Nico

–Está acabado!- disse Poseidon colocando uma mão em meu ombro.

–Luke disse que ela ainda não morreu.- falei segurando Melany nos braços- Será que... dá para fazê-la voltar?

–Dá sim!- meu pai se aproximou, engoli em seco, a raiva quase me subindo a cabeça.

–E quanto tempo ela iria durar em vida?- perguntei impaciente.

–A alma dela não partiu, é como se ela estivesse em coma.-começou meu pai- No entanto ela está meio solta dentro do corpo, sendo assim se conseguirmos prender a alma novamente ao corpo de forma que ela realmente não saia, então ela poderá seguir a vida dela normalmente... ou quase levando em consideração o fato de serem meios-sangues.- explicou Hades- Mas para isso... eu ...precisarei de uma ajudinha!- Disse Hades agora olhando para Poseidon, que apertava o tridente com força, os olhos como duas lâminas direcionadas a Hades. Eu sei bem como ele se sente, ou pelo menos tenho uma boa noção.

–Mandarei chamá-la!- disse Poseidon. Meu pai franziu os lábios e assentiu. Poseidon caminhou em direção ao castelo do Olimpo.

–Bem... espero que esteja pronto para assumir meu lugar?- trinquei os dentes, como ele conseguia pensar nisso agora?

–Eu só quero Melany de volta.- falei a olhando, os olhos fechados e rosto relaxado como se estivesse dormindo, linda. Ouvi meu pai suspirar.

–Você a terá, meu filho... você a terá.- o olhei ainda com raiva.

–É bom mesmo!

Melany

Em poucos minutos eu não aguentaria mais, a luz me chamava, me clamava e eu cederia logo, mas não posso deixá-lo, não agora. Meu... Meu Nico, por favor me ajude.

Nico!

Nico, Nico.

Nico!

Nico

Meu pai e Panaceia estavam a horas tentando trazer Melany de volta. Panaceia era necessária para curar da forma mais rápida possível os ferimentos de Melany e meu pai tentava segurar a alma dela no corpo, mas era tudo muito perigoso, extremamente arriscado, isso tanto poderia trazer Melany de volta como poderia transformá-la em um monstro. Eu estava esperando na sala de estar, a beira da loucura. Eu não sabia se estava sendo egoísta querendo trazê-la de volta, talvez eu devesse deixá-la partir, eu realmente não sabia o que poderia ser de Melany e isso me apavorava cada vez mais.

–Tente se acalmar, Nico!- disse Annabeth, eu bufei.

–Se fosse com o Percy você estaria calma?- falei quase gritando.

–Nico!- Percy gritou para mim me repreendendo- Eu também não estou tão feliz quanto você,- Percy me olhava andando de um lado para o outro impaciente- mas pelo menos tento me controlar. É o que Melany gostaria.- Paralisei. Não gostei da forma como ele disse “É o que Melany gostaria”, passava a impressão de que ela já estava morta. Mas ele está certo, Melany enlouqueceria se me visse desse jeito. Sentei, fechei os olhos e tentei me concentrar em qualquer outra coisa. Resolvi que ficar contando era uma das melhores formas então comecei.

1...2...3...4...5

Eu já estava no oitenta e nove quando ouvi a porta se abrir. Abri os olhos, meu coração deu um pulo e pareceu parar por um instante. Lá está ela entre Panaceia e Hades, foi por puro instinto, eu só notei que estava de pé quando ouvi o baque da cadeira no chão atrás de mim. Eu queria abraçá-la, afastá-la daquele que enfiara uma foice em suas costas, aquele que fez com que a vida se esvaísse de seus olhos em meus braços, meu próprio pai. Eu queria ela sob minha proteção novamente, mas ao mesmo tempo temia isso pois foi sob minha proteção que ela quase se foi. Mas ainda assim a vontade de tirá-la dali era forte, mas tudo me assustava demais, eu queria estar com ela em meus braços mas a minha personalidade e o múltiplo de emoções que me rondavam me impediram de dar um passo sequer a frente. Também tinha a questão de ter sido por minha causa, ela se jogou na minha frente.

Ela estava a dez passos de distância mas para mim pareciam quilômetros, justo eu que estava tão desesperado agora pouco não conseguia ter uma reação sequer, e o fato de estarem todos parados esperando alguma reação de mim também não ajudava em nada.

Ela sorria, o anel com o rubi em seu dedo brilhava com a luz do local, chamando a atenção de todos para o que estava por vir. Eu queria ter uma reação que fizesse algum tipo de sentido diante daquilo tudo, mas só o que eu fiz foi colocar as mãos nos bolsos de minha calça jeans preta, dar meio passo para trás e encarar o chão.

Ouvi alguém engasgar mas parecia meio falso, olhei para o lado e vi Percy erguer uma sobrancelha e Annabeth fazer sinais para que eu fosse até Melany. Respirei fundo.

–Me... Melany... eu... eu ...- não foi preciso terminar a frase, Melany correu até mim e me abraçou, instantaneamente envolvi meus braços em volta dela, enterrei meu rosto em seus cabelos sentindo o cheiro dela, o cheiro dela viva. Não esperava o que estava prestes a acontecer mas... aconteceu. Lágrimas desceram por meus olhos enquanto sentia o coração dela contra meu tórax, minha respiração estava entrecortada e eu dava soluços que eu não me lembrava de ter dado desde que eu era uma criança. Ela estava aqui, bem aqui. Nunca senti nada parecido, aquela emoção de tê-la comigo. Eu sabia que a amava, sempre soube disso, mas não tinha noção da extensão disso.

–Nunca mais faça isso entendeu?... Mesmo que eu esteja ferido e uma espada esteja prestes a me destruir como aconteceu com a foice... por favor... por favor não... não faça isso!- apertei ela ainda mais contra meu peito- Prometa, Melany!- segurei seu rosto em minhas mãos fazendo ela olhar para mim, seus olhos brilhando com lágrimas contidas- Prometa que nunca mais fará isso!- ela piscou e as lágrimas desceram, ela sorriu.

–Não, não posso prometer isso.- ela disse- É como respirar, é um instinto, eu sempre... não importa o quão torturante isso possa ser, eu sempre, sempre, darei a minha vida por você, pelo menos você poderá seguir com a sua.

Soltei o rosto dela e ri sem humor.

–O que?- ri de novo, ela franziu as sobrancelhas, confusa- Melany, como...- engulo em seco- Como você poderia querer que eu seguisse a minha vida,... se você é ela?- o sorriso de Melany foi estonteante, as lágrimas escorriam de seus olhos agora em maior quantidade, coloquei minhas mãos em seus ombros.- Você é tudo, Melany, você é a minha vida, se você morrer eu vou morrer junto, e tudo o que você deixaria pra mim seria... nada, eu seria nada. –A puxei e a beijei como se minha vida dependesse disso, e na verdade, dependia, pois eu sempre dependeria de Melany, pois se ela for, eu irei junto.