- Posso saber o motivo real de estarmos aqui? –Emanuel foi o primeiro a se pronunciar. Nesse meio tempo cheguei a uma conclusão: Eu não iria me opor, protestar, irritar, e/ou brigar. Apenas escutar e me fingir de filha samaritana. Fala sério, esse castigo sem poder é um horror!

  - Realmente não tem noção? –Zeus devolveu já com o cansaço na voz misturado com irritação.

  - Bem... –Emanuel ia responder, mas Zeus o cortou.

 - Estamos aqui para fazer um julgamento. Simplesmente não posso aceitar que sangue do meu sangue tenha algum caso amoroso. –começou o falatório e mordi minha língua para não falar que os deuses eram muito piores, e que a mulher dele era sua irmã.

  - Mas porque não? – eu perguntei. E não foi de forma irônica, estava mais para inocente, ingênua, como se eu realmente não entendesse esse alvoroço a toa por causa de nós dois, o que era verdade.

  - Ora, os dois são semideuses, e vivem em uma realidade em que a mãe não dá assistência! São meus filhos e juntos teriam um poder maior do que imaginam! –exclamou Zeus. Espera... Ele estava achando que eu me juntaria com Emanuel para surrupiar o trono dele?! Não creio, que pretensioso!

  - Sério? É nisso... Que você pensa? –Emanuel perguntou chegando à mesma conclusão que eu. – E além do mais, você esqueceu-se de um detalhe. Não foram só as nossas mães que não deram atenção, você também não. Não me admira você achar que iremos nos voltar contra você, já que foi e é um péssimo pai. Mas não se esqueça que não temos o seu egocentrismo. Até porque, eu não teria motivos para querer seu lugar, seria responsabilidade de mais. –disparou e não conseguiu mais parar. Pelo visto era a primeira vez que ele colocava tudo o que pensava para fora. – Realmente, não me assusto de você esperar isso de nós, já que por mais que temos o seu sangue, você não nos conhece!

  - Não diga isso! Você não sabe o que eu tive que fazer depois que Hera descobriu vocês dois... –Zeus começou a falar cortando Emanuel, mas ele não se deixou ser interrompido.

  - Não sei mesmo! E nem quero saber! Só espero que tenha sido uma surra bem dada, porque você mereceu. Você é ganancioso e trai quase que diariamente a sua mulher e ainda pensa que tem direito de vir me dar bronquinhas?! –Não gostei disso. Digo, quem sempre o enfrenta sou eu, Emanuel está roubando meu papel.

  - Emanuel, não... –Alec começou a falar de uma forma raivosa, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Zeus o acertou bem em cheio e este voou para trás.

  - ALEC! –gritei assustada. Espera... Por que mesmo fiquei preocupada?

  - Não se meta nisso Alec, você já estragou o suficiente. Pode se retirar. –Zeus disse na hora em que tacou o raio.

  - Mas, mi lorde, eu não tive tempo... –Alec começou a falar, mas foi acertado por outro raio.

  - PARA! –impus desesperada. Zeus estava fora de controle, desde quando ele acertava Alec? E estragar? O que Alec fez?

  - Você está me desafiando? –Zeus bradou irritadíssimo em minha direção. Nesse meio tempo corri até onde Alec estava e o ajudei a levantar, Zeus havia machucado bastante ele.

  - Não, apenas tentando fazer você a pensar racionalmente de novo. Tudo que Alec fez foi pensando no seu bem... –respondi novamente de uma forma ingênua. Alec me olhou bem nos olhos com uma cara triste, como se soubesse que isso não surtiria efeito para meu pai. E bem, não surtiu...

  - Meu bem?! E desde quando ajudar Helen foi para meu bem? –Zeus disparou irritadíssimo.

  - Helen? Você quis dizer... –comecei a falar meio abobalhada, e percebi que Alec se encolheu um pouco.

  - Sim, isso mesmo. Sua mãe. –Zeus me cortou.

  - Ma-mas... –fiquei abobalhada. Várias perguntas surgiram em minha mente e antes que eu pudesse proferi-las, Alec se desaninhou de mim, sorriu tristemente, e desapareceu. Balancei a cabeça meio inconformada. O que raios estava acontecendo ali?!

  - O quê...? –comecei a perguntar com a voz fraca, mas parei sem ter o que realmente dizer em meio a tantas coisas.

  - Pra que tudo isso afinal?! –Emanuel indagou. Eu já tinha até esquecido que ele também estava ali...

  - Quero fazer um acordo. –Zeus afirmou depois de se acalmar um pouco. – Vocês me prometem que nunca vão ficar juntos e dou plena liberdade para vocês, sem interferência alguma de minha parte em suas vidas. –Zeus propôs, e quando eu já estava decidida a lutar por meu romance com Emanuel, dizer que nada que ele faria iria nos separar (iludida eu?), que ele estava louco se achava que com uma proposta dessa iria nos convencer, etc. Emanuel levanta a cabeça olha bem nos olhos de Zeus e diz as seguintes palavras:

  - Tudo bem. Eu nunca estive realmente interessado em Melanie. Sabe o que chamamos de passa-tempo? Então. Na real só estava interessado em aprender novas técnicas de combate, diferente das que aprendi sozinho. Desculpe, Melanie, mas não estou disposto a perder minha vida ou minha liberdade por uma garota tão chata quanto você. –Falou essa última parte olhando para mim com uma cara nada amigável, reforçando que não perderia nada da vida dele por mim. Meu queixo foi até o chão e senti meus olhos ficarem molhados. Ele realmente não se importa comigo...?

  - Ma- mas... –gaguejei em busca de algo racional nas frases que eu havia ouvido. Meu coração se apertou e minha cabeça começou a latejar. Eu era um nada até para Emanuel...?

  - Sinto muito. –Emanuel disse vendo meu desespero, mas por mais que ele dissesse que sentia, eu sabia que era mentira, podia ver isso nos olhos dele. – Estou liberado? Ah, e se possível, quero meus poderes de volta. –Emanuel terminou dizendo para Zeus que estava inexpressivo.

  - Como preferir. –disse por fiz e balançou a mão. Logo em seguida Emanuel sumiu de vista, acho que voltou para o Brasil, e eu continuei ali, parada a beira de começar a chorar por uma cara que não merecia uma sequer lágrima minha.

  - Por quê... Sempre... Eu?! –perguntei começando a chorar. – Por quê? Por quê? Por quê? –comecei a repetir sem parar.

  - Mel... –meu pai sussurrou espantado por me ver naquele estado e se levantou do trono com a intenção de se aproximar de mim.

  - ME DEIXA EM PAZ! –gritei e sai correndo da Sala dos Tronos, sem rumo algum em mente.

  “Não posso acreditar que Emanuel fez isso comigo, não posso... Porque eu sempre me engano com as pessoas?! Eu acho que Luiza é minha amiga, ela vai lá e mostra que não tem nada a ver. Eu acho que finalmente encontrei alguém que posso confiar e amar, mas não passava de um passa-tempo para ele...” –coisas como essa eram as que se passavam em minha cabeça na hora da correria. Certo momento avistei um templo e resolvi enfiar-me nele e ficar em algum espaço pequeno onde ninguém poderia me encontrar. Cogitei a ideia de mandar uma M.I. para minha mãe, mas me lembrei que ela estava no trabalho pela primeira vez na vida, bom pelo menos na minha. Com isso me lembrei que o “anjo da guarda” dela foi Alec e minha mente volta a se embaralhar. Qual o sentido disso tudo, afinal? Qual o sentido dessa vida? –pensei irritada, pois tudo que eu queria no momento era nunca ter nascido.