Já tinha acordado faziam horas. Não conseguia segurar minha ansiedade diante da possibilidade de ver Draco depois de tantos dias. Ron querendo ou não, trabalhávamos no mesmo lugar.

Ele tinha me feito ficar em casa com ele, fazendo nada, somente por um ciúme infantil que ele insistia em manter. Tudo bem que o ciúme dele tinha fundamentos, mas nada que ninguém pudesse comprovar.

Senti o enjoo matinal de sempre e corri para o banheiro colocando todo o café da manhã que eu havia tomado mais cedo pra fora. Antes era só com cheiros, agora tudo que eu comia fazia meu estômago revirar. Eu não aguentava mais esses enjoos, eles me faziam sentir fraca. Antes de Ron voltar, Draco vinha até minha casa toda manhã para saber se eu não tinha morrido de tanto vomitar, o que eu achava muito gentil de sua parte, mas com Ron de volta, ele não podia sequer cogitar a possibilidade de vir até aqui.

Lavei o rosto e a boca e me sentei na cama. Minha aparência estava horrível, eu estava mais magra e tinha olheiras fundas embaixo dos olhos por culpa de algumas noites mal dormidas. Como eu esconderia essa gravidez durante tanto tempo? Algum dia todos iriam acabar descobrindo, certo? Suspirei.

A campainha tocou e eu agitei a cabeça tentando me livrar desses pensamentos. A campainha tocou mais uma vez e eu me levantei da cama ainda me sentindo um pouco fraca. Daria tudo para que a pessoa que estivesse naquela porta fosse Draco, mas ao abrir, mal consegui conter meu suspiro de decepção.

— Bom dia amor! - Ron falou sorrindo. - Vim te buscar para irmos trabalhar.

— Bom dia! - Falei dando de ombros.

Voltei para dentro de casa deixando a porta aberta para que ele entrasse e peguei meu sobretudo e minha bolsa. Segurei em seu braço e nós aparatamos para o Ministério. Tentei controlar mais uma vez meu estômago e Ron me olhou de forma estranha.

— Você está bem? Parece um pouco pálida. - Ele perguntou preocupado.

— Estou ótima. É só um mal estar passageiro. - Tentei parecer convincente.

— Acho melhor te levar num medi-bruxo.

Meu rosto perdeu a cor e eu senti minhas mãos suarem. Se fôssemos ao médico, ele descobriria sobre a gravidez mais rápido do que eu esperava. Eu sequer tinha pensado sobre isso, sobre o que faria. Passei as mãos pelos cabelos, totalmente nervosa e respirei fundo. Tentando parecer o melhor possível, o olhei com um sorriso trêmulo no rosto.

— Não precisa meu amor, garanto que logo estarei melhor. Só foi um ligeiro mal estar. Deve ter sido algo que comi. - Ele assentiu, desistindo da ideia de me levar a um medi-bruxo e eu suspirei aliviada.

— Vou levá-la até sua sala, pra garantir sua segurança. - Ele falou assim que viu um ser de cabelos loiros platinados se aproximar no meio da multidão. Ron passou o braço pela minha cintura e me obrigou a caminhar.

Assim que passamos ao lado de Draco, murmurei um "Depois a gente se fala" enquanto Ron me observava de canto.

O ruivo me deixou na minha sala e foi para o departamento de aurores. Suspirei aliviada quando percebi que estava sozinha e que meu estômago realmente parecia muito melhor.

A porta da minha sala abriu e Draco entrou por ela. Fiquei um pouco estática com sua ousadia de vir até aqui me ver, mas depois sorri.

— Trouxe chá. Sei que ainda não consegue comer nada sem ter vontade de colocar pra fora logo depois, então achei que um pouco de chá seria melhor. - Eu queria correr até ele e beijá-lo, mas sabia que simplesmente não podia, não tinha esse direito e muito menos deveria ter essa vontade. 

— Obrigada. - Peguei o copo em sua mão e me sentei em minha cadeira. Ele ficou alguns minutos olhando pela janela até olhar diretamente para mim.

— Você parece melhor. Estava pálida quando a vi com o Weasley ainda pouco.

— Enjoos inúteis. - Murmurei com os olhos fechados e a cabeça apoiada no encosto da cadeira.

— A medi-bruxa disse que logo passará. Tem que aguentar firme.

— Eu sei. - Resmunguei. - Essa não é uma das minhas maiores preocupações. - Ele assentiu pensativo e eu suspirei.

Me levantei indo até a janela e olhando lá fora. O céu estava escuro e cinzento, assim como os olhos dele. Fechei os meus olhos me xingando mentalmente por estar pensando nisso e senti ele se aproximar. Meu coração batia mais forte a cada passo que ele dava. Ele parou ao meu lado e também olhou pela janela. Encarei seus olhos cor de tempestade e senti as mãos dele descerem até meu ventre, fazendo um carinho ali na região. Pus minhas mãos por cima da dele e nós olhamos para minha barriga que não demonstrava o mínimo sinal de gravidez.

Uma batida forte na porta da sala nos assustou e nós nos afastamos bruscamente. Sentei na cadeira e tomei um gole do chá para ter o que fazer com as mãos.

— Entre! - Falei para quem quer que fosse que tenha batido na porta. Uma colega minha de trabalho entrou na sala.

— Srta Granger, desculpe atrapalhar, mas o Sr Malfoy está sendo chamado. Sua noiva, Pansy Parkinson, está te esperando em sua sala.

Noiva? Arqueei levemente uma sobrancelha e esperei que a mulher saísse da sala para começar a fazer as perguntas que se formavam em minha mente.

— Noiva? - Perguntei fingindo descaso. Não sei se obtive sucesso.

— Não! – Draco falou meio desesperado. - Pansy é louca. Não é com ela que quero me casar. - Ele disse convicto e eu assenti mecanicamente. Não pude deixar de me sentir triste pela confissão que ele fizera. Pelo visto ele já tinha decidido o futuro dele em relação à família.

— Acho melhor você ir. - Disse com a voz embargada.

Senti que ia chorar então me levantei bruscamente e entrei no banheiro. Ouvi alguns segundos depois a porta da sala bater com força. Deixei que as lágrimas caíssem livremente por meu rosto até que cessassem. Meu emocional estava uma droga! Meu estômago estava uma droga! Minha vida estava uma droga!

**

Saí da sala de Hermione com um ódio mortal de Pansy. Noiva? Ela era louca por acaso? Eu suspeitava que a resposta era sim.

Entrei feito um furacão na minha sala e a vi sentada na minha cadeira.

— O que quer aqui? - Perguntei, incapaz de controlar a grosseria.

— Ai Draquinho... Não posso visitar meu namorado no trabalho? Estava com saudades. - Ela alisou meu braço sugestivamente.

— Pansy, isso é um local de trabalho. - Falei me afastando dela.

— Eu sei. E isso não torna tudo ainda mais excitante? Todo esse perigo de sermos pegos ou vistos.

Ela jogou os braços em volta do meu pescoço e começou a trilhar caminhos de beijos pelo meu pescoço, passando pelo queixo, até chegar a minha boca. Correspondi ao beijo, mas não por muito tempo. O sorriso de Hermione apareceu como um flash em minha mente e logo depois a forma como ela correu para o banheiro ainda pouco, prestes a chorar e eu empurrei Pansy com força. Ela me olhou um pouco assustada e eu busquei por uma desculpa coerente em minha cabeça.

— Já disse que esse é um local de trabalho. Por favor, me dê licença, preciso trabalhar. - Ela me olhou raivosa, pegou a bolsa em cima da mesa e saiu feito um furacão pela porta da sala.

**

Caminhei pelos corredores do Ministério, um pouco perdida com a quantidade de pessoas e salas ali. Entrei no elevador determinada e quando ele anunciou que aquele era o andar do Q.G dos Aurores eu saí apressada. Algumas pessoas me olhavam totalmente confusas, mas eu não me importava, estava a procura de uma pessoa.

— Weasley! - Chamei assim que o vi próximo ao Potter e outros aurores. Ele pareceu assustado quando me viu, mas veio até mim. Pegou pelo meu braço e praticamente me jogou dentro de uma sala.

— Você ficou louca? - Ele vociferou e eu me limitei a sentar numa cadeira qualquer que tinha ali.

— Sabe com quem sua namoradinha estava ainda pouco? - Perguntei e ele me olhou interessado. - Com o Draco! Eles estavam trancados na sala dela!

— Mas que droga! Eu já pedi pra que ela acabasse com essa amizade! Mas pelo visto seu namoradinho não a deixa em paz!

— Por que a culpa é toda de Draco agora? Ela não para de se jogar pra cima dele! Mas não é sobre isso que vim falar. - Agitei as mãos no ar, exasperada.

— E o que quer então?

— Precisamos separá-los e tenho certeza que você não recusará minha proposta.