Eu estava de frente para Abe quando o ouvir chamar por nome o homem que me perseguia, não entendi absolutamente nada do que tinha acabado de acontecer. Olhei para trás e vi o tal Robert correr como louco para longe de nós, Abe olhou pra mim, eu podia ver um tipo de preocupação nele, mas não pude aproveitar por muito tempo. Logo senti uma ardência nos pés, percebi que eles estavam sangrando, não era nada horroroso, mas eu não gostava de ver sangue, principalmente o meu. 

- De onde você o conhece pai? 

Ele deu de ombros, logo depois vi Alberta e Dimitri do nosso lado. De onde eles vieram? Me perguntei enquanto voltava meu olhar para Abe.

- Você não deveria sair sozinha por ai, muito menos a essa hora. Já pra dentro! - ele apontou para a casa. Me tratava como uma criança, revirei os olhos pra ele.

- O que houve Rosa? - perguntou Alberta ignorando Abe. 

- Nathan e outro cara chamado Robert. - falei olhando feio para meu pai que fingiu não ser com ele, Abe apenas observava o lugar de onde Robert tinha vindo. - Eles estavam atrás de mim, mas eu consegui bater neles e deu tempo suficiente para que eu escapasse. 

Falei por fim e passei por eles sem olhar pra trás, não estava aguentando a dor que sentia nos pés. Eu corri para o banheiro tomar banho e fazer um curativo nos pés. Já estavam melhores agora, mas ainda os sentia doloridos. Eu tinha vestido um top e uma calça de moletom. Me deitei na cama ao contrário colocando minhas pernas em cima da madeira da cama. Resolvi ligar para Lissa, precisava conversar com minha melhor amiga agora. Ela atendeu no segundo toque.

-Alo Rose?

- Oi Liss. Tudo bem amiga?

- Sim, o que aconteceu? -ela sempre sabia, não tinha como esconder dela meus sentimentos. 

- Ah, além de descobrir que meu pai tinha um caso com a professora Karp e ele me der um tapa na cara, estou bem! 

- Nossa Rose. Não acredito que ele te deu um tapa.

-Pois é Liss. Eu também não. - eu dei uma pausa antes de continuar. - Você e o Christian descobriram algo?

- Sim, Sonya morou na Turquia antes de mudar pra cá. Depois soubemos que ela trabalhava em uma clinica psiquiátrica. Mas...

- Mas o que Liss? - balbuciei quando ela parou de contar.

- Bom, Chris fez uma pesquisa mais afundo e soube que ela quase foi internada por causa de distúrbios mentais. 

- Você diz quase. Como assim?

-  Ela não foi internada por falta de provas, parece que alguém a ajudou. Alguém com muito poder pelo que soube.

- Claro, Abe a ajudou, ele também é da Turquia. Agora esta fazendo sentido. 

Eu fiquei resmungando com Lissa sobre como ele estava comigo desde a morte da minha mãe. Já suspeitava que Abe tivesse conhecido Sonya antes de Janine, ela era muito esperta, e sabia muito bem quando as pessoas escondiam algo dela. Ela nunca foi uma mãe cem por cento, mas não desejava que fosse traída.

Nós duas conversamos mais um pouco antes de desligarmos, a gente já tinha combinado dias atrás sobre a roupa, ela me ajudou a escolher a fantasia que eu vestiria amanha na festa, mas foi eu quem escolheu qual seria o personagem. Lissa já sabia o que seria, uma bruxa 'branca'. Liss não gostava de coisas erradas e era encantada por coisas sobrenaturais e os elementos da natureza. Era a fantasia perfeita assim como a minha era pra mim. 

Me deitei sem nem se quer apagar a luz ou me cobrir, a exaustão me pegou em cheio, eu estava fechando os olhos quando ouvi três batidas na porta. Amaldiçoei quem quer que fosse me chamar a essa hora. Mas deixei pra lá quando vi Dimitri entrar, ele parou de andar e antes de fechar a porta analisou o jeito como estava vestida, eu dei um sorriso sexy e provoquei. 

- Gostou de algo camarada? 

Ele deu de ombros e piscou algumas vezes. Sua expressão era de preocupação enquanto olhava meus pés com os curativos avermelhados, eles tinham parado de sangrar à pouco tempo. 

- Você esta bem? 

- Estou. - afirmei mesmo não acreditando que fosse verdade. 

Ele cruzou os braços e fitou meu rosto. - Deixe-me ver esses machucados.

Dimitri se sentou na ponta da cama e colocou meus pés em cima de suas pernas. Eu ainda estava deitada e recebi muito bem o toque suave das mãos de Dimitri em minha pele, ele massageava meus pés com cuidado para não me machucar, senti aquela mesma corrente passar por mim. Senti que era algo erótico mesmo não sendo essa a intenção dele. 

- Você se saiu bem lá fora. - ele falou me pegando de surpresa, abri meus olhos e sorri.

- Tive um bom professor. - ele virou a cabeça um pouco de lado e vi seus olhos brilharem. 

Dimitri suspirou antes de olhar para o lado oposto. - Não sei o que faria se algo tivesse te acontecido Roza. - meu coração acelerou com aquela frase. - Se eu estivesse lá você não teria se machucado. 

Ele olhava para meus pés e parou com a massagem, me levantei ficando sentada a sua frente tirando meus pés de cima de seu colo.

- Hey, a culpa não foi sua. Se você não tivesse me ensinado nenhuma daquelas coisas antes, eles poderiam ter...- não pude terminar a frase. Robert não me assustava, Nathan sim, do jeito como ele me olhou, o jeito como falou comigo. Eu tinha nojo dele. Eu passei a mão no rosto de Dimitri que fechou os olhos e apertou com força, parecia estar sofrendo. - Eu estou aqui, isso que importa. 

Ele colocou sua mão sobre a minha e abriu os olhos, Dimitri deu um leve sorriso que fez meu coração acelerar mais. Depois enrolou uma mecha do meu cabelo na outra mão e ficou brincando com ele. Foi o gesto mais carinhoso que já senti na minha vida. Nós não precisamos de palavras para nos expressar. Para que entendêssemosum ao outro

De repente ele se aproximou e beijou minha testa, ficou um tempo naquela posição, eu sentia o cheiro de pós-barba dele. Sua respiração era a melhor coisa do mundo, saber que estava lá comigo e que se importava, era um sentimento maravilhoso.

Dimitri se levantou para ir embora, disse que não queria que eu fosse dormir tarde pois eu não gostaria de acordar tarde por causa da festa, mesmo sendo de noite, ainda sim eu não queria aparecer lá com cara de sono. Antes de sair do quarto ele me olhou por cima dos ombros e falou de um modo carinhoso.

- Durma bem moe Roza.

- Você também camarada.

Eu realmente dormi muito bem aquela noite, amanha eu perguntaria para Dimitri o que significava "moe". Espero que ele me responda. Não tive sonhos ou se quer pesadelos. Ainda bem.

Finalmente hoje era sábado, não falei muito com Dimitri o dia inteiro, ele, Mikhail, Stan e Alberta ficaram quase que a maior parte do tempo dentro do escritório de Abe. Fazendo não sei o que. 

Eu estava indo tomar banho quando Dimitri pede para entrar no meu quarto, eu logicamente deixo. Ele estava com um sorriso enorme no rosto, aquilo me alegrou mais ainda, era algo muito raro vê-lo daquele jeito. Sem a sua postura de guardião e tal.

-Tenho algo pra você Rose. 

- O que é? - eu juntei as mãos como se fosse um tipo de prese, ele deu uma leve gargalhada e tirou do bolso do casaco uma pequena caixinha preta com uma listra dourada. Ao abri-la vi um colar de prata com um pingente de coração.

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- É lindo demais Dimitri. - eu disse o olhando no fundo dos olhos.

- Minha mãe me deu e disse que era pra dar a uma pessoa que... - ele deu um sorriso malicioso - Posso colocar em você pra ver como fica? 

- Pode, mas... 

Ele me interrompeu enquanto tirava o colar de dentro da caixinha. - Nada demais, eu quero dar a você e ponto final. 

Eu assenti derrotada e então me virei tirando meus cabelos da frente, ele passou as mãos por cima da minha cabeça e colocou o colar em meu pescoço, trancando o fecho e passando as mãos por meus ombros me fazendo ficar arrepiada. Ao perceber isso o ouvi suspirar. Ele sentia o mesmo que eu. 

Me virei e o abracei, fiquei feliz em ver que ele retribuiu, eu agradeci mais uma vez e depois murmurei em seu ouvido.

- O que significa 'moe' ? 

Ele se afastou de mim agora com sua expressão séria novamente e foi para a porta, antes que saísse do quarto ele falou, percebi que sorria gentilmente. 

- Significa "Minha" em russo.