Hoje começa o pesadelo das aulas de etiqueta. Pelo menos o príncipe vai me achar uma idiota com classe depois dessas aulas.

– Sam não fique tão acanhada. Você vai se sair bem. Anne é una pessoa muito simpática.

Mary tentava me animar

– E você sabe que se for bem essa semana tem recompensa no fim de semana.

Agora era Lucy me encorajando.

– Só precisamos saber o que você gosta de fazer no seu tempo livre fora ler.

– Bom eu gosto de escrever, desenhar e tocar violão. Gosto de tv também,mesmo que a única forma que eu tinha de assistir a ela fosse pela janela da mercearia. Eu gostaria muito de também ter um telefone.

– Você deixou o seu em casa?

– Não, eu nunca tive um mesmo, eles são caros e lá em casa ganhávamos pouco, tínhamos outras prioridades. Além do mais a vizinhança inteira nos conhecia se precisássemos de um usávamos o do vizinho ou algo assim.

– Desculpe se fui inconveniente.

Lucy agora parecia constrangida.

– Tudo bem, eu nunca escondi o que sou e não pretendo.

– Bom melhor você ir. O povo daqui detesta atrasos.

Então eu me dirigi ao salão onde seria minha aula. Era um salão pequeno, comparado aos enormes que eu já visitei aqui dentro, mas ainda assim era maior que a minha casa.

– Bom dia Srta Jenkins. Eu serei sua professora de agora em diante, muito prazer Anne.

– Prazer é meu.

Anne era uma mulher já na faixa dos quarenta anos, mais baixa do que eu, meio gordinha, com cabelos loiros quase brancos e olhos pretos. Ela já tinha algumas linhas de expressão indicando sua idade, mas nada que um creme anti-idade não resolvesse. Ouvi dizer que essas coisas existem por aqui. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo bem repuxado e ela usava uma combinação de blazer com saia reta azul marinho e uma camisa branca por baixo. Tinha um broche de um floco de neve prata pregado na lapela do blazer que era o símbolo do reino. Azul marinho, azul gelo e vermelho eram as cores do reino.

– Hoje vamos aprender a andar. Uma princesa deve saber como andar devidamente em qualquer ocasião.

– Sério que existe um jeito correto de andar? Achei que todo mundo andasse igual, um pé na frente do outro.

– A postura no andado faz toda a diferença. Vou te mostrar.

Então ela saiu desfilando graciosamente pelo salão.

– Nossa você tem razão de fato faz diferença.

– Vamos começar com apenas um livro, a medida que você for melhorando colocamos mais ok?

Ela disse isso colocando um livro sobre a minha cabeça.

– Você quer que eu ande pelo salão com isso na cabeça?

– Sim, o melhor jeito de se aprender postura é com o equilíbrio.

Comecei a andar pelo salão concentrada em equilibrar o livro e não deixá-lo cair no chão. Até que não era tão difícil assim.

– Você aprende rápido. Acho que não terá problemas em aprender todas as normas.

– Obrigada. Estou dando meu melhor.

Então ao ponto que eu ia avançando ela ia colocando mais livros na minha cabeça e as coisas começavam a complicar. No fim eu tinha seis livros sobre mim.

– Você ama tanto livros que já tem até eles sobre a cabeça princesa.

Adam passava pelo salão naquele momento rumo a algum outro lugar.

– Tudo para ser uma princesa digna de vossa alteza.

– Quanta dedicação a minha pessoa estou admirado.

Então ele piscou para mim.

E eu mostrei a língua para ele. Sorte que a única pessoa que viu isso além dele foi o Ethan que riu baixinho.

Imagine só eu ser punida por desacatado ao príncipe. Não ia pegar bem.

– Tenham um bom dia senhoritas.

– Igualmente alteza. Anne respondeu por mim.

Então ele se dirigiu ao outro salão.

– Chega de livros por hoje Srta Jenkins, você me parece exausta.

– Me chame de Sam. Seremos praticamente amigas de agora em diante não é.

Então me sentei numa cadeira e tirei todos aqueles livros da cabeça.

– Como quiser Sam.

– Vou ter uma dor de cabeça de tanta pressão e concentração.

– O primeiro dia é sempre o pior, depois você se acostuma. Amanhã treinaremos modos à mesa está bem?

– Tudo bem. Esse eu até sei um pouco.

– Ah então não terá dificuldade alguma.

– Que bom.

Eu sorri. A Anne era mesmo uma pessoa bem legal como a Mary tinha dito.

Quando eu cheguei ao meu quarto tudo que eu precisava era um banho e a minha cama. Tomei um banho maravilhoso como eu nunca tinha tomado antes. Sai dele outra pessoa.

– Sam a rainha lhe mandou um presente de encorajamento as aulas.

– Sério?

– Está guardado no armário.

Quando eu abri a porta do armário eu vi o violão mais lindo que existia nesse mundo. Ele era de madeira clara tinha fitinhas coloridas penduradas nas chavinhas, e tinha meu apelido escrito nele com letras coloridas. Além de ter o circulo de dentro colorido em roxo. Como sabiam que era minha cor favorita depois do laranja?

– Ele é perfeito.

Eu disse já o pegando do pedestal e testando.

– Ficamos felizes que gostou. Contaremos a rainha que o presente é de seu agrado.

– Eu posso escrever a ela agradecendo? Por que acho que vai ser difícil encontrar ela pessoalmente né.

– Claro como desejar.

Corri para a escrivaninha arrumei papel e caneta e escrevi todos os meus sentimentos nele. Era o primeiro presente que alguém tinha me dado.

– Aqui, façam questão de entregar a ela tá.

– Com certeza.

– Eu posso ir ao jardim com ele? Sinto-me mais inspirada em lugares abertos.

– Sim pode, pedirei a um dos guardas que a acompanhe.

– Obrigada Lucy você é a melhor.

Falei isso e dei um abraço nela. Ela corou, acho que não estava acostumada com este tipo de tratamento.

– Que isso Sam só estou fazendo meu trabalho.

– Excelente trabalho então. Eu sorri.

Peguei meu violão novo e me dirigi ao jardim. O ar estava fresco hoje e era um dos dias raros do ano em que fazia sol e não nevava. Eu aprendi violão na escola e só lá que eu tinha pegado em um. Como era bom ter essa sensação novamente. E agora com o meu próprio. Cantei a única música que eu já tinha escrito na vida e eu adorava. Quando eu cantava era como se o mundo ao redor não existisse mais. Esqueci-me do reino, do Adam, de ser uma futura princesa, do castelo e de tudo só a música que me importava agora.

Do alto da sacada um Adam observava tudo com um olhar sereno e feliz.