Eu me sinto incompleto de novo, como se minhas risadas fossem nada mais nada menos que o vazio de apenas estar assentado ali, naquela cadeira de madeira, escutando idiotices de escola. Eu nem me lembro direito quando foi que eu escrevi uma poesia, mas quem sabe eu devesse me importar mais com as coisas ao redor do que com os desconhecidos que eu tento impressionar toda manhã maldita. Não vale a pena tentar ser um garoto indomável, fingindo que existe um motivo pra tanto silêncio, anarquia e palavras torpes, enquanto, na realidade, é nada além de um arquétipo imbecil que impus sobre mim há tantos meses que nem me lembro. Eu quero extravasar toda essa guerra fria que me endurece a alma e me faz perder a memória, e me faz esquecer como é dar uma risada pra alguém na rua, ou como é aproveitar cada segundo de uma música, ou perder a legenda de um filme legendado porque estava prestando atenção na emoção que a atuação transmitia. Eu quero os meus dias de ouro de volta, eu quero meu nome entre meus dedos de novo, eu quero meu tempo para gastar e jogar fora a cada noite que passa. Eu quero comer biscoitos recheados de chocolate até dizer que chega, quero sair pra passear sozinho, somente eu, e ouvir nada além da cigarra na rua. Eu quero o gostinho da chuva pairando sob minhas narinas mais uma vez. Eu quero que esses estorvos escuros que me fecham a mente saiam da frente e me permitam vez as estrelas de madrugada outra vez. Que os medos da noite me deixem em paz, e não me assolem mais. As vozes que eu ouço todos os dias, que me deixem longe do seu tormento. Meu maior anseio é poder sair da cama, derreter e escorregar direto pelo cano, e lá permanecer, entupido. Eu quero corrigir meus erros e usar melhor meu dia, mas nada cabe ao débil do 277 e, mesmo se algo nessa vida fosse decisão dele, sabe-se, de alguma forma, que o pequeno bobo erraria. Para todos os efeitos, é um zé-ruela.