Entrei e segui para meu quarto, eu não podia esperar mais, eu tinha que estar sozinha pra expulsar aquele nó em minha garganta.

Tomei meu banho ainda segurando aquele nó preso em mim.

Vesti um pijama, deixei minha havaiana ao pé da cama e me deitei.

Só então as lágrimas começaram a descer, sendo amparadas pelo travesseiro onde eu abraçava com toda força que tinha.

Ele não podia voltar, não agora quando tudo estava voltando ao normal.Quando já estávamos todos seguindo em frente.

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Depois de um tempo chorando foi que notei meu celular vibrando na mesinha do meu quarto.

Caminhei até lá, e o peguei notando ser de um numero desconhecido.

Ponderei pra atender ou não, más acabei optando pela primeira opção.

Ligação ON:

–Alô ?– falei sem conseguir disfarçar minha voz de choro

–Pequena ?– Oh não.Soltei um pigarro para tentar melhorar a voz e então respondi:

–Tyler, porque você tá ligando ? E de quem é esse numero ?

–Eu fiquei preocupado, e agora vejo que tenho razão. O numero é o meu mesmo, só tá privado, fiquei em duvida se você atenderia sabendo ser eu.– falou bufando em seguida.

–Do que você tá falando ?– perguntei

–Que você não quis me falar se estava com algum problema mais cedo, e como eu conheço sua voz, notei que você não está bem, e nem tente disfarçar.

Com isso acabei demorando de responder, e quando o fui fazer ele me interrompeu

–Hei, tem como você descer ai ?- perguntou me fazendo estranhar.

–Pra que ?

–Só desce- e desligou

Ligação OFF

Sai do quarto lutando para não acordar ninguém, desci e fui até a porta da frente.

Quando abri notei a moto dele para perto da calçada, e ele sentado na escadinha que tinha na entrada de minha casa.

–Hei, desde quando você tá aqui ?- perguntei, fazendo com que ele me notasse ali

–Cheguei uns cinco minutos antes de te ligar- falou levantando

–Mais você saiu daqui não tem nem uma hora

–Eu sei, só fui tomar banho, me trocar e voltei- quando ele terminou de falar é que eu notei que ele tava só com uma camiseta branca simples e uma bermuda folgada.

–Ah- falei ainda sem entender.

–Fiz bem em vim.- falou me olhando e chegando mais perto- Você tá chorando a quanto tempo ?

–Quem te disse que eu to chorando ?- perguntei desviando o olhar do dele

–Seus olhos vermelhos é uma prova- falou puxando meu queixo para olhá-lo, o que não ajudou em nada, já que assim que olhei pros olhos preocupados dele acabei deixando uma lágrima cair.

Ele me puxou pra um abraço, o qual não briguei, só me apertei mais nele.

–Hei pequena, o que foi ?- perguntou passando as mãos em meu cabelo

–Vem, entra. Minha mãe não pode acordar não.- falei o puxando pra dentro e trancando a porta.

Quando tava o levando para o sofá eu notei a porta do quarto do tio Mike abrir, então achei melhor levar ele para meu quarto.

–Sua mãe não vai reclamar de me ver aqui não ?- ele perguntou assim que entramos.

–Não, é melhor, senão tio Mike é quem ia brigar- falei me sentando ao seu lado na cama.

–Ele é tipo um pai, não é ?- e aquilo foi estopim pra eu voltar a derramar lágrimas, que merda, nunca fui de chorar.

Ele veio até mim me puxando pra seu colo, o abracei mais forte.

–Agora você vai ter que me falar. Quem veio aqui na hora do jantar, em ?- perguntou desfazendo o coque que eu tinha no cabelo.

–Ele– falei estremecendo

Pela forma como ele me apertou mais , notei que entendeu de quem estava falando.

–Hei, relaxa- falou ainda me abraçando.

–Não dá- ele não ia entender

–Me explica porque não vai da.

–Você não vai entender- falei com o rosto enterrado em seu peito.

–Tenta

–A volta dele vai trazer tudo de volta, sabe ?

–Tudo o que ?

–As brigas, os choros, a bebida– falei o apertando mais.

–Continua- falou passando a mão por meu cabelo e minhas costas.

–Meu pai bebia Tyler, muito.- falei tendo alguns flashs

–Hmm- entendi aquilo como pra eu continuar.

–E isso causava muitas brigas entre meus pais, minha mãe não suportava isso nele. Algumas brigas eram mais sérias, era a que eles gritavam mais. Eu não queria aquilo, eu não suportava mais ver minha mãe chorando pelos cantos toda vez que ele chegava bêbado e simplesmente esquecia que tinha uma família.

Pausei pra respirar um pouco e então continuei:

–Minha mãe já não gostava dele beber, e quando ela descobriu que ele tinha uma amante, ai sim as coisas ficaram sérias. Foi a primeira vez em que ela bateu nele quando ele chegou, as malas também estavam prontas pra ele ir embora. No mesmo dia ela pediu o divorcio.

–Mais você não disse que ele foi embora sem falar nada ?- ele perguntou confuso.

–Espera.- fiz uma pausa e respirei- Nesse dia, quando ele chegou e viu que ela estava decidida a acabar com o casamento, ele resolveu se redimir. Pediu desculpas e disse que iria parar.Assim foi, ele ficou cerca de dois meses sem beber e nem chegar tarde em casa, estávamos voltando a ser o que éramos antes. E foi nesse período que minha mãe acabou engravidando, ela é claro ficou feliz; mais essa felicidade só durou até a manha seguinte. Ela contou a meu pai sobre a gravidez num jantar que ela preparou especialmente pra isso. Ele quando recebeu a noticia ficou estranho, más minha mãe achou que foi por conta da surpresa.

Respirei novamente e continuei:

–No dia seguinte ao jantar, quando nós acordamos já não tinha mais nada dele dentro de casa. Ele tinha sumido durante a noite; simplesmente pegou tudo que tinha e foi embora, simples assim.Foi muito difícil, principalmente depois que ela fez três meses de gravidez, que foi quando descobriu ser de gêmeos, nós não estávamos preparadas; eu era uma criança de 12 anos, minha mãe teve que trabalhar dobrado até os sete meses. Quando eles nascerão aos oito meses e meio ficou ainda mais complicado; nós começamos a revezar; eu estudava pela manhã e a tarde quando minha mãe ia trabalhar eu cuidava deles. Com treze anos eu já ficava sozinha em casa durante a noite, com duas crianças pequenas de um ano e pouco. Minha mãe não tinha culpa, ela trabalhava muito, justamente pra conseguir sustentar três filhos sozinha.

–E seu familiares, não tinha ninguém?- Tyler perguntou me fazendo da uma risada seca.

–Quais ? Eu até tenho um avô materno; mais ele não fala com minha mãe desde que ela saiu de casa pra casar com meu pai. Minha avó morreu quando eu tinha quatro anos;Meu tio Mike era um completo irresponsável, trazer ele para ajudar seria a mesma coisa que assumir responsabilidade de outra criança; e por fim tinha meus avós paternos, mais nem vale levar em conta já que nem no casamento de minha mãe eles foram. Então com isso só sobrou nós cuidarmos de nós mesmos, com o tempo acabamos acostumando.E é assim que termina a historia da ida de meu pai, entendeu porque não quero que ele volte ? Porque eu sei que de alguma forma, essa volta vai abalar o que construimos neste período em que ele não estava.

Tirei meu rosto que ainda estava em seu peito e o olhei.

–Eu já tinha raiva de seu pai desde o dia que você chorou no meu peito, mesmo sem me conhecer, por causa dele; agora eu nem sei o que seria capaz de fazer se ele aparecesse na minha frente - Tyler falou trincando o maxilar, mostrando o quão irritado estava.

–Hei, relaxa.

–Relaxa ? Eu nunca tive nojo de alguém, mais só de imaginar o quanto esse canalha fez você e sua mãe, duas mulheres maravilhosas sofrerem, me da um ódio.- falou apertando as mãos

Toquei a lateral de seu rosto e lhe dei um selinho, sorrindo em seguida quando vi ele relaxando.

–Relaxado ?- perguntei sorrindo, fazendo com que ele sorrisse que seguida.

–Só se me der um beijo de verdade- falou com um sorriso de lado.

O beijei novamente, dessa vez aprofundando mais o beijo e deslizando minhas mãos para seu cabelo, o puxando cada vez mais pra mim; em resposta ele apertou mais as mãos em minha cintura.

Quando nos separamos por falta de ar, foi que reparei que ainda estava em seu colo.

Corei, e vi ele sorrindo.

–Acho melhor eu ir agora. Você já está melhor não é ?- perguntou me encarando e fazendo carinho na lateral de meu rosto.

–To sim- falei sorrindo

Quando me levantei, fui até a janela para ver o movimento da rua, e só assim notei a chuva que caia lá fora.

–Ãn... Amor ?- perguntei me virando pra ele

–Oi ?- perguntou vindo até mim

–Você sabe que não vai poder ir agora, né ?- perguntei

–Porque ? Você tá se sentindo mal ?- perguntou preocupado

–Eu já estou melhor. O problema é lá fora, está chovendo, muito.- falei apontando a janela.

–Droga, acho que vou tomar um outro banho; de chuva dessa vez- falou bufando

Pensei, e decidi que não teria nada de mal no que iria propor agora, ele é meu namorado,não é. E não é como se ele fosse me agarrar durante a noite. E eu tenho que pensar na saúde dele.

–Amor, você pode ficar aqui se quiser.- falei

Ele me olhou, fez um rosto pensativo, e então sorriu.

–E sua mãe ?- me perguntou

–Ela não entra em meu quarto pela manhã, fora que ela sai cedo para trabalhar.

–Seu tio ?

–Tio Mike quase não fica em casa- falei dando de ombros

–Seus irmãos ?

–Amanhã é sábado, só acordam depois de meio-dia.

–Como vou fazer pra sair daqui sem que ninguém saiba que passei a noite toda aqui ?

–Amanhã a gente ver. Vai querer ficar, ou vai arriscar adoecer ou sofrer algum acidente nessa chuva ?- perguntei o encarando.

–Tudo bem, eu fico.- falou sorrindo- Mais eu tenho que arrumar alguma coisa pra vestir, pelo menos um short.

–Tudo bem, eu tenho uma calça de moletom aqui, e a camisa pode ser essa mesma que você tá- falei caminhando até meu closet com ele me seguindo.

Abri a porta do closet e entrei, ouvi uma exclamação atrás de mim.

–O que foi ?- perguntei me virando, e vendo ele parado na parede onde ficava minha estante de sapatos.

–O que foi ? Você tem uma coleção de sapatos, olha só esses tênis; tenho um primo que ficaria maluco se visse isso, você é fã da Nike, né ?- perguntou pegando um de meus tênis.

–Ér... digamos que eu tenha um leve vicio em tênis.

–Leve ? Sei...- falou sorrindo e continuou lá olhando meus preciosos.

Fui até a parte onde deixei umas roupas de tio Mike, que eu tinha pegado a um tempo atrás.

Peguei a calça de moletom e logo voltei até Tyler.

–Qual o mais antigo aqui ?- perguntou apontando as prateleiras

–Tenho um ai que foi de minha mãe, quando ela tinha a minha idade. Ela guardou porque disse que tinha sido a primeira coisa que ela comprou com o próprio dinheiro.

–Quanto tempo ?

–Vinte anos

–Nossa, já é quase relíquia- falou olhando o tênis

–É, eu adoro ele- falei sorrindo -Toma - falei estendendo a calça.

–De quem é ?

–Era de tio Mike, até eu pegar.

–Porque ?

–Eu gosto de roupas masculinas, sei lá.- falei dando de ombros- O banheiro é ali.- falei apontando o outro lado do quarto.

–Ok

Ele foi pro banheiro e eu fui arrumar a cama; Liguei o ar-condicionado e então me deitei.

–Seu tio tem quase o mesmo corpo que eu, só é um pouco mais baixo.- falou mostrando a calça que quase ficou curta nele.

–Ér, você tem mais corpo- falei, e corei em seguida.

Ele deu risada, e logo em seguida se deitou.

–Resultado da natação- falou dando de ombros- Você ligou o ar com essa chuva ?- perguntou se embrulhando, assim como eu.

–É que eu gosto de me embrulhar, é para isso que eu deixo o ar ligado. Você fez natação ?

–Fiz e ainda nado algumas vezes, me ajudou a desestressar mais.

–Ah, alguma coisa a mais sobre você que eu não sei ?- perguntei brincando quando ele me puxou para bem perto dele, ficando de frente pra mim que estava de lado; levou a mão até meu rosto e fez carinho..

–Hmm... deixa eu ver.- fez uma pausa como se estivesse pensando.

–Fala, deve ter alguma coisa- falei dando beijinho na ponta do nariz dele.

Ele deu risada.

–Ok, já te falei que tenho tatuagem ?-perguntou

–Você tem ?-perguntei surpresa

–Uma

–Serio ?- perguntei boquiaberta

–Uhum- falou acenando com a cabeça

–Me mostra ?- falei animada

–Ok

Ele levantou da cama e eu me sentei.

–Ér.. tem certeza ?- perguntou receoso

–Tenho, mostra vai- falei ainda animada e curiosa.

–Ok- falou e então tirou a camisa.

Agora eu entendi o porque do receio, a tatuagem dele ficava no peito. Foi impossível não acabar olhando para o corpo dele, qual é.

Me levantei e fui ver de perto a tatuagem.

–É bonita- falei passando os dedos por cima, sentindo ele estremecer.

–Ér, só fiz essa até agora.- falou suspirando

–Você pretende fazer mais ?-perguntei desenhando de leve os traços que tinha.

–Uhum, não exatamente agora; más tenho já na cabeça o que vou fazer e quando vai ser.

–Ah, e vai ser o que e quando ?- perguntei olhando pra ele que estava olhando para meus dedos ainda desenhando sobre a tatuagem.

–Vai ser surpresa- falou

–Ok- falei me afastando e voltando até a cama.

Ele vestiu a camiseta novamente e eu fiquei observando.

–Agora vamos dormir?- falou se deitando

–Ér, vamos- falei bocejando

Apaguei o abajur ao lado da cama, e me virei pra ele o abraçando pela cintura e pousando minha cabeça em seu peito.

–Boa noite, pequena- falou passando um braço em torno de mim

–Boa noite, amor- falei já quase dormindo

–Sabe, adoro quando você me chama assim- falou depois de um tempo

–Assim como ?-perguntei

–Amor

–Mais você é um amor, meu amor- falei dando um beijo em sua bochecha.

–E você o meu- falou depositando um beijo em minha testa.Sorri, e fiquei ouvindo a respiração dele aos poucos se acalmar e então começar a ressonar, avisando que ele já estava dormindo.

Comecei a lembrar de tudo que aconteceu neste tempo em que estou morando aqui, e assim depois de varias lembranças, eu tirei conclusão de uma coisa que eu tinha totalmente certeza.

Olhei para Tyler que agora já ressonava em um sono profundo, e assim tive coragem de sussurrar:

–Eu te amo– falei baixinho dando um leve sorriso.

Depois disso eu me rendi ao sono.

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Tatuagem: