O Filho Do Olimpo E A Faca Da Noite escrita por Castebulos Snape


Capítulo 21
Brinco De Pique - Esconde Com Ciclopes


Notas iniciais do capítulo

comentem!



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No dia seguinte também fui para a escola com sono. Tinha ficado a noite inteira limpando o banheiro e só dormi algumas horas. Quando encontrei Lya uma pedra pareceu surgir no meio da minha garganta fazendo com que minha respiração ficasse mais difícil. Eu não estava aliviado em saber que Lya era uma meio-sangue, eu sei que não tinha visto muito daquele mundo para julgar, mas tinha visto o bastante para dizer que não era uma vida fácil. E eu não queria aquilo para ela. Sem contar que eu não podia contar para ela quem era, eu estava mentindo para a única amiga “mortal” que tinha feito naquele colégio.

Foi um dia bem comum, até a hora do almoço. Lya e eu estávamos indo para o mesmo carrinho de cachorros-quentes de sempre (eu já estava conseguindo não comer cinco de uma só vez), quando eu vi que tipo de fregueses nosso vendedor atraíra. Eram três homens..., não, não homens, não podiam ser pessoas. Eles tinham pelo menos dois e noventa de altura, a pele parecia ter sido queimada com óleo quente, usavam chapéus de diversos tipos como se quisessem esconder os rostos, e estavam comendo tudo o que tinha no carrinho como se fossem animais.

Escorreguei minha mão para o bolso do casaco e segurei Kroboros procurando com o olhar o vendedor, mas ele parecia ter corrido dos caras, ou pelo menos era isso que eu esperava. Larguei Kroboros e segurei o braço de Lya fazendo-a parar.

– Vamos almoçar uma pizza, eu pago – um dos gigantes farejou o ar enquanto mastigava. Seus olhos pararam em mim. Não, não seus olhos, seu olho. Senti o ar escapara dos meus pulmões e encarei o cara sentindo toda a minha coragem ir para o ar. Puxei Lya para dentro de um beco, ignorando seus protestos, e só parei quando chegamos à uma pizzaria e não vi ninguém nos seguindo.

Lya me olhou com uma obvia indignação no olhar; forcei-lhe um sorriso.

– Sempre quis comer aqui. Desculpe por arrastá-la desse jeito. É que estou com fome.

Por sorte, ela riu e se sentou em uma das mesas. Acompanhei-a aliviado, mas não muito feliz com o fato de um ciclope ter me... farejado?

– Você é muito estranho de vez em quando, sabia? – perguntou ela depois de pedir uma de mozarela.

– Sei – resmunguei olhando para os lados – Estou até normal hoje em dia, já fui bem pior. Você viu aqueles caras estranhos no carrinho de cachorro-quente?

– Vi. Estranhos, né? Devem ser de alguma gangue. Espero que o dono do carrinho esteja bem. Você lembra o nome dele?

Parei de olhar para os lados e a encarei, inocente.

– Sou péssimo com nomes. Não sei nem o nome do nosso professor de geografia.

Ela riu.

– É Teodoro. Teodoro Cabral.

– Ah!... Nunca imaginaria.

Precisei cruzar o continente para descobrir o nome do meu professor de geografia, pensei irônico.

Para mim será sempre o Linha, disse Vox.

Para mim também.

Nosso almoço foi bom, não comi muito; estava preocupado com os ciclopes. Lya ficou preocupada comigo, normalmente eu comia muito, mas deixou para lá.

Na volta para a escola eu não consegui ficar quieto. Algo dentro de mim falava, não; gritava , que tinha algo errado. Então antes de entrar na escola eu os vi, eles estavam parados do outro lado da rua; quatro ciclopes. Um a mais do que eu tinha visto no carrinho de cachorro-quente. O que tinha se juntado ao bando era maior, mais feio e não se preocupava em colocar um chapéu na careca queimada; seu enorme olho negro (no meio da testa) nos acompanhava tranquilamente.

Parei à porta e o encarei tentado não demonstrar medo, até que:

– Le... St. James!

Me virei para o corredor e encarei o Linha, quero dizer o prof. Cabral.

– Senhor? – respondi tentando parecer animado como se esperasse uma ordem e estivesse feliz por isso.

– Vocês não têm aula agora? – ele começou a se esticar para ver melhor o outro lado da rua – O que está olhado?

– Os... – eu ia apontar para os caras do outro lado da rua, mas não tinha mais ninguém lá – Hã... Nada, professor. Já estávamos indo para a aula.

Para onde eles tinham ido? Olhei para os dois lados. Pensei até em sair para procurá-los, mas o Linha apertou meu ombro e me guiou para a sala de aula. Lya nos seguiu de perto me encarando, preocupada.

Eu nem lembro que aula era aquela.  Fiquei o tempo todo esperando ser atacado por uma gangue de ciclopes do mal. Lya ficou me perguntando se eu estava bem, mas eu não respondi nenhuma vez.

Quando o sinal tocou todos levantaram e Lya se demorou me olhando mais preocupada que nunca.

– Tem certeza que esta bem?

– Estou. Só um pouco preocupado... com coisas... que não fazem sentido nenhum. Está tudo bem. Não se preocupe. Não é...

Um estrondo me fez puxar Kroboros do bolso, acionei 1e puxei a mão de Lya.

– Filho de Hefesto, nós estamos aqui! – disse uma voz que não estava tão longe quanto eu queria – Apareça!

Vários alunos corriam pelos corredores fugindo de estrondos que ficavam cada vez mais altos, Lya tentava se soltar do meu aperto enquanto fazia perguntas, fiz com que ela se agachasse quando três massas negras enormes passaram sem entrar na sala.

No fundo da sala tinha um grande armário cheio de coisas que eu não prestei atenção quando as joguei para fora. Larguei Kroboros que ficou fincada no chão e segurei Lya pelos ombros e olhei seus olhos apavorados.

– Lya, vai ficar tudo bem - tentei deixar minha voz o mais calma possível – Eu vou resolver isso, mas você tem que ficar aqui, escondida, para que eu não fique preocupado com você, esta bem? Quando tudo tiver acabado, eu venho te buscar eu juro – coloquei-a sentada dentro do armário e olhei atentamente para o caso de ser a ultima vez – Fique aqui.

Fechei as portas.

– Filho de Hefesto apareça ou vou matar alguém!

Puxei Kroboros do chão e corri em direção à voz.

– Ora o filho de Hefesto é corajoso – disse o chefe dos ciclopes quando eu entrei no corredor. Ele estava sozinho, tinha uma acha enorme fincada no chão à sua frente e segurava o Linha pelo pescoço tirando-o ligeiramente do chão – Sei que deve estar pensando sobre meus motivos aqui, filho de Hefesto. E ficarei muito feliz em contar, assim pode odiar seu pai assim como odeio. Há alguns anos, eu e meus irmãos pegamos emprestado de Hefesto umas coisinhas, um pagamento mais digno por nossos serviços e ele nos expulsou de suas forjas, tirou nossos dons naturais, nos condenou a queimar eternamente no Tártaro. Mas o Senhor dos Primordiais apagou o fogo, nos libertou, e nos disse para matá-lo. É claro que eu não pude recusar, será uma ótima vingança contra seu pai.

Ele jogou o Linha contra os armários, puxou a acha do chão e avançou para mim. Desviei de vários golpes tentando acertá-lo sem muito sucesso. Quando ele tentou me decapitar, vi minha chance e tentei cortar suas pernas. Lado positivo: ele não era tão ágil quando Ares e consegui acertá-lo no joelho esquerdo. Lado negativo: quando ele sentiu bateu com a lateral da acha em minha cabeça.

Minha visão ficou turva e não consegui mais segurar Kroboros. Ele me ergueu do chão pelas vestes antes que eu desabasse completamente e aproximo nossos rostos. Senti pequenos fios de sangue ensoparem meus cabelos aos poucos e vários desceram por meu rosto por minha testa e pela lateral.

– Estou em duvida... – seu hálito era... No tártaro não tem escova de dente – Mato logo você ou te torturo antes? – seu olho saiu de foco e ele logo começou a assentir abobado – Sim, mestre – seu olho entrou em foco e ele me olhou bem animado – Torturar, então.

Por que tanta gente me ama tanto?,tive tempo de pensar.

Ele me ergueu mais um pouco e me jogou do outro lado do corredor ao lado de Linha. Todo ar foi expulso dos meus pulmões quando cheguei ao chão e minha cabeça só piorou quando bati com ela nos armários da outra parede.

– Ai! – resmunguei abraçando minhas pernas. Pude sentir mais sangue descer por entre meus cabelos e pescoço sujando a camisa nova.

Enquanto ele se acabava de ri tentei considerar minha posição. Eu estava sozinho, em um lugar cheio de mortais, com quatro ciclopes que queriam me matar e não tinha mais uma... É claro que eu tinha uma arma! Desci minha mão e peguei a adaga de Zeus.

– O que é isso? – perguntou o ciclope quando viu a adaga e começou a andar até mim.

Levantei-me com muita dificuldade e ergui a adaga apertando a lateral do corpo, minhas costelas são muito delicadas! Ele começou a correr para mim. Fechei os olhos, um arrepio passou por minha coluna e houve uma explosão seguida de um grito rouco.

Cai de joelhos, sem energia, e abri os olhos. Meu raio tinha lançado ele longe fazendo com que batesse na parede. Um amontoado de alunos apavorados olhava de mim para o monstro que se desfazia em pó.

Eu não tinha tempo para dar explicações para dar explicação para um bando de crianças. Tentei me levantar, mas senti uma pontada na lateral do corpo e minha visão se dobrou como num caleidoscópio. Coloquei o anel de Afrodite no dedo quando alguém gemeu do meu lado.

– Cabral... – lembrei.

Ajoelhei-me ao lado dele e o examinei sem tocá-lo. Não parecia ter fraturado nada, sua gordura provavelmente devia ter-lo protegido de parte do impacto. Ia ficar um pouco dolorido e cheio de hematomas, mas ia sobreviver.

– Você vai ficar bem – garanti baixinho.

– Você... – ele respirou fundo – É o Leal, não é? Você é o mesmo garoto?

– Sou – ele sorriu triunfante como se disse: eu sabia. – Não posso explicar o que aconteceu agora, nem nunca. Sinto muito por mentir. Tenho que ir agora. Mande lembranças para Martins.

Levantei-me sem sentir mais nada além de incomodo e fui atrás dos outros ciclopes.

Um estava na cantina atacando o freezer, provavelmente achava que tinha um semideus escondido ao lado da alface.Não dá para dizer que é higiênico o fato de eu entrar na cozinha ensopado de sangue, mas não tinha ninguém para reclamar e eu não tenho doença alguma, sem contar que eu estava mais limpo que o ciclope.

– Ei! – chamei com o arco pronto. Ele se ergueu lentamente rosnando e eu soltei a flecha de energia assim que a cabeça dele entrou na minha mira.

Eu ia filar alguma coisa, rapidinho, mas ele explodiu em pó o que deve ter contaminado tudo em volta. Isso não é nem um pouco higiênico

O outro tinha acuado Peter e Jenna em uma sala. Ele ergueu o bastão e eu transpassei suas costas com a lança fazendo com que explodisse em pó.

Os dois abraçados no chão me encaravam, apavorados. Jenna tinha lagrimas descendo pelo rosto e Peter tentava acalmá-la sem sucesso. Então ele me olhou, preocupado.

– Onde esta Lya?

– Segura – respondi frio – Não saiam daqui agora. Esperem até eu matar o ultimo deles. Depois vocês podem voltar a importunar todo mundo – olhei-o com nojo – Não precisa se preocupar com Lya, já estou cuidando dela.

Tudo que pude ver do ultimo ciclope antes de ele entrar em uma das salas foi sua pele queimada e uma enorme espada posta casualmente sobre o ombro. Transformei a lança em espada e entrei.

Levei dois segundos para ver o armário onde Lya estava escondida e notar que o ciclope era um bom farejador.

Ele se virou quando entrei e me analisou de cima a baixo muito despreocupado.

– Você é o filho de Hefesto.

– Também. Mas Zeus me chama de Filho do Olimpo, acho um bom resumo, muito diferente do Maquiavélico: Filho de Três Impossibilidades.

Ele arregalou o olho e engoliu seco, deixando bem claro que minha fama também tinha se espalhado por entre os monstros no Tártaro. Eu devia ficar orgulhoso? Eu sou uma sensação? Tem TV Hefesto no Tártaro?

– O Filho do Olimpo? O que faz aqui? Vi na TV Hefesto que você estava com o centauro Quíron – pior que tem! – O mestre nos enganou. Mas vou matá-lo mesmo assim.

– É uma escola. Estuda-se em escolas. Mas não vamos poder continuar a conversa. Seus irmãos estão mortos, estou zangado, e sou eu que vaite matar – ergui minha espada mirando seu peito e ele ergueu a dele.

O combate não durou muito. Ele não era bom com a espada e eu já tinha melhorado muito. Tudo o que ele sabia fazer era usá-la como bastão. Eu desviei de alguns golpes e quando vi a chance enchei a ponta da espada em seu abdômen.

Olhando pelo lado positivo, pensei olhando o monstro virar pó, eu sei lutar contra ciclopes.

 – Meu Deus, o que foi aquilo? – perguntou uma voz atrás de mim.

Lya estava sentada, chorando, dentro do armário, mas tinha se atrevido a olhar o que estava acontecendo. Seus olhos corriam da espada em minha mão para o pó no chão. Transformei Kroboros de volta em calculadora e a tirei de dentro do armário.

– Você está sangrando – ela olhou meu rosto e minha camiseta nova.

– Você está bem? – ela assentiu ainda olhando para o pó depois para meu sangue – Estou bem, está tudo bem. Eu vou te levar para casa. Lá eu explico tudo o que aconteceu aqui.

Nós saímos pela porta dos fundos; tinha policial por todo lado. Tirei a moto do bolso, a transformei em um carro de verdade e empurrei Lya para dentro.

   – O que foi aquilo? – ela perguntou analisando o carro – Como...?

– Esse carro foi um presente do meu pai, Ares, o deus da guerra. Resumindo uma historia muito grande. Os olimpianos estão vivendo aqui em New York, sou filho dos doze, de Hades e de Héstia. Originalmente era para eu ser filha de Ártemis. Mas não deixaram. Eu estou sendo treinado por Quíron, mas Atena, Ártemis e minha mãe mortal, que não esta morta, queriam que eu continuasse a estudar e é ai que te conheço. Eu não queria mentir, mas tive e nunca mentiria em outras circunstâncias. Não imaginava que ia fazer uma amiga. Sinto muito.

Ela não parecia estar me ouvindo, mas assentiu e continuou a chorar.

Quando chegamos ao Lira de Apolo ela saiu correndo de mim, suspirei, coloquei o carro no bolso e a segui, completamente desanimado.

Jonathan me recebeu com um gancho de direita.

– Ai! – antes que ele me batesse mais ergui as mãos e gritei o mais alto que pude: – Apolo me mandou! Apolo! Eu juro que foi Apolo.

Ele abaixou a mão lentamente e Rebecca apareceu na escada pronta para envolver a filha em um abraço.

– Apolo?

– Ele é meu pai. Um deles pelo menos. Já ouviram falar do Filho do Olimpo?

– Você apareceu na TV Hefesto um tempo atrás! – a Sra. Knight exclamou – O que matou a Píton! Sabia que o conhecia de algum lugar. Querido você está sangrando.

Eu assenti lentamente massageando meu queixo ensangüentado e, agora, dolorido.

– Do que é que vocês estão falando? – Lya se libertou da mãe e me encarou – Isso não é real, Jack. Não pode ser.

– Filha, nós precisamos conversar. Se você pudesse nos dar licença, Jack.

Assenti devagar e sai. Eu estava muito preocupado com Lya, eu sabia o que era descobrir que tudo na sua vida é uma mentira. Eu sabia o que era ter sangue de deuses. Não é fácil, acredite. Nenhum deus devia deixar seus filhos no escuro. Eu fiquei zangado com Apolo, ele devia ter me contado mais, devia ter me explicado como contar. Eu também tinha sido um idiota, devia ter contado imediatamente. Devia ter colocado Lya dentro do carro naquela manhã antes dos ciclopes aparecerem, ou no mais tardar quando eles apareceram.

Os minutos foram passando e eu sentia mais frio, mais vazio, mais medo de perder a amizade de Lya.

– Jack? – chamou a voz de Jonathan. Ele parou ao meu lado – Lya nos contou o que aconteceu. Obrigado por salva-la, são poucos os homens que lutariam com quatro ciclopes e sairia vivo – o calor voltou a me envolver quando ele disse “homens” nunca tinham dito que eu era um homem – E me desculpe pelo soco. O que é todo esse sangue?

– Tudo bem já recebi socos piores. Eu nunca deixaria Lya sozinha. Teria dado minha vida para protegê-la. O sangue... Não é nada. Como Lya reagiu à noticia?

– Mal – assenti devagar – Eu sou filho de Afrodite. Sei o que ela esta passando. Meu pai me contou quando completei quinze anos. Quíron também me treinou. Mas eu superei, você superou – eu superei? É eu acho que superei... – e Lya vai superar. Você poderia levá-la para o colégio?

– É claro que sim, se ela concordar a entrar no carro.

– Ah, vai sim! Lya gosta de você, confia em você, e vai entender tudo.

– O que estão falando de mim aí?

Nos viramos e vimos Lya parada a uns três metros com o braço da mãe sobre os ombros e uma mala de mão. Me adiantei, peguei a mala e sorri para ela. Lya jogou os braços em meu pescoço em ligar para o sangue seco.

– Obrigado, Jackie.

E eu soube que, se nem isso abalava nossa amizade, nada ia abalar. E isso me deixou muito feliz.


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Notas finais do capítulo

o proximo tem lutas



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