Ficlets And Drabbles escrita por Nihaxy


Capítulo 2
Monkey Bars


Notas iniciais do capítulo

Prompt: teenage Rizzles, parquinho infantil



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A/N: Só repetindo o que eu já disse na sinopse, cada capítulo é uma one-shot, ou seja, esse não tem nada a ver com o anterior. Hope you like it! (:

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Ela estava te esperando no parque, como sempre acontecia nos sábados à tarde.

Você, como um ser naturalmente rotineiro, chegou lá exatamente às três e quarenta e dois da tarde, e, primeiro, estranhou o fato de ela não estar sentada num dos balanços, chutando a terra com os pés enquanto buscava maneiras de afastar o tédio de ficar sozinha.

Então, passando os olhos pelo parque vazio, você a encontrou.

Pendurada de cabeça para baixo numa das barras do brinquedo cujo nome ela, por alguma razão que você não conhecia, achava incrivelmente engraçado. Na primeira vez que ela comentou isso, você simplesmente a encarou, a questão implícita e pairando no ar. Mais uma vez, seu conhecimento de gírias e linguagem popular – ou melhor, falta de conhecimento – entrou em ação. Ela te olhou de volta com a expressão incrédula, perguntando se você não achava estranho um brinquedo infantil ser chamado “trepa-trepa”, e, quando sua resposta foi não, ela interrompeu seu discurso de como esse nome faria lógica com um simples “então vamos preservar a sua inocência”.

E agora lá estava ela, as pernas a segurando de ponta-cabeça exatamente na barra do meio, braços soltos ao lado do corpo, cachos indomáveis completamente espalhados, um meio-sorriso no rosto e os olhos fechados.

Ela era, especialmente em momentos como esses, uma coisa que você não sabia explicar, categorizar e, principalmente, entender.

Ela era especial. Essa amizade era seu bem mais precioso, e a única coisa que você tinha orgulho de possuir.

Se bem que, ultimamente, você vinha se perguntando com cada vez mais frequência se era, realmente, só uma amizade.

Você sabia muito bem que as batidas irregulares do seu coração e o arrepio que você sentia toda vez que ela se aproximava tinham uma parcela de hormônios como responsáveis, mas também tinha a certeza de que havia algo mais, algo que você não conseguia exatamente identificar.

Na verdade, quando o assunto diz respeito a ela, há muito pouco que você – com seu QI de gênio e lógica imperturbável – consiga explicar. Mas ela te ensinou a simplesmente aceitar algumas coisas como verdade, sem questionamentos ou experimentos empíricos. Ela te fez melhor.

Às vezes, você se pergunta o que fez de tão certo para ter alguém como ela na sua vida. E mesmo passando horas divagando sobre o assunto, você não consegue pensar numa resposta, então simplesmente agradece ao que quer que seja – a qualquer entidade superior, à roda do carma, tanto faz – por ela ter decidido ir ao banheiro antes da primeira aula naquela quarta-feira de manhã.

Você tinha se mudado para Boston poucos dias antes de o colégio começar. Seus pais ainda tinham esperança que você fosse fazer algum amigo, mas você não se iludia. Ninguém ia querer andar com a garota esquisita e praticamente estrangeira que vivia com o nariz enfiado nos livros e colecionava A+’s. Bem, exceto quando havia algum trabalho que valia nota. Mas mesmo para isso te achavam muito estranha, e você continuava, como sempre, sozinha.

Não ajudava nada ser dois anos mais nova do que todos os outros, e mais inteligente do que metade deles juntos. Mal passara uma semana, você já ganhara um novo apelido: Maura the bora.

Você fingia que não se importava, mas, por dentro, tinha vontade de chorar.

Naquele dia, porém, foi diferente. Você estava passando, como sempre, olhando para baixo e rezando para ninguém te notar. Mas é claro que um dos garotos da gangue que sempre te atormentava viu você passando, e eles fizeram o que faziam sempre: te xingar do que quer que viesse à cabeça sem causa ou razão aparente. Você ia simplesmente continuar no seu rumo, mas ouviu alguém se dar ao trabalho de parar e dizer alguma coisa em que você teria prestado atenção se não estivesse tão chocada pelo fato de alguém, por uma vez, te defender.

Quando você desgrudou os olhos do chão, ela estava na sua frente, um sorriso tímido no rosto, perguntando se você estava bem sem realmente falar nada.

“Obrigada”, você disse, a título de apresentação. “Você não precisava ter feito isso.”

O sorriso dela, levemente sarcástico e com covinhas aparecendo, gritava a resposta que vocês duas sabiam: sim, ela precisava ter feito isso. Ela sabia o quanto garotos de 14 anos podem ser estúpidos.

“Sou Jane.” ela respondeu, estendendo a mão.

“Maura.”

Vocês praticamente não se desgrudaram desde então. Era como se um campo eletromagnético ou uma força centrípeta te puxasse na direção dela, e você, mesmo que quisesse, não conseguia resistir. Cada uma a seu modo, vocês duas eram excluídas. Ela era a menina-macho que se excedia nos esportes e conseguiria vencer uma briga contra qualquer dos garotos – obviamente, esses traços também lhe renderam apelidos, os mais comuns questionando a sexualidade. Mas Jane não se importava, como se essas pessoas não merecessem um segundo da sua atenção.

Ela era tudo isso, e você era... bem, você.

Mas ela te aceitou e, com isso, você ganhou mais que uma melhor amiga. Você ganhou um melhor amigo, Frost; dois irmãos mais novos, uma mãe que não hesitava em demonstrar afeto. Tudo o que você sempre quis, ela simplesmente te deu apenas porque era da natureza dela fazer isso.

E agora, enquanto você atravessa o parquinho vazio em direção a ela, você se pergunta se ela é, realmente, apenas sua amiga.

Constantemente, os outros alunos conspiram se é verdade que ela gosta de meninas – devido, talvez, ao estereótipo lésbico que ela praticamente encarna. Você já teve vontade de perguntar, mas não achou um jeito sutil de fazê-lo e ficou com medo de ofendê-la de algum modo, então se calou.

Como se sentindo a sua presença, ela abre os olhos, mas não faz menção de descer de onde está pendurada.

–Quase cheguei a pensar que você não vinha, nerd.

O apelido, que tantas vezes foi dito pejorativamente, é acompanhado por um sorriso, e você sabe que ela, na verdade, acha sua inteligência uma qualidade.

–É a mesma hora em que chego todas as vezes. Você sabe que tenho de esperar o fim do balé. – você responde, checando o relógio apenas por reflexo. – E você devia descer daí, antes que caia e bata a cabeça. Sabia que uma concussão é extremamente perigosa e...

Ela confirma com a cabeça, interrompendo seus factoides. –Não quer dizer que eu não tenha sentido sua falta.

Os segundos pareceram confluir para esse momento, e você para, completamente estática, a boca ainda meio aberta da palavra não terminada. A cabeça dela está na altura da sua, e seus lábios formam a expressão mais doce que você possa já ter imaginado.

E é instintivo, quase um reflexo. Você se inclina para frente alguns centímetros e cola seus lábios nos dela.

O mundo poderia estar acabando do seu lado, mas você não notaria.

E você não sabe se passaram segundos ou horas, até que você volta à posição original. Ela te olha estupefata, e você acha que seu rosto reflete a mesma expressão. Mas você não tem tempo de pensar nas consequências do que acabou de fazer, porque, em um instante, ela estava lá, pendurada, e no outro, ela se desequilibra e cai no chão.

Os minutos que se passam são de agonia. Você está prestes a desmaiar apenas pelo pensamento de tê-la macucado – é praticamente certeza que só não o fez porque ficou preocupada demais com a batida da cabeça para pensar no que quer que seja. Ajoelhada na frente dela, você leva às mãos à parte de trás da cabeça dela, procurando por algum sinal de vasos sanguíneos estourados.

–Ai meu deus, Jane, me desculpa, eu... – você não consegue formar nem um pensamento coerente, quem dirá uma frase com sentido.

Ela leva o dedo aos seus lábios, efetivamente te silenciando, enquanto levanta o tronco e fica sentada no chão.

–Shhh, Maura. – ela responde, um sorriso bobo no rosto, agora segurando sua mão. – Você pode sempre me dar um beijo pra eu melhorar.

E é exatamente isso que você faz.



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