Asas Negras escrita por Carolina Amann


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Sou uma escritora esquisita, pois é, a ação só começa aqui u.ú



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Depois de guardar tudo em seu devido lugar e vestir um jeans e uma meia, joguei-me em minha cama. Era 7:34 hrs e por algum motivo, eu não conseguia dormir. A lembrança do internato veio em minha mente, eu não podia ir para um lugar desses de jeito nenhum, mas era o que aconteceria se minhas malditas notas não melhorassem. Falando bem a verdade, as únicas que estavam abaixo da média eram das matérias de geografia, história, geometria e artes, o problema é que elas estavam MUITO abaixo da média. Em matemática, física, português e biologia meu desempenho era, modéstia a parte, excelente, tudo o que eu precisava fazer era resolver alguns exercícios. As línguas (português, inglês e espanhol) eram tão fáceis que eu não precisava nem prestar atenção nas aulas e educação física... Bem a professora me daria alguma nota se eu fingisse participar, eu acho. Mas estávamos no 2º bimestre, ainda dava tempo de recuperar.

Meio desmotivada, sentei em frente a escrivaninha, abri minha mochila, peguei os materiais e comecei a estudar freneticamente para geometria, fazendo todo o tipo de desenhos e cálculos. No começo minha cabeça deu um nó, mas depois tudo foi se esclarecendo. Não era tão difícil afinal.

Quando Cida veio me chamar para me chamar para tomar café, ficou surpresa. Primeiro por eu estar acordada, segundo por eu estar estudando e terceiro por eu mostrar orgulhosamente à ela uma planta de uma pequena casa na árvore, com as medidas calculadas e indicadas em tamanho real. Desci as escadas com meu pequeno projeto na mão, eu não pretendia construí-la, mas estava muito orgulhosa por ter conseguido. Além disso, queria mostrar aos meus avós que eu estava estudando, numa indicação sutil de que eu não iria para o internato de jeito nenhum. Acho que eu devia estar parecendo uma daquelas crianças felizes que corre mostrar o seu desenho para os pais.

Enquanto tomávamos o café, meus avós faziam planos de passar alguns dias em um retiro. Eles iriam na sexta a noite e voltariam na quinta de manhã, mas queriam saber se eu não me importaria de ficar “todo esse tempo” sozinha. Eu disse que não teria problema já que Cida ficaria em casa, além disso seria bom eles saírem um pouco da cidade e relaxarem um pouco. Fazia tempo que eles não faziam isso, já que vovô Orlando estava sempre ocupado investindo ações na bolsa. Ele tinha um ótimo tino econômico e já mais perdera dinheiro durante as crises.

Subi as escadas para o meu quarto pensando no que faria enquanto eles estavam fora. Não que eu quisesse dar uma festa ou algo do tipo (embora, com certeza Punk fosse tentar me convencer a fazer isso), em minha opinião esse tipo de coisa era apenas uma demonstração inútil de que você tinha dinheiro e podia dar uma festa. Além disso, a casa ficava uma zona e eu levaria um belo de um castigo depois. Talvez eu chamasse alguns amigos para passar a noite vendo filme de terror ou algo do gênero, mas nada de festas.

Depois do almoço, subi para o meu quarto. Eu planejava me arrumar para sair com JP, mas me dei conta de que não sabia para onde estávamos indo o que me deixava meio sem saber o que vestir. “Olhe o que estou fazendo”, pensei comigo, “Pareço uma daquelas garotinhas fúteis e mimadas”. Ri baixinho, talvez eu estivesse mesmo ficando louca. Por fim, decidi-me por uma calça jeans escura bem justa, uma regata preta com a estampa do Nirvana, minha jaqueta de couro preta e, é claro, meu coturno. Em seguida, contornei fortemente os olhos de preto, passei um rímel e um gloss transparente. Joguei-me na cama e respirei fundo, peguei meu celular querendo ligar para o Punk, afinal que horas ele viria? No mesmo instante, o aparelho começou a vibrar, um número privado estava me ligando. Meio desconfiada, atendi.

Ruídos estranhos e um pouco de estática tomaram conta de meus ouvidos num instante. O que era aquilo?

- Alô? Alô? – chamei sem resposta – Alguém? Alô? – nada. De repente uma voz rouca e distorcida sussurrou – Nos vemos no planetário, hime. – e desligou. Gelei. Meu coração parou de bater por incontáveis segundos, eu não conseguia respirar. Senti o telefone escorregar de minha mão. Hime. Uma memória antiga veio. Meu pai um jornalista e escritor mundialmente reconhecido, que trabalhava escrevendo colunas para as grandes revistas e jornais. Por essa razão viajava muito, sempre que voltava trazia algum presente para mim e um apelido novo, vindo de algum adjetivo da língua local. A sua última viagem havia sido ao Japão, o apelido era “hime” ou princesa em japonês. Ninguém sabia disso, eu mesma mal me lembrava, mas recordo de esse ser um dos motivos de eu não gostar por Punk me chamar de “princesa” no início.

De quem era aquela voz,  como ele sabia daquilo? Tinha certeza de que, mesmo que ele soubesse de algo, João Paulo não aprontaria uma dessas comigo. Eu estava sem fôlego, sentia-me como se tivesse acabado de correr uma maratona. Uma pequena voz lá no fundo de minha mente gritava que isso tinha alguma relação com o corvo e com a pena, mas eu a ignorava completamente. Aquilo era mais do que loucura.

Ouvi o barulho de uma moto e a Cida me chamou. Punk havia chegado. Eu não sei se já mencionei, mas Punk reprovou por duas vezes o 3ªsérie do fundamental, o que significava que ele tinha 17 anos de idade. Faltava um ano para poder tirar a carteira, mas por algum motivo, meus avós não se importavam com isso. A verdade é que ele já andava naquela moto a tanto tempo, e eu nunca tinha o visto cair, acho que isso passava mais confiança. Peguei a bolsa, desci as escadas e sai de casa gritando um tchau apressado.

Sorri para ele, coloquei o capacete, subi na moto e, com um nó na garganta, perguntei:

- E aí? Aonde vamos? – ele deu um sorriso e respondeu inocentemente

-Ao planetário, princesa. – em seguida deu a partida na moto. Segurei firme em sua cintura e me preparei psicologicamente para o que poderia vir. De quem era aquela voz?


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