A luz fraca do sol invadiu meu quarto por completo e eu suspirei acordando com a mesma. Revirei-me algumas na cama enquanto suspirava derrotada, sem pegar novamente no sono. Era apenas mais um dia de sábado na nublada cidade de Forks, Washigton. Fazia quatro anos, desde que Edward havia ido embora. Senti meu coração apertar ao lembrar suas feições enquanto eu tropeçava para fora da cama.  A casa encontrava-se em um silencio agonizante quando eu passei pelo corredor em direção ao banheiro. Tomei um banho rápido, lembrando-me que minha mãe chegava hoje a noite para me buscar. Eu voltaria para Phoenix. Reneé e Charlie acreditavam que eu ficaria bem melhor ao lado dela, ela pensava que eu estava entrando em depressão profunda. Mais eu sempre dizia a ela que estava bem, o que realmente não funcionava. Deixei a água cair pelo meu corpo enquanto eu fechava os olhos suspirando silenciosamente. Charlie havia ligado para mamãe e Phill há alguns dias atrás, dizendo a mamãe que eu estava apenas piorando. Coisa que não era verdade, eu me esforçava o bastante durante esses oito meses.  Coloquei uma calça jeans, uma blusa roxa de manga longa e meu casaco. Peguei minha mochila sobre o sofá, e uma barrinha de cereal. Charlie já tinha ido à delegacia e eu estava atrasada para a escola. Suspirei enquanto tentava sorrir, ensaiando. Dirigi até a escola, ensaiando todos os diálogos possíveis, e os sorrisos enquanto eu prendia minha respiração antes de sair do carro.  Esta tudo bem, obrigada. Eu estou bem, não precisa se preocupar. Repeti as frases de forma débil até o refeitório. Era o recomeço, era como se eu estivesse ali pela primeira vez. Caminhei silenciosamente até a minha primeira aula. Biologia. Senti meu coração se apertar, enquanto eu tentava encontrar algum fôlego antes de entrar na sala.

                 Respire Fundo. Estou com você.

Senti meu corpo travar ao escutar a voz dele em minha cabeça. Parecia tão próxima a mim, como se ele estivesse ali. Ao meu lado, andando comigo. A dor irradiou meu peito fazendo com que as lágrimas enchessem meus olhos. Uma vontade enorme de me encolher me tomou por completa, porém eu consegui me segurar para não chorar ali mesmo. Sentei-me na última fileira, bem longe do lugar que eu costumava a me sentar antes, rabiscando a capa de meu caderno, antes de notar a presença do professor na sala.

As três primeiras aulas passaram logo, e era após o intervalo, vinha à aula de literatura. Iria tentar conversar. Talvez, dizer um ‘oi’ a Anne não me fará mal. Pensei comigo mesma, enquanto tentava pensar algo coerente para puxar assunto. Passei pelo corredor com enormes e abarrotados de pessoas, e abaixei a cabeça. Suspirei ao ver meus antigos amigos encostados na porta da sala, e fui até os mesmos, forçando um sorriso da melhor maneira.

                  Sei que você consegue, vamos. Estou torcendo por você.

A voz me pegou por surpresa novamente, e eu engoli em seco,dando um pequeno sorriso,com os olhos marejados. Suspirei enquanto ia até Anne. Que antigamente era minha melhor amiga. Mais eu havia me comportado mal, então seria uma difícil reconciliação.

Anne? – Eu sorri timidamente, e ela me olhou descrente.

Bella? Está tudo bem? – Ela sorriu gentilmente, enquanto soltava-se de Billie. Eu apenas assenti.

Bella,como esta se sentindo? – Billie perguntou sobre o ombro, antes de dar um beijo rápido em Anne. E eu apenas assenei, virando a cabeça. Não agüentaria ver..nenhum tipo de romance.

Bella..venha comigo. – Anne pediu, puxando-me de forma delicada pela mão,fomos pelo corredor em direção ao refeitório. Meu rosto estava lívido, sem expressão alguma. 

Isabella, conte-me..você está..melhor? Ela perguntou, tentando dar um sorriso e eu assenti.

Queria pedir... Desculpas pelo meu comportamento..- Olhei minhas mãos por um breve momento.

Ela apenas me fitou atônita. – Desculpas pelo que?

Desculpas..por..quase enlouquecer. – Sorri fraco, sem olhar seu rosto.

Bell..eu sinto tanto..- Ela me puxou para um de seus abraços esmagadores de ossos.

Logo tudo ficará bem certo? – Ela piscou e eu assenti. Eu estou bem. Menti. Mais pareceu funcionar, ela acreditou e nós fomos à sala de aula. O professor de literatura entrou na sala, com uma teve sobre um carrinho e isso me fez ficar sufocada.

Pessoal, gostaria que vocês prestassem atenção, quero que façam relatório sobre a peça de Romeu e Julieta. Aceitarei os relatórios apenas na versão de Shakespeare certo? – A sala gemeu em uníssono, algumas risadas enquanto eu me encolhia em minha cadeira, tentando desviar o olhar. Queria tapar meus ouvidos e cantar alguma música idiota. O vídeo começou e eu comecei a tamborilar meus dedos na mesa, contando os minutos restantes para o fim da aula. Era a ultima aula do dia. Eu tinha vontade de sair correndo dali. Logo o sinal tocou e eu guardei minhas coisas rapidamente em minha mochila, pegando as chaves e correndo em direção ao carro. Eu parecia querer desmoronar, eu estava desmoronando aos poucos.

                  Eu jamais quis machucá-la desse jeito. Odeio pensar que sou o culpado disso.

A voz continuou em minha cabeça e eu encostei minha cabeça no volante. As lágrimas caindo de forma lamentável pelo meu rosto. Eu parecia mais pálida do que antes, entre pequenos barulhos de meu choro inexplicável, consegui ver Anne e Billie aproximando-se de meu carro. Tentei me controlar, limpando meu rosto com as mangas da blusa. Destravei as portas de trás do carro e os dois entraram, Bella estava encostada no peito de Edward.

Bella..quer ver filme amanhã a noite conosco? – Billie sorriu gentilmente.

Hm? – Senti minha testa encrespar-se enquanto tentava .

Será divertido. Vamos Bella. Você dorme lá em casa. E depois que Billie for embora..faremos noite de garotas. – Anne riu e Billie rolou os olhos.

Eu não sei não Ann. – Eu tentei sorrir, meio insegura. Tinha medo de meus pesadelos voltarem e Anne me achar uma maluca.

Isabella Swan, você vai e ponto final. – Ela disse em tom autoritário e eu apenas fiz que sim com a cabeça, Billie riu baixinho, prevendo minha cara assustada. Comecei a dirigir em direção a casa de Billie e Anne morava ali com ele a uns 2 anos,eles iriam casar-se e tudo que tinha direito. Após deixá-los na enorme casa branca, parti dali o mais rápido possível, voltando pela estrada em direção a cidade. Como era final de tarde, segui pela estrada até uma rua que cortava caminho a casa dele. Dirigi com cautela, ligando o para brisa ao notar as gotas de chuva cair no vidro do carro.

                    Você sabe que não devia estar fazendo isso..Não vá Bella..

 Eu preciso ir. – Sussurrei para mim mesma, minhas ilusões eram tão reais que eu mesma acreditava que ele estava ali comigo. No banco do carona. Como se estivéssemos indo apenas dar uma volta na casa dele. Dirigi por mais alguns instantes, logo parando no enorme gramado deixando meu carro em ponto morto, a chuva caia fortemente, aumentando o cheiro de mato cada vez mais. A dor tirou o fôlego completamente. Eu suspirei enquanto sentia a chuva molhar meu rosto, meu cabelo. Dei alguns passos devagar em direção a casa, meu coração pareceu parar de bater. Com uma dor insuportável. Uma dor difícil de administrar. Enquanto me aproximava mais da casa, que era pequena branca com detalhes azuis, eu tremi. A dor irradiando o peito pude sentir a chuva misturar-se com as lágrimas. E eu fechei os olhos, tentando encontrar forças para sair dali. Minha parte racional pedia para que eu fosse embora. Para tentar parar com a dor que aumentava. A outra parte insistia para que eu ficasse a casa vazia me deixava agoniada. Trazia-me lembranças indesejáveis. Passei minha mão no rosto, retirando algumas gotas de chuva, para poder pensar com clareza. E parti dali, entrando no carro e arrancando dali o mais rápido que eu conseguia. Dirigi até a casa de Charlie, rapidamente a chuva aumentando cada vez mais. Após estacionar o carro na entrada de carros, eu corri porta a fora com as minhas coisas até a varanda. Peguei a chave e entrei em casa. Largando minha mochila no hall e subindo ao segundo andar, fui a direção do banheiro, retirando minhas roupas molhadas pela forte chuva, eu me olhei ao espelho uma única vez. Minhas pernas tremeram, fazendo com que eu desfalecesse, me sentei no chão frio do banheiro, sentindo as lágrimas cair lamentavelmente pelo meu rosto. Eu estava desmoronando. Suspirei passando a mão no rosto, tentando de forma inútil retirar as lágrimas que me entregavam. Abri o armário, onde se encontravam os cremes dentais, giletes, escovas de dente. Utensílios de banheiro e apenas fiquei ali observando à pequena lâmina cinza, que era utilizada para fazer a barba. Chamou-me atenção por completo.

                    Então é isso que pretende fazer? O que tem na cabeça Bella...

Ignorei, balançando a cabeça na negativa, e peguei a pequena lamina no armário. Voltei a sentar no chão do banheiro, ainda trêmula. Passando a lamina com força sobre o primeiro pulso. Apertando-a com a maior força que eu conseguiria ter naquele momento. O sangue escorreu vermelho escarlate pelo meu pulso, com a mão sem o corte, tampei a boca, apenas observando o sangue que era espalhado, fiquei quieta apenas olhando o sangue que saia de meu pulso. Limpei tudo com cuidado, sem deixar alguma evidência. Lavei a lâmina e a coloquei no lugar. Após terminar, lavei meu braço, que latejava um pouco e tomei um banho,com um pouco de dificuldade. Meu pulso ardia. Como se tivesse vários cortes por ali.

Bell? – Escutei a porta fechar-se, e eu desliguei o chuveiro.

Estou saindo pai, só uns dez minutos. – Pedi, enquanto secava com cuidado meu pulso, que doía um pouco. Coloquei meu pijama e desci as escadas devagar. Não sabia o que Charlie vira em meu rosto, ele apenas fez uma cara de dor. E eu dei de ombros como se não importasse.

Como foi seu dia? – Ele quis saber e eu dei de ombros.

Mamãe está vindo. – Disse tentando parecer simpática, ele me olhou com um sorriso tristonho.

Espero que você fique bem logo filha..eu não fiz por mal. – Boa noite pai. Disse enquanto corria novamente para o segundo andar, prendendo o choro, até chegar a meu quarto. A noite foi de forma brutal arrasando comigo. Estava esgotada. Acordei no meio da noite, rezando para não ser Charlie querendo saber se eu estava bem, a voz era completamente familiar. Sobre o quarto escuro, me sentei e tudo pareceu girar. Limpei meu rosto, retirando as lagrimas que caiam lamentavelmente pelo meu rosto lívido e suspirei.

Pode entrar Char..Pai. – Disse baixo, enquanto me sentava na cama, perplexa.

Bella! Oh minha pequena. – Minha mãe atravessou o quarto sentando-se junto de mim na cama. Nós nos abraçamos e ela me olhou com cautela.

Querida, você está bem? – Ela me olhava e eu assenti. Mentindo.

Bella, eu. Bom, vamos dormir certo? Amanhã voltaremos para casa. Para o sol, o calor. – Ela sorriu maravilhada. Batendo as palmas das mãos como se fosse uma criança, eu assenti desolada. Isso fazia um perfeito sentido para minha mãe. Talvez assim Charlie se sentisse melhor não é? Pensei enquanto pensava no que dizer.

Boa noite mãe. – eu disse e ela sorriu, levantando-se de minha cama. Indo para a porta, ela apenas sorriu e assoprou um beijo. Voltei a me deitar, me encolhendo como um feto na barriga de sua mãe. A dor estava insuportável, parecia que ia me dilacerar. Por favor, por favor. Hoje não, eu estou exausta. Pensei enquanto fechava os olhos, pedindo para ter uma noite sem sonhos. Para tentar me distrair, provoquei a mim mesma a maior das dores possíveis,quando fechei os olhos,imaginei o rosto dele na minha frente, sentia seus braços ao meu redor, afagando meus braços que pareciam gelo. A sensação me traria uma dor maior do que eu pensava mais me ajudava a me distrair. Brinquei mentalmente com a imagem de Edward em minha cabeça até que adormeci.