começar a derreter. Essa é a tradução: aqueça. Porém  como a adaga era muito pequena, acabou por derreter o aço, que em contado com a armadura, se tornou ferro quente líquido, derretendo a armadura, e corroeu a mão de fêmea. Ela tudo que pode fazer foi urrar, soltando sua lança e cair no chão. Nasuada aproveitou isso, pegando sua lança, e apontando para a própria, e atravessando sua cabeça. Os anões comemoraram a vitória, e os Ra'zac urraram de desgosto. Trianne rugiu alto, feliz por ela. Murtagh correu para junto da mesma, feliz e preocupado, assim como o Rei Orik. Ela estava ajoelhada, cobrindo o ferimento no braço com um pano.

-Conseguimos! - gritou o Rei contente. - Graças a ti Rainha, hoje o inimigo foge derrotado!

-Não podemos deixá-los fugir. Se ainda houver ovos, eles... Trianne, impeça que todos eles saiam, feche sua passagem.

Pequenina... ela fala aproximando sua cabeça.

-Vá, acabou, temos todo o tempo do mundo.

O dragão roxo voou para o norte, e Orik ordenou que continuassem a atacar. Trianne fez um bom trabalho ao barrar todos com fogo, assim como os Letrblakas.

-Acabou. - falou Murtagh se aproximando da Rainha.

-Sim.

-Você conseguiu.

-Não, nós conseguimos. - ela olhou fundo para ele.

-Desculpe.

-Conversamos isso depois. Agora... - ela olhou ao redor. - Temos de recolher os mortos, matar o resto, cuidar dos feridos, comunicar á Arya, que deve saber de tudo, certo? - ele assentiu e ela suspirou. - Se importaria em... - ela olhou para os próprios ferimentos.

-Claro que não. Se me permite. - ele tocou seu ferimento, cantando na língua antiga.

O resto do dia se passou assim. Trianne se certificou de ter matado todo o exército que havia sobrado. Sobrevoou várias montanhas, atenta. Todos os mortos foram colocados em túmulos, e ao anoitecer todos se reuniram para a cerimônia. Murtagh cuidou de sua cicatriz aberta, mas havia uma maior, quase como uma cratera em seu coração. Pedira para que não tocassem no corpo de seu dragão. Ainda não sabia o que fazer com o mesmo. Os soldados sobreviventes voltaram para a casa, e um grande banquete estava sendo preparado, e várias festas para o dia seguinte. Teriam um grande banquete no almoço, e no jantar, mas o melhor aconteceria do lado de fora do castelo, onde todos os anões celebrariam cantando e dançando pela cidade. Orrin revistou toda a cidade, e encontraram uma pequena cova, e mataram os filhotes que ainda estavam nos ovos. Assim como comunicou ás outras cidades sobre tudo. O fogo da batalha foi apagado. Logo, estavam Nasuada, sentada perto de Trianne, com um belo vestido preto feito por artesãs anãs, e Murtagh olhando Isidar Mithrim, com uma túnica negra e calça da mesma cor. Não havia de fato conversado á sós com a Rainha, apenas trocaram palavras quando instalaram Trianne no abrigo de dragões. Ele cuidou do corpo de Sophia, e esta repolsava em uma caixa e ele conservou seu corpo, quase como Saphira fez com o de Brom. A menina-gata parecia apenas dormir tranquilamente.

E pensar que... eu podia ter contado a Nasuada, formulado algo melhor, qualquer coisa, mas não, a morte de Thorn é minha culpa. uma lágrima solitária desceu pelo seu rosto.

Tratou de cobrir com o cabelo. Os ferreiros disseram que a espada de Nasuada estava perdida, já que fora partida em vários pedaços, e não tinha magia o suficiente para juntar todo o resto. Apenas se forjassem uma nova. Arya ficou feliz ao saber de todo o ocorrido, e lamentou a perda de Thorn, assim como Fírnen. Ele fora apresentado a Trianne, que ficou subitamente feliz.

-Poderiam vir para cá. Podemos forjar uma nova espada para tí, Rainha, a já que vai precisar de ajuda para a reconstrução da cidade, meu povo pode ajudar. E um dos meus Cavaleiros também. Depende de tu Alteza.

-Veremos isto depois. Mas tenho certeza de que seja mesmo o melhor a fazer.

Vários anões passavam por eles, os agradecendo, e até mesmo a Murtagh. Este era visto como herói. E gostou do nome que Sophia o dera. Murtagh Matador de Espectro e Cavaleiro. O lembrava do nome do meio-irmão. Não havia sido o primeiro Cavaleiro que havia matado. Oromis fora seu alvo, ou quase, já que Galbatorix o forçou a fazer isso. Mas ele já fora perdoado, assim como pel opróprio dragão dele, Glaedr.Sentiu-se feliz por tê-lo derrotado. No final havia ganhado o que queria.

As vezes o destino gosta de brincar conosco. pensou Murtagh.

Ele pensou em como seria sua vida. Não tinha Thorn, nem Sophia ao seu lado. Iria viver sozinho em seu castelo? Não via outra opção. Pensou em ir até Eragon, e ficar por lá, treinando Cavaleiros.

Não, isso não. Quero que ele fique em paz, assim como eu.

Não duvidava que seu meio-irmão não quisesse sua companhia, mas não por toda uma vida, uma bem longa. Pensou em Brom. Este sim sabia como isso doía. Perguntou-se como ele não tinha enlouquecido. Saiu de seus pensamentos quando sente um toque delicado em seu braço. Virando-se viu a anã Heily e o filho de Orik, Nieran. Ela usava um belo vestido preto rendado, e o outro usava roupas também pretas, mas refinadas.

-Niernan, Heily. - ele faz uma pequena reverencia.

-Argetlam. - os dois se curvam.

-Você foi demais! - falou Heily animada. - É um herói! Sinto muito pelo que aconteceu, mas tudo em nome de meu povo, não acredito.

-Eu também não. Tenho orgulho de ser sido seu aluno. - fala Niernan.

-Sim, falam sobre nós nas ruas! Estou pensando em formar um grupo de arqueiros, caso seja preciso. Eu seria a líder, é claro. - fala Heily confiante.

-E eu sei que seria uma ótima líder.

-Tudo graças á você, mesmo eu achando que sou melhor que ela. - brinca Niernan.

A anã o cutuca com o braço rindo. Um anão que parece ser seu pai a chama, mas Niernan não a segue. Ele encara o Cavaleiro, que dá um sorriso de canto. Ele se abaixa um pouco, como se fosse escutar um segredo.

-Em que quer minha ajuda com ela?

O anão parece surpreso e confuso.

-Deu para notar? - ele pergunta derrotado.

-Sim. Então... - Murtagh o incentiva.

-Pensei em lhe dar um anel de ouro, coisa que seu clã aprova. A maioria das mulheres de lá usam alianças feitas do ouro mais puro possível.

-Já pensa em casar? - pergunta ele abismado.

-Somos diferentes dos humanos. E bem... é ela. Eu sinto.

Murtagh solta uma pequena risada.

-Por outro lado, eu poderia lhe dar um arco folheado a ouro. Para a líder dos arqueiros anões. Ou um baú cheio de joias, ou um grande banquete para seu clã, ou uma casa grandiosa em uma montanha, ou...

-Ei, calma. - fala o Cavaleiro.

-O que eu faço, ajude-me Argetlam.

-Gostei da ideia do arco. Por que... não lhe dá um anel com um arco dourado entalhado?

-E como vou fazer isso? - ele pergunta triste.

O Cavaleiro não pode conter o riso.

-Eu posso fazer isso.

-Mesmo? Pode moldar o ouro como quiser?

-Como eu quiser. Quando pretende pedir sua mão?

-Amanhã, antes do banquete do almoço, quando seu pai estiver á mesa. É um importante negociador do clã Gondith. Um amigo do chefe do seu clã.

-Leve o anel para mim amanhã. Em menos de meia hora eu consigo moldá-lo.

-Obrigado Argetlam, muito mesmo. - disse o anão sorridente.

-Não há de que. Se precisar...

Heily volta, e os três conversam por bastante tempo. Era notável como os dois se completavam. Mesmo quando estavam bragando. Era engraçado. Depois de se despedirem, Murtagh se dirigiu para Farthen-Dûr. Mas seu caminho não era esse. Com um longo suspiro, se dirigiu a outro túnel.

O ar fresco remexeu seus cabelos. A noite estava brilhante. As estrelas, tão longe, brilhavam. Caminhou lentamente para a única coisa que ainda restava da batalha. Seu dragão. Mesmo sendo noite, podia muito bem distinguir a forma gigantesca no chão. Ainda tinha o enorme furo em seu flanco, e uma poça se sangue que havia secado. Sentia-se revoltado, não pode fazer nada para salvá-lo, e isso o matava por dentro. Pelo menos tudo havia acabado. Havia matado o Espectro Cavaleiro, e Nasuada havia matado a Ra'zac fêmea. Não tinha mais sede de vingança. Mas ainda doía. Muito. Várias coisas foram encontradas na tenda de Jhrans. Todos os seus planos, todos os covis, mais duas Dauthdaerts, e ouro. Muito ouro. Ele e Nasuada passaram um tempo recolhendo tudo que fosse precioso - e perigoso - como a lança com a presa de Shruikan, e a guardaram bem. O que ela falava era verdade. Havia um covil em Gil'ead, que logo fora destruído, e outro na ilha de Uden, onde mantinham dois ovos de Ra'zacs fêmeas, e mais cinco ovos de Cavaleiros roubados. Com a exata localização, Nasuada iria pegar esses ovos, e depois iria levá-los para Arya. Fora a sua decisão, e partiriam dois dias depois, para pegar os ovos, e depois, iriam direto para Du Weldenvarden. Já Murtagh iria direto para lá, pois como Thorn não estava vivo seria mais difícil ir junto a elas, mesmo que quisesse. Sabia que seria o melhor. Suspirou. Seria difícil viver sem ele. Encostou-se a sua cabeça, as escamas duras e vermelhas, começavam a perder seu brilho. Sentia falta dele. Sua mente calma e protetora. Sentiu hálito quente o envolver. Mas não de seu dragão. Sabia bem a diferença. O dragão roxo o olhava com os olhos brilhantes. Ao seu lado, sua Cavaleira estava parada.

-Rainha, Trianne. - falou ele reverenciando-se.

-Não estou aqui como sua Rainha, mas sim sua amiga. - ela se aproximou. - Já pensou no que vai fazer?

-Não ainda não. - ele respondeu tristemente.

-Sinto muito. Muito mesmo.

E eu. Se eu estivesse mais atenta, talvez...

-Não Trianne, não se culpe. Ele a salvou era isso que importava para ele.

Claro que não, ele só me via com um filhote, nunca como um dragão de verdade, e um feroz. ela rugiu baixo.

-Acho que cometi o mesmo erro. - ele falou se aproximando de Nasuada. - Eu sei que deve me odiar... mas eu não quis te preocupar. Pensei que conseguiria sozinho.

-Fez tudo aquilo sozinho. Entrou nas montanhas mesmo sabendo do ódio que todos sentiam, bateu de frente contra Orik, lutou ao lado deles... tudo isso...

-Para não te perder... - ele falou a encarando.

O seu rosto firme e sério se esvaziou. Seus olhos se tornaram doces.

-Você é um idiota. Um grande idiota. - ela deu mais um passo.

-Eu sei. Vai me perdoar? - ele perguntou receoso.

-Como se eu conseguisse ficar brava contigo. - ela lhe dirigiu um sorriso.

Ele suspirou, aliviado. Ainda com receio a abraçou. Foi rápido, mas nenhum dos dois não deixou passar como eles se encaixavam perfeitamente. Não eram de alturas muito diferentes. A cabeça dela podia muito bem ficar perto de seu coração, ou em seu ombro, e os braços dele pareciam feitos especialmente para a cintura dela. Ele se afastou, se sentando perto de seu dragão. O que iria fazer com ele? Poderia retirar o seu Eldunarí, mas não era exatamente isso que queria. Não poderia mover seu dragão. Pensou em enterrá-lo. Mas na terra dos anões? Nem pensar. Queria em um lugar onde pudesse de fato visitá-lo. Sem querer começou a chorar. O abismo em seu coração se intensificou. Como iria suportar? Não iria. Sentiu-se derrotado. Haviam ganhado a guerra, mas teria valido a pena?

-Ei... - falou Nasuada se sentando ao seu lado. - Não posso dizer que sei o que está sentindo. E espero nunca poder dizer isso.

A cena era quase a mesma de quando eles estavam no salão da Profetisa. Ele havia a ajudado, muito na verdade. Ela tentava o mesmo. Silenciosamente passou os braços ao redor dos ombros dele, o trazendo para si. Novamente, eles pareciam se encaixar perfeitamente. Ele segurou sua cintura, e descansou sua cabeça no ombro dela.

-Desculpa, to molhando seu vestido.

-Shhh... tudo bem. - ela falou acariciando seu cabelo.

Quanto tempo eles ficaram ali? Importava? Não. Ela não deu sinal nenhum de se importar em ficar com ele. O dragão roxo apenas observava a cena, e se mantinha perto de Thorn. Murtagh se afastou dela depois de um bom tempo, com os olhos inchados e vermelhos. O céu não estava totalmente negro, parecia estar amanhecendo.

-Tudo bem? - ela perguntou baixo.

Por mais que ele tivesse gostado - na verdade adorado - tudo que ela tinha feito, e por ter ganhado esse tipo de carinho da Rainha, não estava bem. Como estaria? Quando ele não a respondeu, ela pareceu desapontada. Talvez com ele, talvez consigo.

-Isso vai passar. - ela disse.

-Não. Não vai. Tenho um enorme abismo em meu coração.

-Ninguém... ninguém poderia ocupar esse lugar? - ela perguntou receosa.

-Não. - ele respondeu secamente.

Ela abaixou a cabeça, visivelmente triste. Não podia fazer a dor de ele parar. Isso doía nela também.

-Melhor irmos dormir um pouco. Logo será o almoço. - ela avisou.

Ele quis se mover. Mas seus pés pareciam não lhe obedecer. Virou-se lentamente, e Nasuada ficou ao seu lado. Trianne estava de pé, agora ele podia ver a cor roxa do dragão. Ela tinha as asas levemente esticadas, e o rabo chicoteava de um lado para o outro. Ela elevou o mais alto que pode seu pescoço, cravou suas patas no chão, como se tivesse medo de ser levada pelo vento - o que seria difícil considerando o tamanho do dragão - e abaixou a cabeça, tocando o topo da cabeça vermelha do dragão morto. Ficou assim por vários minutos, até a ponta do focinho dela emitir um brilho roxo intenso.

Bum.

Sentiu a terra tremer. Ou talvez não fosse a terra, e sim ele mesmo. Alguma coisa se agitou dentro de si. Sentiu algo subindo em seus pés. Olhou mas não tinha nada. A coisa continuou, atingiu seu joelho, coxa, barriga, braços, mãos, chegou ao pescoço e sentiu uma pancada forte na cabeça, na parte de trás da cabeça.

Bum.

Sentiu como se estivesse afundando em lama. Seu corpo pareceu cansado, como se tivesse novamente acabado de sair da batalha. Sentiu os sentidos confusos, e viu tudo preto.

Bum.

Sentiu seu estômago se revirar. Não de um jeito bom. Como se seu intestino estivesse se embolando como um novelo de lã. Uma pontada forte em seu flanco e uma dor intensa o atingiu. Depois não sentiu mais nada.

-Ela... ela... - Nasuada tentou falar emocionada.

Bum.

O céu ficou claro, e o primeiro raio de sol deu início ao dia. Mas não a qualquer dia. Um novo dia. O raio banhou a campina, e os olhos do dragão se abriram.

-THORN! - gritou Murtagh.

O dragão vermelho levantou a cabeça. Era evidente sua confusão. Não tinha mais o ferimento na asa nem no flanco. Murtagh correu ao seu encontro. Abraçou com força a enorme cabeça dele, olhando bem nos olhos. Sentia-se bem, feliz, vivo, o abismo foi embora, como se nunca houvesse existido.

Pequenino...

Thorn... falava seu Cavaleiro com lágrimas nos olhos, de alegria desta vez.

Estou aqui...

Sim, agora você está.

-É bom vê-lo novamente Thorn. - falou Nasuada.

Ele a fitou, tocando sua cabeça levemente. Seu dragão estava agachado, com a cabeça quase na altura de Thorn.

-Obrigada Trianne, você o salvou. - agradeceu Murtagh.

O dragão roxo rosnou, se voltando para Thorn.

Acho que lhe devo meus agradecimentos.

E eu os meus. Salvou-me primeiro.

Sim, e faria de novo.

O dragão roxo pareceu surpreso, e depois envergonhado.

Obrigada.

-Vamos, temos de avisar que tu voltaste. – fala Nasuada.

O dragão se levanta um pouco tonto, e Trianne o segue.

Como acabou? ele pergunta.

Murtagh e Trianne lhe enviam imagens sobre a luta. Ele parece bem impressionado. Ele anda ao lado de Trianne, a encarando várias vezes, coisa que nem seu Cavaleiro entende. A notícia logo se espalha, e todos saldam Thorn com vivas quando esta entra na capital. Os quatro vão para o abrigo de dragões, e se preparam para festejar.

Senti tanto sua falta.

Eu também pequenino. Fico feliz que tudo esteja bem. Agora vamos, já que pelo visto, somos heróis.

Sim, é o que somos.


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Notas finais do capítulo

Trianne aprovou o capítulo, e disse que quem não aprova, vai se ver com ela... mentira tá gente, eu seguro ela, ok?
Espero que tenham gostado, além dele ser beeeeeeeeeeeem longo.



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