Capítulo I

Definitivamente, acordar cedo todo dia para ir àquele inferno chamado escola é uma droga.

Uma grande droga.

Agüentar aquele povinho que estuda na minha classe é pior ainda.

Suspirei ao me levantar da cama, já que hoje era quinta-feira e teria uma maldita aula de educação física. Hoje, definitivamente, eu seria massacrada na aula.

Eu sabia que tinha que ir ao menos hoje, pois ficar de recuperação de educação física era horrível.

Infelizmente, eu já havia faltado nas seis últimas aulas, você deve estar se perguntando, como assim seis últimas?

Eu explico. Cada quinta-feira tem duas aulas de educação física juntas.

Sim, uma tortura para quem tem um alto nível de falta de coordenação motora como eu.

Percebi que mesmo estando imersa em pensamentos, eu já havia feito tudo que geralmente fazia de manhã e minha cama já estava arrumada.

Melhor para mim.

Fui para cozinha sem muita animação e percebi que minha mão já estava lá, como sempre.

Provavelmente eu a tinha acordado com a minha movimentação.

Não que eu tentasse fazer silêncio.

Bem, ela já estava vestida para ir trabalhar, eu geralmente não falava com ela de manhã, mas estranhei isso, já que sempre à essa hora ela estava de pijama.

–Bom dia mãe, tudo bem?

–Tudo sim Lettie.

Eu simplesmente odeio que me chamem de Lettie. E ela sabe disso.

Ou me chamam de Scarlett, Carlie ou Scar.

Pelo menos meus amigos me chamam assim, já que as outras pessoas da minha sala me chamam de cenoura ou pimenta assassina.

Não comi nada, fiquei apenas esperando minha mãe terminar o que quer que estivesse fazendo.

Quando vi que ela estava entrando no carro -ou seja, boiei muito tempo- corri atrás dela e me joguei no banco do carona, percebendo que ela me olhou de cara feia. Haha, como se ela não tivesse cara feia todos os dias.

Brincadeira, minha mãe é muito bonita, ruiva de olhos castanho amendoados, Aimeé Karv é uma das mulheres mais lindas que eu já vi.

Acho que trabalhar em uma agência de publicidade –que aliás é cheia de modelos lindas- faz com que ela esteja sempre muito bem arrumada.

Mas isso não faz com que eu me arrume.

Não depois do que aconteceu a três anos atrás.

Eu tinha apenas doze anos.

–Scarlett, chegamos.- minha mãe diz, me tirando dos meus pensamentos.

–Okay, te amo mãe. Até mais tarde.- digo, apenas por força do hábito. Não é como se eu não soubesse que eu vou ter que voltar para casa a pé.

Saio rapidamente do carro e ando até a porta do colégio Instituto Educacional Elite American Way -sim, um nome exageradamente comprido-, o melhor colégio de São Paulo.

O colégio onde ganhei meus melhores amigos.

Nick, Sophie, Anabeth –ou como prefere, Annie- e Claire –que, aliás, é irmã mais velha de Nick-.

Falando deles, Sophie e Annie estão paradas perto do portão que é aberto para que nós possamos entrar para o lugar onde estudamos.

São cinco prédios ao total.

Ando calmamente até elas, torcendo para que nenhum dos “populares” me note.

O que é impossível, já que meus cabelos chamam muita atenção, ao contrario da minha roupa, que está praticamente camuflada.

Yohan –que é o idiota irritante pelo qual sou apaixonada desde que entrei nesse colégio- fala alguma coisa para Rick, que simplesmente revira os olhos.

Entre os “populares”, Rick é um dos mais legais.

Ouço o idiota-mór gritar alguma coisa com “Cernoura” e “Baleia” no meio, não deu para entender pela zona que está o local.

Simplesmente ignoro.

Finalmente, após muito empurrões, chego até Sophie e Annie.

Chego até uma parte da minha família.

–Hey, girls- digo, com um sorriso enorme. Finalmente, me sinto em casa.

–Heeeeey, fofinha laranjinha do meu coração- diz Sophie, louca como sempre.

–Scar- diz simplesmente Annie. Ela é muito quieta e misteriosa. Ninguém conhece os pais ou qualquer pessoa da família dela.

Percebo Nickollas e Claire chegando.

Claire, como sempre, atraindo todos os olhares masculinos e até alguns femininos pra ela.

Como se ela se importasse.

Nick já chega gritando alguma coisa do tipo “Ignorance is your new best friend”.

O novo vício dele, que é Paramore, está ficando descontrolado.

O anterior era pior, definitivamente.

Hopi Hari.

Sim, ele amava um parque de diversões.

Não presto atenção no que eles falam.

Logo o sinal bate e eu me preparo para a tortura diária.

Fecho os olhos e conto até três.

O portão abriu.

Todos passam se empurrando.

O inferno começa.