- Está frio... – Claire resmungou nos meus braços enquanto tremia freneticamente.

  - Vamos dar um jeito nisso... – Olhei por toda extensão daquele ‘cômodo’ procurando algo que pudesse aquecê-la, mas não existia nada alem de moveis cobertos por panos extremamente velhos e empoeirados que poderiam fazer mal para nós dois. – Hm... está meio difícil... ér... – Olhei mais uma vez e reparei existir uma cama encostada do outro lado do cômodo. Levantei-me e andei até a mesma. Passei a mão sobre seu colchão sentindo que estava razoavelmente bom. Puxei o lençol branco que a cobria revelando uma cama enorme, aparentemente, feita a mão, afinal, possuía detalhes incrivelmente bem feitos e era muito velha para ter sido feita por alguma industria.

  - Não vou ficar em uma cama com você – Disse. Seus dentes batiam de tanto frio que estava sentindo.

  - Não vou fazer nada... – Revirei os olhos. – Nada que você não queira – Sussurrei para mim mesmo e abri um leve sorriso malicioso no rosto aumentando ainda mais sua desconfiança. – Pare de fogo e vem aqui! – Disse pouco autoritário chamando-a para perto de mim.

Ela ficou pensativa por um longo momento antes acatar a minha idéia e sentar-se na cama. Ao se aproximar, ela espirrou algumas vezes por conta da poeira que estava ali. Tirei minha fantasia jogando-a em um canto e tirei o moletom que estava usando oferecendo-lhe a ela que aceitou sem pestanejar.

Sentamos na cama e ela aninhou-se em meus braços completamente encolhida. Ela ainda tremia muito então peguei aquela mesma fantasia e cobri-a com a mesma diminuindo um pouco sua tremedeira. Eu também estava com frio, de fato, mas eu ficaria bem e não me importaria em ficar gripado se isso garantisse a saúde dela.

  Sua mão que tocava meu peito subiu para a minha nuca e seguiu até os meus cabelos parando ali. Ela começou a brincar com alguns fios bagunçados que estavam estragando o penteado que eu havia feito. Ela tentou colocar-los no lugar, mas eles estavam muito rebeldes, então desistiu e passou a bagunçar meu cabelo antes de decidir acariciar-me delicadamente arrepiando-me com seus toques. Admito que respeito quem mexe no meu cabelo. É uma sensação boa...

- É estranho... – Murmurou.

  - O que? – Perguntei observando-a com um leve sorriso.

  - Isso...

  - Por que?

- Porque eu te odeio... pelo menos, era o que eu pensava... – Refletiu.

- Ér... se fosse assim eu deveria estar te zoando agora – Disse.

- Não, você me ama – Sorriu torto.

  - Como tem tanta certeza? – Perguntei. Cutuquei levemente sua cintura varias vezes fazendo-a ficar um pouco nervosa.

  - Pare! – Resmungou.          

  - Não. – Cutuquei-a com um pouco mais de força afastando-a de mim. Ela deu-me um tapa no braço deixando o local com a marca de seus dedos. – Agora você vai ver – Apertei sua perna um pouco acima do joelho fazendo-a dar um pequeno pulo. Ela revidou empurrando-me para fora da cama. Cai de joelhos em sua frente ficando em uma ótima posição para puxá-la pela perna. Foi o que fiz. Sem pensar duas vezes, puxei sua perna direita arrastando-a para fora da cama, mas, ao se debater, conseguiu voltar para cima da mesma afastando-se novamente de mim.

- Fique longe! – Gritou aos risos.

- Nem pensar! – Levantei-me rapidamente subindo de joelhos na cama e andei até ela lentamente, entretanto, ela foi se afastando até não ter mais para onde ir e ficar encostada na parede velha que ficava atrás da cama.

  Aproximei-me dela e coloquei minhas mãos em suas pernas segurando-a com força. Ela deu um chute fraco na tentativa de se soltar, mas não conseguiu. Cheguei mais perto dela subindo minhas mãos por toda a extensão de sua perna até chegar em suas coxas.

- Te peguei...- Sussurrei a poucos centímetros de seu rosto.

- Acho que não – Ela sorriu maleficamente e, com um simples movimento, ela estava em cima mim com os joelhos ao redor da minha cintura prendendo-me contra a cama.

- Você que pensa... – Avancei para cima dela jogando seu corpo contra a cama com um pouco de agressividade esmagando seu corpo contra o colchão. Segurei seus braços deixando-a imobilizada. Ela se debateu algumas vezes, mas logo desistiu e aceitou que não havia mais como fugir. – E agora? – Perguntei com uma sobrancelha levantada.

- Você venceu... – Resmungou baixo.

Suguei levemente seu pescoço sentindo seu doce gosto e tracei um caminho de beijos até seu maxilar parando perto de seu lábio inferior. Afaguei seu rosto com uma de minhas mãos soltando um de seus braços que foi até meu pescoço arranhando-me levemente.

Passei minha mão por sua cintura levantando um pouco a camiseta que estava usando. Ela recuou com meu toque e afastou-me poucos centímetros de meu rosto.

  - Não... – Pediu desviando o olhar.

  - Tudo bem... – Soltei um leve suspiro e me afastei dela sentando-me na sua frente.

  - mas também não precisa se afastar tanto – Resmungou e aninhou-se novamente em meus braços. Seus lábios estavam próximos ao meu pescoço, pude sentir sua respiração quente.

- Você é confusa demais, quer e não quer, eu hein. – Murmurei sorrindo um pouco com o que estava acontecendo.

  - Só não quero isso agora, entendeu? Mas não significa que não quero você – Disse um pouco corada. Foi impossível não abrir um largo sorriso.

  Ela fechou os olhos exausta e, pouco tempo depois, seu corpo já estava totalmente relaxado. Percebi que ela tinha dormido em meus braços e também percebi que já não sentia mais tanto frio. Pousei meu queixo no topo de sua cabeça e fechei meus olhos conseguindo cochilar por um curto período de tempo.

Fui acordado por um forte trovão que caiu próximo a casa fazendo um barulho estrondosamente alto. Olhei para Claire e ela continuava imóvel em meus braços. Era interessante vê-la dormir... Seu rosto ficava mais tranqüilo e ela parecia estar tendo bons sonhos, o sorriso em seu rosto acusava aquilo. E agora, nos meus braços, ela parecia completamente frágil, algo que me fez sentir uma forte sensação de precisar protegê-la...

O dia foi clareando aos poucos, consegui ver alguns feixes de luz passando por alguns pequenos vãos que existiam na madeira do telhado e pela janela que existia do outro lado do cômodo. Observei o Sol nascendo lentamente no horizonte...

- Que horas são? – Murmurou em meus braços. Sua voz estava um pouco falha e rouca.

  - Não sei, mas esta amanhecendo... – Sussurrei.

  - Eu dormi? – Perguntou surpresa.

- Sim... – Respondi no mesmo tom calmo.

- Temos que voltar para o grupo antes que realmente sintam nossa falta! – Disse apressadamente.

- Vamos... – Levantei-me da cama puxando seu corpo delicadamente para fora junto do meu. Ela estava um pouco mole, percebi isso ao vê-la tropeçar em seu próprio pé. Segurei um riso, mas ela percebeu e advertiu-me.

Ela pegou seu celular e olhou rapidamente para seu reflexo fazendo uma careta com o que viu.

- Você está linda. Pare de frescura – disse ao observar seu rosto ainda mais perfeito ao acordar.

- Acredito – Deu de ombros e seguiu para a saída do sótão.

- To falando sério, você esta linda! – Repeti. Segui-a e desci primeiro oferecendo meus ombros como apoio para seus pés.

Ela pisou em mim com um pouco mais de força do que o necessário rindo ao descer de mim e ver meus ombros sujos de poeira.

- Hahaha, você é hilária – Revirei os olhos e estapeei minha camisa tirando toda poeira que havia se acumulado.

            Seguimos silenciosamente para fora da casa e tivemos o maior cuidado possível para não sermos vistos saindo de lá por ninguém da escola. Afinal, se mais alguém soubesse, poderíamos levar uma grande advertência pelo o que fizemos na noite anterior, sem contar que desrespeitamos a ordem de ficar perto de um responsável.

            - Você ainda não me disse por que não estava bem ontem... – Disse quebrando o silencio que havia se formado entre nós.

            - E não vou dizer... Por enquanto... é complicado... Espero que você me entenda... – Suspirei profundamente ao lembrar-me de tudo que estava acontecendo comigo.

            - Tudo bem... – E então o silencio tomou conta de nós novamente, mas isso não me incomodava, afinal, estar perto dela já era o suficiente para me fazer bem...

            Andamos por todo aquele lugar olhando por dentro da janela de todas as casas procurando a onde os alunos estariam, até ouvir a voz do professor acordando a todos os outros e informando ser mais de 06 da manhã.

            - Ferrou... – Claire sussurrou quase entrando em outro desespero.

            - Calma. – Puxei-a pelo braço até a lateral esquerda da casa onde encontrei uma janela aberta. Entrei pela mesma silenciosamente e andando sorrateiramente até próximo ao meu amigo Peter que estava deitado no fundo longe de todos. Ajeitei-me no chão ao lado dele e senti Claire deitando-se próximo de mim utilizando a mesma sutileza que eu.

            Esperamos o professor chamar pela segunda vez antes de fingir estar acordando naquele exato momento. Ele nos observou por um longo segundo e iria dizer alguma coisa, antes de ser interrompido por outro professor e dar as ordens de que iríamos voltar para nossa escola.

            - ONDE VOCES ESTAVAM? – Peter disse em alto tom chamando a atenção de algumas pessoas próximas.

            - SHIU! – Falei no mesmo tom e olhei para aquelas pessoas.

            - nós estávamos na casa – Claire sussurrou tentando explicar.

            Peter olhou para nos dois com um duplo sentido fazendo Claire ficar corada instantaneamente.

            - Não teve nada demais, só precisamos ficar escondidos! – Expliquei rapidamente.

            - Só isso? – Ele olhou para o pescoço dela e, quando olhei, percebi que havia ficado uma forte marca do sugão que eu havia dado na noite anterior. Fiquei tão sem graça quanto ela. – Que lindo – Disse com um sorriso no rosto. – Fico feliz por você, Dean. Finalmente conseguiu o que queria – Completou. Senti uma grande vontade de calá-lo com um soco.

            - O que? – Perguntou Claire.

            - Senhor Muller e senhorita Lavigne – Nosso professor de historia nos chamou pelo sobrenome.

            Olhamos juntos para ele e o observamos parado a poucos passos de nós com um olhar repreensivo no rosto.

            - Queremos conversar com vocês – Disse em um tom seco.

            Claire lançou um olhar de ‘ferrou’ para mim e ficou em silencio.

            - Tudo bem – Disse – Quando? – Perguntei.

            - Quando voltarmos para a escola. – Disse e voltou-se para os alunos.

            Todos seguiram para o ônibus reclamando de dor nas costas, mas, por incrível que pareça, adoraram a noite chuvosa. Ouvi alguns comentários de que eles ficaram contando historias de terror e que assustaram varias garotas. Megan e suas amigas encararam Claire torto como se ela tivesse feito algo extremamente horrível e logo os mesmos olhares voltaram-se para mim e fui fuzilado também.

            Bryan foi o que mais me matou com o olhar antes de lançar um olhar safado para Claire deixando-me completamente nervoso. Eu não lia mentes, mas não era difícil imaginar o que ele estava pensando... “Ela vai ser seu maior desejo e você nunca ira te-la” sorri irônico para ele.

            Ela nos observou confusa, mas ignorou a situação e puxou-me para o ultimo banco do ônibus deitando sua cabeça em meu ombro e fechando os olhos novamente.

            - Cansada? – perguntei ao ouvir sua respiração pesada.

            - Sim... não consegui descansar muito, apesar de ter dormido bem... – Sorriu torto e ficou em silencio.

            - Então relaxe... – Peguei meu celular em meu bolso e  coloquei um fone de ouvido nela e um em mim. Escolhi uma musica qualquer e coloquei bem baixo apenas para nos distrair.

            - Adorei... – Sussurrou cansada.

            - É Paradise... – Disse o nome da musica.

            - Agora é nossa... – Abriu um leve sorriso.

            Acariciei suavemente seu rosto com as costas da minha mão enquanto ela ficava cada vez mais calma e mole até que dormiu novamente ao meu lado.