A inocência nos olhos de Hiroto foram rapidamente substituídos pelo senso de proteção. Era a hora de um confronto, um choque inicial.

– O quão desleal meu pai pode chegar, a ponto de pedir lacaios? –exclamava Kin.

– Seu pai quer o melhor para todos... Mas nem todos irão sobreviver a essa “melhoria”. –dizia o lobo em tom sarcástico e cruel.

Rapidamente Hiroto empunha sua lâmina em mãos e corre na direção do lobo, que esquiva para o lado.

– Calma, Dola, calma. –falava o lobo atrevido. – Essa fúria se reserva a mim porque eu sou um cão e você um gato? Tsc, creio que seja guiado pelo instinto e não pelo raciocínio.

– Um fruto de uma experiência diabólica teria somente o instinto como comportamento. E você se encaixa nesse perfil, não eu. –dizia Hiroto.

Retomou a postura de ataque e avançou contra o lobo. Dessa vez o lobo fugira da lâmina, mas não do chute que o fizera cair atordoado no chão.

– Maldito! –esbravejava o lobo com toda sua frustração em receber um golpe forte, mas nada comparado a um corte que teria levado se não desviasse.

O lobo começou a uivar com o focinho mirado ao céu.

– Não escutem o uivo dele! Em um sono de pedra cairão se ouvirem! –gritou Kin aos dois.

Todos tentavam vedar os ouvidos com os dedos, os forçando no crânio.

No momento em que o lobo foi retomar o fôlego para voltar a uivar, Hiroto desfere um golpe com a lâmina na cabeça dele, mas apenas uma parte da orelha é decepada fora.

– Seu miserável! Minha orelha! Você irá pagar com isso, com seu pescoço! –gritava o lobo enquanto fugia, se desfazendo em fumaça negra.

– Você é incrível, Hiroto! Aonde você aprendeu a lutar dessa forma? –perguntava Nekomura.

– Com meu finado pai. Ele era surpreendentemente firme na luta, principalmente na velocidade e equilíbrio.

– Meus pêsames. Me perdoe, mas por que ele morreu?

– Uma humana o matou. Ele se deixou apaixonar e ela o apunhalou como presente.

– Mas por que isso? –dizia Nekomura espantado com uma atitude tão súbita de um humano.

– Não somos a “sorte encarnada” dos humanos? Nossa carne é muito valiosa, apesar de ser um gesto asqueroso.

Nekomura ficou espantado com o quão longe essa mulher chegou para ter sucesso e sorte.

Chegando no destino planejado, Kin se despede de Nekomura e Hiroto.

– Então... Esse é o meu apartamento que eu consegui pagar por aqui. É simples e pequeno, mas tenho liberdade aqui.

– Que bom. Não quer que Hiroto durma aqui com você hoje? –disse Nekomura para a segurança de Kin.

– Acredite ou não, você é mais vulnerável do que eu. Quando eu precisar dele, eu o invoco. Hoje não porque estou super esgotada. –dizia Kin com um sorriso enquanto bocejava.

Nekomura e Hiroto voltaram para casa, Hiroto estava um pouco cansado por ter lutado.

Entraram sorrateiramente para não acordar a Sra. Natsuyama, que já estava dormindo, e foram até o quarto. Encontraram Nezumi toda espalhada na cama, de cabeça para baixo.

– Até que enfim voltaram! Pensei que iriam me deixar sozinha aqui. –disse Nezumi um pouco zangada, mas mesmo assim fofa.

– Hiroto teve uma luta com um lobo no meio do caminho, ele foi incrível!

– Ação? Ah, por que nunca acontece comigo?! Estou cansada de tanta tocaia, sigilo e “não chame atenção”. –dizia Nezumi frustrada ao ver a diversão que perdeu.

– Bem, vamos dormir porque amanhã é outro dia. Eu queria um favorzinho de vocês antes. Poderia ficar somente na forma de gato e rato para não chamarem a atenção da minha mãe? –pedia Nekomura.

– Nyaaa! Eu sempre fico toda hora como rata, minha coluna não aguenta mais ficar em quatro patas. O Hiroto é um gato, mais elástico, ágil. E eu? –insistia Nezumi.

– Por favor, façam esse favor para mim. –suplicava Nekomura.

– Se o garoto é o nosso novo mestre nesse momento, devemos obedecê-lo, Nezumi. –falou Hiroto, já prontificado em estado de gato.

– Hmmm... Então ok. Mas eu quero dormir na cama.

– O-O QUÊ?! Na MINHA cama? –dizia espantado e corado.

– Tenha piedade, Neko-neko! Não ocupo muito espaço. –pedia Nezumi.

Hiroto já estava aconchegado nos pés da cama.

– Vo-você também, Hiroto?!

– Qual é o mal disso, Nekomura? Por que não posso, se ela pode? –dizia Hiroto.

– É isso aí, Hiroto! Todos juntos! –dizia Nezumi agitando os braços e fazendo um som de weeeee! , mostrando animação.

– Ahhh... Ok. –falava Nekomura com um tom de voz de derrota.