A Garota De Bronte escrita por Milk Shake


Capítulo 13
XII


Notas iniciais do capítulo

Preparem os corações porque o capítulo ta cheio de mimimi.
Pra quem shippa Nacey... Espero que gostem em triplo.



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Ela estava irreconhecível. O corpo ajoelhado no cantinho do banheiro, a mão pousada na barriga. O sangue escorria aos poucos para os outros boxes, a água alaranjada no chão do meu box era do sangue dela misturado com muita água. A concentração da cor vermelha estava ao seu redor. A cabeça tombada para frente. Libby estendeu a mão para tocá-la.

- Não! As suas digitais! Não toque. Acho melhor irmos embora daqui antes que alguém nos veja.

- ei... – um suspiro escapou da boca da garota. Se havia um momento para eu me apavorar completamente, era agora.

Augustus foi mais rápido que eu e se ajoelhou na frente da garota. Libby estava em pânico – Você está viva. Ai meu deus. Socorro. – Ela saiu correndo. – Vou buscar ajuda!

Eu olhei para Augustus. Ele balançou a cabeça. Ela não sobreviveria por muito tempo. Perdera muito sangue e morreria em questão de minutos. Libby não seria rápida o suficiente. Usaríamos esse tempo para recolher informações.

- Eu preciso que você me escute e responda as minhas perguntas. – Eu me ajoelhei ao lado de Augustus. – Quem fez isso com você?

Ela levantou a cabeça devagar, o rosto estava tão pálido e tão próximo do azul que parecia um zumbi. – Me tire daqui... – a voz estava cada vez mais fraca e mais baixa. – por favor...

- A ajuda está vindo, por favor, responda. – Augustus falava com a voz calma e tranquila. – Você vai ficar bem. – ele mentiu.

A garota fechou os olhos, com os dedos trêmulos, encostou no pedaço de vidro cravado na barriga. – estou com frio. Falar dói.

- Quem fez isso com você? – Eu já estava ficando sem paciência. Sei que ela estava morrendo e tal mas por favor, gastasse os últimos suspiros ajudando a evitar mais mortes do que reclamando do frio. – FALA! – eu gritei.

A minha voz a fez assustar. Ela começou a ficar mais desesperada. – Eu não sei...

- Como não sabe! Uma pessoa enfia um caco de vidro de trinta centímetros na sua barriga e você não se lembra?

- Jacey... – Augustus mirou os olhos em mim, repreendendo-me. – Deixa que eu cuido disso.

Fiz bico, mas deixei o problema nas mãos dele. Augustus era o “policial”, não eu.  

- Você pode nos dizer agora quem fez isso com você? Pode nos dizer o que lembra?

Ela olhou nos olhos de Nate e os deixou ali e pousou a mão ensanguentada no braço dele. – Olhos escuros. Grandes olhos escuros. Não vi o resto... Ele usava uma máscara.

- Altura? Você se lembra?

- Está tão frio.

- Não vá. – Augustus pedia com a voz baixa. – Conte-nos.

- Está escuro.

A mão dela tombou do braço de Augustus, deixando uma trilha de sangue. Eu vi uma lágrima rolar pelo rosto dele. Os olhos da garota ainda estavam abertos encarando o vazio.
Quando me levantei, notei que tinha água com sangue por toda a barra da saia. Olhei para a parede ao lado e tomei um susto. Era tanto sangue pelo box que eu nunca notaria aquilo se não tivesse levantado. Na parede estava escrito uma mensagem com o sangue da garota. E nela dizia:
Todo o seu bom sangue descerá pelo ralo.

- Augustus... – eu apontei a mensagem, ele lia com paciência tentando achar algum sentido na frase.
Um silêncio pesado caiu sobre nós até Libby voltar com um guarda.

- Os médicos estão vindo, o guarda foi o único que encontrei. – Ela viu que ambos estávamos em pé encarando o corpo. – Ah. De novo não. – Libby chegou mais perto do corpo e encarou os olhos dela. Antes que pudesse ser interrompida por Augustus, Libby estendeu a mão pequena e desajeitada até as pálpebras da garota e empurrou-as para baixo. – Assim ela parece estar dormindo, nunca mais terá pesadelos.

Depois da cena no banheiro, assistimos à aula de biologia sem dar um pio. Quando o sinal tocou, só alguns alunos ficaram sabendo (os amigos mais próximos) e não podiam contar a ninguém. Não queriam criar mais pânico então decidiram continuar com as investigações em silêncio. Libby e eu respondemos a algumas perguntas de Okkie e Tompson. Algo do tipo “por que estavam fora da aula?” etc etc. A maior parte do trabalho caiu nos ombros de Augustus que teve que explicar tudo para os seus superiores. Não estavam suspeitando de mim mais do que já estavam antes. Como eu era apenas uma civil em toda essa história, eu não poderia saber de nenhum detalhe da polícia. Mas me pediram para dar os detalhes da conversa que tivemos com a garota antes dela morrer. Quando Augustus, Libby e eu fomos liberados, consegui convencê-los a visitar Nate no hospital. Ele receberia alta depois de amanhã mas não podia deixar a saudade acumular. Durante essa semana que passou, Libby e eu o visitávamos todos os dias. Eu passava a maior parte do tempo livre entre as aulas extracurriculares e o hospital. Acompanhei de perto o desenvolvimento de Nate. Ele estava cada vez melhor e a ferida nas suas costas ia ficando melhor a cada visita. Entretanto isso não mudava o fato de que ele sentia extrema dor ao se movimentar ou quando Libby o abraçava forte. Augustus era forçado a ficar lá, na maioria das vezes ele parava na porta e fingia não estar ali. Mas com o passar dos dias ele criou certa amizade com Nate.

Abri a porta do quarto mais uma vez e vi Nate jogado na cama lendo um livro qualquer. Os cabelos dele estavam bagunçados e vestia as mesmas roupas de hospital de sempre. Mais um pijama verde. Ele continuava com as olheiras e a mesma cara de cansado de ontem.

- Olá Nathan! – Eu entrei no quarto junto com Augustus e Libby. Sentei-me no pé da cama dele enquanto as cores crepúsculo invadiam o quarto. – Como está?

Ele sorriu de lado. – Cada vez mais bonito.  

- Idiota. – Libby disse. – Mal esperamos pela sua alta. Estamos com saudade. – Ela o abraçou forte. Os pulmões de Nate foram forçados a expulsar todo o ar.

- Também estou com saudades. – Ele reparou nos nossos rostos. – O que aconteceu?

- Mais uma pessoa, Nate. – eu disse.
Vi a expressão dele mudar de calma para desespero. – Quem foi?

- Eu não...

- Caroline Turner. Ela se chamava assim. – Augustus entrou na conversa.

O rosto de Nate se iluminou. – Sei quem é. Segundo ano. Ela tem um irmão na nossa série, ele deve estar arrasado.

- Pera. – Não podia ser verdade. – Está falando de Allan Turner?

- Sim, ele mesmo.

- Nossa que mundinho pequeno. – Libby pegou o livro da mão de Nate. – Nossa você está lendo mesmo isso? Esse livro é legal, mas o final é muito triste. O pai da menina morre e ela volta pra Nova York.

Nathan olhou para Libby sério. – Obrigado, Libby. Agora o que eu vou fazer hoje e amanhã? – Nate levantou da cama. – Conte mais sobre a garota. Como ela morreu?

Libby, Augustus e eu revezamos para explicar toda a história para Nate. Desde a parte da aula de biologia até os interrogatórios. Ele ouvia com atenção e prestando atenção em cada detalhe.

- Você disse que ela morreu com um caco de vidro enfiado na barriga?

- Sim.

- Estranho... O assassino tem facas que podem cortar pescoços como se corta manteiga... Por que usaria um caco de vidro? – Dava para ouvir as engrenagens do cérebro de Nate procurando alguma coisa que desvendasse o mistério.

- Será que ele não quis variar um pouco? – Libby perguntou. – Às vezes isso pode ser uma pista.

- Ele deixou uma pista. – Eu lembrei-me da frase. – uma frase.

- “Todo o seu bom sangue descerá pelo ralo” – Augustus soltou as palavras no ar que encheram os meus ouvidos de veneno. – Tinha muito sangue no banheiro, que tem sistema de esgotos e ralos...

- Esgotos e ralos me lembram dos túneis. Será que faz algum sentido? – Eu estava trabalhando naquilo, mas me sentia devagar com Augustus e Nate sempre um passo a frente.

- Não sei, talvez. - Augustus ficava muito bonito pensando. Nate também.

Libby via a tudo como um jogo de ping-pong. Ela movia os olhos para ouvir o que cada um tinha a dizer. Como todos ficaram em silêncio, resolveu dar a sua palavra. – Isso pode dizer que ela se gabava do sangue e da família, ai como ela morreu de hemorragia, todo o sangue “bom” dela desceu pelo ralo.

- Isso faria sentido se Caroline fosse realmente assim. Ela era tão quieta e tão simpática. – Nate disse. – Mas ainda não justifica ele ter usado um caco de vidro como arma do crime.

- Ouvi dizer de um policial que o caco de vidro era compatível com os estilhaços da janela da biblioteca. – Augustus informou-nos. – Pode ser uma mensagem para algum de vocês.

- Ele quer me matar.

- Não diga bobagens Nate, ele não vai te matar. Terá de passar por mim primeiro. – Libby tentou acalmá-lo.

Uma coisa estava faltando. Um pequeno detalhe que eu estava deixando de lado. Quando olhei para Nate aquilo me fez lembrar-se de alguma coisa, mas não consigo ao certo saber do que se tratava. Alguma coisa apitava no meu cérebro, mas eu não sabia o quê.

O tempo foi passando enquanto conversávamos, a enfermeira chegou e nos expulsou. Nate queria que eu ficasse para conversarmos um pouco mais, a enfermeira deixou que eu ficasse, mas Augustus e Libby teriam que ir embora. Augustus não concordou com isso porque ele tinha que ficar de olho em mim mas aceitou ficar na porta junto com os guardas particulares de Nate. Quando os dois saíram, Nate segurou as minhas mãos e olhou no fundo dos meus olhos.

- Jay, quero que você tome o máximo de cuidado possível na escola e com esse Augustus.

Nate estava tentando me proteger? Que lindo! – Pode ficar tranquilo. Augustus é legal. Ele me protegerá.

- Não confio nele. Não gosto dele.

- Vai ficar tudo bem Nate.

- Não, não vai. Eu escuto sons, Jacey.

Ele me assustou. – Sons?

- Sim, sons. Eu tenho medo de dormir aqui sozinho todas as noites.

- Mas tem guardas por todos os lados.

- Eu ainda ouço os passos dele. Eu sonho com isso. Não consigo dormir. – Isso era evidente, Nate estava cada vez mais magro e com olheiras cada vez mais profundas.

- Eu também andei sonhando com aquele dia, Nate.

- Eu tenho medo. – Nate me abraçou. – Por favor, Jacey, não vá. Não me deixe aqui.

Eu encarei os olhos de Nate e pude ver verdade dentro deles. Eu nunca pensei que ele pudesse sentir medo. E nunca pensei também que ficaria comovida por alguém implorar que eu ficasse. E no fundo, eu não queria ir.

- Tá bem, eu fico. Mas as enfermeiras não vão encher?

- Não. Elas não vão incomodar.

- Ok.

Já era noite, Nate e eu assistimos filmes. Avisei Augustus que dormiria no hospital com Nate. Ele não gostou muito da ideia, mas acabou fazendo cara feita e soltando um “ta bom” carrancudo. Quando deu dez horas, eu me deitei no pequeno sofá ao lado da cama de Nate, morrendo de cansaço. Ele desligou a televisão e foi se deitar na sua pequena cama de hospital. Eu fechei os olhos mas não consegui dormir. Dava para ouvir os dois guardas conversando e os passos que Nate disse ouvir. No fundo eu sabia que eram as pessoas andando para lá e para cá, mas lembrava o som das botas pisando nas poças  d’água. Assustei quando ouvi a voz de Nate.

Quando finalmente consegui dormir, acordei com Nate me empurrando para o encosto do sofá. Ele se espremeu no pequeno móvel junto comigo.

- Nate?

- Posso dormir aqui?

- Por quê?

- Porque eu não consigo dormir.

Nate não estava bem. Seriam os remédios?

- Está bem. Mas pare de me espremer. – O sofá já não era tão grande, com Nate ali não ajudava nada.

Quando ele finalmente se aquietou ali, percebi que ele tinha pegado no sono quase instantaneamente. Nate estava a dias sem dormir. Eu estava me sentindo ridícula por estar dormindo em um sofá com um amigo. Lembrei de Jamie, do outro lado do estado. Não conseguia dormir. Eram pensamentos demais. E a menina que morreu no banheiro hoje. Ainda sentia o cheiro do sangue dela.
Tentei afastar os pensamentos. Respirei fundo e senti o perfume de Nate. Associei-o a segurança. Então, com esse pensamento, adormeci.


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Notas finais do capítulo

Nada mais romântico que a cor do sangue.
Espero que tenham gostado.
~Veronica



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