Ficlets And Drabbles escrita por Nihaxy


Capítulo 1
Tricking


Notas iniciais do capítulo

Realmente parece piada de 1º de abril eu escrevendo coisas felizes, psé .-.
Hope you like it! (:



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Era pra ser apenas mais uma noite normal de sexta-feira, em que as duas amigas relaxavam no sofá de Maura – obviamente, Jane fazia questão de assistir ao jogo de baseball na TV de plasma com infinitas polegadas, HD e home theater na casa da legista, alegando que a experiência era completamente diferente.

Nessa noite, porém, Maura sentia que havia alguma coisa de errado com Jane. A detetive estava mais inquieta do que o habitual, se remexendo desconfortável no sofá, esfregando os polegares nas cicatrizes da palma da mão.

Depois de um bom tempo de aflição relembrando todas as conversas e interações com Jane das últimas semanas, Maura simplesmente desistiu de tentar juntar informação suficiente para formular uma hipótese e decidiu se aproximar do problema de um modo mais direto e, possivelmente, mais eficaz.

–Jane?

A detetive em questão se encontrava com os olhos fixos na tela, mas claramente não estava prestando a mínima atenção, perdida em seus próprios pensamentos de só deus sabe o que – tanto que o Red Sox tinha acabado de virar o placar e o fato não rendeu nenhuma reação.

–Jane? – dessa vez, Maura encostou de leve no braço da morena, que deu um pulo de susto.

–O que?

–É que... – agora, em oposição ao estar com a cabeça na lua de antes, Jane a encarava, dedicando à legista sua total atenção, apesar de ainda estar friccionando os dedos nas palmas. – É só que... você parece meio distante hoje. Aconteceu alguma coisa?

A morena não respondeu por alguns segundos, como se estivesse pensando no melhor jeito de falar o que precisava. Por fim, se decidiu com um simples – Eu preciso da sua ajuda.

Claro que a curiosidade inata de Maura entrou em overdose com essa simples questão, mas ela sabia que, se pressionasse demais, Jane acabaria se fechando em seu mundo interior outra vez.

–Com o que exatamente, Jane?

–É que... – a detetive olhou para os lados, como se procurasse um script com as falas certas perdido em algum lugar da sala. – Eu tenho um... encontro, eprecisodasuaajudaparamevestir.

Maura parou, estática e estupefata. – Como é?

–Eu preciso, hm, da sua ajuda. Para achar um vestido. Para meu encontro.

Se Maura não fosse tão contra as hipérboles, teria pensado que o apocalipse zumbi estava começando a acontecer.

–Ok, certo. – a legista inspirou fundo, ganhando um pouco de tempo para afastar seus sentimentos platônicos por sua melhor amiga e poder ajudá-la. – Onde é esse encontro?

–L’Espalier. – a forma como Jane pronunciou o nome, um pouco insegura e sem gracinhas, fez Maura ter vontade de abraçá-la e nunca mais soltar. Até ela se dar conta de que Jane iria a um encontro com outra pessoa no melhor restaurante francês de Boston.

Além disso, o fato de ela estar disposta a pedir ajuda no quesito vestuário era um indicador ainda mais forte da importância que ela dava a quem quer que fosse sua companhia da noite.

–Você não pode usar seu vestido preto? – na verdade, a última coisa que Maura queria fazer era ajudar a planejar aquele encontro. Ajudar Jane a ficar ainda mais deslumbrante para outra pessoa. Era egoísta, sim, mas não havia nada a fazer.

–É que... essa pessoa já me viu com esse vestido. – respondeu Jane, com os olhos baixos.

–Grant voltou à cidade?

–O que? Não, não, Maura. Não. E, mesmo que tivesse voltado, eu não iria a um encontro com ele, você sabe disso.

–Você está realmente me dizendo que quer minha ajuda para comprar um vestido?

Jane parecia ainda mais acanhada.

–Exatamente.

–E quando é esse... encontro? – só de falar a palavra Maura já sentia uma vontade imensa de vomitar.

–Depois de amanhã. Às oito da noite.

–Isso quer dizer que você está voluntariamente se dispondo a fazer compras comigo num sábado? – Maura tentou usar a técnica famosa da morena de dissipar a tensão com um pouco de humor.

–Se você puder ir comigo...

–Claro que posso, Jane! – a legista infligiu na voz um falso entusiasmo. – Mas me diga, eu conheço essa pessoa?

–Na verdade, sim.

–Ah, que...hm, interessante. – que maravilha, agora Maura teria que aturar mais uma pessoa entre ela e a detetive. – E como você o conheceu? Ele trabalha no BPD?

–É... – Jane voltou a baixar os olhos. – Ela trabalha comigo.

Maura não pôde deixar de notar o pronome feminino.

–Então... – engoliu em seco, a garganta arranhando. – É uma mulher?

Jane apernas confirmou com a cabeça.

Maura teve vontade de se bater. Ela ainda conseguia suportar Jane indo a um encontro com um homem – pelo menos assim, podia se consolar dizendo que sua melhor amiga nunca retornaria seus sentimentos pela questão da sexualidade – mas... uma mulher? Era simplesmente demais.

–E como ela é? – a legista nunca se sentiu tão masoquista na vida, apesar de só ter feito uma simples pergunta.

–Ela é carinhosa, inteligente, engraçada do seu próprio jeito, e simplesmente linda.

Se fosse cientificamente possível, Maura teria jurado que sentira seus intestinos revirarem.

Depois disso, a loira não fez mais nenhuma pergunta, e ficou estranhamente quieta pelo resto da noite, se afundando na sua tormenta. Ela estava perdendo Jane, e isso era quase uma dor física.

No outro dia, uma Jane inexplicavelmente animada e uma Maura incrivelmente reclusa passaram a tarde na Newbury Street, procurando o vestido perfeito – e um par de sapatos e acessórios para completar. Sem as reclamações usuais da morena a cada vez que tinha que provar uma peça nova, o trabalho foi feito em muito menos tempo, e as duas chegaram à casa de Maura com algumas sacolas antes do final da tarde. A legista ainda pensou em perguntar se Jane queria ficar um pouco, talvez assistir a um filme, mas precisava de um tempo sozinha para absorver os últimos acontecimentos e lidar com sua tristeza.

A detetive percebera exatamente como a amiga vinha agindo desde a noite anterior, e isso foi incentivo suficiente para continuar com seu plano.

–Então, Maura, eu acho que vou indo embora. – disse a morena. – Ainda tenho algumas coisas pra preparar... Pra amanhã, sabe?

–Imagino. – foi a resposta seca de Maura, que foi em direção à porta para a qual Jane já se dirigia.

Assim que passara da soleira da porta, porém, a detetive se virou, um sorriso contagiante que Maura simplesmente não conseguia retribuir no rosto.

–Sim, mais uma coisa. – ela disse, estendendo a mão para segurar a da legista. – Eu passo aqui pra te pegar amanhã às 7. Temos uma reserva no L’Espalier. – Completou, o sorriso, se é que era possível, ainda maior.

Antes de se virar para sair, Jane deu um selinho na legista, ainda surpresa demais para esboçar uma reação.

Segundos depois, Maura ainda estava parada com a porta aberta, levando a mão aos lábios, como que para ter certeza que tudo realmente acontecera.

Antes de entrar, porém, ela viu o sorriso de Jane, que estava no carro esperando ela fechar a porta. E dessa vez, ela o retribuiu com todas as forças.


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