– Hey Peter, onde você estava? – diz John no exato momento em que eu ponho os pés na sala de espera – Acordei hoje e você não estava no dormitório

– Bem... – merda, por quê ele tinha que me perguntar isso agora? Todo mundo da sala estava olhando a gente, inclusive Lucas – Eu não estava me sentindo bem e fui na enfermaria – minto

– Cara, da próxima vez me avisa, fiquei preocupado – diz ele – Mas enfim, tá melhor agora?

– Aham – digo com um sorriso falso.

Ninguém mais estava olhando pra gente, ainda bem. Será que Lucas desconfiou de alguma coisa? E a garota? Não. Eles não tem do que desconfiar, ninguém sabe que eu tinha ido dar uma volta e ninguém sabe que eu não tinha ido à enfermaria, exceto a enfermeira claro. Meus pensamentos são interrompidos com o som do alto-falante da escola.

“A sala da Reunião está liberada. Por favor, dirijam-se as suas cadeiras e aguardem até que ela comece.”

A porta da sala de Reunião se abre automaticamente, todo mundo entra nela e eu entro por último.

A sala tem o formato de uma cúpula, o teto é todo revestido de espelhos, as paredes e o chão são feitos de um metal que reflete as coisas quase tanto quanto o teto, até hoje não sei como pode haver uma sala como essas em uma escola como a minha. No meio da sala há 27 cadeiras, o número de alunos da nossa turma, formando um círculo. Elas são feitas de um metal cromado azul, na parte de cima delas há uma pequena tela digital, cada uma com o nome de alguém da turma. Procuro a cadeira com o meu nome e no momento em que eu me sento, cintos de metal saem dela e me prendem pela cintura, pelos pulsos e pelos tornozelos, isso é garantia de que ninguém consiga escapar de sua possível morte. Ano passado um aluno se recusou a entrar nessa sala e tentou fugir da escola, ninguém sabe o que aconteceu, exceto que ele foi encontrado morto perto da saída.

Quando todos nós estamos sentados, um pequeno buraco no chão se abre, revelando um pequeno projetor que projeta 4 telas formando um quadrado. Um homem aparece nas telas, ele tem cabelos pretos com alguns fios branco, olhos castanho-claro, uma barba rala que cobre seu queixo e uma pequena cicatriz que atravessa sua testa até sua sobrancelha esquerda, deixando uma pequena falha na mesma. É comum pessoas terem cicatrizes hoje em dia, a maioria adquire elas no Teste Final e não removem para demonstrar que não fácil sua sobrevivência nele, mas mesmo assim sobreviveram.

– Bem-vindos – o homem na tela diz com sua voz um pouco eletrônica – Irei explicar os detalhes de sua última reunião. As cadeiras que vocês estão sentados, possuem um pequeno dispositivo dentro delas que emite cargas elétricas de alta voltagem. Os alunos serão submetidos ao julgamento em ordem alfabética. Caso o aluno não tenha conseguido uma média A nesse ano, o dispositivo será acionado e liberará uma carga elétrica de alta voltagem, e tanto os cintos como a cadeira irão conduzir essa carga diretamente para o corpo do aluno , matando-o em questão de segundos. – alguns alunos começam a olhar um para o outro, com uma expressão de medo no rosto, mas eu continuo olhando fixamente para a tela que estava na minha frente – Mas caso o aluno tenha conseguido uma média A, ele será liberado de sua cadeira, terá que voltar à sala de espera e esperar até que a Reunião termine. Quando a mesma tiver terminado vocês poderão se dirigir aos seus dormitórios e preparar as malas para a Visita amanhã. – ele dá uma pequena pausa – E que a Reunião comece!

O primeiro aluno a ser submetido ao julgamento é Adam Clerk, um dos alunos mais inteligentes da turma. Seu nome e seu rosto aparece nas telas, e depois de 5 segundos sua média é revelada ao lado de seu rosto. A.

Ele sai da sala com uma expressão de orgulho no rosto. “Não se orgulhe, ainda não acabou” penso.

Alexia Williams é a próxima, ela tira uma média A e sai da sala. A mesma coisa acontece com o toda turma, ou pelo menos com quase toda turma. Quando o nome Eric Silver aparece na tela, e a letra B surge ao lado de seu rosto, ouço o grito de sua namorada enquanto ele é eletrocutado. Um pequeno buraco aparece em baixo da cadeira de Eric e a cadeira com o corpo dele some dentro do buraco, que é fechado logo após que some de vista.

A Reunião continua, quando o nome de John aparece na tela, começo a ficar nervoso. E se ele não conseguiu uma nota A? E se ele morrer? Como a nossa mãe e nosso pai vão ficar? Como eu vou ficar? A letra A aparece na tela e eu fico aliviado, ele se levanta e antes de sair pela porta ele me faz um sinal, que eu deduzo como um “até daqui a pouco”. Depois de alguns nomes, e mortes, meu nome aparece na tela. Não fico nervoso, eu sei que tirei uma média A. Após 5 segundos, a minha média A aparece na tela, sou liberado da cadeira e saio pela porta. John está sentado no fundo da sala, me sento ao lado dele e percebo que ele tá triste. Claro, Eric era amigo dele. Não falo nada, até que Vanessa Melsen, a namorada de Eric e a última aluna da nossa turma a ser submetida ao julgamento. Ela é alta, tem cabelos loiros lisos que passam do seu ombro e olhos azuis claro. Ele é a garota mais linda da turma.

– Cara, vá lá consolar a Vanessa, ela deve estar precisando de alguém agora – digo. Apesar de eu ser contra fazer amizade com alguém antes do Teste Final, eu ainda sou humano, e estou com pena dela. Ela é legal e acabou de perder o namorado. Ela é a única aliada que eu teria, além de John. A única exceção ao meu plano.

– Ok – Ele se levanta, caminha em direção a ela e a abraça.

Ouço o alto-falante de novo. "A Reunião acabou, por favor dirijam-se aos seus dormitórios e preparem suas malas para a Visita."

Enquanto me dirijo até o dormitório, conto quantas alunos morreram. 6. 6 alunos morreram. Agora só restam 21.

E 16 deles estarão mortos daqui a alguns dias.