Você não vai chorar outra vez, Beatriz. Ordenei a mim mesma, ao notar que fui idiota demais, fraca demais. Pedro não merecia que eu chorasse por ele. Assim como eu não merecia o que ele estava fazendo comigo, mas me reprimir não adiantaria de nada, só aumentaria a auto-estima do infeliz. Então a partir de agora não chorarei mais por ele, não me importarei com nada em relação a ele. É isso. 

- O que aconteceu? – Ouço a voz doce de Laura e imediatamente me acalmo. 

- Por que você mandou Pedro vir falar comigo, hein? – Dei uma risada fraca. – Estava tão entretida assim no filme? É muito legal, eu sei.

- Eu? – Ela perguntou surpresa, era totalmente visível um ponto de  interrogação em sua testa.

- É...

- Foi ele quem me pediu pra ficar lá, porque queria falar com você.

- Sério? – Indaguei, incrédula.

- Claro, pra que eu mentiria para você? Dã!!

- Que mentiroso! 

- Pois é... Mas o que ele te disse?

- Ah, nada demais, só zombou do fato de eu estar triste perguntando se eu tinha quebrado uma unha, disse que odeio tudo em mim, tipo minha voz, como eu sou sensível, minha risada, meu cabelo... – Passei a mão por entre as pontas onduladas dele. – O que tem de errado com meu cabelo?

- Nossa, que idiota! – Ela gritou. Realmente gritou. – Não dê ouvidos a ele, seu cabelo é lindo, até demais, me dá uma certa inveja. – Brincou. – Mas sério, como meu irmão é ridículo... Mas ainda não entendi, por que você saiu chorando?

- Sei lá sabe, não sou de ferro. Fiquei triste por ele me tratar tão mal, me sinto mal, como se fosse um lixo, sabe?

- Meu Deus, Beatriz... – Ela disse tampando a boca com a mão, os olhos arregalados. 

- O quê? – Perguntei, confusa.

- Você está apaixonada por ele! 

- E você está louca. – Dei uma gargalhada ao ouvir aquilo, mas ela continuou séria. – Sério, eu estou apaixonada por ele só que não. Eu odeio ele, você não tem noção.

- O ódio e o amor andam juntos, você não sabe disso? 

- Sabia, claro, minha vó já até me disse isso. Laura, é simples. Eu não gosto do seu irmão, pronto, acabou, ok?

- Hum... Que bom, né.

- Por que? 

- Porque você podia ficar com o Bruno, não é óbvio?

- Hum... Não?! 

- Bom, sabe aquela hora que a gente foi comer no shopping? – Fiz que sim com a cabeça. – Então, ele me disse que te achou linda, que está super afim de você e...

- Mas espera, você não gosta dele? Vocês não ficam? – Interrompi. Ela começou a rir.

- É óbvio que não! O que o Bruno tem de bonito tem de galinha, juro por Deus. Gostar dele é roubada, portanto, se ficar com ele e tal, não se apaixone. E, não, a gente ficou uma ou duas vezes, mas só. 

- Me apaixonar? – Perguntei rindo, como se ela tivesse acabado de contar uma piada. – Olha, sei que pareço sentimental e tudo mais, mas nunca me apaixonei.

- Sério? Como? Qual é o segredo, me conta?

- Sei lá, acho que é porque os homens não prestam. Só nunca senti alguém que fizesse meu coração bater mais forte sabe, essas coisas que contam nos livros. 

- Nossa! – Disse e soltou um leve suspiro. – Quem me dera ser assim. 

Passamos o resto da noite conversando e mexendo no computador, fofocando sobre o que mais gostávamos, e descobri que Laura e eu temos muita coisa em comum. Ela, assim como eu, é viciada em The Vampire Diaries e assim como eu é Delena! Também ama ler, e é fã da série os Imortais, assim como eu. Ela só nunca leu Jogos Vorazes ainda... Quando deu por volta de três e meia da manhã Laura acabou dormindo, mas eu estava completamente sem sono, pensando em tudo que tem acontecido desde o dia do baile. E também estava morrendo de sede, então decidi ir tomar água. Desci as escadas com muito cuidado para não fazer barulho e acordar alguém, e como não tinha ninguém por perto, acendi a luz da cozinha, peguei um copo e enchi de água. Até que ouço passos, e assustada, derrubo o copo que estava em minha mão. 

- O que você tá fazendo acordada a essa hora? – Para minha infelicidade, era Pedro.

- Acho que isso não é da sua conta, mas, só vim tomar água.

- É, tô vendo. – Ele disse olhando o copo quebrado e a água no chão. Fui pegar algo para limpar, e assim que terminei, ignorando sua presença fui saindo da cozinha. – Beatriz, espera.

- Que foi? – Disse olhando pra ele, irritada. Ele não respondeu. – Eu tô com sono, então fala logo. – Menti.

- Desculpa...

- Pelo quê?

- Por tudo.

- Eu nunca mais vou aceitar suas desculpas Pedro, não até elas serem sinceras.

- Mas eu tô sendo sincero. – Ele disse seco.

- Não, não está. E outra, você também não me desculpou, então estamos quites. Agora por favor, solta meu braço. 

- Eu não vou soltar até você dizer que estou desculpado.

- Quer que eu minta?

- Que seja.

- Você está desculpado, Pedro. – Ele sorriu, vitorioso. E finalmente me soltou. – Só que não. – Completei, virando as costas e saindo dali.