Melany

Senti minha cabeça latejar enquanto acordava. Um gemido de dor escapou por meus lábios. Senti alguma mão apertando a minha e eu abri os olhos lentamente, minha vista estava embaçada e demorou um pouco para eu identificar a pessoa sentada ao meu lado.

-Percy?

-Oi, irmãzinha! Como se sente?- pisquei um pouco atordoada e tentei refletir a pergunta que ele me fez, apesar de ser bem simples.

-Estou bem. Com um pouco de enxaqueca mas estou bem!- respondi tentando me sentar. Percy se apressou em ajeitar o travesseiro nas minhas costas para que eu ficasse confortável.- Obrigada!- ele deu um sorriso, mas seu olhar parecia triste e distante. Olhei em volta identificando meu quarto.

-Onde está Nico, Percy?- perguntei curiosa. Percy franziu os lábios e desviou o olhar, como se essa fosse a pergunta que ele mais temia que eu fizesse. Meu coração acelerou com a preocupação que crescia dentro de mim.- Percy,...- minha voz falhou rouca e severa- onde está Nico?- Percy suspirou.

-Você ainda está indisposta, Melany, não é bom para você...

-Percy!- gritei o repreendendo. Fiz logo uma careta de dor, mas respirei fundo e o encarei. Ele sabia que eu não iria sossegar enquanto ele não me dissesse. Percy engoliu em seco e suspirou, ele umedeceu os lábios se preparando para falar o que para mim, parecia ser uma péssima notícia.

-Ele foi embora, Melany!

-Como assim foi embora?- ri sem humor- Ele vai voltar né?!- senti meus olhos arderem e minha respiração ficar mais ainda fora de controle.

-Creio que não.- disse Percy quase que para se mesmo.

-Por que?- minha voz falhou com o nó que se formava em minha garganta. Percy deu um aperto leve em minha mão.

-Depois do que aconteceu com você ontem,... ele decidiu que não era seguro você ficar perto dele.

-E o que aconteceu?- eu tentei me lembrar do ocorrido de ontem mas isso só fez minha enxaqueca piorar.

Percy relatou tudo com o máximo de calma possível, ele até incluiu a conversa que tivera com Nico ontem, e sobre como eles descobriram o significado da profecia que Rachel havia feito quando Percy ainda nem me conhecia. Profecia essa que foi o motivo para Percy e Annabeth resolverem ir atras de mim, apesar de que quando estavam prestes a partir, eu os havia encontrado. Nico acreditou que ele era o único que poderia me colocar diante de Hades, o que não é verdade. Eu e Hades nos enfrentaríamos mais cedo ou mais tarde, e isso não é culpa de Nico. Olhei para a minha mão direita.

-Ele levou quando você ainda estava dormindo!- disse Percy vendo a minha reação ao encarar a mão sem o anel de noivado. As lágrimas desceram feito cascatas por meu rosto, a dor que eu sentia naquele momento era inexplicável.

Depois de tudo que dissemos um para o outro, depois de todas as promessas que ele havia me feito... de que ficaria ao meu lado e tudo mais. Mas eu não podia culpá-lo. A promessa que ele mais dava valor era a de me proteger, e era isso o que ele acreditava estar fazendo. Olhei para Percy, a raiva me consumindo de imediato.

-Eu vou atrás dele.- falei decidida.

-Mas você não sabe aonde ele está.- apressou-se Percy. Me levantei da cama e cambaleei até meu armário na esperança de encontrar alguma roupa limpa.

- Para o acampamento ele não vai...- começei- ele sabe que eu teria que ir para lá mais cedo ou mais tarde,... obviamente ele não irá atras de Hades. Para o apartamento dele na frente do nosso prédio também não...- tive sorte, Zeus deixou algumas mudas de roupa para quando eu fosse visitá-lo- se a intenção dele é realmente sumir da minha vida, então... só resta um lugar.

-Onde?- perguntou Percy.

Um meio sorriso brincou em meus lábios. Nico que me aguarde.

Nico

Girei a chave na porta da minha casa na California, ao encarar a casa, o buraco em meu peito só fez aumentar. Fechei meus olhos e me joguei no sofá, absorvendo toda a dor que era a de deixar Melany.

-Ora, ora, ora! Sua casa é bem bonita!- levantei em um pulo. A garota encostada na janela tinha um sorriso largo nos lábios, os cabelos loiros refletindo a luz do dia.

-Soraia!- minha voz saiu quase que como um rugido- O que faz aqui?

-Vim acompanhar um amigo.- disse ela caminhando majestosamente, encarando cada detalhe da casa. As mechas coloridas de seus cabelos estavam desbotadas, e ela parecia um tanto suja. Fiquei imaginando por onde ela havia andado.

-Amigo?- a encarei confuso- Que amigo?

-Devo admitir que você é de muito bom gosto.- olhei assustado para a pessoa que vinha caminhando do corredor- Ainda me lembro como se fosse ontem, quando eu passei um tempo com sua mãe aqui, apesar de que essa casa não lembra em nada a sua antiga forma. Pelo visto você fez muito bom uso do dinheiro que lhe dei.- Hades se encostou na parede e me encarou. Coloquei as mãos nos bolsos do casaco, onde em um deles estava o anel de Melany. O apertei arranjando coragem para encarar a pessoa que um dia eu chamei de pai. A expressão de Hades não me lembrava em nada o deus que eu havia conhecido e admirado. Ele parecia mais velho, cansado e cruel. Lembrei-me do que Poseidon havia dito sobre os deuses estarem perdendo as suas forças, acredito que Hades ainda esteja cego acreditando que Gaia pode salvá-lo, e isso explicava o seu olhar que beirava ao desespero. O tempo de Hades estava se esgotando, e ele ainda não tinha Melany em suas mãos. Apesar de saber muito bem o que ele queria, eu insisti em perguntar.

-O que você quer?

-Onde ela está?- perguntou Hades sério.

-Como me encontrou?

-Tive uma ajudinha!- Hades sorriu para Soraia. A olhei surpreso.

-Como... como você...?

-Ha não foi nada difícil, bastou dar uma espionada nos arquivos do acampamento meio-sangue para descobrir a sua reforma com esta casa.- respondeu logo Soraia. A raiva me consumia tanto, que eu podia sentir ela aquecendo minhas orelhas.

-Um ...- começou Hades- velho habito... eles costumam a arrecadar informações sobre os campistas meios-sangues para garantir a sua segurança.- Engoli em seco. Meu olhar estava fixo em Soraia.

-Maldito foi o dia em que eu e Melany a salvamos.- Soraia revirou os olhos.

-É nossa... muito obrigada, mas nunca dei valor ao que vocês fizeram por mim de verdade. Na verdade eu só dei valor a você,... quando pensei que Melany estivesse morta, quase dei graças aos deuses, e quanto a vocês terem me salvado- ela deu de ombros- tenho certeza de que eu conseguiria me virar sozinha.

-Eram dois minotauros!- gritei, a raiva vivida em minha voz.

-E daí?!- disse ela- Eu fingia que estava indefesa porque acreditei que seria divertido, mas eu estava apenas brincando.

-Vadia!- falei entre os dentes. Os olhos de Soraia brilharam de raiva.

-Eu realmente gosto de você, Nico... mas...- eu nunca pensei que fosse capaz de fazer o que eu fiz, mas dei um tapa na cara dela tão forte que Soraia caiu no chão com as mãos sobre o rosto, o tapa foi tão forte que dava para ver o sangue que só não escorria porque não havia rompido a pele. Os olhos de Soraia estavam cheios de lágrimas. Eu jamais bateria em uma mulher, mas acho que a palavra mulher, ou garota não deviam se referir a ela. Eu não conseguia imaginar um insulto que fosse digno dela. Sentia calafrios só de pensar que Afrodite havia previsto que um dia eu teria um filho com ela, já sentia pena da criança que nunca existiria.

-Basta!- gritou Hades. Me voltei para ele.

- O que você quer?- gritei- Fale logo!

-Eu quero Melany!- respondeu Hades sério e ameaçador, os olhos brilhando de raiva.- E é você quem vai trazê-la até mim. É você quem irá fazê-la se voltar contra os deuses e ficar ao lado de Gaia.- ri sem humor. Era realmente impressionante como Hades poderia ser tão egoísta e cego.

-Eu jamais irei trazê-la até você.- falei incrédulo.

-E quem disse que você irá buscá-la?- Hades se aproximou de mim com um olhar cruel e sombrio, engoli em seco- Ela é quem virá atras de você.- arregalei os olhos. Hades ergueu a mão e me acertou com um murro. Eu caí e o anel escorregou de minha mão que saiu do bolso. O anel veio rolando até parar próximo de minha boca. Sangue caiu por cima dele, e logo uma lágrima minha pingou no anel, mas não porque eu sentia dor, mas sim porque eu pensei nela.

Melany.

E alguma coisa acertou minha nuca, me fazendo perder a consciência.