No dia seguinte, mais uma vez eu acordei sozinha na cama; só que dessa vez um sentimento de solidão e tristeza invadiu meu peito. Sentei-me na cama e com o lençol cobri meu corpo desnudo.

- Naruto! Naruto! – comecei a chamá-lo já desesperada.

- Sakura-chan, o que foi?

Naruto apareceu na porta entre tropeços e com uma expressão de susto no rosto. Ele estava vestido com sua calça laranja e uma camiseta preta.

Eu fechei os olhos e respirei aliviada. Ele se aproximou da cama e sentou-se a meu lado.

- Sakura-chan você está bem? – me perguntou preocupado

Eu abri meus olhos e fechando minha mão em forma de punho lhe dei um soco na cabeça. Naruto imediatamente ergueu as mãos para massagear o local onde eu o havia socado.

- Como pode me perguntar se eu estou bem! – gritei num tom de voz que não demonstrava raiva senão tristeza – me pede apenas uma noite e me pergunta se eu estou bem...

- Sakura-chan...

Naruto fez menção de dizer algo, mas eu não permiti que ele me interrompesse, eu estava farta de desculpas sem valor.

- Eu não quero uma noite apenas, Naruto... eu quero todas as noites com você. Me diga de uma vez o que está acontecendo!

Lágrimas escorriam por meu rosto e roçando minhas bochechas caiam sobre o lençol branco que cobria meu corpo.

- Por favor, Sakura-chan... – Naruto me abraçou – não chora... por favor.

- Me diga a verdade, Naruto – pedi em meio a soluços.

Naruto me soltou e levantou-se da cama, ele ficou de pé ao lado da cama; seus olhos traziam muita tristeza e dor. Escutamos o barulho da chaleira que fervia, Naruto virou-se de costas e se dirigiu para a cozinha.

Com a palma das mãos eu limpei as lágrimas que caiam, e também me levantando comecei a me vestir. Coloquei as peças íntimas, o shorts e depois a blusa. Sentei-me na cama e comecei a prender minha bandana. Para mim estava mais do que claro que não importava o que Naruto escondesse era algo bem grave, e contendo minha angustia por não saber o que era decidi deixa-lo contar quando se sentisse a vontade para isso.

Naruto voltou ao quarto, eu estava sentada na cama e estava terminando de prender minha bandana quando A tristeza já estava novamente guardada em meu coração, eu não mais lhe perguntaria nada.

- Naruto, não precisa me contar se não quiser – disse antes que ele pudesse falar algo.

Naruto ficou me olhando em silêncio por algum tempo como se estivesse planejando muito bem o que me diria dizer.

- Sakura-chan, eu vou para Toshio

Fiquei em pé.

- Vai sair em missão? – perguntei surpresa.

Naruto apenas balançou a cabeça num sinal positivo.

- Que estranho! Ontem eu estive com a Tsunade-sama e ela não me disse nada... ela deve ter se esquecido. Bom, nesse caso eu vou pegar minhas armas...

- Você não vai – disse Naruto num tom de voz seco.

- O que disse? – perguntei mais surpresa do que estava anteriormente.

Naruto desviou o olhar para a lateral do quarto e ficou olhando a janela.

- Sakura-chan, você não vai mais participar de missões comigo.

Senti meu corpo estremecer ao escutar aquelas palavras, mas busquei manter a compostura diante de Naruto. Ele voltou a me encarar.

- Naruto, o que está dizendo?... nós sempre participamos de missões juntos, somos uma equipe.

O olhar de Naruto e a maneira dele falar comigo estavam me deixando seriamente preocupada.

- Não mais... não somos mais uma equipe.

Percebi um certo pesar na voz de Naruto, e isso me assustou ainda mais. Naquele momento rompi minha promessa, e voltei a questioná-lo a respeito do que ele me ocultava.

- Naruto, me diga o que está acontecendo! – disse elevando meu tom de voz.

Naruto desviou o olhar para a lateral, ele não estava conseguindo me encarar por muito tempo; uma angústia muito grande invadiu meu peito e ficou presa em minha garganta. Ele voltou a olhar para mim e de maneira direta me disse:

- O selo foi rompido.

Senti o chão faltar a meus pés, e busquei forças em meu interior para me manter de pé, meus joelhos tremiam e meus olhos começavam a se encher de lágrimas.

- Como assim o selo foi rompido? Naruto, por favor, me conte o que está acontecendo.

Naruto abaixou o olhar e começou a explicar.

- Tsunade-sama me contou que o selo foi rompido, e que meu chackra se misturou com o chackra da kyuubi que está dentro de mim...

 Eu simplesmente não queria acreditar que as palavras de Naruto pudessem ser verdadeiras; era difícil demais ter que aceita-las.

- Naruto, isso não pode ser... seu chackra não pode ter se misturado com o chackra da kyuubi...

- Eu sinto muito, Sakura-chan.

Naruto tomava para si  a responsabilidade de ter feito algo que não era responsável; eu sabia que não era culpa dele que o selo houvesse se quebrado e muito menos de que aquele monstro estivesse lacrado dentro dele.

- Naruto, isso não é culpa sua – o repreendi por estar se desculpando.

Naruto me segurou pelos ombros, e me olhou fundo nos olhos, como poucas vezes ele fizera. Quando se trata de contar alguma coisa muito grave, normalmente Naruto desviava o olhar de meu rosto, como havia feito antes.

- Sakura-chan, eu pedi para a Tsunade-sama não a colocar mais em missões comigo.

Eu ergui meus ombros e Naruto me soltou, depois me agarrei na blusa dele, uma lágrima caiu por minha bochecha.

- Por que pediu a Tsunade-sama que não participássemos mais de missões juntos?

Eu fiquei furiosa por Naruto ter feito um pedido desses.

- Não quero que esteja lá.

- Como me diz que não quer que eu esteja a seu lado? – eu não entendia o porquê Naruto havia tomado essa decisão – Naruto se o selo foi rompido e seu chackra e da kyuubi se misturarem, então, quando você usar seu chackra...

- A kyubbi vai aparecer... – completou Naruto que voltou a colocar suas mãos sobre meus braços, mantendo seu olhar firme sobre meus olhos marejados – e uma equipe da ANBU tem ordem para me matar quando isso acontecer.

Notei que os olhos de Naruto também estavam rasos de lágrimas.

- Não...

Meus joelhos trêmulos fraquejaram e Naruto me segurou contra seu peito evitando que eu caísse; as lágrimas presas em meus olhos deslizavam sem parar por minhas bochechas. Naruto colocou sua mão sobre minha cabeça e me apertou forte contra seu tronco.

- Por favor, Sakura-chan, entenda.... se a kyubbi se libertar eu não poderei controla-la, não quero que ninguém se machuque... – e num sussurro ele disse – não quero que você se machuque.

Naruto talvez não entendesse que eu já estava machucada. Eu me libertei de seu abraço apertado e limpei algumas lágrimas que caiam.

- Naruto, ninguém vai se machucar... essa história do chackra pode não ser verdadeira...

Um resquício de esperança ainda residia em meu ser.

- Naquela noite que eu sai em missão com o Capitão Yamato, quando fui usar meu chackra a kyuubi se libertou... se o Capitão Yamato não tivesse me parado antes que eu perdesse o controle sobre minha própria consciência...

- Eu senti meu coração pesado... eu sabia que algo não estava bem... mas então você veio até mim tão sorridente e alegre – as lágrimas começavam a cair com mais freqüência – e depois nós tivemos nossa primeira vez juntos... por que não me contou nada?

- Não queria contar... Tsunade-sama foi quem me pediu para te dizer a verdade.

Com  as costas da mão limpei as lágrimas e ergui a cabeça.

- Vamos refazer o selo

- Sakura-chan...

- Eu vou falar com a Tsunade-sama, ela pode me ajudar a estudar o pergaminho sagrado... eu vou aprender a técnica de selamento, vamos trancar a kyuubi de novo... – olhei para Naruto e mais uma vez a tristeza invadiu meu coração – tudo vai voltar a ser como antes, e aí... –em meio a minha dor eu sorri – você não precisar morrer.

Naruto se aproximou de mim e com as gemas do dedo limpou as lágrimas teimosas que desprendiam de meus olhos e caiam por meu rosto.

- Sakura-chan, não se pode fazer isso. Tsunade-sama disse que apenas meu pai e o terceiro Hokage sabiam como executar a técnica de selamento.

- Eu posso aprendê-la, só preciso de um tempo.

- Essa técnica é muito perigosa, não quero que se arrisque tentando executa-la.

Eu me agarrei a camiseta de Naruto.

- Não posso permitir que o matem!

- Sakura-chan eu já decidi isso. É o melhor a ser feito.

Senti meu corpo estremecer de raiva ao escutar que Naruto havia decidido que o melhor a ser feito era matá-lo.

- Seu idiota! – gritei a plenos pulmões – como pode ter decidido uma coisa dessas!

Ergui minha mão disposta a dar um tapa em Naruto, mas ao abaixa-la em direção a seu rosto senti-o segurar em meu pulso. Naruto havia detido meu tapa a poucos centimentros de seu rosto. Eu sempre soube que Naruto tinha reflexos para evitar meus tapas e socos, mas mesmo assim deixava-me bater nele; mas dessa vez Naruto segurou firme em meu pulso.

Ele começou a andar para frente me empurrando para trás, até que chegamos perto da cama. Naruto me derrubou sobre o colchão sempre mantendo meu pulso preso firmemente por sua mão; ele sentou-se a meu lado e soltando meu pulso se inclinou sobre meu corpo.

Naruto começou a beijar um pequeno pedaço de minha barriga que havia ficado descoberta quando a blusa repuxou para cima; rapidamente seus lábios chegaram até meu umbigo e não agüentando eu comecei a rir.

- Naruto, pára... pára! – ordenava entre risos.

Naruto parou de me beijar, e eu tomando impulso me sentei na cama.

- Seu idiota, não é hora para brincadeiras – ralei com ele enquanto pouco a pouco aquela sensação de cócegas desaparecia de meu corpo.

- Eu gosto de escutar você rindo – disse Naruto abrindo um largo sorriso, e erguendo a mão limpou uma última lágrima presa em meus olhos – não gosto de te ver chorar.

- Como quer que eu ria depois do que me contou.

Naruto ficou de frente para mim e encostou sua bochecha na minha, aproximou seus lábios de meu ouvido e num sussurrou me confessou.

- Sakura-chan, sabe o quanto eu te amo, e por isso eu não quero que nada te aconteça por minha culpa... você é a pessoa mais importante para mim, é quem eu sempre vou proteger.

Eu afundei minha cabeça em seu ombro e o abracei bem forte.

- Nada vai acontecer comigo, eu só quero estar a seu lado.

- Obrigado, Sakura-chan...

Naruto levantou-se  e ficou de pé bem a minha frente; eu coloquei a mão espalmada sobre o umbigo de Naruto, bem sobre o local onde ficava a marca do selo.

- Não é justo que carregue esse fardo sozinho.

- Não estou sozinho – me contestou sorridente

E levantei e fiquei bem próxima a Naruto que me olhava calado.

- Ramen... – eu disse de repente.

- O que? – Naruto não havia entendido o que eu dissera.

- Eu disse que descobriria qual era o seu ponto fraco.

Naruto me olhou com uma expressão alegre estampada no rosto.

- Está errada... – ele me puxou para um abraço e eu me agarrei em seu tronco – você... você é o meu ponto fraco.

Eu fiquei surpresa com as palavras de Naruto, mas não levei muito tempo para descobrir que isso era verdade. Naruto estava fazendo tudo aquilo por mim, porque não queria me machucar; ele havia pedido para Tsunade-sama não me colocar em missões junto com ele para que eu não o visse ser morto.

- É Naruto, você está certo... eu devo ser mesmo seu ponto fraco.

E não era só o Naruto que sabia que o ponto fraco dele era eu; Tsunade-sama também sabia, e foi por isso que ela pediu para Naruto me dizer a verdade. Nem mesmo ela  queria que Naruto fosse morto por uma equipe da ANBU, e minha sensei sabia que eu era a única que poderia impedir que isso acontecesse.

Tsunade-sama estava certa em confiar a mim essa missão, eu não permitiria que o homem que eu amo morresse dessa maneira; eu lutaria por ele e se fosse preciso contra ele, não deixaria Naruto sozinho jamais.

Já havíamos passado por tantas coisas juntos, já havíamos provado tantas vezes que o sentíamos era real e forte, e então, porque não podíamos ficar juntos? Destino... mas que destino é esse que separa as pessoas que se amam? Que destino era esse que estava levando o Naruto de mim?

Tantas perguntas, e apenas uma resposta para todas elas: o silêncio. Havia uma ausência de palavras que pudessem explicar o que se passava; havia uma ausência de respostas que fossem capaz de nos saciar... porque no fim todas as respostas se resultavam vazias demais.