Desde o episódio em que Tyler dormiu na minha casa, já se passou exatamente duas semanas;duas semanas inteiras tendo a impressão de estar sendo observada.

Tyler durante essas semanas, foi comigo até a escola dos pequenos todos os dias, assim como também nos deixou em casa todos os dias;Alex e Ali adoraram isso, já que do nada começaram a virarem um tipo de fãs do Ty.

Eu até gostei nos primeiros dias, só que o problema era que eu já estava me irritando por ele querer que eu não saísse sozinha de forma alguma, e por causa exatamente disso que estamos brigando agora.

–Não, eu vou buscar os pequenos sozinha, e você vai pra sua casa- falei cruzando os braços sobre o peito, andando de um lado pro outro, observando ele sentado no banco da praça onde estávamos, próxima ao nosso colégio.

–Já falei que eu vou continuar indo com você.- falou pela décima vez, mais ou menos.

–Não tem precisão- falei irritada

–Tem sim; lembra que você me disse que está sendo observada desde o dia do jantar ?

–Se eu soubesse que você iria ficar tão paranoico eu não teria falado nada- falei bufando

–Você fala como se conseguisse esconder alguma coisa de mim- falou dando um sorriso de lado, e logo fechando a cara novamente.

–Haha bonitão, você também não consegue me esconder nada, e é exatamente por isso que eu sei que você tá me escondendo o real motivo de estar me acompanhando.- falei, e observei ele bagunçar os cabelos, mostrando o quanto minha teimosia estava o irritando.

–Olha, eu já falei; Eu estou te acompanhando porque eu quero, fim.- falou desviando o olhar.

–Não acredito; Olha, Tyler, não é como se só por estar me sentindo observada, significasse que alguém vai aparecer do nada e me pegar.

–Não vai porque estou te acompanhando todos os dias.

–Não é nada- falei bufando

Depois que falei isso parece que a paciência dele simplesmente evaporou, pois ele me puxou pro colo dele, e apertando meu queixo começou a falar:

–Olha aqui, eu não tenho medo por alguém aparecer, e sim por que eu sei que esse alguém vai ser seu pai- sussurrou irritado

–Mais ele já deve ter desistido nessas duas semanas- falei num fio de voz

Ele deu uma risada seca, e voltou a falar

–Ane, não seja boba, ele só não apareceu até agora porque não teve uma oportunidade pra te encontrar sozinha.- falou mais calmo

–Porque teria que ser eu sozinha ?

–Pois ele sabe do efeito que tem sobre você, ele sabe que encontrando você sozinha vai ser mais fácil de assustar o resto da família, já que você estando abalada, consequentemente seus irmãos e sua mãe ficam abalados.- falou

E só agora eu entendi o que ele tava falando, e olhando bem por esse lado, ele estava certo.

–Minha mãe uma vez me disse, que por mais que eu e meu pai tivéssemos caráter diferentes, era incrível o quanto um tínhamos poder sobre o outro, ela dizia que era uma conexão incrível. Eu nunca entendi, mais agora com você também falando sobre o efeito que ele causa em mim, eu comecei a acreditar.- falei lembrando de quando minha mãe tinha me dito isso, um pouco depois de meu pai ter ido embora.

–E é exatamente por isso que eu quero evitar que ele te encontre sozinha, pequena. Eu não quero ver você novamente daquele jeito, eu me sinto mal- falou pegando um pedaço de meu cabelo solto e o botando atrás da minha orelha.

Sorrir, e o beijei em seguida.

Foi exatamente por essas pequenas declarações que ele faz quando conversamos que eu disse que o amava a duas semanas, enquanto ele dormia.

Tudo bem que ele nunca me disse, mais não é como se eu tivesse dito realmente a ele; ele estava dormindo, conta?

Deixei meus pensamentos de lado e voltei a focar no agora.

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Depois do Tyler ter me deixado em casa com os pequenos, eu fui preparar um bolo para comermos a noite.

Reparei que faltava um dos ingredientes, então pedi pra tio Mike tomar conta dos pequenos enquanto eu ia na vendinha perto de casa, coisa de quinze minutos, para comprar o que faltava.

Sai de casa e fui até a vendinha.

Depois de comprar o que estava faltando, quando faltava cerca cinco minutos até a minha casa ouvi a voz que me fez estremecer a duas semanas atrás.

–Até que enfim se livrou do guarda-costas, já tava achando que teria que desistir- falou em tom debochado

Me virei lentamente e o observei; Esses anos não fizeram muito bem a ele, ou a bebida, não sei.

Ele estava com uma aparência mais velha do que o normal pra idade dele, 38 anos. Os cabelos estão no mesmo corte de antes, o que o trás um certo charme. Sempre com a fachada séria, que agora tinha um sorriso descrente no rosto.

Voltei ao momento a tempo de responder.

–Ele não é meu guarda-costas, e não me livrei dele, longe disso, você é que deu sorte de não o encontrar comigo agora- falei num tom seco.

–Hmm, vejo que dessa vez ao menos você está me respondendo; já que no outro dia você me deixou falando sozinho- falou dando um passo pra frente, fazendo com que eu recuasse.

–É, você me pegou de surpresa naquele dia- falei indiferente, ou fingindo.

–Sei... mais me diga então, quem é o rapaz que te acompanha o tempo todo ?- falou em tom curioso

–Não é do seu interesse.

–Ah é sim, esqueceu que sou Eric Stoo, seu pai ?- perguntou frisando a ultima palavra.

–Não, eu não esqueci, é só que eu não o acho tão merecedor deste titulo- falei em tom irônico.

–Hmm, então herdou além de meus cabelos o meu censo de humor ?- falou rindo

–Arg- bufei- Fale logo o que você quer, não tenho tempo pra ficar ouvindo asneiras- falei irritada

–Ok, primeiro me responda; Quem é o rapaz que estava a acompanhando esses dias ?

–O rapaz se chama Tyler, ele é meu namorado- falei querendo mais que tudo que essa conversa acabe logo.

–Hm, então já está na idade de namorar ?- perguntou curioso

–Claro, ou vai dizer que quando foi embora apagou minha idade de sua memoria ?

–15 anos, certo ?- perguntou

–16, na verdade. Prestes a 17- falei me lembrando só agora que faltava um mês pro meu aniversário e três semanas pro dos gêmeos.

–Hm, e já tem tanto tempo que fui embora ? Lembro que você tinha 10 anos na época- falou rindo.

Uma coisa que sempre me irritava no meu pai, era a forma como ele levava qualquer coisa na brincadeira, até mesmo o fato dele ter abandonado a família.

–Eu tinha 11, só pra esclarecer. - falei diminuindo o tom de voz, quando reparei que já estava quase gritando.

–Claro, claro- falou ainda com o sorriso debochado na cara- Sabe, quando eu decide voltar aqui para encontrar vocês, eu não esperava descobrir que aquela ultima gravidez de sua mãe tinha sido de duas coisinhas– falou com certo nojo na palavra

–COISINHAS ? -gritei, e abaixei o tom mais uma vez - Você quis dizer CRIANÇAS, NÃO ?- falei irritada e gritando novamente na ultima parte.

Vi que ele ficou surpreso com meu ataque, não esperava que me irritasse tanto com aquilo.

Mais foi impossível não me irritar com a forma com a qual ele falou de meus irmãos, como se fosse um tipo de erro dele.

–Vejo que tenho sobre você o mesmo efeito que sobre mim, não é ?- falou presunçoso

–Do que você está falando ?- perguntei tentando controlar minha respiração

–Eu não iria voltar,não estava em meus planos isso, até que recebi uma noticia e percebi que eu teria que ver você novamente, não sua mãe ou os pirralhos, só precisava ver você- falou se aproximando, não recuei.

–Como assim ?- perguntei lutando contra as lagrimas

–Não posso dizer agora, mais posso adiantar que não tarda a você saber- falou em um tom mais serio

–Do que você está falando ? O que você quer ?- perguntei querendo mais que tudo voltar para minha casa

–Olha, eu só quero uma chance de poder conversar com você sem ter brigas no meio, conviver com você- falou em um tom mais desesperado enquanto pegava um cigarro no bolso e o acendendo.

–Seu tempo já passou- falei seca

–Tudo bem que eu não queria ver os pirralhos antes, mais agora que eu venho vendo eles nos últimos dias, eu quero ter uma chance de ao menos falar com eles uma vez.

– Vendo como ?

–Eu venho seguido vocês nos últimos dias- falou tranquilamente enquanto tragava o cigarro

–Você é louco- falei cuspindo as palavras

–Já me chamaram de coisa pior- e novamente aquele sorriso debochado no rosto.

–Olha, mantenha distancia de meus irmãos e de mim. Desapareça como fez da ultima vez, acho que será bem fácil. Não nos procure novamente, estamos muito bem sem você para nos atormentar, ninguém sente mais sua falta- falei seca, com os dentes trincados.

–Não minta pra mim, eu te conheço assim como você me conhece. Seus irmãos podem até não se importarem com a falta de um pai, sua mãe não se importa com a falta de um homem porque ela já está de caso novo- falou com nojo impregnado na voz.

–Lave sua boca pra falar de minha mãe; ela não tem casos como uma qualquer.- falei irritada.

–Não importa, o que me interessa é que não adianta você me dizer que não sente minha falta, eu sei que sente.

–Quem te garante isso ?- falei com falso desinteresse.

–O fato de que eu sinto sua falta- falou de forma verdadeira.

–Sente, sente uma ova, isso sim. Você não tem sentimentos; e eu posso até sentir a falta de um pai, mais isso não significa que eu sinta a sua falta.- falei com toda a minha sinceridade.

–Claro que é minha, eu sou seu pai- falou

–Não mesmo, você deixou de representar esse posto no momento em que foi embora- falei seca- E se não tiver mais nada a me falar, será que eu poderia ir ?- falei ironica

Ele ficou me olhando por um tempo, deu um sorriso debochado novamente, tragou mais um pouco do cigarro e continuou me olhando.

Olhei as horas no meu relógio, e reparei no quanto conversamos; sai de casa ás 16hrs e já passava das 19hrs da noite, passamos mais de três horas parados conversando no meio da rua.

Ele pareceu reparar que estava mesmo querendo ir embora, e então falou:

–Tudo bem, já pode ir; Más quero deixar claro que não vou desistir de ter um tempo pra conversar com você normalmente, e nem vou desistir de falar com seus irmãos.- falou jogando o cigarro no chão e apagando com o pé.

Bufei irritada, e respondi.

–Só tente, não vou te impedir de tentar- falei e vi ele sorrindo, então resolvi continuar: - Más tenha a certeza que vou fazer de tudo pra impedir que isso aconteça- falei com o mesmo sorriso debochado dele, e reparei quando ele vacilou na cara de presunçoso dele.

–Ok, sei que vai ser difícil, mais isso não vai me impedir de tentar.- falou sorrindo e se virando pra ir embora.

Depois de alguns passos dados, ele se virou e falou:

–Tchau filha, acho melhor ir logo pra casa, sabe como é né, pode aparecer pessoas inesperadas com a qual você não vai querer falar- falou sorrindo alto em seguida.

Bufei irritada e fui pra minha casa.

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Quando cheguei em casa, tive que inventar uma desculpa para tio Mike por ter demorado; acabei desistindo do bolo e falei que ia tomar banho e dormir, já que estava com dor de cabeça.

Ainda tive que retornar pro Tyler que tinha me ligado 13 vezes, e eu não tinha atendido, já que só reparei que tinha esquecido meu celular em casa quando cheguei.

Expliquei o porque de ter demorado a ver as ligações, e ouvi ele praguejar meu pai por cerca de vinte minutos, e reclamar de si mesmo por não estar comigo quando Eric, meu pai, apareceu.

E agora estou aqui recapitulando toda a minha conversa com meu pai, e tentando entender qual foi a noticia que ele recebeu que fez com que ele quisesse me ver, tentando descobrir, qual foi o motivo pra ele aparecer assim, do nada.

Balancei minha cabeça, tentando tirar essas coisas, e só assim consegui dormir.

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Eric Stoo – Pai de Anelim :