A Garota De Bronte escrita por Milk Shake


Capítulo 27
XXVI


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora mas eu espero que gostem. O capítulo ta bem cheio de lenga lenga e tal.



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Emergimos dentro de vestiário masculino. Aquilo tinha um cheiro horrível de tênis sujos e de suor. Alguns garotos eram tão porcos, o cheiro vinha dos armários abarrotados de roupa suja. Eca. Eca. Eca.

- As roupas sujas não vão devorar vocês dois. – Nate disse. Virei-me para Augustus e ele estava exatamente com a mesma cara de nojo que eu. – Não pensei que você tivesse medo de um pouco de suor, Augustus.

- Diferente de vocês aqui do Bronte, eu sou organizado. – Ele apontou para a bagunça de chuteiras e uniformes pendurados e jogados em qualquer canto.

- Olhando agora você não parece tão “machão” assim. – Ele fez aspas com os dedos.

- Para Nate, deixa o Augustus. – Tudo que eu precisava agora era os dois discutindo.

- A sua mãe não pensa assim. – Augustus pegou pesado. – Aliás, ela disse no meu ouvido que...

Augustus não pode terminar a frase porque Nate deu um soco no seu maxilar.

Eu não sabia qual dos dois estava mais vermelho. O rosto de Nate parecia querer explodir. E eu, fiquei estática. Não sabia o que fazer.

- Não abra a sua boca imunda para falar uma palavra sobre a minha mãe! Seu covarde! – Nate gritou.

Augustus pulou em cima dele e acertou um soco na sua barriga. Nate arfou e chutou a lateral do corpo de Augustus. Ambos se chutavam e acertavam socos e cotoveladas um no outro.

- Parem! Parem! Seus idiotas! – Eu gritava, mas nenhum dos dois me escutava. – Parecem duas crianças!

Tentei chegar perto de algum deles para puxá-lo para longe do outro, Augustus levantou o braço para acertar um soco em Nate e acertou o punho no meu nariz. Senti uma dor lancinante em toda a face e cai tonta para trás.
Em um momento de distração, ele se virou para mim, Nate aproveitou a deixa e chutou o tórax de Augustus que patinou três passos para trás e se desequilibrou na fileira de armários.

- Nate! – Eu gritei, mas ele já se encaminhava em direção do inimigo, limpando o sangue de um pequeno corte na boca. Augustus deu outro soco na barriga de Nate antes que ele pudesse terminar o seu movimento.

Não notei que meu nariz estava sangrando até sentir o gosto de sangue na minha boca. Aqueles dois garotos idiotas me pagariam.

Nate se curvou e Augustus bateu o rosto dele no seu joelho. Ele ficou tonto e caiu em cima de uma caixa com bolas de futebol e vôlei. O nariz dele estava sangrando também. Augustus corria na direção dele, mas eu fui mais rápida e me ajoelhei entre eles.

- Já chega! – Eu gritei para Augustus.

- Jacey seu nariz está... – ele se aproximou para chegar perto de mim.

- Eu sei! Devo isso a você. Muito obrigada pelo presente. – Eu estava fervendo de raiva. – Seus grandessíssimos idiotas.

Levantei o rosto de Nate para examinar o estrago. Um olho roxo, um nariz sangrando e um corte na boca. Olhei para Augustus e ele nos fitava, severo. Ele estava com as sobrancelhas franzidas, os nós dos dedos avermelhados e um pouco de sangue na mão. O maxilar dele estava ficando mais arroxeado onde Nate acertou um belíssimo soco. Ele pousava a mão onde levara um chute, nas costelas. Fiquei um pouco preocupada, mas Nate parecia muito pior.

- Nate? Você pode me ouvir?

Ele levantou os olhos, aquela visão foi macabra. Ele fitou Augustus nos olhos como se o odiasse mortalmente. E que nada nem ninguém seriam capaz de impedi-lo de matá-lo.

- Eu vou acabar com você. – Nate se levantou de novo e me empurrou para o lado, Segurei-me a ele antes de cair e ele acabou caindo junto comigo no chão. Eu o prendi no chão com os braços com o máximo de força que eu tinha. Nate se debatia, descontroladamente e escapava das minhas mãos. Segurei o seu rosto firmemente e o fiz olhar para mim.

- Nathan. Já chega. – Minha voz saiu mais ríspida do que eu pretendia. – Vamos os dois para a enfermaria. Já!

~~~~

Arrastei Nate e Augustus para fora do vestiário e logo choveram guardas em cima de nós. Perdi as contas de quantas vezes tive que explicar que não fora nada demais e que não estávamos fazendo nada impróprio. Nate levaria algum castigo da escola mas Augustus poderia perder o emprego.
Quando chegamos à enfermaria, Nate e Augustus foram fazer curativos. Eu fiquei na recepção esperando pelos dois. Libby estava ali dentro em algum lugar, mas não me arriscaria sair daquela sala para procurá-la caso os dois voltassem e discutissem. Sentei-me em uma das cadeiras e coloquei o rosto entre os joelhos. A minha saia estava um pouco suja de barro e tinha sangue de Nate na minha camiseta. Minhas mãos estavam cheias de terra e de lodo fora a poeira. As fichas dos alunos estavam dentro de uma bolsa carteiro, pendurada no meu ombro. Ela pertencia a Nate estava um pouco velha, mas eu não me importei em usar.

Senti uma mão encostar-se às minhas costas e levantei o rosto devagar. Era a minha mãe.

Reconheci os olhos verdes e sem emoção assim que os vi. Eram tão iguais aos meus que não poderia acreditar que éramos realmente tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes.

- Olá, Jacey. – Ela disse.

Eu fiquei um tempo parada olhando para ela, não podia acreditar. Ela tinha vindo para me buscar?

- Olá, mãe. – Queria dizer um monte de coisas e tinha tantas outras para perguntar que não sabia por onde começar. – O que você está fazendo aqui?

Ela ajeitou o cabelo atrás da orelha. – Bom, eu vim para acertar umas coisas com a diretora e para te ver.

- Vou embora com você não é?

Ela balançou a cabeça. – Sinto muito, minha querida. Não podem deixar que você saia da escola. Ordens da diretora. Ela disse que você está envolvida demais no caso para poder sair do colégio. É um risco. – Ela pensou em encostar as mãos nas minhas, mas pensou duas vezes ao ver toda a sujeira. – Onde você estava? Limpando os esgotos?

- Longa história. – passei a mão pelo rosto para tirar uns fios de cabelo rebeldes. Minha mãe fez cara feia. – Mãe, preciso da sua ajuda. Você fez alguma coisa errada nos anos que passou aqui? Digo alguma coisa muito errada mesmo. Algo que desperte vingança de alguém.

O rosto dela empalideceu. Ela parecia uma mulher de mármore. Nunca tinha visto a minha mãe daquele jeito. Como se eu tivesse aberto uma ferida dela e jogado sal por cima. – Jacey. Eu não sei o quanto você sabe a respeito disso, mas fique longe de tudo que envolva estes assassinatos. Fique perto dos policiais. Não deixe que ninguém estranho se aproxime de você. Carregue uma faca dentro do sapato ou algo do tipo. A diretora disse que você tinha um guarda-costas... Fique perto dele.

- Mãe, você está me assustando.

- Eu sabia que tinha alguma coisa a ver. – Ela estava falando mais para si mesma do que para mim. – As crianças estavam morrendo por um motivo... Eu sabia que um dia ele se vingaria. – Ela fechou os olhos com força e depois me abraçou, mesmo com toda aquela sujeira que me cercava.

Uma enfermeira olhava a cena com curiosidade.

- Do que você está falando, se vingar do quê? – Ela não estava me ajudando. Eu me apavorando. – Mãe, eu estou ficando com mais medo ainda. Esclareça tudo isso!

- Ouça, eu não posso revelar muitas coisas. Eu perderia tudo o que tenho se alguém descobrisse. E aqui não é o lugar apropriado para isso. Se quiser podemos conversar na biblioteca mais tarde. Leve o seu guarda-costas com você.

- Ok. Ok. Mas por favor, se você sabe de alguma coisa, se você sabe quem é, conte à polícia. – Eu pisquei para não deixar uma lágrima cair. – Eu sou a próxima.

- Se eu contar, eu serei presa. Não posso falar nada para a polícia. Mas posso falar pra você, se prometer ficar de bico calado.

O que ela teria feito de tão ruim para ser presa? Engoli em seco e comecei a sentir mais nojo da mulher à minha frente. Será que ela matou alguém?

- O que foi que você fez? – Eu perguntei pausadamente.

- Conversaremos mais tarde. Eu trouxe alguém que você vai adorar ver.

~~~~

Saímos de dentro da enfermaria e quando olhei na direção que a minha mãe apontava, não pude acreditar no que estava vendo.

Jamie.

Ele estava parado em pé ao lado de uma árvore. Ele vestia um suéter por cima de uma camisa social e um jeans de lavagem clara. Usava o mesmo all star preto e o cabelo despenteado, mas bonito. Os olhos azul-safira de Jamie me fitavam, corri para abraçá-lo.

Ele tinha cheiro de casa. O que trazia todas as lembranças de volta. Os meus amigos, os dias que aprontávamos coisas erradas... Naquela época era tudo tão perfeito. E Jamie estava diferente... Ele não era tão comportado e nunca o tinha visto usando suéter. Mas eu gostava dele assim, de verdade.

- Senti saudades de você, Jay. – Ele me abraçou forte. – Eu fiquei preocupado, depois daquele dia você quase não ligou. Cada vez que a repórter aparecia na TV falando de mais um assassinato aqui, mais eu torcia para não ter sido você.

- Ai meu deus. Você não tem ideia do quanto tem sido difícil.

- Jacey? – Era Libby.

Eu me afastei de Jamie e vi Libby de mãos dadas com Peter. Lembrei-me do episódio do banheiro minutos antes e me esforcei para conter o riso.

- Ahn... Jamie, esta é Libby e Peter e Libby e Peter este é Jamie.

Jamie sorriu para eles e apertou a mão de Libby, em seguida a de Peter. – Um prazer conhecê-los.

Estava um clima estranho entre nós quatro. Minha mãe estava parada na porta da enfermaria conversando com alguém. Vi Augustus descendo as escadas devagar em direção a mim. Ele tinha alguns band-aids nas mãos e uma bolsa de gelo sob o maxilar.
Augustus parou do meu lado e analisou Jamie. Ele estendeu a mão esquerda que não estava tão machucada para ele e trocou o gelo para a mão direita.

- Augustus Frey. – E sorriu.

- James Smith, mas pode me chamar de Jamie. – Jamie estudou Augustus com um pouco de atenção. – Desculpe a pergunta, mas você também estuda aqui? Vejo que não se veste como a maioria...

- Não, sou o guarda particular de Jacey.

- Presumo que tenha se machucado defendendo-a. – Jamie disse, sorrindo.

Augustus balançou a cabeça. – Mais ou menos assim.

Eu queria cavar um buraco, me jogar dentro e pedir para que Jamie e Augustus jogassem terra em cima. Vê-los ali, os dois garotos que eu gostava sendo que um possível terceiro estava a caminho.

- Onde está o Nate? – Libby perguntou.

- Lá dentro. Acho que fiz um grande estrago nele. – Augustus se gabou.

Revirei os olhos. Jamie me olhou, confuso por um instante. Depois compreendeu a situação.

- O que aconteceu, o Nate fez alguma coisa a Jacey? – Ele perguntou.

- Não fez nada, eles apenas brigaram por motivos idiotas. – Eu disse. – Os dois são grandes idiotas, para ser sincera.

Jamie balançou a cabeça, concordando. Nate surgiu atrás de mim e olhou feio para Augustus. Ele estava emburrado e com um algodão dentro do nariz, um curativo pequeno no lábio inferior e também segurava gelo no maxilar e rosto.

- Olá. – Ele disse para Jamie. – Sou Nathan. Mas pode me chamar de Nate.

- Jamie. – Eles apertaram as mãos e ficaram sorrindo um para o outro.

- Bom, já é meio dia. Vamos almoçar? – Peter interrompeu.

~~~~

Jamie almoçou comigo e com os meus amigos, mas a minha mãe teve alguns assuntos a tratar com outros pais de alunos. Depois do almoço, saímos e andamos em direção a biblioteca. Nate não nos acompanhou, ele ficou na diretoria. Então, nós quatro, Libby, Jamie, Augustus e eu, caminhávamos em direção a verdade. Eu não sabia exatamente o que falar para dispensar Jamie. Não era da conta dele toda aquela situação, mas eu não via um motivo para expulsá-lo. E não queria ser grosseira com ele depois do tempo que não nos falávamos.

Tomamos o caminho que ia até o prédio da biblioteca. Os vidros da janela estilhaçada já tinham sido repostos e a biblioteca já voltara a funcionar. Uma dúzia de guardas andava para lá e para cá em volta do prédio. Subimos os degraus e entramos pelas portas abertas. O grande salão de entrada da biblioteca era desenhado por vários ladrilhos quebrados, pretos e brancos, de longe dava a impressão de ser inteiramente cinza. A biblioteca em si tinha dois andares: no primeiro, ficavam os livros mais procurados pelos alunos para os trabalhos da escola, no segundo, ficavam os mais raros, velhos e empoeirados que quase nunca eram tocados. No centro, entre as prateleiras do fundo e as laterais, ficavam duas dúzias de mesas com quatro cadeiras cada. Não vi nenhum aluno andando por ali desde a hora em que entramos, e um silêncio sepulcral pairava na sala. Exceto pelos meus passos barulhentos que ecoavam.

- Vamos ficar aqui. – Puxei a cadeira da mesa mais próxima e nos sentamos. – Acho que a minha mãe não vai demorar tanto assim.

- Na verdade, ela acabou de chegar. – Jamie disse.

Realmente, minha mãe caminhava na nossa direção. Seus cabelos eram curtos e com as pontas viradas para fora. Ela tinha grandes olhos esverdeados como os meus e embora algumas rugas estejam surgindo nos seus olhos, ela aparentava ser bem mais jovem. Os saltos dela faziam um “toc-toc-toc” no piso ladrilhado.
Rebecca Sparks puxou uma cadeira da outra mesa e se sentou. Ela fitou todos os meus amigos e depois, pousou os olhos sem emoção nos meus.

- Primeiramente, - Ela cruzou os dedos sobre a mesa. – Tenho uma longa história para contar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! O que acharam do Jamie? Bom, ele vai ter um papel super importante daqui pra frente... O que vocês acham que está por vir?



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