Aventura no Iberanime escrita por André Tornado


Capítulo 2
No olho do furacão.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Mais um capítulo desta fic non-sense.
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Boa leitura!



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Entre casinhas de uma arquitetura simples, semelhantes a cubos metálicos desprovidos de teto, passeava-se uma multidão ávida e eclética, que se vestia de uma maneira diversa e até contrastante. Se havia quem envergasse trajes considerados normais e de uso quotidiano, havia outros que se destacavam pelas cores vistosas, brilhos exagerados e um corte pouco ortodoxo. Folhos, saias, calças largas, capas, pregas, golas. As cabeleiras artificiais coloridas destacavam-se e os adereços – espadas, punhais, maças, flechas, animaizinhos de estimação, livros mágicos e bolsas peludas –formavam a combinação estranha de um microcosmos particular. Todos pareciam estar muito divertidos e acompanhavam, com um trejeito menos subtil e pulos ainda mais descarados, o ritmo pujante da música barulhenta.

Outro aspeto curioso era o recheio das casinhas. Atrás de mesas e bancas repletas de artigos diversos, mais coloridos que as cabeleiras artificiais, estava gente atarefada a atender aqueles que se detinham para observar o que estava a ser oferecido e acabavam por comprar alguma coisa. Noutras as paredes estavam cobertas de cartazes desenhados. Noutras ainda existiam sofás e mesas, com ecrãs onde se jogava a um qualquer jogo eletrónico rápido, o som a competir com a música oferecida.

O ambiente era festivo, uma espécie de aldeia esquisita encerrada dentro de um pavilhão, quase tão grande como a sala onde decorriam os treinos dos dois saiya-jin. Como tinha acontecido a magia da transformação de um ambiente despido para aquela confusão, era um mistério.

Vegeta crispou a testa, rebuscando uma explicação, reconstruindo os últimos instantes. Raiva, dor, um Final Flash, areia, uma passagem e agora aquilo. Desistiu de tentar encontrar sozinho a resposta e exigiu:

- Kakaroto, explica isto!

O outro gaguejou uma réplica:

- Eu… eu não… sei…

Vegeta largou a cortina, encarou-o impaciente, cruzando os braços.

- Não sabes, o quê?

E contra qualquer noção de bom senso, Goku desatou a rir.

- O que queres que eu te diga? Não sei onde estamos, Vegeta.

Calou o riso quando Vegeta o agarrou pela túnica.

- Então… É melhor sairmos daqui. Certo?

- Concordo. Mas… como?

Olhou para cima, como se tivessem vindo daí, pelo tal canal estreito que os fizera descer de um reservatório superior para um reservatório inferior. Vegeta também olhou para cima. Viram apenas uma estrutura metálica a suster a cúpula que taparia o pavilhão. Nada de buraco estranho que pudessem identificar como a porta que os levara até ali. Mas tinham experimentado claramente a sensação de que desciam, de que mudavam de lugar… ou mesmo de existência?

O príncipe largou a túnica de Goku. Voltou-lhe costas e confessou o que o apoquentava:

- Não gosto de estar aqui.

- Ah… Se calhar, isto não será tão mau como parece.

Goku espreitou pela nesga da cortina negra que ficara aberta. Tinha curiosidade em relação ao que estava a acontecer e não apreciava estar ali acoitado – como se ele ou Vegeta tivessem algo a esconder ou a proteger. Tinha um pressentimento, que não sabia definir se era mau ou bom ou sem qualquer classificação, que lhe contraía o estômago, que também o fazia hesitar, mas não o confessou pois sabia que poderia enervar ainda mais o companheiro que já estava tão enervado. A simples decisão de se mostrar poderia ter consequências imprevisíveis, mas também os poderia ajudar. A dúvida incomodava-o, à bulha com o pressentimento e ele detestava não poder avançar um passo. Era o próprio instinto que tantas vezes o guiara, que lhe barrava o caminho.

- O que achas que estão a fazer, Vegeta?

- Sei lá! Parece-me uma feira.

- Hai… Talvez algum deles nos possa ajudar.

A mão enluvada do príncipe pousou-lhe no peito, como um aviso.

- Não estás a querer dizer que vais pedir ajuda… a algum deles?

- Tens uma ideia melhor?

Ele queria comprovar se Vegeta também tinha a mesma mescla desagradável de sensações às voltas no cérebro – a racionalidade a impedir o instinto e o próprio instinto a querer ser racional. Não queria que fosse assim tão complicado. Ele nunca pensara muito para resolver problemas. Mas algo lhe dizia que já não estavam no Palácio Celestial e tinha a certeza que Vegeta sabia o mesmo.

- Não tenho. Mas não me apetece descobrir que vou ter de destruir isto tudo para proteger a minha identidade.

- Também receio isso. Mas… Acho que devíamos arriscar.

- E sair daqui?

- Tu não queres estar aqui e eu também não.

- E… sair para aquela barafunda?

- Pois, não estou a ver outra maneira de deixarmos este sítio. Não gosto de estar escondido.

- Eu também não. Hai, vamos sair, mas vamos fazê-lo discretamente.

- Hum…

A cortina abriu-se, de rompante. Os dois saiya-jn viraram a cabeça ao mesmo tempo e descobriram um rapaz a olhar para eles como se tivesse dado de caras com alguém indesejável. Vestia umas calças escuras, vincadas, uma camisa branca e uma gravata fina. Os cabelos acobreados espetavam-se para vários sítios diferentes, como um porco-espinho. Os olhos brilharam assustados e a tez era pálida, havia perdido a cor saudável depois de ter penetrado naquele recanto. Após o instante de surpresa, lançou um grito. Breve e rouco. A cortina fechou-se, o rapaz sumiu-se e os dois saiya-jin ficaram novamente recolhidos naquela espécie de esconderijo.

Goku afastou a cortina, deu dois passos, a chamar:

- Eh!... Espera, queremos falar contigo!

Vegeta seguiu-o, exclamando mais alarmado que zangado:

- O que é que estás a fazer, baka?! Deixa-o ir-se embora! Pareceu-me que se assustou connosco.

- E por que seria? – Goku apalpou o corpo. – Já não estamos rasgados, as nossas feridas ficaram curadas, a nossa energia reposta. Sinto-me bem e acho que não devemos ter assim um aspeto tão mau que assuste as pessoas.

- Não sei, Kakaroto. Isto não me agrada…

Houve quem começasse a notá-los. Algumas cabeças se voltavam e os olhares demoravam-se mais do que uma mera observação casual. Goku respirou fundo, tentando conciliar o tal pressentimento. O nariz detetou aromas interessantes e exclamou, esquecendo todas as dúvidas e receios, batalhas interiores entre razão e instinto, possíveis perigos:

- Ih! Cheira-me a comida!... Já comia… Vamos ver onde é que podemos trincar qualquer coisa?

- Baka! Esquece lá a fome. Prepara-te para sair e andar sempre a direito, sem estabelecer contacto visual com ninguém. Encontramos uma saída e, uma vez na rua, sobrevoamos o local para ver se encontramos algum ponto de referência.

Goku massajou a barriga.

- Mas é que eu tenho fome… Depois de treinar contigo, costumo comer.

- E onde queres tu comer? – indagou Vegeta exasperado.

- Deve haver alguma lojinha aqui dentro onde se vende o que está a cheirar tão bem.

- Cheira-te bem?

- Não acredito que não tenhas fome.

- Tenho fome, sim. Mas numa situação de emergência como esta não me parece que comer seja o mais importante. – Espetou-lhe um dedo no esterno. –Compreendido, Kakaroto?

- Hai… – E acrescentou contrariado: – Mas cheira bem.

Vegeta respirou fundo, a controlar as emoções.

- Não cheira nada bem. Cheira a comida, simplesmente.

- Tenho fome.

- Eu sei que tens fome! Podes parar com isso?!

Falava alto, já não estavam no esconderijo protegido pela cortina negra e o facto de estarem visíveis, embora ligeiramente afastados do fluxo de pessoas que percorria as ruas entre as casinhas, fazia com que houvesse cada vez mais gente a reparar na presença deles. Vegeta sentiu-se incomodado. A curiosidade não lhe parecia nada normal, apesar de o espaço estar pejado de gente com penteados esquisitos e roupagens espampanantes.

- Vamos embora – insistiu nervoso.

- Hai.

O rapaz que os havia descoberto apareceu numa esquina, junto a uma casinha onde se expunha roupa estampada. Trazia outro rapaz, com cabelo verde, e apontava frenético para eles. Vegeta franziu a sobrancelha, desconfiado. Deu meia volta, fazendo sinal a Goku que o seguisse. Para escapar da atenção do rapaz que lhe parecia cada vez mais exagerada reentrou no esconderijo, correndo a cortina negra. Goku perguntou-lhe:

- Então… Não íamos à procura de uma porta para sairmos daqui?

Vegeta fechou a boca numa linha dura. Queria pensar, mas o cérebro estava bloqueado.

- Não gosto da forma como as pessoas olham para nós – confessou.

- Eu também não, mas devem achar-nos diferentes ou qualquer coisa assim.

- Diferentes?! Ao menos não estamos vestidos como se fossemos para um baile de máscaras!

- Bem, estamos vestidos para combater…

- Não é a mesma coisa, Kakaroto! Nós somos guerreiros.

Decidiram-se e abriram a cortina negra com um gesto dramático, cada um a segurar na sua ponta. Como numa entrada triunfante num palco e assim que fizeram o gesto tinham uma pequena audiência a contemplá-los. Coraram imbecilmente e contra o que era mais ajuizado, quedaram-se estáticos, deixando-se contemplar e escrutinar pelos admirados espetadores. E só depois de se terem revelado, contra o que era mais ajuizado fazer naquele instante, é que os dois saiya-jin conseguiram mover as pernas e começaram a andar para sair daquele lugar que os assustava e confundia, na mesma medida, cabeça baixa, acompanhando cada passada.

A música barulhenta insistia em ferir-lhes a audição. Passaram por um palco onde um casal adolescente lutava um contra o outro empunhando umas lanças compridas cujos extremos estavam cobertos por rolos esponjosos, utilizadas como arma para derrubar o adversário. Um jogo que Vegeta achou ridículo, mas que deveria ser divertido, pois a rapariga guinchava sempre que acertava um golpe e se desviava dos ataques do namorado. Não conseguiram ir muito mais longe. Contra o que esperavam, foram barrados por um homem coadjuvado por duas mulheres que, quase que por precaução, se deixaram ficar um nadinha atrás do homem, uma delas a roer as unhas. Descobriram, ligeiramente afastado, o rapaz dos cabelos acobreados. Fora ele que alertara aquele trio que queria meter conversa com eles. Vegeta mostrou os dentes ao rapaz que se encolheu. Goku percebeu a ameaça e adiantou-se, colocando-se entre o príncipe e a pequena comitiva. Estava tão nervoso quanto Vegeta e a maneira de disfarçar a insegurança foi sorrindo como um pateta. Tentou parecer simpático. Então, antes de o homem dizer alguma coisa, Goku abriu a boca e disse naquele tom esganiçado que usava sempre que estava atrapalhado e não o queria demonstrar:

- Yo, chamo-me Goku e… Bem, parece que eu e o meu amigo estamos perdidos. Ele não quer pedir ajuda, mas eu acho que devemos pedir ajuda, porque não fazemos a mínima ideia de onde estamos…

O homem fez uma careta. Vegeta avisou-o entre dentes:

- Cala-te. Acho que ele não está a gostar do que lhe estás a dizer.

- Honto? Mas se só lhe estou a pedir ajuda.

- Vamos embora. Não precisamos da ajuda deles, já te tinha dito.

 - Mas eles parecem ser daqui e talvez nos possam dizer como podemos voltar para casa – lamuriou-se.

- Argh, Kakaroto! E achas sinceramente que eles te vão indicar o caminho até… ao Palácio do kami-sama? Talvez apontando com um dedo para o céu?

Goku pestanejou.

- Hum… Seria uma boa hipótese. Voar até conseguirmos…

- Se ainda não te apercebeste, parece-me que estamos um bocadinho longe demais para chegarmos a casa apenas… voando!

- Não quero discutir contigo, Vegeta. Só quero sair daqui, tal como tu.

- E sabes como podemos fazer isso? – O príncipe cerrou os punhos. – Saindo deste lugar infernal, que me está a complicar com os nervos, e pelo nosso próprio pé!

- Espera… Acho que te estás a precipitar.

- Vens, ou não?

O homem sussurrou algo à mulher que roía as unhas. Ela assentiu e saiu dali numa corrida. Os olhos de Vegeta seguiram-na, bufando e rosnando. Resolveu ignorá-la e insistiu:

- Vens, ou não, Kakaroto?

- Devemos manter-nos unidos nisto… acho eu.

- Eu não vou ficar. E de certeza que não espero pela ajuda desses… infelizes! Vens, ou não?

- Eh…

Goku hesitou. Apontou para o homem, olhou para o homem, olhou para o príncipe. Tinha-lhe feito a pergunta três vezes, o que não era normal, mostrava mais paciência do que realmente tinha. Significava que a situação confundia-o mais do que iria alguma vez admitir. Mas Goku gostaria de poder confiar naquelas pessoas. Afinal, tinham vindo ter com eles, quereriam alguma coisa deles e, de algum modo, confiava que aquele homem iria ajudá-los.

A hesitação tornou-se insuportável e a paciência, tão arduamente cultivada, esgotou-se. Vegeta esbracejou impaciente.

- Argh!

E sem esperar a réplica, foi-se embora. Goku fez um esgar, ficou preocupado. Olhou para o grupo que observara a discussão sem intervir, por delicadeza, ou por receio. Mostrou-lhes o mesmo sorriso de há pouco, tentando arrancar-lhes, pelo menos, uma interjeição, mas o homem mantinha-se firme na sua fleuma, a primeira mulher no seu mutismo e o rapaz, arredado do grupo, na sua palidez. A segunda mulher, a roedora de unhas, ainda não voltara.

Goku disse:

- Eh… O meu amigo vai voltar. Não se preocupem, ele é mesmo assim.

Tentou encontrar Vegeta, mas este já se tinha perdido entre a multidão. E como ninguém lhe respondia, deduziu que não o podiam ajudar. Acenou timidamente com uma mão, mantendo o sorriso amarelo, a mostrar os dentes todos, os olhos meio fechados. Deu um passo atrás e preparava-se para seguir o companheiro, pois achava que não o devia perder de vista, acreditava que apenas juntos conseguiriam superar aquela prova e que aquilo faria parte dos desafios da sala especial. Acreditava também que Dende deveria estar a observá-los, a ver se seriam capazes de ultrapassar as dificuldades e as armadilhas. Havia muitos potes e espelhos mágicos espalhados pelo Palácio que facultavam ao Todo-Poderoso uma visão global do mundo. Deu um segundo passo atrás, a boca a desfazer o sorriso e a preparar-se para verbalizar uma despedida quando a segunda mulher, a roedora de unhas, regressou. Trazia um homem baixo, hirto, cabelo grisalho e uns olhos bondosos num rosto que, à primeira impressão, seria classificado de severo. Os ombros encurvavam-se para dentro e tinha os braços pendurados ao longo do corpo, terminados em dois punhos crispados. Goku pestanejou.

A mulher conduziu o homem para a frente. Este dobrou-se numa vénia e Son Goku devolveu-lhe o cumprimento.

- Koniichi-wa. Chamo-me Namura. Posso ajudá-lo? – começou o homem num tom cordial.

Goku engoliu em seco.

O homem, as duas mulheres, o rapaz, olhavam-no ansiosos. Porque não conseguiam falar com ele e não tinham percebido uma palavra do que ele lhes dissera, tinham chamado um tradutor. E o calafrio que lhe subiu do estômago contraído gelou-lhe o sangue.

Aquela missão poderia revelar-se complicada. Mesmo com Dende a vigiá-los.

E procurou, mais uma vez, por Vegeta, esticando o pescoço, varrendo a multidão com o olhar. Desistiu, encarou o homem baixo. Acenou com a cabeça e respondeu.

- Hai, claro que me pode ajudar. Onde é que eu estou?


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Depois da barriga cheia, começa a diversão.



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