O Filho Do Olimpo E A Faca Da Noite escrita por Castebulos Snape


Capítulo 28
Descubro Quem São Os Filhos De Nix


Notas iniciais do capítulo

Obrigado pelos comentários, mas ainda não está bom. Quero mais



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Quando descemos em L.A., no dia seguinte, Marcus me convenceu em ir ver sua mãe, ela saberia nos levar ao Mundo Inferior.  Não achei que seria ruim, se não desse certo íamos morrer, então Marcus teria a oportunidade de se despedir.

Caminhamos por um tempo, pegamos ônibus, mesmo com no estado deplorável em que nos encontrávamos. Minhas roupas estavam destruídas, exceto pela calça jeans, o casaco e as botas. Lya estava coberta de areia, vermelha do sol, com as roupas e o cabelo arruinados. Marcus parecia cansado, estava completamente maltrapilho, mas seus olhos estavam brilhando com a expectativa de ver a mãe.

Minha mãe... Ela devia estava bem longe agora, longe demais para um telefonema, longe demais para uma carta. Eu podia morrer em algumas horas, eu poderia ter morrido nas ultimas 72 horas, e ela não sabia, ou sabia e não achava que eu pudesse morrer de verdade, eu só queria dizer para ela que a amava. Soa muito sentimental? Quando está com medo de não voltar para casa você realmente pensa se já disse eu te amo vezes o bastante.

Chegamos em um conjunto de casas feito pelo governo, Marcus olhava em volta, calculista, tentei imaginá-lo ali, pequeno, correndo, brigando como todo bom filho de Ares, fazendo amigos, pensando bem , eu não sabia como ele era quando pequeno, mas devia ser bem fofinho. Ri, fazendo com que me encarassem.

– Nada!

– Marquinhos? – (eu zoando para toda a eternidade!) perguntou uma senhora sentada em uma das varandas. Sua voz era quebrada e assustadora. Era muito enrugada, seu era branco e ralo, seus olhos eram escuros como um abismo. Um arrepio cruzou minha espinha. Mau pressentimento. Mas Marcus sorriu e se ajoelhou na frente da mulher, inda até ela mais rápido do que eu julguei possível – Você cresceu! É um homem agora, semideus.

Avancei pela varanda e arrastei Marcus pela camisa para fora de lá. Só um monstro chamaria ele assim. A mulher se levantou da cadeira de rodas e mostrou as pesas. Meu irmão puxou a camisa de minha mão e a espada no bolso, tentando avançar para o monstro, seja lá o que ela fosse.

– O que fez com minha madrinha, coisa feia?

Ela se transformou em uma espécie de mulher morcego com asas garras, armadura e pelo, muito pelo. Peguei Lya pela mochila e arrastei ela e Marcus para mais longe daquilo. Ela puxou seu arco e ele ergueu mais a espada, tirei Kroboros do bolso e transformei em lança.

Ela soltou um grito agudo, ou era uma risada?

– Sua madrinha morreu, Filho da Guerra, eu mesma a levei para o senhor da morte! – ele ia avançar, mas usei a lança para impedir que seguisse e desviei de uma faca que ela lançou. Lya atirou uma flecha, ela apenas bate as assas no projétil e o desvia – Filho dos Deuses, amaldiçoado seja seu sangue imundo! Nem a morte aceitará sua alma, nunca!

Dei um passo a frente ameaçando-a com a lança, Marcus apontou a espada para ela e Lya puxou outra flecha. Ela puxou mais duas facas, o bastante para nos matar, sem contar que algo me dizia que tinha algo a mais nas garras dela.

Suas asas recuaram e eu soube que levantaria vôo a qualquer momento, para cima de nós sem duvidas. Apoiei a lança no chão, esperando, Lya percebeu meu movimento e Marcus também se preparou. Ela avançou para nós. Rasguei sua asa com a lança, Lya acertou seu coração e Marcus cortou sua cabeça fora.

Fomos cobertos por pó, o que piorou nossa situação, mas poderia ser pior, ela poderia ter nos devorado. Pisco varias vezes, tentando ver melhor, e escuto as tossidas deles.

– É melhor dar o fora daqui. Vão na frente! 

Marcus bate na porta de uma casa simpática e simples, se algum dia eu pudesse ter uma vida normal eu adoraria morar em um lugar como aquele, com aquela paz... Um arrepio cruza minha espinha, a risada dos meus pesadelos estala em meus ouvidos, me tirando qualquer sensação boa a minha volta.

Uma mulher abre a porta, não deve ter mais de trinta anos, loira, linda, de olhos verdes extremamente calmos. Primeiro olha Lya, suas roupas, seu estado deplorável, depois a mim, as duas lagoas verdes lendo minha alma sem descrição, vendo meus medos e angustias, e me deixando completamente exposto, como um cabo de alta tensão sem a cobertura plástica. Então deixa os olhos irem para o filho, prende a respiração e o abraça, sem uma palavra apenas o desespero de ter alguém que se ama num aperto.

Suspirei, sentindo meu peito doer, a risada estalou de novo, fazendo o medo criar ilusões nas sombras, ver coisas se mexendo, seres rastejantes, como se estivessem me caçando, me cercando, como um animal, um monstro... Fecho os olhos e sigo meus irmãos para dentro, Marcus explica para a mãe o que estava acontecendo, mas só escuto metade da historia, a risada continua, a voz sussurra coisas inteligíveis, ameaças, chamados, gritos de dor, como uma historia de terror, como o monstro imaginário de baixo da cama.

– Herói! – o grito estridente me fazer tremer, começo a suar frio, o medo me consumindo, quase sem permitir que eu me mexesse – Venha até mim, pequeno herói, vamos brincar muito, só nós dois, desvende sua pista e venha até mim.

– É claro que eu levo vocês! – ela se pôs de pé e eu saltei do sofá também, se ficasse ali só mais um minuto não teria forças para continuar com a missão.        

Se me dissessem que a entrada do Mundo Inferior era uma gravadora em Los Angeles três meses antes eu acharia que estavam brincando comigo. Mas depois de montar no Touro de Creta, e usá-lo para chegar a Los Angeles para pedir ajuda a uma ex-namorada de Ares mãe do meu irmão... É. Para o Mundo Inferior, então.

Quando chegamos à Gravadora m.a.c. - morto ao chegar; pude sentir um vento congelar minhas entranhas; era aquele o lugar mesmo.

– Marcus? – chamou a Srª. Wrestle com a voz tremula saindo do carro para pousar as mãos nos ombros do filho – Cuide-se, esta bem? Não vou suportar perder você, meu bebê.

Marcus concordou com a cabeça como se estivesse envergonhado, não com o “meu bebê” (lembrei Afrodite) e sim com a parte de deixar a mãe preocupada. Era estranho pensar que toda mãe agia assim, mortal ou imortal.

Lya encarou por uns segundos a situação.

 – Vamos cuidar dele, senhora – afirmou decidida.

A mulher sorriu, mas continuou olhando o filho como se fosse sua culpa. Mas não era. Era minha culpa.

– Eu nunca deixaria nada acontecer com Marcus – afirmei – Com nenhum dos dois. Ele é meu único irmão com QI alto! Se acontecer alguma coisa com ele vou ter que aprender a conversar quadrúpedes.

Os três sorriram e Marcus abraçou a mãe exatamente do jeito que eu abraçava a minha. Senti um aperto no peito como se aquele adeus fosse ser o último, não, você não vai permitir isso, St. James, Leal, Johan... foda-se!

Srª Wrestle foi embora antes que eu percebesse e Marcus passou as mãos no rosto com se para acordar, mas eu vi a lagrima que ele estava tentando esconder. Me virei para o prédio, sendo acompanhado ela filha de Apolo, para lhe dar Mn pouco de provacidade.

– O que vamos dizer? – perguntou Lya, era obvio que estava morrendo de medo.

– Temos duas opções – respondi devagar enquanto lia as bandas e cantores que eles produziram recentemente um dos primeiros era John Lennon – A primeira é eu dizer quem eu sou e o que estamos fazendo aqui, espero que o guarda seja Carontes, ele é filho de Nix e irmão de Thânatos pode nos ajudar. A segunda opção é... – uma mulher passou por nós, sem quase se mover e flutuou até o guarda – Bem, vamos entrar.

O lugar em si, sem muita ajuda, era assustador. As paredes e chão eram cor chumbo, pessoas transparentes estavam congeladas no tempo se amontoavam de frente para o elevador a nas cadeiras, plantas mortas se espalhavam pelos cantos e o guarda, Carontes, nos olhava com óculos escuros, mais escuros dos que os de Ares, eu não tive um bom pressentimento quando a aquilo.

Ele usava um terno de linho negro, era moreno com cabelos estilo militar loiro esbranquiçado, ele abriu um sorrisinho quando parei na sua frente. 

– Olá! – disse a ele – Senhor, meu nome é Jack St. James e nós precisamos falar com Thânatos, o seu irmão.

Direto, disse Vox nervoso, isso vai acabar tão bem. Zeus deve estar rindo de nós agora. E pensando em como seu trabalho foi facilitado.

Cale a boca! Esta me deixando nervoso!

Se ao menos o nervosismo colocasse juízo em sua cabeça...

Como minha cabeça pode ter algum juízo se você esta ai dentro?

Bom argumento, eu fico quieto.

Uau! Se eu soubesse que era tão fácil...         

Os espíritos a nossa volta recuaram para cima das cadeiras e cantos da sala quando ouviram o nome da morte. Engoli em seco, sentindo o frio se formar em volta dos meus ombros, como um abraço, a risada ecoou pelas paredes.

Carontes acompanhou a risada, preocupado, o lugar parece ficar mais acinzentado, então sorriu sarcasticamente e seu rosto ficou mais assustador e magro. Ele esticou a mão e me puxou pela gola deixando nossos rostos um bem perto do outro.

– Normalmente, garoto, os que vêm aqui já falaram com ele – meu corpo esfriou de dentro pra fora – Se quiserem morrer, cometam suicídio. Vai ser menos doloroso, posso garantir. Agora vá embora, não tenho paciência para crianças.

Engoli seco e ouvi o coração de Marcus e Lya acelerarem. Os sussurros recomeçaram e Vox praguejou. Reuni coragem, coloquei minha mão na dele, pude sentir cada um de seus ossos, cada veia pulsante:

– Estamos aqui por Nix. Ela me chamou por causa da Faca da Noite.

Carontes me jogou no chão frio com força, a sensação gelada engoliu meu corpo, e se levantou furioso, a sombra que jogou sobre mim pareceu por m momento milhões de cobras rastejantes e cruéis. Ele tinha no mínimo um e noventa de altura e era tão magro quanto parecia, mas inda tinha uma sombra larga, larga demais.

Meus irmãos recuaram para junto dos mortos, que já estavam chiando de medo, e Carontes saltou a bancada com mais agilidade do que parecia ter. Ele me ergueu pela gola novamente me colocando a centímetros de seu rosto.

– O que foi que disse, pivete? Ousa dizer uma calunia dessa sobre minha mamãe?

Sem comentários sobre “mamãe”.

Enfiei a mão no bolso e tirei os três bilhetes pretos com as pistas e o entreguei. Ele me soltou no chão e pegou os papeis. Dezenas de espasmos cruzaram minha pele, me fazendo estremecer de frio, o que diabos estava acontecendo?

– É você – sussurrou, em meio a um sorriso – Finalmente ela escolheu. Mas enviá-lo a Thânatos... – ele se endireitou – Ela sabe o que faz. Parabéns, crianças, vocês conseguiram uma passagem sem escalas para o Inferno.

– Obrigado...

Depois de alguns minutos de espera ele se levantou e inseriu um cartão na lateral do elevador, mandou as almas que esperavam lá saírem e nos empurrou para dentro.

– Comportem-se – disse às almas do saguão. Então se dirigiu as que ele expulsou do elevador: – Se forem bonzinhos e eu voltar de bom humor você podem descer na próxima. Se eu estiver de mal-humor ninguém desse por um milênio – que cara legal!

A porta se fechou e começamos a ir para frente. Sua pele ficou mais transparente. Seu terno foi substituído por um manto negro e seus óculos desapareceram. É, ele era mais parecido com Ares do que o que aparentava. Suas orbitas também eram ocas, mas eu preferia Ares, ele pelo menos não tinha alguma coisa nas orbitas as de Carontes eram completamente vazias.

Marcus gemia baixinho. Ele sabia mais do que Lya o que era o Mundo Inferior, afinal vivia lendo as historias antigas, mas ela teve quase a mesma reação. Ela se aproximou ao máximo de mim e segurou minhas mãos com mias força que necessário. 

Engoli seco e olhei para o Estige. Péssima idéia só para constar. Era o rio mais sujo e escuro que eu já tinha visto. A água parecia pastosa e não liquida. Coisas boiavam nela. Currículos, notas de diversos tipos de dinheiros, roupas de marca, livros, boletins escolares e até uma boneca Suzi de ouro maciço que, por incrível que pareça, também estava boiando.

Sonhos não realizados, pensei imaginando no que eu poderia jogar nele quando morresse.

Não importa ainda, disse Vox, Vamos esperar mais alguns minutos e nossos sonhos estarão ai, poderemos ver quais são. E que tipo de pessoa desperdiçaria ouro com uma boneca?

Uma criança?

Não, uma criança burra!

Cale a boca!

O barco parou e nós quatro saltamos. Cérberos rosnou para nós, mas parou quando olhou para mim batendo o rabo de um lado para o outro e com as enormes línguas para fora como se para nos recepcionar. Lembrei das lendas e referências feitas a ele. Normalmente ele só fazia festa para as pessoas mortas que queriam entrar, mas não estávamos mortos, ainda não.

Três cabeças gigantes de um gigantesco rottweiler muito feliz olhando para você... Pude ver minha vida passar diante dos meus olhos e ela não tinha um final bom.

– Ele vê a morte em você – disse Carontes, observado atentamente duas coisas chegarem perto de nós – Sabe do seu objetivo e pensa que já é bem vindo, vai morrer logo mesmo, não importa mais, nem esperar.

– Que ótimo – murmurei.

Pela primeira vez pensei na morte como uma coisa próxima. Eu tinha imaginado com tanta clareza os próximos anos que nem lembrei que eles não poderiam chegar. Eu senti medo. Não medo por mim, afinal eu, literalmente, estava vendo meu futuro, mas por meus pais, por meus amigos, meus irmãos, por Ártemis. Senti a tristeza deles a dor que sentiriam se eu realmente morresse. Eu ia sobreviver. Pelo próximo natal e pelos seis meses depois dos de Ares.

Marcus e Lya olhavam apavorados para o cão e para o mar de fantasmas que se aglomerava em torno dele. Bilhões de pessoas esperando para serem julgadas naquele lugar frio, escuro e sinistro. Pareceu-me uma boa, menos pela parte dos “bilhões de pessoas”.

A risada pareceu sair das pedras no chão, enchendo o ar a minha volta, me recepcionado 

Eu olhei para Carontes que estava discutindo com dois espíritos vestidos como eles que pareciam comandar o lugar.

Fantasmas de Melinoe, pensei, eles devem torturar os espíritos e dar segurança ao reino. Triste! Lembre-me falar sobre isso com Hades da próxima vez.

Se houver uma próxima vez.

Com Hades sempre há uma próxima vez, vivo ou morto.

Isso é triste.

Hum-hum.

Carontes se virou para mim e chamou com a cabeça perecendo irritado. Fiquei feliz quando ele fez com que os fantasmas se distanciassem um pouco de nós.

– Por que não me disse que tinha entrada autorizada pelo próprio Hades?

Franzi a testa, sem entender o que aquilo significava.

– Você tem o que? – me perguntou Lya.

– Eu tenho o que? – perguntei a Carontes.

– É filho dele, não é? Bem, agora ele sabe que esta aqui, então é bom irmos logo. Fui obrigado a falar o que pretendíamos. Ele não vai gostar nem um pouco de saber aonde vai, principalmente se gostar de você. – ele me levantou pela gola, me tirando do chão sem esforços – Olha aqui garoto se eu for demitido por sua causa vai fazer uma segunda visita à meu irmão e bem rapidinho.  

Ele nos levou para longe dos espíritos, seguindo sempre a margem do Estige. O rio ia e voltava como se fosse o mar, como se estivesse vivo e à espreita para nos engolir e fazer com que nos afoguemos, ou coisa pior.

Quando mais longe nós íamos mais frio eu sentia e Lya segurava minha mão e a de Marcus mais forte. Ela estava gelada e tremendo. Eu não podia obrigá-los a fazer mais isso.

– Senhor Carontes?

Ele se virou para nós sem muita vontade e me encarou:

– O que foi agora?! – deve ter saído mais alto do que queria porque fez uma careta e repetiu – O que foi agora?

– Eu vou sozinho daqui. Pode me prometer levá-los de volta se alguma coisa der errado?

Marcus e Lya tentaram argumentar, mas eu os silenciei com o melhor olhar venenoso que consegui.

– É meu trabalho – respondeu.

– Obrigado, eu acho. Vocês dois não vão nem se mexer – a risada fez uma pausa e se transformou em uma gargalhada – Eu vou sozinho encontrar Thânatos.

Eles concordaram de mau jeito e eu continuei atrás do barqueiro sem me sentir bem com aquilo, eu era o mais poderoso ali, eu era o mais velho, e devia cuidar deles sempre, era meu papel como irmão mais velho.

Depois de alguns desvios e ordens de Carontes nós entramos em um caminho que levava por dentro de uma rocha. Ele parou de frente para uma porta de madeira e a empurrou.

Por dentro parecia uma sala do Pentágono, computadores de ultima geração pelas paredes todos mostrando pontinhos brancos que iam ficando avermelhados com o passar dos segundos até piscar em vinho vivo, então uma das mulheres se levantava e passava por nós em direção à porta.

– As pessoas não morrem tão rápido assim – murmurei me esquivando de uma das mulheres que saiu deixou a porta aberta e pude ver assas de morcego, garras ao invés de mãos, armadura e pelos surgindo em seu corpo. Era bem parecida com o que tinha tentado nos matar. Mas porque uma coisa daquelas estaria trabalhando com Tânatos. Kere! Sabia que conhecia de algum lugar.

– Você vê como um mortal e elas as vêem como deuses. E anos não passam de minutos comparados com a eternidade divina.

– Profundo – resmunguei – Mas me diz; dês de quando Keres e Thânatos trabalham juntos?– perguntei depois de alguns segundos começando a coçar o rosto, quando uma das mulheres sorriu para mim mostrando suas presas.

– Eles dividem os trabalhos e o pagamento. As almas que realmente morreram de modo violento vão para elas e ele fica com o resto para mandar para o julgamento. Todo mundo sai feliz. – “Menos as almas”, murmurei – E somos irmãos.

Encarei-o.

E você esta orgulhoso disso?

Ele me levou por entre os computadores e chegamos à outra porta. Essa era de metal com uma foice parecendo ameaçadora afiada desenhada nela.

A porta se abriu do nada e nós entramos.

Era um escritório rústico, sombrio, frio e praticamente vazio a não se por uma mesa e duas cadeiras. Sentado a nossa frente tinha um homem bonito, forte, alto, com uma expressão sutil e assustadora, cabelos brancos contrastando com o rosto bonito, jovem e pálido e olhos prateados como a lua. Parecia cansado e desanimado.

Percebi que ele estava usando um terno de linho italiano, preto, desbotado, desfiado e, com certeza, caríssimo. Pareceu-me um daqueles ternos que os ricaços só usavam para en­terro de parentes que são tão ricos quanto eles só que aqueles eram lavados com todo o cuidado, aquele não parecia que era lavado e, se fosse, isso não era feito direito.

 Thânatos levantou os olhos para nós e me encarou de maneira estranha. Parecia um corvo olhando para o almoço quase pronto, ou seja, quase morto. Eu não queria ser o almoço, com certa absoluta. Principalmente de um corvo.

Ele se levantou, sem tirar os olhos, insanos e febris de mim, e murmurou:

– Um garoto poderoso, decidido, nobre, leal... Uma ótima escolha, mamãe. – (esse mamãe tá me matando!) depois mais alto – Fui avisado sobre você. Minha mãe me mandou testá-lo do meu jeito. Para saber se é realmente digno da Faca.

Levei a mão ao bolso procurando Kroboros esperando uma luta ou coisa parecida.

– Não vai precisar da espada, meu jovem mortal – disse suavemente abrindo as asas negras, recuei vários passos, asas, lindas, hipnotizantes... – Não se pode lutar contra a morte! Sísifo tentou e o que conseguiu alem de punição?

Soltei Kroboros. Ele estava certo. Quem luta contra um destino inevitável acaba sendo condenado no Submundo e o destino da reencarnação nunca é completo. Eu aceitaria o que ele quisesse, se ele não me desse a pista Zeus ia me matar mesmo.

– Você já passou no teste – continuou. Fechei a cara para ele, eu estava aceitando minha condição de quase morto e depois do drama ele diz que eu já passei? Idiota – Sabe? Existe a velha historia de que você vê a vida intera quando morre? Quando eu separo a parte viva do corpo morto posso ver tudo o que essa pessoa fez, assim os juízes sabem coisas para o julgamento. Eu vi sua vida, Jack Johan St. James, você merece a Faca. A ultima pista é: Depois de ultrapassar a barreira do sono e do esquecimento se encontra a noite. Boa sorte.

“Ah! Acho que posso dar um ultimo meio aviso, ele possivelmente não ficará irritado com isso, não, ele não me atacaria...”, os irmãos se entre olharam, receosos, mas Carontes desviou o olhar e negou com a cabeça, mãos geladas se prenderam em meu peito “Tome cuidado com o caminho ele pode ser... traiçoeiro.”  

Pensei por alguns segundos depois entendi o que a pista significava, mas como um caminho pode ser traiçoeiro? Olhei para Carontes, estava pronto para ir embora, mas o barqueiro olhava o terno de Thânatos com muita atenção.

– Que tipo de terno é esse, irmão? – perguntou.

Thânatos olhou tristemente para as próprias vestes:

– É italiano. Caríssimo. Quase dou meus olhos e minhas pernas por ele. Por nada, minhas roupas estão destinadas a ficarem puídas.

Carontes assentiu e me guiou de volta para os meus amigos. Ele parecia estar pensando no terno e fazendo os cálculos de quanto ele devia custar. Bem, se não desse certo era só pedir um aumento para Hades, não é? Papai Morte deve ser rico pacas, não?

Contei a Marcus e Lya o que tinha acontecido depois de nos despedirmos de Carontes, exceto a parte do caminho traiçoeiro porque eles já não estavam exatamente animados com a idéia de andar pela terra dos mortos, se soubessem que podia dar alguma coisa errada podiam tentar me convencer a não ir e não tínhamos tempo para isso.

– A barreira do sono deve ser Hipnos – argumentei – O esquecimento deve ser o rio Lete. O palácio de Hipnos fica na nascente do Lete, pelo menos ficava nos tempos antigos. O palácio de Nix deve ficar por lá.

– Ótimo! – exclamou Marcus parecendo muito animado – O Lete deve ficar depois dos Campos de Punição para o renascimento, certo? É só seguir a corrente.

Ele fala como se fosse tão fácil...

– Você considera isso ótimo? – perguntou Lya incrédula depois me encarou, como se eu soubesse as respostas para os mistérios do mundo e da morte... – Os Campos de Punição ficam para que lado? – Eu estava com Guia Turístico escrito na testa?

Marcus também me encarou interrogativo. Sem muita vontade (sim, eu sabia para onde era) apontei para o lado de onde viemos. O lado mais escuro, o cheio de espíritos.


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Notas finais do capítulo

O próximo tem nosso vilão sendo vilão...



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