Rick

Eu tinha arrumado um emprego que não era nem um pouco discreto, eu ia ajudar o Senhor Augusto, o dono de uma mecânica da esquina da rua principal, ia ser ate bom ganhar uma grana e fazer algo útil. Hoje seria a festa e eu fui obrigado a comprar uma roupa nova de tanto o Álisson falar na minha cabeça. Comprei uma calça jeans e uma camisa preta com uma jaqueta, eu tinha ganhado um adiantamento.

Sai da mecânica as 17h e fui embora, passei perto da padaria mais a Bia já tinha ido, e só a amiga loira dela se virou e sorriu acenando pra mim:

- Oi raio de sol! – falei sorrindo

- Oi gatinho! - ela falou com uma voz educada.

- Cade minha sereia? - perguntei com um tom irônico.

- Já foi. Parece que tem uma festa hoje.

- É, eu sei. - falei com um sorriso. Olhei para sua mão e tinha um corte profundo, ela ficou meio sem graça e tirou o jornal e pegou sua bolsa.

- Esse jornal é de hoje? - perguntei.

- É sim, quer ver? - falou me entregando.

- Sim! - peguei e olhei atentamente a primeira página que tinha um titulo bem chamativo: “Ataque animal mais uma vez”. Dizia que na noite de ontem um casal de jovens tinha sido atacado por algum animal e que não resistiram aos ferimentos pois perderam muito sangue.

- Animal na cidade? - perguntei olhando a reportagem inteira.

- Não são animais! - ela exclamou falando num sussurro.

- O que? - falei feito um idiota me esquecendo que um humano normal não ouviria o que ela disse.

- Eu nao falei nada! - ela falou meio assustada.

- Me desculpe eu estou ouvindo coisas, eu já vou indo, posso levar comigo? - perguntei gesticulando para jornal.

- Claro que sim.

- Então tá, tchau Kate! - falei tentando sorrir e sem querer olhei de novo seu corte.

- Tchau Rick! - falou com um olhar frio pra mim.

- O que foi isso? - perguntei sem pensar.

- Me cortei com a faca! - falou com uma expressão séria.

- Entendi, Tchauzinho! - falei sem graça.

- Tchau!

Fui embora meio intrigado com aquilo que não me parecia um corte de faca, mais fiquei intrigado também com a notícia do jornal, porque ter ataque de animal em plena cidade era meio confuso.

Eu estava atrasado para festa, entrei correndo e fui tomar um banho dos pés a cabeça. Olhei no espelho antes de me vestir e vi os meus olhos castanhos ficando avermelhados assim como meu cabelo.

Coloquei a roupa e baguncei meu cabelo, passei um perfume do Álisson e sai correndo, dei de cara com algumas meninas e continuei ate a quadra que estava lotada. Andei devagar procurando a Bianca, ai senti alguém cutucar meu braço e me virei. Meu coração quase parou quando eu a vi, ela estava com os cabelos longos presos num coque e com um vestido azul claro com babados. O rosto era simplesmente perfeito e tinha uma maquiagem leve e uma expressão de raiva.

- Você esta atrasado! - falou com raiva e eu fiquei paralisado olhando seu rosto.

- Rick? - falou me olhando.

- Nossa você é linda demais. - falei com o olhar paralisado e vi seu rosto corar.

- Você não vai me convencer com isso. - ela falou cruzando os braços.

- Desculpa é que eu passei na padaria pra ver se você ainda estava lá. - falei tentando me concentrar.

- Sai mais cedo hoje! - falou enfurecida.

- Deu pra ver! - falei passando os braços em sua cintura e desfazendo seus braços cruzados. Toquei os seus lábios e depois fiz uma carinha de desculpas e ela não resistiu, passou os braços no meu pescoço e ficou me olhando.

- Você é terrivel – falou com uma malícia e um sorriso e nossos lábios se encontraram com fervor.

- Vamos dançar? - perguntei apontando pro meio da quadra onde todos dançavam.

- Vamos sim!

Tocaram várias músicas e ela dançava bem ate demais, porque todos olhavam para nos e eu simplesmente babava que nem um idiota. Ela sempre sorria e me olhava de modo encantador e as vezes eu não resistia e lhe abraçava com um beijo.

- Sabe que amanha nos temos que ir ate uma cidadezinha no interior praa procurar por aquele garoto! - ela falou derepente no meu ouvido, na hora em que a gente foi tomar uma bebida.

- É, eu sei. Mais vem cá, ele foi rebaixado a caipira? - falei rindo e ela me encarou reprovando.

- Não significa que ele esta lá, é que o João teve uma pista que talvez a família dele esteja por lá.

- Entendi. E voce acha mesmo que eles vão querer falar com a gente? - perguntei pegando uma bebida.

- Só indo ate lá pra ver! - ela exclamou pegando meu copo e trocando por um de suco. Eu fiz uma cara de raiva.

- Sei! - falei e ela pegou meu rosto nas mãos e falou me olhando:

- Melhor isso. - falou me mostrando o suco e depois me beijou.

Ficamos sentados ali por um tempinho ate começar uma música lenta e ela sorriu e pegou minha mão me levou ate o meio da quadra de novo e passou as mãos pelo meu pescoço me puxando para perto dela, eu passei as mãos em sua cintura e nos dançamos devagar no ritmo da música.

- Você ficou ótimo! - ela deu aquele sorriso lindo, mostrando os dentes perfeitos.

- Você também! - respondi e ela me beijou.

A festa foi muito boa pra mim e ela foi dormir comigo com um sorriso enorme no rosto. Despedimos dos amigos e fomos pro quarto. Entramos e ela soltou os cabelos e me mostrou uma blusa rosa e um short curto e apontou para porta, eu fiz um biquinho pra que ela me deixasse ficar e ela negou com a cabeça, eu sai lhe mandando um beijo e ela sorriu e deu um tchau. Fechei a porta e fiquei ali ouvindo ela mexer nas roupas e pegar a escova de cabelo. Eu sempre tentava me controlar quando ela estava perto, não deixar minha mente pensar nela de outra forma e vagar pelos meus desejos...

Fui despertado de minhas alucinações com um chamado do meu nome:

- Rick?!

- Oi! - olhei depressa e era a Jullya, ela estava com o seu vestido da festa e me olhava curiosa.

- Você estava viajando ai né! - ela falou sorrindo.

- Desculpa.

- Tudo bem, mais ficaria melhor se você tivesse deixado uma dança pra mim!

- Eu nem vi você por lá, se não teria te tirado para dançar! - falei sorrindo e ela deu um sorriso que parecia um tanto malicioso.

- Eu teria adorado, pois dancei mais com o Fred. Mais nunca é tarde demais! - ela se aproximou e tocou o meu rosto me encurralando na parede. Pensei direito e passei por baixo do seu braço, e eu definitivamente estava assustado com a atitude dela, ate porque ela sabia que a Bianca estava lá dentro do quarto... É claro que ela sabia por isso estava fazendo aquilo, só para provocar a Bia.

- Quem sabe em outra festa! - falei pegando a fechadura da porta.

- Quem sabe. - ela ficou me encarando, ate porque eu tinha acabado de fugir dela.

- Boa noite Ju! A gente se vê!

- Boa noite! - ela se aproximou de novo e me deu um beijo no rosto e saiu acenando.

Fiquei ali parado prendendo o ar, o que ela pensava que estava fazendo, me concentrei e respirei enfim e senti seu prefume provocador sair com ela. Abri a porta e entrei. A Bia estava sentada na cama com as pernas cruzadas me fitando.

- O que? Eu não fiz nada! - falei tirando a camisa e colocando em cima da cadeira.

- Você nunca faz nada! - ela exclamou e me olhou esperando minha resposta.

- Ela fez isso pra provocar você, sabe disso!

- Será mesmo? - ela fez uma cara de irônia.

- Bia! - eu a repreendi.

- Tudo bem, eu só espero que ela não consiga o que quer, ou melhor, que voce não dê a ela.- ela deu um sorrizinho. Balancei a cabeça reprovando o que ela disse.

- Não vai. - andei ate sua direçao e lhe dei um beijo, depois me virei e peguei o jornal que estava dentro da minha mochila e mandei pra ela que o pegou no ar.

- Roubou esse jornal da Kate?

- Na verdade eu ganhei de presente! - falei me sentando ao seu lado na cama.

- Hum... sei...

- E como você sabe que é dela? - perguntei curioso porque eu não era tão bom de identificar cheiros assim, a não ser o dela.

- Fico o tempo todo perto dela, reconheço o seu cheiro. - ela respondeu olhando atentamente a página do acidente de ontem.

- O cheiro de frutas cítricas! - falei rindo.

- Ela não cheira a isso! - ela exclamou e me olhou.

- Tudo bem, você tem razão, o cheiro dela é delicioso! - falei rindo alto e ela me deu um tapa.

- Idiota!

- Você já tinha visto? - perguntei apontando pro jornal.

- Não, eu só vi que ela tinha comprado.

- Ata. Trouxe porque eu acho que devemos dar uma olhada nesse caso de ataque.

- Entendi, o super-herói! - ela falou rindo.

- É serio Bia!

- Desculpa. E acho que tem razão, ataque de animal é bem suspeito!

- É sim. - concordei com ela.

- A gente fala com o João sobre isso amanha, mais agora eu quero dormir e ficar preparada para sair, pois temos uma missão.

- Também!

Ela se deitou e eu também, ficamos nos olhando por um tempo ate ela tocar o meu rosto e me dar um beijo. Eu lhe abracei e espirei seu perfume sentindo seu corpo se arrepiar e logo depois ela engireceu e deu um grito me fazendo pular da cama e eu senti uma dor terrível em minha mão direita que se encontrava segurando a sua. Soltei minha mão rapidamente e me levantei olhando pra ela que gemia segurando a mão que também estava na minha. Ela me olhou confusa e eu me sentei de novo e olhei minha mão que estava queimando e me assustei, ela estava congelada literalmente e doía quando eu tentava mexer. Me concentrei e o gelo derreteu de leve e a dor foi saindo aos poucos, olhei assustado para ela que ainda parecia sentir dor.

- O que foi? - perguntei assustado.

- Não sei. Olha aqui. - ela estendeu a mão pra mim e eu levei um choque. Sua mão estava com um buraco que se fechava, em volta dele tinha algo como se estivesse derretido e parecia queimar.

- Nossa! - eu falei e ela recolheu a mão de novo e me encarou.

- Que droga!- Ela falou com raiva olhando a mão que já havia se fechado, eu olhei pra minha de novo e ela já estava normal.

- O que foi isso? - perguntei olhando confuso.

- Controle. Nos precisamos de controle, somos elementos opostos e isso afeta nossa proximidade. Se não nos controlarmos isso vai acontecer sem nem mesmo a gente ver.- ela falou mexendo a mão.

- Mais foi do nada, eu nem senti e nem sabia que estava fazendo alguma coisa! - exclamei.

- Nem eu, ate sentir a dor.

- Desculpa. - falei abaixando a cabeça. Ela pegou meu queixo e levantou meu rosto me encarando.

- Porque esta pedindo desculpa? - ela perguntou.

- Por ter derretido sua mão! - falei

- Tudo bem, então me desculpe por ter congelado sua mão? - ela deu um sorriso.

- Deixa eu pensar... claro né sua boba!

- Também te desculpo.

- Eu nao quero ficar derretando você o tempo todo! - falei com uma cara triste.

- Não acontece o tempo todo. É dificil de evitar, mais não impossivel, só uma questão de tempo e controle.

- Pois é. Isso que dá se apaixoar pelo seu elemento oposto! - falei com um sorriso.

- É sim! - ela riu e me beijou e logo o nosso beijo acelerou e eu já estava por cima dela, minha mente perdendo o controle e eu descia a mão subindo seu short. Antes mesmo que eu fizesse alguma coisa ela tinha nos invertido e ela estava por cima agora e deu um sorriso e me olhou balançando a cabeça.

- O que foi que a gente tinha combinado? - ela disse com uma voz calma.

- Desculpa. Eu sei disso, é que você me provoca e não dá para controlar. - falei no seu ouvido e ela riu.

- Juro que não vou fazer mais! - ela disse no meu ouvido e eu respirei fundo para não fazer nada.

Ela saiu de cima e se deitou ao meu lado sorrindo e sua voz saiu como música:

- Eu te amo! - eu fiquei olhando pra ela sem saber o que dizer e ela ficou ali linda esperando minha resposta que não saia.

- Eu não quis... - antes mesmo que ela terminasse eu lhe puxei para um beijo doce e calmo, como que em resposta.

- Eu te amo! - falei enfim e ela sorriu me abraçando. Fiquei ali olhando para ela ate que adormecesse nos meus braços.

- Boa noite meu amor! - sussurrei e fechei os olhos para uma noite de sonhos ao lado da mulher que eu amava.