A Garota De Bronte escrita por Milk Shake


Capítulo 12
XI


Notas iniciais do capítulo

Perdoem os erros de português, não pude revisar etc etc. Espero que gostem, estou explorando mais esse lado de escola e de história adolescente.



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Acordei com o maldito hino mais uma vez. Uma semana havia se passado desde que Penny morreu e que Nate levou a mortal facada. Mas as pessoas ainda falavam e ainda andavam pelas sombras da escola. A polícia tomou conta de tudo. Desde aquela segunda-feira, nada de estranho aconteceu. Ninguém foi ferido, perseguido ou ameaçado. Também não tivemos muitas pistas. Os suspeitos não eram poucos. A desconfiança crescia cada vez mais e o medo também. Ainda não podíamos sair da escola, nem nos fins de semana. Os policiais investigaram os túneis, não encontraram nada suspeito. Augustus disse que o antigo túnel servia para manutenção do encanamento da escola. Ou seja, era como um labirinto debaixo da escola que permitia comunicação com todos os banheiros e quaisquer lugares que possuíssem torneiras. O incrível era que ao vasculharem os túneis, a única coisa que acharam por lá foram pegadas. De duas pessoas. As minhas e as de Nate. Isso fez com que as suspeitas aumentassem cada vez mais para o meu lado. O que era terrível. Por falar em Nate, ele ainda continuava internado, mas os ferimentos já estavam se cicatrizando. Receberia alta na próxima quarta-feira. Ele ainda sentia dor quando eu o visitava. Passei o sábado inteiro com ele. Libby estava ocupada fazendo algumas pesquisas. O meu prazo de licença se encerrava hoje e eu teria que voltar à escola. Augustus me acompanharia do mesmo jeito que estava fazendo antes. Depois do dia em que “discutimos” na porta do quarto de Libby, ele ficou mais calado. Não falava direito comigo e resmungava respostas. Fui obrigada a ter que pedir desculpas, entretanto mesmo assim ele continuou a me tratar mal. Percebi que a teoria “pisa que eles correm a trás e corre atrás que eles pisam” não funciona. Então, não faça isso.

Sem demorar mais, levantei da cama com o maldito hino ecoando pelos corredores. Realizei o ritual de toda manhã: tomar banho, escovar os dentes, vestir a roupa de presidiário e descer para tomar café. Depois disso, entrei no prédio.
Os alunos transitavam pelo corredor, bocejando, rindo, conversando. Depois daquele dia, as pessoas tinham certo medo de falar comigo e por esse motivo ficava a maioria do tempo sozinha nas aulas. Alyss e Libby eram as únicas pessoas com quem conversava. Augustus me acompanhava sempre, mas ele não podia sentar ao meu lado nos trabalhos em dupla. Eu precisava de um amigo. E rápido. Nunca fui de necessitar fazer amizades, as pessoas sempre queriam a minha companhia e sempre me admiravam. O que havia de errado com aqueles alunos? Será que era alguma coisa de errado comigo? Libby sempre me dizia que era errado pisar nas pessoas, tratá-las mal e fazer piadas com o cabelo ou jeito que elas vivem. Cada um tem o seu jeito de ser, o seu jeito de pensar. Eu pensei sobre isso, eu sempre ri dos muito magros, sempre debochei dos mais gordinhos. Muitas vezes por influência, outras por que eu queria chamar atenção para mim. Qual era o problema? O que está acontecendo comigo?

O sinal bateu.
As duas primeiras aulas foram monótonas. Química e história não eram tão legais assim. A aula de geografia era a próxima. Toda vez quando entrava naquela sala, eu me lembrava de Nate. Senti saudades dele por um momento. Depois que ele recebesse a alta do hospital, ficaria o resto da semana sem aula. E depois poderia fazer as atividades em dupla comigo. Enquanto isso, cada aula eu sobrava para ser o par de um garoto que gaguejava e suava mais que o normal.
Alguém me tirou de meus devaneios. – Oi.

Eu virei lentamente para encarar a pessoa que me chamava. – Olá.

Ela tinha cabelos castanhos encaracolados que desciam pelas costas, os olhos cor de mel eram amendoados e transmitiam doçura. – Quer fazer a atividade junto comigo?

- Pode ser. – Concordei. Uma amiga seria ótimo. – Como se chama?

- Eu me chamo Natalie. E...

- Eu sou Ja...

- ...Jacey Sparks. – ela completou por mim. – Você é famosa pelos corredores, Jacey.

- Famosa?

- Sim, quando você vira as costas, os garotos fazem sinal de esfaqueamento. É engraçado.

Eu não sabia exatamente se ficara triste por saber que estavam caçoando de mim pelas costas ou se ficava feliz por Natalie me dizer a verdade.

- Não deve ser engraçado. – Comecei a copiar as tarefas na lousa. – Quem inventou isso?

- Ah, foi o Peter.

Peter era um garoto do mesmo ano que eu. Ele frequentava a aula de biologia no mesmo horário que Libby e eu. A diferença era que Peter fazia tantas piadas que todos nós riamos. Eu nunca gostei de palhaços da turma, sempre os achava sem graça e completamente idiotas. Mas Peter era engraçado, sem exagerar. E tinha talento para fazer piadas boas. Ele andava com mais três garotos; Andrew, Matt e Louis. A única aula em que ficavam juntos era a de biologia. Senti uma ponta de decepção por saber isso.  – Ah. – disse triste.

A aula de geografia passou rápido, conversei com Natalie praticamente a aula inteira depois de fazer as atividades correndo. Encontrei Libby na aula de matemática e física. O almoço foi tedioso e a aula de inglês ainda mais. Estava andando pelos corredores até o auditório para a aula de teatro. Abri a porta e a turma inteira já estava por lá. O nosso professor, Dimitre, estava sentado na sua poltrona na primeira fila. O resto dos alunos andavam por aí. Joguei a minha mochila em uma cadeira no fim da terceira fileira e sentei na do lado.  O professor levantou e chamou a nossa atenção.

- Alunos, todos receberam o roteiro para a apresentação de Romeu e Julieta. Certo? - Romeu e Julieta de William Shakespeare seria a primeira peça que encenaríamos esse ano. Dimitre nos reuniu para decidir e foi e o roteiro foi o mais votado. – Está bem, todos ensaiaram para as audições também? Vou começar a escolher os personagens. É claro que muitos de vocês terão que ajudar a fazer os cenários e figurinos, independente do papel que pegue.

Os alunos assentiram. Eu queria o papel de Julieta, mas não sei se serei capaz de arcar com as responsabilidades depois. E se fosse para pegar o papel e não fazer direito prefiro que fique com outra garota que cuidará dele com maior carinho.

- Preparados? – Ele perguntou, ajeitando o cabelo para trás. – Lembrando que os testes serão pela semana inteira. Preciso checar a responsabilidade de vocês. – Dimitre folheou a lista de chamada. – Vou começar por ordem de chamada. Allan Turner.

Allan Turner era o garoto dos fones de ouvido no primeiro dia de aula. Ele era legal, conversamos uma vez. Ele não era aluno daqui, vinha de outra escola do outro lado do país e estava se adaptando bem. Havia me dito que queria o papel de Frei Lourenço, que era o padre a quem Romeu contava seus segredos.

- Preciso de uma garota para encenar com ele esse texto... deixe-me ver... – Dimitre estava procurando alguém na plateia. – Você. – Ele apontou o dedo diretamente para mim. Senti um frio na barriga ao levantar e me dirigir ao palco. – Cena dois do segundo ato. A partir da fala “Ai de mim!” de Julieta.

Eu subi o degrau com o roteiro na mão, Allan olhou para mim e sorriu. Eu comecei a falar em alto e em bom som e ele respondia com as falas românticas de Romeu. Eu adorava essa peça. Sempre li, reli e li novamente quando tinha tempo. Era uma das minhas histórias favoritas. Afinal, que pessoa não fica com o coração aquecido quando lê ou vê alguma coisa romântica?

- Está bem. Próximo por favor... Beatrice Willem

A aula de teatro passou rápido. Era injusto ter apenas esse pouco tempo de diversão no horário de aula. Fui escoltada por Augustus até a sala de biologia, um laboratório na verdade. Peter Miller e sua trupe estavam jogando bolinhas de papel uns nos outros e rindo escandalosamente. Matt, um jovem com pele cor de chocolate estava sentado na mesa e conversava com uma garota, reconheci por sendo Summer, que tinha o cabelo loiro alaranjado ou ruivo muito claro. Eles combinavam e eu reparei que ele a tratava de modo diferente das outras garotas da sala. Andrew e Louis participavam da guerra com bolinhas de papel junto com Peter, joguei meus materiais na mesa como fazia todos os dias e me sentei. Reparei que fizeram silêncio por um momento e depois ouvi gargalhadas às minhas costas. Idiotas. Senti uma bolinha de papel me atingir a nuca, virei-me.

- Qual é o problema?

Peter Miller, com seus cabelos lisos castanhos até a altura do pescoço e olhos imensamente azuis, piscou para mim e jogou outra bolinha acertando a minha testa antes mesmo que eu pudesse me esquivar. As pessoas gargalharam mais ainda e Andrew disse “Cuidado cara, ela vai te esfaquear durante a noite!”. Mais risos. Aquilo foi a gota d’água. Libby que estava ao meu lado havia pouco tempo lançou-me um olhar de repreensão. Eu me levantei e caminhei até a porta.
Natalie tinha razão. Foi a primeira vez que zombaram de mim na minha presença. O corredor estava vazio. O sinal tinha tocado, mas o professor ainda não havia chegado. Ele se atrasava quase em todas as aulas, ninguém sabia por quê. Ele saia sempre da sala nos intervalos de troca de aula e desaparecia, depois voltava ofegante.
Os meus passos ecoavam pelo corredor, dava para ouvir as vozes dos professores por detrás das portas. Quando olhei para trás, encontrei com Libby que me seguia, seus cachos saltitavam em ritmo com os passos desajeitados. Ela escorregou mas não chegou a cair. A mesma Libby de sempre.

- J! Espera ai!

Continuei caminhando com as lágrimas escorrendo quentes pelo meu rosto. Augustus começou a me seguir quando Libby gritou pelo corredor. Ele não havia me notado, eu andei apressadamente.

- O que aconteceu? – Ouvi Augustus perguntar para Libby com sua voz grave.

Virei a dobra do corredor e entrei no banheiro feminino, abri a porta e peguei um rolo de papel higiênico de um dos boxes, me encolhi ali mesmo, no chão molhado do banheiro. Ouvi a porta se abrir e Libby entrou em seguida.

- Jacey? – A voz doce dela ecoou pelo banheiro.

Eu não respondi, não precisava. Libby me ouviu e empurrou a porta devagar. Ouvi mais passos e notei que Augustus também havia entrado. Um garoto entrar no banheiro feminino é uma ideia surreal.

- Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – Augustus estava perdido. – Ah. – Ele reparou que eu chorava. – Por que está chorando?

Libby levantou a cabeça para olhar para ele com aquela expressão típica de “Está falando sério?”.

- J, não fica assim. Sério. Eles são uns idiotas.

- Quem é idiota? – Augustus perguntava para Libby. Ninguém o respondia. – Eu vou parar de falar.

- Eu sei que eles são uns idiotas. Mas eu não machuquei Nate. Sinto falta dele. Não quero que as pessoas fiquem falando coisas pelas minhas costas. – Disse ainda chorando. – Eu nunca chorei por isso. As pessoas nunca me zoaram. Geralmente era eu quem zoava as pessoas.

Libby colocou o braço em volta dos meus ombros. Augustus continuou em pé do lado de fora do banheiro. Ninguém disse nada por um bom tempo. Ficamos os três ali em silêncio enquanto eu terminava o meu drama particular. Libby precisava voltar também, ela não era muito boa e precisava prestar atenção nas aulas. Mas Augustus estaria comigo independente de onde eu fosse, não porque gostava de mim mas porque era pago por isso.

- Jacey, precisamos ir para a sala. – Libby disse. – Pode deixar que vou dar um jeito de te defender na sala caso eles comecem de novo. – Libby era tão frágil que era engraçado imaginá-la discutindo com alguém. Embora eu soubesse que ela possuía uma forte personalidade e um coração muito grande por trás dos cachos, óculos e sardas.

- Obrigada Libby. – Abracei Libby e percebi o quanto estava sendo boba de chorar por uma coisa dessas. – Ah que vergonha. Peter vai rir de mim para sempre. Por que eu tive que sair chorando da sala?

- Não entendo vocês garotas. Uma hora estão chorando depois criticam as próprias atitudes como se estivessem falando de uma terceira pessoa. – Augustus estava confuso.

Libby e eu rimos dele.

- Vou só me olhar no espelho para ver se estou com cara de choro. Rápido, juro. – Sai do banheiro e notei que a minha saia estava ensopada de água do banheiro. Foi só quando me levantei que notei a coloração meio alaranjada, meio amarelada na água do chão. – O que é isso?
Libby andou até o ultimo box que ficava no fim do corredor, Augustus colocou a mão na cintura onde pousava a sua arma. A ruiva abriu a porta do banheiro e eu vi os olhos dela se arregalarem. Corri até ela para poder ver o que tanto a assustou.
Pensei que eu não teria que me envolver mais naquela história de sangue. Mas como sempre, eu estava profundamente errada. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado haha



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