O Filho Do Olimpo E A Faca Da Noite escrita por Castebulos Snape


Capítulo 6
Uma Festa Terminantemente Inesquecivel


Notas iniciais do capítulo

serio, eu sei que demorei, mas é que eu sou pobre e só uma pessoa comentou (valeu Bi!) e isso me deixou triste o baste para me impedir de postar!



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O salão de festas do Olimpo era lindo e enorme (por que tudo ali era enorme? Isso é exagero demais, egocentrismo demais); as mesas, cerca de trinta delas, estavam em um espaço logo em frente a um palco com as nove musas afinado seus instrumentos, isso nem tomava metade da sala, o outro espaço era a pista de dança, lugar que e não iria por meus pés. Depois do salão tinha uma sacada que dava direto no jardim. Era de se perceber que muitos deuses, ninfas, etc. desmaiem de bêbados porque tudo era rodeado de quartos com camas e tal.

Eu me sentei em uma das mesas tirei um livro da mochila (O banquete - Platão) e tornei a lê-lo, as Caçadoras conversavam e riam atrás de mim.

Eu esperava que elas realmente me ignorassem. Sempre achei que ficar bem longe de quem não gosta de você fosse uma atitude esperta, principalmente se as pessoas que não gostam de você são unidas, tem flechas muito afiadas e são ótimas com elas.

Por que não podemos comer um pouco?, perguntou Vox suplicante, Não comemos dês do Rio.

Não, respondi, não estou a fim de comer, me deixe lendo.

– Então? – perguntou uma voz estridente e alegre atrás de mim – Você toca?

Eu me virei e me vi com o rosto a centímetros do rosto de uma garota completamente desconhecida, que sorria. Me sentei ereto afastando nosso rostos.

– Hã... Não. – respondi espantado com seus olhos alegres.

– Ah! Que pena. Apolo ainda não ativou a bênção. Meu nome é Tália. A gente se vê. – ela me deu as costas e girou alegremente de volta para suas irmãs.

Se você não entendeu nada, precisa saber; eu também não. Se você entendeu; explique-me! Sinceramente, mesmo depois de conhecer de verdade aquela criatura anormal, eu ainda tenho certas duvidas sobre o que ela estava falando. E nunca tive gente (no caso musa) normal na minha vida!

Eu não estava fazendo nada inédito ou interessante, então resolvi prestar mais atenção nelas.

A mais velha das musas, disse Vox, e responsável pela poesia, poesia épica, ciência em geral e expressão. Meu olhar caiu em uma garota de quinze anos que lia e afinava o violão ao mesmo tempo. Caliope

A função de Clio é inspirar os governantes e restabelecer a paz entre os homens. É especialmente devotada. É a musa da história e da criatividade, aquela que divulgava e celebrava realizações. Ela preside a expressão, sendo a fiadora das relações políticas entre homens e nações. Identifiquei-a como a musa sentada afinando uma guitarra, ela ficou minutos em uma mesma corda. Estranha.

Érato. É a musa da poesia lírica e dos hinos. Ela tinha uma lira nas mãos e sorria de modo caloroso e delicado.

Euterpe, a Doadora de Prazeres. Era a musa da Música. No final do período clássico, foi nomeada a musa da poesia lírica. Alguns consideram que tenha inventado a aulos. Essa tinha ma flauta-dupla na boca e era lindíssima.

Melpomene Era a musa da tragédia, apesar de seu canto alegre. Essa parecia triste mesmo que suas irmãs a olhassem com alegria. Usava coturnos de ouro maciço, como os atores clássicos usavam na antiguidade.

Polímnia ("a dos Muitos Hinos"). Era a musa da poesia sagrada e tinha um ar pensativo. Também era considerada a musa da geometria, meditação e agricultura. Ela estava sentada lendo um livro; já tinha terminado todo seu trabalho.

Tália era a musa da comédia. Eu olhei para a menina que tinha ido falar comigo. Ela tinha cabelos negros e olhos calorosamente castanhos, sua pele era pálida, mas brilhante, o rosto era delicado e seu sorriso era tão bom. Ela reparou em mim, sorriu de volta e acenou. Eu consegui até dar um sorrisinho.

Terpsícore era a musa da dança. Imaginei que fosse a que rodopiava pelo palco fazendo seu vestido ir com ela como se fosse feito de ar. Tália pareceu se divertir com a alegria de sua irmã e passou a bailar junto a ela.

Urânia era responsável pela Astronomia. A ultima que restava em um vestido belíssimo que quando ela se mexia brilhava em mil tons de azul.

Os convidados começaram a entrar então eu achei que seria menos estranho eu parar de encarar, não queria parecer um menino bobo que fica olhando para garotas bonitas com se não houvesse amanhã.

Os deuses, incluído Hades e Hestia, entram um por um indo para lugares diferentes e distantes. Apolo juntou-se às musas no palco, Afrodite arrastou Hefesto para uma mesa e começou a beijá-lo (Bizarro! Essa imagem seria minha punição nos Campos de Punição), Ares se sentou de frente para aquilo e fez aparecer na sua frente um copo bem cheio de uísque.

Isso não vai terminar bem, pensei

Não me importa, respondeu Vox, Estou com fome. Muita fome. Coma, homem, coma.

Não enche..., seja lá o que você for, não enche.

Zeus e Hera se sentaram à mesa principal com Atena, os três estavam discutindo , implorei com todas as minhas forças que não sobre mim, mas era bem provável que esse fosse exatamente o assunto. Minha mãe se uniu a suas Caçadoras, o lugar a que pertencia.

Para falar a verdade quem realmente me interessava ali era Hades, só que eu não o vi em lugar nenhum. Sua esposa estava conversando com a mãe, eu o vira beijá-la e entregá-la a Deméter, mas depois disso...

Resolvi esquecer aquilo logo e reconhecer eu não era tão importante para o Senhor dos Mortos com certeza. Por que ele se importaria com um mortal? Pior: eu estava vivo e desmerecia a minha própria morte.

Achei melhor descobrir o que tinha de legal naquele lugar. Percebi que cada um escutava a musica que queria, eu, por exemplo, continuei sentado ouvindo “As Quatro Estações” de Vivaldi. Meu copo se encheu de café com cafeína extra e muito açúcar quando pedi e estava tudo bem pra mim.

Depois de alguns minutos ali meus pelos se arrepiaram e minha pele formigou. Olhei para o lado e dei de cara o Hades segurando seu elmo e me encarando nos olhos como se nada estivesse acontecendo.

Eu não me assustei nem fiquei surpreso; era para isso que servia o elmo mesmo. Mas acho que ele reparou na minha cara de: ta-tudo-muito-bem. Pra falar a verdade devia estar de: me-dá-um-autografo?

– Você quer morrer, rapaz? – perguntou ele com uma sinceridade e uma seriedade impressionante. Não era da vida dele que ele estava falando!

Eu sei. Parece uma ameaça, mas, não é. Acredite. Eu sabia que depois de milhares de anos ele devia ter ficado muito rancoroso e extremamente ameaçador, sem contar que ele devia detestar heróis. Amaldiçoei com todas as minhas forças Heracles por isso. Mas mesmo assim esse é o tipo de pessoa com que me dou e todas as pessoas que eu admiro são assim. Olhe Hefesto, por exemplo, dê uma plantinha a ele e descubra como é fácil matar algo que não incomoda a ninguém. Eu cometi esse erro há alguns anos. Pobre coitada. Era uma Margarida. As plantas não gostam de óleo, acho que ele entendeu isso, depois que eu expliquei como é uma planta por dentro, depois ele construiu um autômato com essa base, é bonitinho, eu chamo de Larry. Enfim essa é uma outra historia!

– Hã... Não senhor – respondi tentando medir cada palavra pensando que, provavelmente, ele fosse gostar de mim – Não agora, mas é inevitável, não é? Pra mim tanto faz – impulsivamente dei de ombros –, já vai acontecer mesmo, certo?

– Interessante – ele refletiu por alguns segundos coçando a barba preta e desgrenhada – Nunca vi um humano tão... acostumado com a idéia da morte.

– Acostumado..., não. Só que parei de me importar. Tanto faz os Elíseos, Campos de Punição, Asfódelos. Seja lá o que for eu vou merecer, não vou?

Ele me olhou como se fosse a coisa mais curiosa que ele já tinha visto. Imaginei se mais alguém respeitasse tanto o julgamento do Submundo. Ele deu de ombros, soltou uma risadinha rouca e irônica e esticou o braço até mim.

– Acho que você realmente merece isso.

Antes que eu pudesse perguntar o que, ele estalou o dedo perto do meu ouvido. Minha cabeça começou a zunir e eu senti um formigamento na coluna. Eu pisquei com força e tudo se dispersou.

– O que foi isso? – perguntei tentando parar de tremer.

– Sua mãe não lhe falou sobre as bênçãos? – assenti – Você pode atravessar coisas materiais e não materiais, como um de meus fantasmas. É só se concentrar.

Eu tentei imaginar aquilo e minha mão ficou transparente. Meu susto só não foi tão grande porque ele foi encoberto pela emoção de sentir o Senhor dos Mortos colocar a mão em meu ombro.

Tentei colocá-la na mesa e ela a atravessou.

– O presente – disse ele –, daremos no fim da festa.

– Obrigado, senhor. Muito obrigado mesmo!

Ele me contou tudo sobre o Mundo Inferior e como é difícil comandá-lo, acredite ou não, passei a respeitá-lo mais depois que ele terminou. Contou-me também como Thanatos e Carontes jogam pôquer na entrada para mortos nos dias de pouca movimentação (muito raros nesse milênio). Que as fúrias não passam de três velhas ressentidas que passam o dia reclamando com os mortos condenados (o que ele considera a mais terrível tortura dos Campos de Punição). A alimentação de Cérbero (isso eu me recuso a comentar. É grotesco). E Perséfone... Ah, Perséfone! Ele passou meia hora falando como ela era esplêndida e perfeita, imaginei que na meia hora seguinte seria Deméter a falar da filha, mas, por sorte, isso não aconteceu, Demeter não me pareceu a melhor das companhias.

– Talvez se quiser me visitar, posso te mostrar tudo isso – disse ele me encarando com cuidado – Ficaria muito feliz em conversar com você mais um pouco, longe dos meus, nossos parentes, é claro – olhei-o tentando conter minha emoção um pouquinho. Uma expressão triste preencheu seu rosto – Se você não quiser ir eu vou entender...

– É claro que quero!..., senhor – ele recuou me olhando assustado foi como dissesse: “É agora que ele me morde! Será que passa raiva?” – Visitar a Terra dos Mortos seria a coisa mais incrível do mundo. É meu sonho desde que eu li sobre ela.

Ele pareceu surpreso, não parecia que realmente esperava aquela resposta, mas também pareceu feliz por eu ter dado ela. Ele deve ter pensado que eu era como seus irmãos e o resto do pessoal, que falavam mal do pobre deus só porque ele é o Deus dos Mortos. Na época ele não sabia que era exatamente o contrario e que algumas pessoas agiam assim comigo por que eu era o garoto das historias antigas.

Imagino que por isso Hades foi, provavelmente, a melhor pessoa com quem já conversei. Nós tínhamos as mesmas opiniões e ele me escutou atentamente (ainda não acontece muito). Acho fui o único que falou de verdade com ele. O que é estranho. Hoje em dia acho que isso foi a melhor coisa que já me aconteceu e ainda me arrependo do tempo em que ficamos separados, mas eu precisava de tempo; foi a pior época da minha vida. Bem, ainda não esta na hora de falar sobre isso.

Eu poderia adorá-lo com todas as minhas forças e queria ao máximo ser seu amigo (ou quase isso), mesmo que isso me parecesse um sonho muito distante, mas, é claro, tinha o devido respeito sempre respondia: sim ou não, senhor ou claro meu senhor. Isso, estranhamente, pareceu irritá-lo, não que o ser inteligente aqui tenha percebido alguma coisa e continuei a fazer isso até que ele explodiu:

– Meu nome é Hades! Não meu senhor ou senhor! Chame-me de Hades, Jack.

Devo ter aberto o maior sorriso do mundo quando ouvi meu nome e apenas assenti mais feliz que nunca. Ele deu uma risadinha rouca e meu deu um tapinha no ombro.

– Você é um bom menino. E é bem vindo no Mundo Inferior. Agora preciso salvar Perséfone de Deméter. Sabe, exercer meu direito.

Por fim ele desapareceu. Não sei com o que estava mais feliz; o poder ou com o próprio Hades.

Olhei para o palco e Tália estava falando no ouvido de Apolo, ele assentiu e olhou para mim sorrindo. Eu levantei uma sobrancelha, desviei os olhos e procurei minha mãe.

Ué? Aonde ela foi parar?, pensei.

Procurei na mesa das Caçadoras, no salão de dança (improvável, eu sei, mas não custava nada tentar) e não a achei em lugar nenhum.

Só a encontrei depois de alguns minutos, quando olhei para a mesa principal, Hades havia se unido à discussão como um ouvinte. E minha mãe, que surgira ali do nada, estava argumentando alguma coisa com Atena que parecia convencida de outra coisa e inabalável.

Eu esperava que a discussão não fosse sobre mim. Tentei não parecer muito interessado na conversa (e como eu estava!) e voltei a fingir ler.

Pensar que não estava ali não foi muito bom porque se eu não estivesse ali eu estaria em casa e Amanda iria para lá conversar comigo e depois eu a levaria para passear e comer alguma coisa.

A alegria toda tinha ido embora. Minha mente estava fora do livro. Estava na casa dos pais de Amanda. Eu já tinha ido lá para brincar quando era pequeno e fingia estudar lá todo o fim de semana. Ela era filha única, sua mãe era tão solitária e eu tinha certeza que o que realmente segurava o casamento dos dois era a filha.

Agora, pensei, a dor vai segura-los juntos.

Não é nossa culpa. Não poderíamos saber que subindo lá íamos causar aquilo.

Valeu, Vox! Você me fez sentir tão melhor que acho que nem vou começar a chorar!

Imaginei a mãe dela (uma pessoa muito simpática e legal, que tinha feito sanduíches para mim, me chamado de querido e sempre achava um jeito de falar mal da escola) chorando na cama dela sem ter amparo de ninguém, tão sozinha quanto eu em sentia.

Seu marido provavelmente bebia num bar em algum lugar, ele quase nunca bebia. Amanda dizia que ele maneirava para dar um bom exemplo para ela. Agora ele não tinha ninguém para dar o exemplo, devia estar procurando um jeito de justificar o que tinha acontecido e porque tinha acontecido com a filha dele. Eu, mesmo sabendo exatamente o que tinha acontecido, o pensava o mesmo e sentia o mesmo.

Os dois me apoiavam quanto aos assuntos escolares diziam que se não fosse por mim eles já teriam tirado a filha deles daquele lugar. Eu argumentava e dizia que assim eu ficaria sozinho no inferno rodeado de demônios. Bons tempos quando brincar com problemas parecia tão seguro.

Não pude deixar de permitir que a culpa me destruísse aos poucos por dentro, eu merecia aquela dor e a aceitava de bom grado. Era minha culpa eles estarem sem uma filha para abraçar, era somente minha culpa que eu me sentisse tão sozinho, como nunca havia ficado, afinal, ela sempre me reconforta na escola quando me sentia mal por qualquer coisa.

Amanda tinha sido minha família, minha irmã e, se dependesse dela, nós seriamos mais que isso. Eu sempre tentei detestar a idéia de tê-la como minha namorada afinal isso deveria parecer nojento, não é? E ela sempre escondeu que queria ser. Bem, lá no fundo, eu também queria, talvez eu... Ergui minha cabeça e nem percebi direito Atena sentada na minha frente me observando, descobri o porquê de me sentir tão mal e tão sozinho.

– Eu a amava.

Atena levantou uma sobrancelha e eu voltei a encarar o livro deixando-me abater pela idéia de realmente ter perdido mais que uma irmã.

– O banquete, de Platão. – disse a deusa tentando chamar minha atenção – Não é um livro que se deve fingir ler.

Lancei um rápido olhar para a mesa principal Zeus, Hades e Hera me olhavam e minha mãe olhava a mesa, infeliz. Atena soltou um suspiro.

–Você tem uma mente muito boa e sincera. Parece que realmente se importava com a garota que morreu. A maioria das pessoas tentaria esquecer, mas tem algo em você bom o bastante para não se importar no próprio sofrimento e se lembrar da família dela.

– T-tem algo errado nisso, minha senhora? Foi indiretamente, bem, nem tanto, mas foi minha culpa ela ter morrido. Não nego. Ela poderia estar em casa se perguntando que livro iria comprar no Natal como presente então comprar outro para mim por que assim nos dois leríamos coisas diferentes e poderíamos trocar para sempre ter mais assunto para conversar na sala de aula. E ela ficaria feliz por pensar nisso.

Eu estava falando mais para mim do que para ela. Melancólico eu sei, mas eu era só uma criança com medo e infeliz.

– Como isso pode ser sua culpa? Mesmo que “indiretamente” você não poderia evitar nada. E como assim conversar durante a aula, menino?

– Se não fosse por meu cheiro a cobra nunca teria ido lá– argumente me inclinado para frente instintivamente, adorava uma boa discussão –, para começo de historia. E poderia ter dito para ela ficar na biblioteca e não sair de lá. Poderia ter enfrentado aquilo no chão e as telhas não teriam quebrado – pensei na sua última frase – E tem aulas e professores que não valem à pena e o tempo perdido.

– Você não pode evitar seu cheiro, não poderia impedir que alguém que se importa de agir com uma ordem e teria morrido se não fosse o telhado. – ela riu das duas discussões paralelas – Que tipo de professor é esse?

– Então deixaria que ela me engolisse e a cortaria de dentro para fora – senti minha voz ficar rebelde, já estava na beira da cadeira; pronto para levantar. Meu corpo estava reagindo aos rumos da discussão, tentei relaxar – Morreria e deixaria Amanda viva. Gosto de me importar e fazer o máximo par cuidar das pessoas a minha volta, minha senhora. Proteger sua integridade psicológica e física. – flexionei o queixo, orgulhoso – Como disse no Conselho não me importo com minha morte ou meu sofrimento, mas não consigo suportar o de ninguém que amo – abaixei a cabeça e soltei um sorriso desanimado – Sabe, eu já li sobre defeitos mortais, e tal, imagino que esse seja o meu. E... – ri e abaixei os olhos – nenhum dos meus professores vale à pena.

Ela me encarava, eu podia senti, não tive coragem de levantar os olhos, não sei muito bem por que.

– Nós queremos conversar com você sobre seu treinamento. – disse por fim, mudando completamente de assunto.

Ergui a cabeça surpreso. Do que diabos ela estava falando?

– Treinamento... Que treinamento? Quem quer conversar?

– Nós – Uau, agora eu sei quem é, pensei – O treinamento que todos os heróis recebem. Afinal, você é um herói, não é mesmo?

Voltei a abaixar minha cabeça. Meu queixo travou involuntariamente e não pude impedir meu punho de se fechar instintivamente sobre a mesa, Atena me encarou parecendo ultrajada.

– Os heróis do passado – comecei a explicar olhando para a toalha de mesa exageradamente branca– eram cruéis, egoístas, orgulhosos, usavam quem precisavam usar para conquistar suas missões. E o pior é que eles levavam todo o crédito e conquistavam a fama como se fossem grandes coisas.

Eu levantei os olhos para a deusa e me espantei ao perceber nela o mesmo olhar que vi em Hades; curioso. Então abriu um sorriso animado (nada bom. É claro que não interpretei desse jeito na época, mas hoje eu sei; não fique feliz quando um deus ri de alguma coisa não óbvia, provavelmente você não vai gostar).

Ela estendeu a mão e tocou meu braço e, em uma fração de segundo, eu estava na mesa principal do lado de Zeus e de frente para Hera. Minha cabeça começou a doer.

Eles ficaram me olhando com certa preocupação e Atena tocou novamente meu braço, preocupada. Então percebi que minha cabeça estava doendo, bem, por que eu não estava respirado. Soltei uma baforada.

– Semideus – disse Zeus formalmente –, você precisa de treinamento para se defender no mundo e... já que jurou defende-lo... O Olimpo – (Traduzindo: “Não precisamos de você. Mas já que você jurou, vai fundo. Se divirta sendo inútil. Só não nos atrapalhe.” Magoou, de verdade) – Nós decidimos no Conselho que você treinará com Quíron, o instrutor imortal de heróis. Este ano.

Pensei naquilo. Não lembrava quem era Quíron e Vox estava ocupado demais xingando Zeus para me dizer, O.K., poderíamos resolver isso depois. Treinar... é isso seria um problema porque tudo que exigia de mim treino eu abandonara: Kung Fu, violão, piano, judô, xadrez, boxe... outra coisa que podia ser resolvida mais tarde. Este ano...

– O ano inteiro? – exclamei fazendo Zeus dar um salto – Senhor, eu prometi à minha mãe humana que estaria lá para o Natal é a época favorita dela do ano e... – fui obrigado a segurar o choro, de novo, ao que me parecia ver uma amiga morrer me deixou muito emotivo. Só em pensar que eu ia fazer minha mãe sofrer me deu agonia.

Sentimentalista!, exclamou Vox, Só você mesmo para chorar aqui, na frente dos Senhores do Céu.

Você não se importa com a mamãe, então, Vox? Sempre soube que você era um psicopata.

É claro que me importo com a mamãe. E nos vamos passar o Natal lá. Só não chore. E não me chame de psicopata.

Por que? Eu amo esse som: psicopata, psicoterapeuta, psicopatia, psicótico, psicólogo, pseudo -alguma coisa... Psi!

– Zeus – disse Hera suavemente. Ele a olhou como cara de “Ai, droga!” – como deusa da maternidade, exijo que o garoto, pelo menos durante esses anos, possa ir ficar com a família durante Natal e o Ano Novo.

Ele a olhou e os dois tiveram uma discussão curta pelo olhar.

Ele vai acabar morrendo, argumentou Zeus com os olhos arregalados.

Qual a probabilidade de algum monstro chegar até lá?, ela olhou-o de cima como se tivesse toda a certeza.

– A mesma do Píton chegar até lá – respondeu ele em voz alta – Uma semana sem proteção é de mais. Ele tem sorte de ter sido por treze anos protegido por nós.

Ótimo. Eu o protegerei.

Mas..., ele abriu a boca sem ter o que falar.

Hera arregalou os olhos parecendo mais ameaçadora que nunca.

– Esta bem! – rugiu ele.

– Obrigado senhor– disse eu de mansinho pensando um pouco nos últimos minutos. – Hã, com licença, senhor? A senhora Hera disse: anos?

– Vocês não me deixaram terminar! – resmungou ele. Hera riu, paciente, como se Zeus fosse seu cachorrinho fofo. Ele não era fofo... – Depois desse ano cada um de nós vai passar seis meses treinando você de maneira mais... Como posso dizer?... Particular.

Eu ficaria feliz se não estivesse com medo; todos os deuses pareciam não ter nada contra mim, afinal, eu ainda estava vivo, mas eu não tinha absoluta certeza (de eles gostarem de mim, não de estar vivo, e estou vivo!) Seis meses... convivi muito menos tem com gente que teria matado se tivesse chances. Nem seis segundos de vez em quando. Mas eu não era um deus. Eles podiam me matar depois dos três primeiros segundos se eu respirasse de jeito irritante.

Um treinamento particular com Ares com certeza não era minha definição de diversão, nunca pensei em entrar para o exército: parecia estúpido. Com Hades seria legal: seis meses no Mundo Inferior. Mas eu provavelmente não sobreviveria a seis meses com Dionísio. E Hera...

Melhor não pensar nisso agora, disse a mim mesmo.

– Será em ordem alfabética – disse Atena, louca para entrar na conversa – Menos Hades e Hestia, é claro.

Eu não entendi o “é claro”, é claro, mas tentar entender a mentalidade divina é loucura. E eu não era tão louco assim.

Ela me entregou um papelzinho com o nome dos deuses escritos a mão (em uma letra perfeita que me deu inveja) em ordem:


Afrodite-Apolo


Ares - Ártemis

Atena - Deméter

Dionísio - Hefesto

Hera - Hermes

Posidon - Zeus

Hades- Hestia


Oito anos. Oito. Minha vida estava, definitivamente, acabada.


Peguei minha listinha de deuses e comecei a escrever no verso com uma caneta que tinha em meu bolso, na verdade ia enfiar aquele papel em meu bolso de qualquer jeito, mas precisava de um pretexto para ficar um tempo pensando sem olhar os deuses. Depois enfiei no bolso e me voltei para os deuses.

– Sem mais escola. Sem vida social ou qualquer outra coisa.– dei de ombros tentando parecer indiferente – Já era mais ou menos assim mesmo. Olimpo tem biblioteca, não tem? Eu ia adora dar uma passada por lá, se fosse possível, é claro, não quero ser um estorvo.

De novo, disse Vox, é com isso que você se preocupa? A Biblioteca do Olimpo?

Cala a boca, seu lerdo!

– Sim, hã, claro podemos providenciar isso. – respondeu Zeus com a testa franzida olhando de soslaio para Atena – Mas sobre sua vida pessoal... você fez um juramento não poderá mais viver uma vida normal.

Dei de ombros novamente.

– Agora... – disse Atena com estranheza – nossas bênçãos.

Ela se esticou até mim (eu insisti em recuar nos primeiros segundo, mas depois desisti) e estalou os dedos em meu ouvido. Dessa vez não fiquei em transe ou tremi só comecei a ver as possibilidades em uma fuga ou luta. A mesa à esquerda seria facilmente empurrada. Sempre é bom manter distancia do fogo, mas ele pode ser usado como arma. Aquela dríade poderia estragar alguma coisa...

– Sabedoria – disse a deusa – em guerra e na vida, achei que talvez isso tirasse parte da imbecilidade de Ares de dentro de você.

– Obrigado.

Hera me tocou no rosto como se esperasse por isso já há um tempo e depois tocou a parte interna da minha orelha.

– Lealdade e fidelidade – disse ela – Com amigos, familiares, amantes...

Zeus resolveu ignorar a mensagem subliminar por dentro da bênção e eu achei que seria muito bom não estar presente se eles começassem a brigar.

– Minha bênção esta diretamente ligada ao presente então até o final da festa. – disse ele.

Olhei esperançoso para Ártemis e me inclinei um pouco para frente, mas ela negou com a cabeça.

– Mais tarde.

Assenti infeliz com a cabeça.

– Querido – chamou Hera, eu olhei tentando não parecer assustado – vá comer alguma coisa e pode chamar Ares pra mim?

Levantei-me prontamente. Louco para sair de perto da Rainha dos Deuses. Mulher sinistra...

– Sim, senhora.

Eu fui até a mesa de Ares sem prestar a mínima atenção para onde ia, quando cheguei à mesa ela estava vazia e o copo de uísque também.

Nada bom, pensei.

Olhei em volta; ele não devia ser difícil de achar, era alto e largo, e pouco discreto e barulhento.

– Procure nos quartos – disse uma voz rouca vindo de três mesas a diante. Era Hefesto sozinho em sua mesa lendo alguma coisa.

Eu resolvi escutá-lo.

– Valeu!

E corri para os quartos.

Olhei em cada quarto, com cuidado para não fazer barulho. Só alguns estavam com hóspedes desmaiados. A festa estava apenas começando.

Eles estavam discutindo no ultimo quarto; Ares e Afrodite. Não alto o bastante para chamar a atenção, mas foi o bastante para me atrair. Ele a segurava pelo braço e a sacudia de vez em quando:

– Na minha frente? – gritou. – Eu pelo menos mereço um pouco de respeito, Afrodite!

– Ele é meu marido. E eu o amo! – ela tentou se soltar esmurrando seu peito, mas ele só segurou mais forte e chegou o seu rosto para mais perto do dela – Você esta me machucando, Ares!

– Você me ama, não a ele. – ele passou o braço entorno dela e a puxou para perto deixando os rostos dos dois a centímetros um do outro.

Ele a dominaria facilmente se eu não interviesse só que eu não poderia lutar com ele. Mas Afrodite...

– Diga que me ama – sussurrou ele em êxtase – Diga, Afrodite. Diga!

Afrodite, que já lacrimejava um pouco, desistiu de lutar e começou a abrir a boca para fazer o que ele mandava. Eu não ia deixar que passasse por aquilo.

– Hã..., – Não acredito que vou fazer isso, pensei – Pai?– perguntei olhando com indiferença quanto à cena. Ele deu um pulo quando ouviu minha voz invés da dela – A senhora Hera mandou dizer quer falar com o senhor.

Ele assentiu e tocou os lábios de Afrodite com mais delicadeza do que eu imaginava que fosse possível. A mão que segurava o braço afrouxou um pouco e ele recuou olhando para si mesmo e parecendo ou tentando parecer arrependido e envergonhado.

– Conversamos depois – e desapareceu.

Afrodite olhou perdidamente para as paredes depois passou alguns minutos arrumando seu vestido, respirando fundo algumas vezes e enxugando as lágrimas.

– Você esta bem? – perguntei um pouco indeciso.

Ela me olhou, surpresa, talvez tivesse achado que eu fora embora com Ares.

– E você se importa, filho de Ártemis?

Não pude deixar de ficar envergonhado e zangado. Primeiro eu não devia ter visto aquilo. Segundo, eu tinha acabado de salva-la e é assim que ela me trata?

– É-é claro que me importo com a senhora. Ninguém merece ser tratado daquele jeito, principalmente por um porco asqueroso como Ares. E por que eu não me importaria? A senhora também é minha mãe, em parte. Não gosto de ver as pessoas que admiro e amo sofrendo. Ele machucou você, senhora?

Ela deu um sorrisinho, comovida.

– Ele está bêbado e deprimido, se sente acuado e diminuído. E homens são homens – Nossa, obrigado, senhora Afrodite, por fazer com que eu me sentisse um babaca! – Hefesto é muito mais maduro que ele neste ponto.

– E menos violento, acredito – retruquei. Eu tentava ver melhor seu braço o que ajudava a não entrar em transe por causa da beleza da deusa.

Ela sorriu e até assentiu um pouco.

– E é exatamente por isso que amo os dois. São tão lindamente diferentes... – seus olhos ficaram sonhadores – Obrigado. Imagino que se tivesse ele me machucado de verdade Hefesto teria surtado. Você acaba de impedir que meus dois amores se matassem.

– Hã, que legal. Seria mesmo uma pena quando Hefesto desse uma surra no meu pai – disse com ironia, ela sorriu – Olha, eu sou um fã do seu marido, o admiro mais do que tudo e sempre tive a duvida; por que você o trai? E pior: com Ares. Ele é um grosso.

– Ora, é da minha natureza. Eu sou a Deusa do Amor e represento todos os tipos de amor: obsessivo, compulsivo, romântico, platônico, apaixonado. Faz sentido. Para mim. E não vejo problema amar duas pessoas ao mesmo tempo. E ele só é grosso quando fica com ciúmes e bebe, pelo menos comigo. Não suporta me ver com Hefesto.

– Interessante. É legal saber que você gosta dele. Mas por que com Ares? Com todo o respeito, minha senhora, mas... Eca! – ela abriu um sorriso lindíssimo.

Eu teria ficado parado ali olhando para seus lábios vermelhos ou para seus dentes incrivelmente brancos se não voltasse minha atenção para os olhos azuis encantadores. Eles pareciam tão... Misteriosos, indecifráveis. Soltei um suspiro meio idiota.

– Você é interessante – refletiu ela batendo com o dedo perfeito no queixo delicado – Dezenas de homens olham para meu corpo, meu rosto e normalmente não falam do meu marido. Mas você me olha nos olhos e se preocupa com meu Hefesto. Isso é fofo. E você é lindinho. – ela apertou minha bochecha delicadamente.

Meu rosto ficou quente, eu não queria ser interessante para ela, muito menos fofo, pior ainda lindinho. Cocei o rosto, no lado errado sem ao menos perceber que estava fazendo, acho que só notei que o fiz porque dói quando se coça um arranhão.

– Seu marido é o deus mais habilidoso e impressionante dessa casa – murmurei tentando disfarçar o gemido – É meu herói, para falar a verdade. Eu o admirei minha vida inteira. Ele é explendido! E os olhos são a parte mais sincera de uma pessoa. Os seus incríveis, mesmo que sejam completamente indecifráveis. É bem legal olhar para eles.

Ela parecia mais leve que qualquer outro deus, seu sorriso se ampliou e essa foi uma das coisas mais lindas que eu vi em minha vida.

– Você parece tão doce e calmo mesmo com os acontecimentos dos últimos dias.

– Que acontecimentos? A cobra? Minha escola? Este lugar? Amanda. É Amanda, não é? Olha, eu gostava dela, ela era minha amiga, é culpa minha que esteja morta, mas se eu não ficar calmo como é que vou prestar atenção em tudo?

Ela cruzou os braços e me encarou com uma das sobrancelhas levantadas. Eu deixei meus ombros caírem, estava mentido para mim mesmo não só para ela.

– Tá bom. Eu a amava. Ela era parecida comigo. Era importante para mim, não tinha nada que eu não soubesse dela e vice-versa. Estou tentando parecer forte, só isso.

Comecei a chorar de novo. Eu tinha perdido meu primeiro amor sem nem saber que amava antes de perdê-la. Chegava a me sentir envergonhado diante da deusa do amor.

Afrodite colocou as mãos nos meus ombros e, quando eu percebi, ela já estava me abraçando. Ela escorregava a mão por minhas costas e acariciava minha cabeça, foi bem incrível. Concentrei-me no perfume doce e consegui me acalmar um pouco. Depois que parei de chorar ela me soltou e acariciou meu rosto limpando minhas lágrimas.

– Você é um bom menino. Merece poder me chamar de Afrodite, odeio quando me chamam de senhora. E merece as bênçãos. – ela fez o mesmo gesto que os outros fizeram e deixou se seu braço caísse. Gemendo baixo ela massageou a região com os dentes serrados.

Eu não me segurei e peguei seu braço. Eu já tinha tido um problema parecido com Gabriela e sabia como fazer o músculo relaxar sem causar muita dor. Afrodite me olhou de cima enquanto eu, com a testa ridiculamente franzida de preocupação, cuidava de seu braço. Inconscientemente mordisquei o lábio e deixei que minhas mãos agissem sozinhas.

– Ah – murmurei –, ele machucou você. Aquele cretino. Se eu soubesse lutar teria enfiado uma espada naquele abraço ridiculamente musculoso. Desgraçado – então mirei a marca vermelha que ficara com a cabeça de lado – Vai ficar roxo.

Ela soltou uma risadinha estranha, soltou o braço e acariciou meu rosto.

– Que lindinho! Você realmente precisa conhecer meu Hefestinho


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Notas finais do capítulo

por favor comentem é serio, eu preciso disso para postar! hoje tem mais cap.
proximo cap tem Hefesto e Ariadne!



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