A Dama E O Vagabundo escrita por Lasanha4ever


Capítulo 5
Capítulo 5




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  Uns minutos depois o despertador toca e ela acorda no susto. Olha para mim, corada, e sorri como se dissesse, bom dia. Sorrio de volta. Ela vai para o canto dela se trocar e eu vou para o estúdio pegar comida.

  Depois de alimentados, ela pega sua mochila e seu iPhone, coloca os fones e sorri para mim novamente. Digita alguma coisa no celular e me mostra.

  “Acha que eu não notei que você não dormiu a noite toda? Eu também não dormi muito não. Bem que aquele momento poderia durar mais tempo. Depois da aula a gente se vê, ok?”

  Eu devo estar corado da cabeça aos pés, assim como ela está. COMO ASSIM ELA ESTAVA ACORDADA AQUELE TEMPO TODO?

  - Claro que sim, princesa. Só me diz onde você estuda que eu tento chegar o mais rápido possível. – tento me manter calmo, mas não funciona muito bem.

  “Anglo Americano” – ela digita rapidamente. “Sabe, lá para o início da Barra.”

  - Sei sim, devo chegar pra te ver lá pras três. – falo e então me explico – É que as minhas aulas duram até as duas, depois eu pego o ônibus.

  “Sortudo! As minhas duram até às três e meia!”

  - É pra dar valor às férias.

  Ela concorda e se despede com um sorriso melancólico.

  - Até mais tarde princesa.

  Preciso dizer que ela corou quando eu chamei-a de princesa?

  Não paro de ver as horas durante todo o tempo de aulas, e trigonometria nunca passou tão devagar quanto agora. Quando finalmente essa tortura chinesa acaba, saio correndo em direção ao ponto de ônibus e o pego rapidamente.

  Chego à escola dela as três e meia, sim, eu peguei transito pra caramba. Encontro ela apoiada num murinho baixo com a mochila no ombro e um fichário nas mãos. Fico em silêncio e chego ao seu lado.

  - Bu!

  Ela pula de susto e me dá um tapa no braço. Eu só rio, feliz por ficar perto dela novamente. Ela sorri junto comigo e revira os olhos. Pego a mochila dela e o fichário, porque sou muito educado, sabia?

  - Vem, princesa.

  Passamos a ultima hora no Barra Shopping, procurando livros pra ela ler, acabamos não comprando nenhum, mas ela leu um inteiro. Leitura rápida a gente vê por aqui.

  Agora é hora de trabalhar. Ela vestiu o mesmo uniforme, com a maquiagem igual também. Só que hoje, ambos queriam ficar com a cadeira, então ela teve que sentar em minhas pernas. A sorte é que ela é leve, senão eu estaria ferrado.

  “Isso não é desconfortável não?” – ela digita no celular e me mostra.

  - Um pouco, mas eu relevo pelo fato de ser você aqui comigo, se fosse outra pessoa eu já teria jogado longe.

  Ela se vira para mim vermelha de vergonha e revira os olhos.

  - Que foi? – pergunto inocentemente.

  Recebo um revirar de olhos como resposta e sorrio. Essa mania dela é irritantemente fofa.

  Mais cinco minutos se passam e finalmente acaba o nosso trabalho.

  - Dessa vez você não dormiu. – provoco enquanto saímos da cabine em direção ao banheiro. Ela me manda o dedo do meio e eu rio.

  Trocamos de roupa e ela tirou a maquiagem dessa vez. Levo a mochila e o fichário dela, e ela ainda se aproveita mais de mim e pula em minhas costas, prendendo suas pernas em minha cintura e enroscando seus braços em meu pescoço.

  - Já que é assim, boa a sua mochila nas suas costas, sua aproveitadora!

  Ela coloca e então apoia a queixo em cima da minha cabeça. Fiquei andando com ela desse jeito até chegarmos ao ponto de ônibus. Deixei-a sentada no banco e fiquei brincando com o cabelo dela.

  “Para onde a gente vai agora?”

  - Você precisa ir pra sua casa, não acha? Seus pais já devem estar putos o suficiente.

  “Você vai para o orfanato?”

  - Vou, ué. Não posso morar na sua casa, princesa.

  Vejo-a bufando e sorrio. Que bom que não sou o único não querendo me afastar.

  “Posso dormir com você lá no orfanato? Meus pais nem vão notar, dia de semana eles chegam do trabalho tarde e vão para o mesmo cedo, então nem me vêm.”

  Respiro fundo. Essa menina tem um enorme medo dos pais ou é impressão minha?

  - Ok, eu te levo para lá, mas saiba que é ali onde moram os garotos com abstinência de garota.

  Ela me abraça aliviada e se pudesse falar, estaria agradecendo sem parar. Abraço de volta e sinto o cheiro de seu cabelo, laranjas... Meu, ela tem um cheiro muito bom...

  - Não vou poder perder você de vista, princesa. Do jeito que você é inocente, eles vão pegar você sem dó.

  “Bobo, quem disse que eu sou inocente?”

  Com essa eu ri alto. Ela fez biquinho e eu tento me controlar. Não posso imaginar ela não sendo inocente.

  Quando o ônibus chega, está lotado como ontem. Levo-a até o fundão e fico do mesmo modo que fiquei ontem, com meus antebraços um de cada lado do rosto dela, protegendo-a dos empurrões. E ela descansa a cabeça em meu braço, caindo num cochilo leve. Seguro-a na cintura pelo meu braço livre e relaxo. Ela tem o tamanho perfeito para mim, cara. Muito perfeita.

  Entramos no orfanato silenciosamente, e então a levo ao meu quarto. Os garotos estavam vendo strip-tease no computador. Tapo os olhos da Marina e olho feio para os garotos. Eles estão corados dos pés à cabeça, tiram do site e colocam no Facebook. Destampo os olhos da Marina.

  - Me desculpa por eles, Marina.

  Ela mexe a cabeça e sobe na cama.

  - Ela vai passar essa noite aqui, então caso queiram continuar o que estavam fazendo, vão para o quarto do Luiz. E aproveita e fica por lá.

  Luiz é o cara que mais tem pornô, o quarto dele é quase um museu da pornografia, não que eu tenha entrado muito lá. Os garotos saem do quarto com a cara emburrada e fecham a porta. Nada como ser o mais velho e poder mandar em geral...

  E todos os garotos tem um acordo, quando alguém trás uma garota – o que é meio raro – o quarto é dele, só dele.

  - Pronto, princesa, eles não vão mais poluir a sua mente.

  Ela começa a digitar no celular. Eu leio e rio.

  “Minha mente é bem poluída, ok? Você que está se enganando por que sou garota.”

  - Ah, é? – pergunto maliciando tudo e ela cora muito e me dá um tapa ardido no braço. Ela não tem a mente poluída, pelo menos não igual aos garotos que moram comigo, ou como eu.

  Um travesseiro é lançado em meu rosto e eu rio alto. Subo na minha cama e fico sentado ao lado dela. Ela se espreguiça e então deita com as penas em meu colo.  

  - Já vai dormir, princesa? – pergunto baixinho enquanto vejo-a fechando os olhos.

  Ela faz que sim com a cabeça e se aninha na minha cama. Cubro-a com o cobertor e desço da cama rapidamente, vou ao banheiro e por fim coloco meu tradicional pijama, uma cueca samba-canção e uma blusa branca larga.

  Ela me taca um travesseiro.

  - Pensei que tava dormindo, o que foi?

  Seu telefone é jogado em minha direção.

  “Pode me emprestar uma blusa sua? Eu não tenho outra roupa a não ser essa.”

  Pego do meu armário a menor blusa que tenho, o que já ficaria enorme nela. É uma blusa de manga comprida num tom de azul marinho com uma ancora atrás. Jogo para ela e me viro, sabendo que ela se trocaria ali em cima. Aproveito e tranco a porta. Quando me viro para ela novamente, ela já está com a minha blusa e está jogando a calça jeans e a blusa dela para o meu armário, que eu deixei com a porta aberta.

  Eu devo estar com cara de idiota, mas não consigo desviar o olhar. Ela fica muito linda quando está com a minha roupa. E parece menor ainda. Subo na cama e fico embaixo do cobertor também. Hoje está uma noite boa, com um friozinho bom, uma companhia boa, tudo bom. Bom pra caralho. Mais que bom.

  Devolvo o celular a ela, que coloca um despertador às quatro da manha. Pois é, vida de estudante é foda. Já são onze horas. O difícil vai ser acordar.

  Ela coloca o celular embaixo do travesseiro e se aconchega mais. O problema, um feliz problema, é que a cama é, originalmente, para uma pessoa, com um travesseiro e um colchão pequeno, então eu e ela estamos coladinhos na cama, cara contra cara. Sinto sua respiração em meu nariz.

  Então ela treme de frio e eu tenho a melhor ideia que poderia pensar.

  - Você confia em mim, princesa? – assim que falo isso sinto meu rosto em brasas. Ainda bem que ela não consegue ver o rubor.

  Ela faz que sim com a cabeça.

  - Então, sabe, você ficaria mais aquecida se estivéssemos abraçados. – controlo muito para não gaguejar.

  Vejo-a concordando e puxo-a para um abraço. Dormimos de conchinha sem nenhuma interrupção. Foi a melhor noite da minha vida, e sim, isso parece meio estranho, e ambos ficamos com vergonha, mas foi aconchegante pra caramba. Dormi com o cheirinho de laranja dela em meu nariz e eu gostaria de dormir assim sempre. Eu me senti como se conhecesse ela há anos, e mesmo envergonhados, isso me pareceu uma coisa tão normal que eu estranhei, ainda estranho.

  Estou acordado há um minuto e então o despertador toda, fazendo-a pular de susto e quase cair da cama. Sorte que ainda estávamos abraçados.

  Ela olha para mim e sorri. Sorrio em resposta e dou um beijo em sua testa.

  - Bom dia princesa.

  Não sei como, mas ela conseguiu sorrir mais ainda e seus olhos brilharam. Coloco meu uniforme e ela troca de roupa também. Pego a minha mochila e a dela, carrego seu fichário também e a apresento à cozinha. Não tem nada saudável, muito salgadinho, álcool e pizza congelada. Claro, o álcool está devidamente escondido.

  Comemos Ruffles e ela bebe um copo de achocolatado. Já são cinco e dez. Corremos para o ponto de ônibus e logo chega um para a Barra da Tijuca.

  - Não vou poder te levar pra escola, princesa. Mas assim que as minhas aulas acabarem, eu vou direto pra sua escola.

  Ela digita algo no celular.

  “Sem problemas, até mais tarde, Igor”.

  Dou um beijo na testa dela e vejo-a indo embora no ônibus. Logo chega o meu e a escola me aprisiona por longas horas, que parece uma eternidade.

  Finalmente acaba. Pego um ônibus direto para a escola dela, e desta vez chego cinco minutos mais cedo do horário de saída dela. Fico apoiado no murinho e espero ela sair. O tempo está contra mim, porque todo minuto longe dela parece uma eternidade, mas cada hora perto dela parece minutos, e passa rapidamente.

  Fico observando o pássaro voando e de repente sinto certa pessoa baixinha me abraçando fortemente. Abraço mais forte e vejo um sorriso estampado em seu rosto.

  - Para onde vamos hoje, princesa? – sussurro em seu ouvido.

  “Não sei. Pensa em um lugar você.”

  - Me mostra um lugar que você gosta de ir.

  Saímos da escola, eu carregando minha mochila e o fichário dela, ela carregando apenas a sua mochila. Caminhamos por um tempo e entramos em um shopping, não sei qual. Ela me guia até uma loja cheia de pinturas. Uma mais linda que a outra.

  - São muito boas.

  “Um dia eu vou pintar tão bem quanto eles, e talvez venda minhas pinturas também.”

  - Pode vender, mas eu quero uma só pra mim.

  Ela sorri. A dúvida é: Qual pintura eu quero? É difícil escolher uma só.

  Depois de ficarmos vendo os quadros, fomos ao trabalho. Adivinha quem dormiu no meu colo? Pois é, a guria tem sono muito cedo. Desta vez ela se sentou no meu colo e apoiou a cabeça em meu ombro, abraçou minhas costas e caiu no sono. Sorrio enquanto observo-a dormindo. Ela dormiu às oito. O tempo de trabalho passou normalmente e finalmente acaba.

  Carrego-a no colo até a área que trocamos a roupa.

  - Sabe princesa, para trabalhar você precisa pelo menos ficar acordada. – sussurro em seu ouvido e ela acorda me mostrando a língua.

  Depois de trocadas as roupas, caminhamos até o ponto de ônibus.

  “Minha casa ou sua?” – ela me entrega o celular para eu ler e noto-a corando.

  - Sua casa. Não quero que seus pais percebam que você não está dormindo por lá.

  “Duvido que eles tenham notado minha ausência, mas ok... Você vai dormir lá comigo, né?”

  - Não, que isso, princesa. Eu vou deixar você nesse ônibus e voltar para a minha casa. – falo num tom totalmente sarcástico e ela me dá um soco leve no braço.

  Desta vez o ônibus estava um pouco vazio. Sentamos em um banco desocupado. Assim que o ônibus começou a se mover, certa menina dormiu com a cabeça apoiada em meu ombro. Coloco meu braço em seu ombro e a puxo para mim.

  Ela tem tanto sono que me assusta um pouco. Nem eu que sou preguiçoso tenho tanto sono que nem ela.

  Quando chegamos à sua casa, faço o mesmo esquema de sempre, só que com muito mais cautela, porque hoje seus pais já estão aqui. Carrego-a no colo até seu quarto com um cuidado em excesso, carregando não só ela, como nossas mochilas. E repito: ainda bem que ela é levinha.

  Entro em seu quarto e tranco a porta. Deito-a na cama e deixo as nossas mochilas no sofá do estúdio de arte dela.

  - Acorda aí, princesa. Não é pra dormir agora não.

  Depois de ambos com banho tomado, dentes escovados e pijamas colocados, deitamos na cama. Ligo a televisão e deixo num filme de comédia. Ela dorme abraçada com o cachorrinho de pelúcia dela, e eu durmo pouco tempo depois, ao lado dela.

                                                             


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