A Garota De Bronte escrita por Milk Shake


Capítulo 28
XXVII


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, fiquei sem internet no pc.



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“Era a noite da formatura. Estávamos todos um pouco felizes demais. Se é que me entende. Eu me lembro como se fosse ontem, até porque nunca consegui esquecer-me daquela noite. Vestia um lindo vestido rosa pastel até os joelhos, a saia era maravilhosa, de tule. Meus cabelos escuros soltos que batiam no meio das costas estavam presos com uma fita azul céu. Amélia e Catelyn, minhas melhores amigas, estavam tão bonitas quanto eu. Você sabe, queríamos impressionar o máximo possível. Bom, juro que não me demorarei em detalhes sobre essas partes. Como disse antes, estávamos todos um pouco alegres demais. Naquela época, o internato não era tão rígido com as regras. Tivemos um baile de formatura e alguém batizou o ponche. Era o nosso ultimo ano mesmo, porque não fazermos o que queríamos? Continuando, a ideia foi de Connor. As piores ideias sempre vinham de Connor, ele tinha um dom para ter péssimas ideias. Então, como ele tinha uma raiva contida de um dos alunos da escola, decidiu roubar o carro e dar uma voltinha com a gente. É claro que Amélia iria com ele. Era como um cachorrinho que vivia atrás dele e fazia o que ele mandasse. E nós, Catelyn e eu, éramos sempre convencidas a fazer o que Amélia queria. E, além disso, Catelyn estava saindo com Ben, o melhor amigo de Connor.
No fim das contas, eu sempre era arrastada para essas maluquices. Entramos os cinco no carro, Amélia e Connor na frente, Cate, Ben e eu no banco de trás. Eu sempre ficava segurando vela para eles. Chegava a ser irritante.
Connor dirigia como um louco pelas ruas ao redor do internato, o carro do garoto fora um presente de formatura que ele recebera dos pais. Estava novinho em folha. Até Connor se chocar com alguma coisa na estrada. Estava escuro, e as árvores em volta da pista não ajudavam a enxergar melhor. Nós cinco pulamos ao ver o carro passar por cima de algo. Fez um barulho tão nojento que não sabíamos exatamente o que poderia ser. Saímos do carro, Connor estava em choque.
Deitada na pista, havia uma pequena garotinha. Tinha no máximo seis anos. Ela usava um vestido amarelo, pelo menos parecia amarelo antes que encher de sangue. Os cabelos castanhos claros dela estavam todos espalhados na pista. Seu pescoço estava virado de um jeito estranho e os membros em angulações fora do comum, sem contar o sangue que saía da barriga e da têmpora. Suas costelas estavam fundas, como se tivessem sido achatadas. Os olhos azuis, delicados como vidro, fitavam um ponto qualquer no horizonte. Era só uma criança. Só uma criança. Nós cinco havíamos atropelado uma criança. Connor ficou muito culpado depois disso, Amélia sentiu como se a culpa fosse dela, amava tanto crianças. Catelyn depois daquele dia, nunca mais foi a mesma. Ben não conseguia tocar no assunto sem entrar em pânico. E eu? Bom, eu fui a única que ainda pensava nas consequências. Seríamos presos, com toda a certeza. Eu já era maior de idade, Connor e Amélia também. Catelyn faria dezoito anos na semana seguinte e Bem no próximo mês. Mesmo que não fossemos presos por matar a garotinha, bem isso foi um acidente, éramos cinco adolescentes bêbados que roubaram um carro. Eu não poderia ser presa, não poderia ter aquela história escrita na minha ficha. Seria sempre chamada de assassina pelas ruas. Seria sempre Rebecca Sparks, a garota que atropelou uma pequena garotinha frágil e indefesa. Então tivemos uma ideia juntos, entraríamos no carro, deixaríamos o corpo da garota ali, e voltaríamos para o baile como se nada tivesse acontecido. E foi o que fizemos.
Duas horas depois, um policial apareceu na escola perguntando se alguém sabia de alguma coisa. Bom, nós não dissemos nada. Não demorou muito para encontrarem o sangue da garota no para-choque no carro do garoto. Ele não sabia o que fazer nem o que dizer. Tinha dado uma volta um pouco antes de termos roubado o carro. Foi culpado e preso. Alguns disseram que sofreu muito lá dentro. Desde esse dia vivo com o peso na consciência de que arruinei duas vidas, mas ou era ele ou era eu. E cá entre nós, ninguém pensa no próximo quando é a sua cabeça que está prestes a rola?. Lembro e relembro todos os dias, do que fiz... E ele sabe o que fizemos. Ele sempre soube. E agora está matando nossos filhos para se vingar.”

Minha mãe terminou de contar a história e eu não sabia bem o que fazer. Não sabia bem quem era aquela mulher que se parecia tanto comigo. Eu já não gostava dela antes, agora gosto mesmo ainda. Eu morrerei por culpa dela. Por ela simplesmente não ter assumido um erro. Se Libby não tivesse segurado a minha mão, com certeza eu teria me jogado em cima da mesa e apertado o pescoço de Rebecca Sparks bem ali.

Libby chorava discretamente, Jamie brincava com as abotoaduras da sua blusa e Augustus estava apoiado na cadeira com os braços cruzados. Eu cerrava os dentes e contava até dez.

– Que tipo de ser humano é você?! – Eu falei em voz alta. – Uma criança? Vocês estavam falando de uma criança!

– Ah Jacey, isso não vem ao caso agora. O importante é que você se mantenha viva. Não fique tentando resolver esse problema. Você já sabe o que precisa saber, agora só precisa tomar cuidado. Domingo...

– Libby! Achei você! – Era Peter. Se havia uma hora pior para ele aparecer, era agora. – Te procurei pelo campus inteiro...

Ela se levantou, sorriu abobada e ajeitou os cabelos atrás das orelhas. – Peter! Vamos dar uma volta? – Libby enroscou o braço no ombro dele e o arrastou para fora da biblioteca. Agora, somente Augustus, Jamie e eu saberíamos da história inteira.

– O que eu estava falando mesmo?

– Sobre domingo, sra. Sparks. – Jamie disse, educado.

Minha mãe passou uma das mãos pelo queixo e fitou Jamie. – Querido você é um doce. Mas pare de me chamar de “senhora”. – Ela lançou um sorriso falso e Jamie balançou a cabeça.

– Mãe, foco.

– Está bem, domingo virei te buscar aqui com um advogado.

Uma fagulha de esperança se acendeu dentro de mim. – Ótimo, mas isso não está ajudando muito, mãe... Eu ainda não sei de quem eu devo ficar longe. – Eu queria esbofetear a minha mãe. Por tudo que ela me fez passar e por nunca ter contado essa história para mim. – E isso não está ajudando em muita coisa.

– Para falar a verdade eu acho que isso só fez mais um nó na minha cabeça. – Augustus disse. – O suspeito é evidente. Está estampado que o culpado por tudo isso é o tal amigo de vocês...

– Respondendo a sua pergunta, pirralha irritante – Ela sorriu fracamente. – Na minha época, nós o chamávamos de Max. Max de Maximilliam.

– Não conheço ninguém com esse nome aqui dentro. – Falei.

– Claro que não, sua anta. Nem parece que é a minha filha... – Ela revirou os olhos. – Enfim, ele não seria burro o bastante de procurar um emprego dentro da mesma escola onde foi acusado de atropelar uma menina com a mesma identidade.

– Sim, obviamente ele deveria ter falsificado documentos e forjado um currículo.

Tudo isso, pensei, para se vingar. – Determinação dele é invejável.

– Mas ainda não temos certeza de que ele é alguém que trabalha aqui. Ele pode estar em outro lugar e vem para cá fazer as suas vítimas.

– Errado, meu anjo de olhos azuis. – Minha mãe girou um anel de ametista no dedo. – Ninguém entra ou sai do internato sem permissão da polícia. Ele deve estar muito bem escondido.

– Ele deve ter cúmplices. – Jamie ouvia tudo atentamente. Vê-lo ali, participando da conversa, tentando resolver os problemas... Estava me deixando um pouco preocupada. Tudo o que eu menos queria era que ele se envolvesse nessa confusão. Ele poderia se ferir e eu definitivamente, não poderia suportar a ideia de vê-lo sofrendo.

– Bem pensado. – Augustus parabenizou Jamie com um olhar de aprovação. – Ele não conseguiria, sozinho, fazer tudo o que fez. Bom, ele matou três alunos.

– Alguém está o encobertando. E Precisamos descobrir quem... – Minha mãe colocou a mão no meu braço e fez sinal para que eu parasse de falar. Alguém corria aceleradamente.

Me virei e vi Libby, suada e com alguns cachos colados na testa. Ela parou e começou a ofegar, colocou as mãos nos joelhos e se curvou. Dez segundos depois, Peter entrou correndo e parou ao lado de Libby. Eu já estava andando na sua direção.

– Libby? Tá tudo bem? – Perguntei, colocando as mãos nos ombros dela.

Libby levantou o rosto e olhou para mim com aqueles olhos chocolate. – Allan... Allan Turner... Foi assassinado.

Peter, que estava um pouco menos ofegante tomou a frente. – Ele está pendurado pelo pescoço na janela do dormitório, com uma corda no pescoço.

– Mas o que vocês estavam fazendo atrás do prédio dos meninos? – Jamie perguntou.

Libby e Peter se encararam por um instante e sorriram discretamente. – Ah, nada demais, só dando um passeio. – Libby respondeu.

– Allan Turner é o irmão da Catherine... Filhos do Ben.

Caroline. – Corrigi. – Sim, de acordo com o que sabemos, ela e Allan eram filhos do Ben.

Ela parou pensativa e olhou para mim. Seus olhos me perfurando como se quisesse abrir cada camada de pele, músculo e carne até conseguir descobrir o que eu estava pensando. Era assim que funcionava na nossa casa quando morávamos juntas.

– Jacey desculpe, mas eu voltei aqui para avisar e dizer que estão convocando todos os alunos e alunas para o refeitório. Acho que para manter o controle dos alunos e tal.

– É melhor irmos, antes que achem que somos suspeitos.

~~~~

Depois de termos todos ido ao refeitório, fizeram uma grande falação para que não nos preocupássemos. Claro que não iríamos. Ver um garoto enforcado em um prédio é a coisa mais normal do mundo. Por razões de o prédio dos garotos ter se tornado uma cena de crime, todos os meninos tiveram que dormir no refeitório. As garotas puderam dormir tranquilamente nos seus confortáveis quartos dentro do próprio dormitório. Por um lado, agradeci por não ter passado mais uma noite dentro do lugar onde tomava café. Mas pelo outro... Quase não vi Nate depois da briga dentro do vestiário. Ele foi ter uma conversa com a diretora Ross e não voltou. Nem na hora do jantar eu o vi. No fundo da minha mente, aquilo estava me preocupando. Mas Nate não era do tipo que ficava sempre no mesmo lugar. Ele gostava de andar por ai e se aventurar.

Deitada na minha cama, comecei a pensar que essa seria a minha última noite dentro daquele dormitório. Se sobrevivesse até amanhã, seria a penúltima. Caso contrário, bem... Quando disse que queria sair deste internato de qualquer jeito, não era bem isso que estava pensando. Pensar que até amanhã poderia estar morta só me ajudava mais a pensar na vida que não teria. Pensar, pensar, pensar... Pensar estava me matando aos poucos. Eu preferia não ter ouvido a conversa de Nate. Preferia não saber e preferia morrer assim. Na verdade eu preferia não morrer. Mas era indiscutível, a escolha estava nas mãos de Nate e se tivesse que acontecer, eu escolheria morrer por elas. Quando menos percebi, cai no sono.

Já de manhã, fiz o ritual matinal de todos os dias:

– Abrir os olhos
– Caminhar como bêbada até os chuveiros
– Bater na porta do quarto de Libby
– Dar uma resposta atravessada em Augustus
– Descer para tomar café

Alyss nos esperava na nossa mesa. Depois de pegar o café, notei que Nate não estava lá.

– Cadê o Nathan? – Augustus perguntou. – Queria ver os estragos que fiz no olho dele...

Olhei torto para Augustus e já ia falar algo muito educado quando ele me interrompeu.

– ...E me sentir extremamente culpado e pedir desculpas, como um cavalheiro deveria fazer.

– Exato. – remexi um bolinho de limão. – Eu estava me perguntando isso agora mesmo.

Meu celular tocou.

Não era permitido o uso de aparelhos celulares em horário de aula. Mas como era sábado, estava liberado. O nome Nate G. estava piscando na minha tela. Ótimo, pelo menos ele estava vivo. Apertei o botão verde na tela e coloquei o aparelho perto do ouvido.

– Oi, Nate. – Os olhos de Libby, Alyss e Augustus se voltaram para mim, rapidamente.

– Oh, aqui não é o Nate.

Quase vomitei o meu bolinho. – Quem está falando? O Nate está...

Vivo? Sim, por enquanto.

– Não faça na...

– Shh... Eu que digo para você não fazer nada de errado... Escute, ele está vivo. Nós dois sabemos que o trato era que ele te matasse. Mas não pode fazer nada enquanto o seu guarda costas estiver com você. Vá sozinha, até a biblioteca, entre nos túneis e eu a encontrarei. Caso contrário, Nate e Zacarias morrem. E um detalhe, caso tente alguma coisa ou envolva a polícia... Eu mato a sua mãe e o seu amado Jamie.

Não envolva Jamie nisso. – foi só o que consegui dizer.

– É tarde demais. – E desligou o telefone.

Eu não fazia ideia do que diria agora para Libby, Augustus e Alyss na minha frente. Os três estavam com cara de abobalhados e a mensagem foi clara. Se contasse para Augustus, ele não me deixaria ir sozinha.

Agora as coisas estavam começando a ficar bem feias.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ;)



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