Asas Negras escrita por Carolina Amann


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas chegou! Preparado (a) para algumas revelações? A partir de agora as coisas vão esquentar. Boa leitura :D



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Aqueles foram os 45 minutos mais longos de toda a minha vida. Havia uma tensão no ar, podia senti-la pressionando meu cérebro, retesando meus músculos e me pressionando cada vez mais para dentro de mim mesma. Eu queria sair dali, queria esconder-me em qualquer cantinho escuro onde eu pudesse me fundir com a paisagem. Um silêncio opressor tomava conta da sala, a atmosfera pesada transmitia angústia, medo, desconfiança. Era como a calmaria antes de uma tempestade. Durante 45 minutos Daniel e Ethan se encararam, o primeiro sem o mínimo de descrição, o segundo como um leão que espreita sua presa.

O sinal bateu e ouvi-me soltar o a respiração que sem perceber havia prendido. Finalmente era intervalo. O professor despedia-se da turma com um sorriso boboca no rosto, era provavelmente o único que não havia sido afetado pela tensão que estava no ar até poucos segundos. Ele já ia saindo da sala, com Ethan em seu encalço, quando as caixas de som foram ligadas. A lembrança de domingo penetrou em minha mente e um arrepio percorreu minha coluna, estava prestes a sair correndo quando ouvi a voz da diretora, distorcida pelos alto-falantes.

– Professor Leonardo Garcia, de biologia, favor comparecer a sala dos professores. Professor Leonardo, favor comparecer a sala dos professores.

Espantado pelo chamado repentino, o professor solicitou:

– Oh, bem eu pretendia passar no laboratório para deixar todos esses instrumentos –disse ele referindo-se a uma pilha de potes, microscópios e outros materiais que eu só havia notado agora, mas que muito provavelmente estavam ali desde o começo da aula – Ethan, teria a bondade de levar isso para mim? Ah... Aqui. Aurora, ajude-o, por favor.

Aquilo me deixou assustada, nunca me pediam para ajudar em nada, porque eu nunca fazia nada. Mesmo assim levantei-me lentamente da cadeira e fui até a mesa. Era incrível, quanto mais próxima de Ethan eu chegava, mais calma ficava. Ele transmitia-me boa energias, isso era incontestável, mas eu conseguia sentir o olhar de Punk se estreitando enquanto me encarava de costas. Ethan já tinha colocado a maioria das vidrarias em uma das duas caixas de papelão que o professor tinha trazido consigo. Na outra ele organizou o microscópio e o restante dos aparelhos que ali estavam. Eu peguei a primeira deixando a segunda para ele, em seguida segui-o para fora da sala. Assim que pisamos no corredor cheio de alunos, ele disse:

– Que surpresa te ver por aqui, Auro! – seu sorriso, sua voz, sua formalidade, me desconcertavam. Mesmo sendo consideravelmente mais baixa, eu podia sentir seu hálito refrescante como uma brisa de verão toca minha face.

– Ah... Pois é – respondi meio sem graça – Eu também não espera te ver por aqui, quero dizer, não sabia que estava na faculdade.

– Perdão, creio não ter comentado, apesar das inúmeras possibilidades que tivemos – desculpou-se ele enquanto subíamos as escadas. Eram cerca de quatro lances de 15 degraus até chegarmos ao andar do laboratório. Acima dele, havia apenas o terraço, onde uma incrível variedade de plantas medicinais era plantada. Punk e eu costumávamos ir ali quando queríamos matar aula.

Quando terminamos de subir as escadas, entramos na primeira porta a direita.

– Coloque a caixa em cima da bancada, por favor – eu fiz como ele pediu – Obrigado.

– Que isso, não foi nada. Bem, vou indo, até. – Eu estava virando-me de costas quando ele segurou meu pulso.

– Espere – pediu ele – será que posso te roubar alguns minutos? Preciso conversar com você. – sua voz era firme e clara, mas o sorriso era tranquilo e acolhedor. Não conseguia nem cogitar a hipótese de dizer não para aquele sorriso.

– Tudo bem... – apesar de concordar estava um pouco apreensiva. Sobre o que exatamente ele queria conversar?

– Bem, Aurora, o que vou te pedir agora é complicado... – começou ele – Talvez você não entenda muito bem ainda, mas acredite é o melhor para você.

– Fala – respondi com a voz seca, aonde ele queria chegar?

– Seria melhor para você, melhor para todos nós, que você se mantivesse longe do garoto loiro. Acho que o nome dele é Daniel. Entendo que seja complicado entender isso agora, mas acredite em m...

– Você o conhece? – perguntei, interrompendo-o.

– Digamos que de forma indireta, sim.

– Como assim de forma indireta? – meu coração martelava em meu peito, eu sentia estar me aproximando de uma verdade infinitamente grande, algo que podia transformar tudo em que eu acreditava. Ele suspirou.

– Aurora, você acredita em anjos? – a pergunta me pegou desprevenida, sobre o que estávamos falando agora?

– Não sei, nunca parei para pensar nisso. Mas acho que não, se anjos existissem aquele acidente de carro não teria acontecido... – deixei minha voz morrer lentamente, eu não devia ter falado do acidente. Ele sorriu compreensivo. –O que isso tem a ver com a minha pergunta?

– Calma, já vamos chegar lá. Digamos que anjos existam, acha que eles seriam diferentes dos humanos?

– Não sei, talvez – eu estava ficando cada vez mais confusa – Aonde você quer chegar com isso? – Meu coração batia cada vez mais rápido, mais forte, o que diabos estava acontecendo?

Seus olhos negros me encararam profundamente, era como se ele pudesse ler minha alma – Anjos existem, Aurora. – disse ele – Assim como os humanos. Podem ser bons ou maus, mas diferente dos humanos, não podem fugir de sua natureza, não possuem livre-arbítrio. Um guerreiro será sempre um guerreiro, lute ele para o bem ou para o mal. O mundo não é tão simples quanto parece, Aurora. Forças opostas se combatem a todo momento e, no meio desse caos, existem pessoas especiais. Você é uma delas, está bem no meio do fogo cruzado – seu olhar cravasse fundo no meu, eu sentia minhas pernas amolecerem. Aquilo era loucura! Mas ele não parecia estar brincando. No fundo de minha consciência escutei minha mãe “as asas negras vieram nos pegar”, estremeci. Ele continuou.

– Eu quero proteger você, quero impedir que você se machuque. Então, por favor, fique longe do Daniel.

– Por que eu deveria? – perguntei, a garganta seca. Uma gota de suor escorreu por minha face.

– Porque ele é um... – fomos interrompidos por uma pena negra que caía lentamente. Ouvi o barulho da porta sendo trancada e olhei para cima devagar. Um enorme corvo negro nos observava silenciosamente, seus olhos pareciam capazes de perfurar meu cérebro. O olhar de Ethan foi do corvo até a mim, em seguida para a porta.

– Corra. – disse ele.

Eu levantei e corri para a porta, o corvo avançou sobre mim, mas foi interceptado por Ethan, que bateu de frente com o animal. Potes com bichos dentro começavam a explodir, eu gritei quando um feto de cabra atingiu minha bochecha. Forcei a maçaneta com toda a minha força, mas era impossível. Joguei todo meu corpo contra a porta, mas nada acontecia. Desesperada, busquei outra saída. Ethan rolava pelo chão com a ave, parecia estar tendo um trabalho enorme para mantê-la ali.

– A escada! – gritou ele, em meio a confusão de objetos que caíam, eu corri para o lado oposto do aposento. Na confusão tinha me esquecido das escadas de emergência que ficavam no fundo da sala. Faltavam poucos passos para alcançá-la, quando um enorme urso empalhado caiu sobre mim. Senti algo duro bater com força em meu tornozelo, provavelmente a placa de ferro que identificava o animal, gritei. Algo havia se quebrado, eu não ia conseguir andar. A dor me fez lacrimejar e eu não conseguia ver mais nada, ao meu redor os objetos continuavam caindo. Empurrei o horrendo mamífero empalhado de cima mim, mas apenas na quinta tentativa, consegui rolá-lo para o lado. Respirar doía, talvez algo estivesse errado com minhas costelas também. Rastejei até as escadas, quase sendo atingida na cabeça por um vidro que continha algum órgão dentro. Quando alcancei o primeiro degrau vi o corvo ser atirado na parede. Ethan estava sem camisa e um filete de sangue escorria de seu ombro por seu peitoral definido. Ele correu até mim, pegou-me no colo e subiu as escada comigo chegamos no terraço e fomos até a borda do prédio. Vi a imensa ave negra avançando sobre nós, não tinha mais saída.

– Confia em mim? – disse ele. Balancei a cabeça de modo afirmativo.

Ele pulou. Gritei. Ouvi seu riso baixo.

– Abra os olhos Aurora, disse que confiaria em mim.

Abri os olhos devagar. Eu estava voando.


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Notas finais do capítulo

Trilha sonora dos últimos momentos: Angel - Sarah Mclachlan
"In the arms of the angel
Fly away from here
(...)
And the endlessness that you feel
(...)
You're in the arms of the angel
Maybe you find some comfort here"