Nico

Zeus olhava para Percy com pena, e Percy parecia não gostar nada disso. Eu sabia como era esse sentimento. Aqueles que você mal conhece não sentirem nada que passasse de pena por você. A culpa era minha.

Melany estava ferida, tudo bem ela é extremamente irritante, mas isto não justifica o que eu havia feito.

-Senhor!- chamei Zeus.- Poderia me dar licença?

-O que você quer fazer? – Ver como está Melany, não, eu não poderia falar isso, poderia? Será que ele permitiria?

-Ir... ir... ajudar!- Zeus estreitou os olhos.

-Já ajudou o bastante.- disse ele sarcástico. Meu coração parou. O que ele sabe?

- Mandei-te para cuidar de minha filha e olhe o estado em que ela retorna.- O alívio me atingiu, ele não sabia!

-Sim, o senhor mandou...- respirei fundo antes de responder- E é exatamente o que eu quero fazer agora.- disse.

-Você não vai chegar perto dela!- Gritou Percy para mim, vindo em minha direção, pronto para uma luta, mas Annabeth o conteve.

Zeus olhou de Percy para mim e depois vice-versa.

-O que aconteceu?- perguntou o deus.

-Ele...- começou Percy.

-Nada, senhor!- disse Annabeth. Percy a olhou surpreso e com raiva, mas logo olhou para a parede do outro lado para esconder o rosto de Zeus. O deus a encarava desconfiado.- Na verdade, nós havíamos sido pegos lá, e Nico nos tirou da cela. Creio que se não fosse por ele, Melany teria morrido.

-Então por que...- Zeus ia perguntar mais Annabeth foi mais rápida.

-Percy teme que Nico chegue perto de Melany porque Hades está do lado de Gaia... mas ele nos tirou da cela.- Zeus arregalou os olhos surpreso, olhei para a Annabeth, que nenhuma vez mencionou que eu a havia salvado. Esperta, não contou a verdadeira história, mas também não mentiu.

-Hades está colaborando com Gaia?!

-Sim, senhor!- disse Annabeth.

-E esse garoto salvou vocês?- perguntou ainda desconfiado.

-Não teríamos conseguido salvar Melany se não fosse ele.- E novamente ela não confirmou que eu havia salvado. Annabeth Chase, você é um gênio. Zeus agora dirigiu seu olhar a mim, um olhar que mostrava... gratidão. Gratidão essa que eu não merecia.

-Você tem 15 minutos.

-Obrigado, senhor!

Corri pelo corredor em que vi as ninfas levarem Melany. Não demorou muito e duas ninfas apareceram para me acompanhar até o quarto dela.

Quando entrei ela já estava acordada e exausta. Atena me olhou respirou fundo, levantou e saiu.

-Melany!- disse com a voz falha por vê-la em tal estado.

-Oi... Nico!- ela tinha um pouco de dificuldade para falar. Ela ergueu a mão tremula em direção a uma fonte,que era branca enfeitada com pérolas,  que a propósito, na água mostrava eu e Melany, neste mesmo quarto.

-Ela me mostrou que você salvou meu irmão e Annabeth.-disse ela. Melany me olhou e deu um meio sorriso. E mais uma vez aquele olhar que eu não merecia... um olhar de gratidão. Como... como se eu fosse um herói.

-Você viu como foi?- perguntei engolindo em seco.

-Não, mas vi Annabeth falando com Zeus agora.- olhei para o chão culpado. Eu não merecia esse olhar dela... não merecia. Mas então porque me sentia tão bem em saber que ela pensava que eu tinha algo de bom?

-Sabe... eu pensava que não precisava de você... mas... mas eu me enganei.- seu meio sorriso se alargou, e ela tentou sentar. Corri para ajudá-la. Coloquei minha mão em suas costas e a acomodei em um travesseiro de forma que ela ficasse confortável sentada.- Precisamos de você, Nico... eu mais do que os outros. Principalmente depois de hoje.- Ela suspirou cansada- Obrigada!

Meu coração disparava com o tamanho da culpa que eu sentia, mas eu iria compensá-la. Segurei sua mão.

-Melany, eu prometo te proteger... prometo.- Melany sorriu e se sentou para me abraçar, pisquei surpreso e devolvi o abraço. Aquilo era bom... a quanto tempo não abraçava alguém? Quero dizer... assim? Ha é mesmo, desde Bianca, era um abraço protetor, a diferença era que agora eu era o protetor e não o contrário. Nós ficamos daquele jeito durante alguns longos minutos até que senti o corpo de Melany ficar pesado e os braços dela afrouxarem de meu pescoço. Ela estava dormindo, deitei ela na cama com todo cuidado, quase caí em cima dela, paralisei quando quase fui de cara com a cara dela. Nossos rostos estavam próximos, e  foi aí que eu reparei, ela é realmente linda, a pele pouco bronzeada, os cabelos castanhos ondulados, os longos cílios, os lábios rosados, ela era muito bonita. Ela estava tão... tão... tranquila agora, tão diferente daquela menina raivosa que me enfrentava na biblioteca. Ri baixo. Pelo menos não questionaria mais seus instintos, pois quando insinuou que eu queria algo deles, estava certa. Prometi algo ao meu pai, mas não tinha certeza se cumpriria. O que aconteceria se você contrariasse uma promessa feita pelo rio Estige?

Suspirei e voltei a me sentar na beirada da cama, tirei uma mexa que estava em seus olhos.

-Já passou de seu tempo.- olhei para o garoto com raiva na porta, ele encarava a minha mão que paralisou no rosto de Melany. Retirei a mão e o encarei.

-Percy eu...

-Eu confiava em você Nico! Chegava a te considerar um amigo,...

-Eu sei mas...- parei de falar quando me toquei do que ele havia dito- Espera não sou mais seu amigo?

Percy ergueu as sobrancelhas como quem dizia, mas é claro que não é mais seu idiota.

-Minha irmã podia ter morrido!- disse ele se aproximando com um olhar ameaçador. A minha vontade era de dizer que pelo menos a irmã dele não havia morrido, mas sabia que se eu dissesse isso não estaria sendo justo. Até porque, Percy tentou salvar minha irmã, enquanto eu iria deixar ela morrer. Olhei para Melany novamente e me levantei da cama. Eu já havia usado a morte de Bianca contra Percy demais. Um exemplo disso foi o como eu vim parar nessa missão, mas... eu só acusei Percy por Bianca para entrar na missão.

-Eu sei disso Percy e... eu sinto muito!

-Como posso saber se está sendo sincero?- olhei para ele agora com raiva.

-Prometi lealdade ao meu pai pelo rio Estige e ainda assim tirei vocês do mundo Inferior.- Percy piscou duas vezes surpreso.

-Será que dá para vocês dois pararem de brigar?- Eu e Percy olhamos para Melany, ela  estava nos encarando exausta.

-Desculpe, Melany!- disse. Ela deu um sorriso e voltou a dormir.-Eu vou indo.- falei baixo.

Percy assentiu e foi se sentar na beirada da cama com Melany, vi ele puxar a mão da irmã e ficar olhando para ela preocupado, fechei a porta e saí.

- Eu sei como você se sente, Percy!- sussurrei- Pelo menos ela está viva.- sussurrei sozinho novamente. Comecei a caminhar pelo corredor até que ouvi a risada de uma mulher, mas não era Gaia... sabia disso, depois veio a voz de Rachel.

“Ela é a libertação do herói!”

Melany

Só havia conseguido ouvir que por algum motivo, meu irmão gêmeo não confiava mais em Nico. O que não fez o menor sentido, pois Nico os havia salvado. Será que ele desconfiava de Nico simplesmente porque ele era filho de Hades? Que estava do lado de Gaia? Ouvi Nico dizer que havia prometido lealdade ao pai diante do rio Estige, mas que ainda assim os havia salvado. Então porque Percy estava agindo dessa forma?

Adormeci logo depois que Nico partiu. A risada de uma mulher me veio a cabeça... Gaia.

-Melany! – ela me chamava.

-Me deixe em paz!- gritei e ela riu novamente. Eu gritava para o nada, que era exatamente onde eu estava, no nada. Era tudo preto, não sabia sequer se existia chão.

-Quer saber o que Nico fez para deixar seu querido irmãozinho tão irritado?- ela não esperou que eu respondesse, de repente foi como se eu estivesse caindo na escuridão que antes já me envolvia. Parei de cair, minha respiração estava acelerada, a minha frente havia uma saída, era a única luz, ouvi Gaia rir de novo, sinceramente... por que ela via graça em tudo?

Era como a luz no fim do túnel, e eu saí do “túnel”. Estava agora no mundo inferior, olhei para trás para ver de onde eu havia surgido, então percebi que não havia surgido de lugar algum... somente estava lá. Avistei alguém vindo em minha direção.

-Nico?-chamei. Ele me atravessou como se eu fosse um fantasma, meu coração e minha respiração estavam em conjunto, os dois estavam acelerados.

-Olá, meu filho. –olhei para trás, para ver de onde surgia a voz que eu conhecia tão bem, só para olhar para o meu tio, que teria me deixado morrer sem discutir- Preciso que me faça um favor!

-Qualquer coisa, pai!- disse Nico se curvando. Hades sorriu satisfeito.

-Preciso que traga para o nosso lado a arma que é capaz de destruir Gaia.

-Para o nosso lado?- perguntou Nico.

-Essa arma é a única capaz de exterminar a Gaia, minha avó... e temo que essa arma seja utilizada.

-Como é essa arma?

-Irá saber,... mas preciso que jure pelo rio Estige!- Nico assentiu.

-Juro pelo rio Estige trazer a arma que pode destruir Gaia para o nosso lado.- disse Nico com a mão sobre o peito. Nico sabia? Como ele pôde?  

-Muito bem, meu filho.

-Não!- sussurrei. E então tudo ficou embaçado e eu voltei para a cela em que Gaia me prendera, sendo que, eu me via e via Gaia prestes a me marcar com o ferro enquanto dizia.

“Os deuses querem lhe usar contra mim, mal sabem eles que você será aquela que me ajudará a derrotá-los.”

Foi aí que a ficha caiu, a visão se dissipou e eu estava no nada novamente e Gaia ria de mim.

“Essa arma é a única capaz de exterminar a Gaia, minha avó... e temo que essa arma seja utilizada.”

“Os deuses querem lhe usar contra mim”

- Não! Não! Não!- sentei na cama aterrorizada. Estava toda soada, meu coração batia forte e minha garganta estava seca, o medo foi sendo substituído pela raiva.- Nico!