Eu corria... Corria incrivelmente rápido.

E estava satisfeita por saber que era o suficiente, eu sentia-os bem as minhas costas, próximos de me alcançarem, mais eles não iriam conseguir... meus passos rápidos não os permitiriam me pegar.

Se ainda fosse como antes... que ao minimo toque a morte era certa, nenhum deles ousaria vir em minha direção, mais logo agora que eu finalmente havia conseguido controlar minha maldição, eles resolviam atacar.

Meu cajado estava devidamente guardado naquele baú no quarto de Caspian, eu estava ciente de que não poderia alcança-lo.

Então eu so contava com as minhas mãos para defender-me.

Pelas janelas de vidro que passavam rapidamente ao meu lado eu via a guerra lá em baixo, desejava ver Caspian... - mesmo ainda estando magoada - ou até mesmo Pedro, mais no momento não poderia parar para procurar o olhar de ambos, então continuei a correr.

Se eu fosse alcançada sabia o que viria a acontecer.

Minha irmã queria o meu dom, e como sabia que eu seria incapaz de ficar do seu lado estava disposta a inserir um Ser dentro de mim, um Ser que a obedecesse.

E foi então que eu a senti.

O frio alcançou minha pele, arrepiando-a com crueldade.

Ela sem duvida estava próxima.

Virei a esquina do corredor e encontrei a espada encrustada na mão da armadura, com rapidez eu a tirei dali e a empunhei.

Escutei os passos dos soldados inimigos se aproximando e olhei para a saia do meu vestido longo em seguida.

Não poderia lutar com aquele peso inutíu, então cortei suas pontas, deixando o tecido revelar minhas pernas, para enfim... poder ter completa coordenação sem aquela saia longa.

Logo os dois soldados me alcançaram e eu voltei a empunhar a espada, desviando do ataque do primeiro e acertando o segundo.

Vire-me com rapidez interceptando o ataque mais uma vez, o barulho das espadas se chocando era alto e o barulho que cortava o ar antes do ataque me permitia saber em que direção o próximo movimento do inimigo viria.

Foi então que minha espada acertou a garganta de um dos soldados e ele caiu sangrando no chão.

Antes que o outro me atacasse sua expressão se congelou em choque, e eu tinha certeza de que não fora eu que o havia acertado.

Aos poucos seu corpo foi ficando duro, e sua pele incrivelmente branca.

Com horror eu o observei virar uma estatua de gelo e quebrar logo em seguida, revelando minha irmã com seu cajado logo atrás dele.

– Jadis. - murmuro ofegante.

Minha irmã olhou-me de cima com um olhar superior afastando-se um pouco em seguida.

– Mia. - fala meu apelido com sua voz aveludada e eu também me afasto.

– E aqui estamos... estamos frente a frente. - digo levantando meu queixo, mostrando que não estava nem um pouco temerosa do resultado daquela luta.

– Outra vez. - retruca dando um sorrisinho.

– Espero que seja a ultima. - confesso olhando-a com desprezo, todo o amor que eu cheguei a sentir por ela um dia havia transformado-se apenas em desgosto.

Aquela mulher a minha frente era só uma sombra do que um dia minha irmã foi.

– Ouvi dizer que você abdicou do seu dom para o cajado. - fala ignorando meu comentário anterior. - Não sei se lhe dou os Parabéns, ou digo o quanto foi tola! - completa.

– Não me arrependo do que fiz. - digo segurando firme a espada.

– Pois deveria. - fala voltando a dar aquele risinho. - Se ainda tivesse seu dom, poderia me matar sem o minimo esforço. -

– Isso é verdade... mais você sabe, eu adoro um pouco de adrenalina. -

E então... estávamos lutando.

Não sei quanto tempo ficamos naquela dança mortal, eu consegui faze-la recuar algumas passos, assim como ganhei algumas escoriações do rosto com seus golpes.

Ela não podia me congelar, eu era imune ao seu dom por um razão desconhecida, mais isso não significava que ela não pudesse me matar de outra maneira.

Com choque eu ouvi o som da minha espada caindo a vários metros de mim, ir atrás dela estava fora de coagitação.

– Se ficasse ao meu lado, eu não poria fim a sua vida, não colocaria um Ser em seu corpo, entende o quão mais fácil seria? - diz ela com fúria.

Falhei

As palavras dançavam em minha mente em um tom fúnebre.

Até que eu vi no final do longo corredor bem atrás dela;

A bela janela de vidro com o desenho de Aslam encrustada nela.

A minha janela preferida.

E então eu percebi que eu havia encontrado uma forma... não de sobreviver, e sim de ganhar.

– Acontece irmã , que isso jamais ira acontecer. - falo antes de avançar em sua direção certa da decisão que tomei.

Ela acha que vou ataca-la, e até prepara o cajado para defender-se.

Mais eu paço ao lado dela, reto, certa de para onde eu iria.

Eu sei que ela percebe o que vou fazer e por isso grita.

– É ESTUPIDO MIA! FIQUE COMIGO, LUTE AO MEU LADO! - grita enquanto eu ainda corro em direção a janela.

– Vá para o inferno. - digo sem ter certeza de que ela me ouviu.

A poucos metros da janela eu viro meu rosto para olha-la uma ultima vez, e eu sinto vontade de rir diante choque e o horror estampados em seu rosto.

Porem antes que eu conseguisse ao menos sorrir, sinto o impacto com o vidro, e o som dele se partindo em míseros pedaços, jogando-me para fora da sacada em direção ao chão.

O vazio me engole, minhas mãos agarram inutilmente o ar na tentativa de encontrar algo solido e minhas pernas balançam frágeis em contraste com o vento da queda.

O rosto de Caspian aparece em minha mente enquanto eu fechava meus olhos, e logo em seguida vi o de Pedro, de Lucia, de Edmundo, de Maggie e de todos os outros que eu amava.

Eu ouço a pancada antes mesmo de senti-la... E então o vento se foi.

A dor o substitui com intensidade.

Dor... Dor... So há isso, em todos os lugares.

Tenho a impressão de ouvir a voz de Caspian me chamar...

Talvez seja so um sonho distante... ou talvez ele tivesse assistido a minha queda...

Logo a dor tomou por completo minha cabeça, impossibilitando-me de pensar novamente com clareza.

Mais antes de apagar completamente eu rezei a Aslam.

Me ouça! E por favor....

"Faça parar..."

Mia Whyler (Saoirse Ronan)